DOMINGO DE PENTECOSTES
Por: Emerson Carlos Ienke
Em Deus somos ossos que vivem!
Texto base: Ezequiel 37. 1-14
“Porei em vós o meu Espírito, e vivereis”... Ez 37.14
Em nome do Santo Espírito, nosso Consolador e Reavivador. Amém!
É comum nos depararmos com ossadas de animais que morreram. Os animais, via de regra não têm um sepultamento como têm os humanos, ficando eles muitas vezes jogados a céu aberto.
Você já experimentou falar com a caveira de algum animal morto? E, se tentasse, o que aconteceria? Certamente nada. Falar para uma caveira é o mesmo que falar com uma parede!
E, se alguém profetizasse no cemitério? Seria diferente? Que reação teriam os mortos se alguém fosse pregar a Palavra de Deus dentro do cemitério? Certamente teriam a mesma reação que as ossadas dos animais. Ficariam imóveis, pois cadáveres não ouvem, nem expressam reação alguma.
A cena parece um tanto quanto cavernosa. Faz-nos lembrar dos filmes de terror. Porém, esta é exatamente uma descrição para entendermos o que aconteceu com o profeta Ezequiel no texto que ouvimos a pouco (Ez 37.1-14).
No texto, vemos o profeta ser transportado durante uma visão para um vale de ossos secos. Lá, o próprio Deus fala com Ele e manda que profetize aos ossos. A medida que Ezequiel profetiza, diz o texto que os ossos começaram a bater uns nos outros, vão se ajuntando e ao redor destes ossos começam a surgir os tendões e crescer carne (v.07). Porém, apesar de o corpo ter se formado novamente, diz no versículo 08 que não havia naqueles corpos o espírito. Então Deus diz ao profeta que profetize ao espírito para que ele entre nos mortos e lhes dê a vida (v.09).
Apesar de ser um texto estranho, e até mesmo confuso, este relato do vale dos ossos secos “esconde” atrás de si um significado belíssimo.
É importante lembrar o contexto no qual o profeta teve esta visão: o cativeiro babilônico do povo de Israel. O povo se encontrava num estado de escravidão, sem esperança alguma. Não deram ouvidos à Palavra de Deus, e agora estavam sofrendo o castigo dos seus pecados, da sua vida de infidelidade ao Senhor. Israel estava morto; era como um amontoado de ossos, já sem vida e sem esperança.
É neste contexto que entra o significado desta visão de Ezequiel. Deus o enviara para profetizar a este povo “morto e sem esperança”. Israel era uma nação arrasada; humanamente destruída. E, se estavam assim, qual vale de ossos secos, é porque nunca quiseram dar ouvidos aos alertas e a orientação da palavra de Deus por meio dos seus profetas.
Para um povo, que estava em tais condições, não havia nada mais consolador do que ouvir que Deus os faria viver novamente. Ao dar vida novamente ao amontoado de ossos, Deus estava querendo fazer aquela nação perceber que Ele não queria o mal do povo, e sim, que eles entendessem que só há vida naqueles onde sopra o verdadeiro espírito de Deus.
É como se Deus quisesse dizer a Israel: vocês são esse amontoado de ossos, e eu os farei reviver novamente; irei lhes devolver a vida, e a esperança voltará a habitar os seus corações. Vocês serão novamente uma nação; um povo vitorioso.
Foi à duras penas que Israel conheceu o amor de Deus. Foi com muito sofrimento que Israel amadureceu na fé, e retornou aos caminhos verdadeiros do Senhor.
Meus amados irmãos no Salvador Jesus!
Quantas pessoas no mundo vivem ainda hoje como se fossem um amontoado de ossos secos?
Quantas vezes nós também temos agido tal qual o povo de Israel, vagando longe do caminho do Senhor, e nos tornando assim ossos sem vida, sem esperança?
Por vezes, as pessoas obrigam Deus a reduzi-las a um amontoado de ossos frios, apáticos e inertes, pois quantas vezes a dureza do coração humano não nos deixa viver a santa vontade de Deus em nossas vidas!?!?!
Quando no coração do homem não habita o verdadeiro Espírito de Deus, falta o fôlego da vida. Se Deus não estiver presente em nossa existência, não passamos de um esqueleto recheado de carne. E, se queremos que o espírito de Deus habite em nós, então é necessário que nos submetamos debaixo da graça de Deus, e deixemos que Deus seja Deus em nossa vida, e que Ele providencie o rumo para as nossas atitudes.
Para que Deus se compadecesse de Israel, foi necessário que o povo se convertesse dos caminhos errados; foi necessário que o povo parasse de dobrar os joelhos diante às coisas que não são Deus, e quando o povo de fato entendeu e se arrependeu, Deus os fez novas criaturas.
Por isso, meus amados irmãos, receber o Espírito de Deus requer que abandonemos aquilo que Deus não aprova. E, como fazemos isto? Na verdade, não fazemos. Alguém faz por nós; e esse alguém é o Espírito Santo de Deus.
Neste domingo, nós celebramos a Festa do Espírito Santo. É conhecido como o “Dia, ou o Domingo de Pentecostes”.
Pentecostes é o dia em que Deus cumpre a promessa deixada por Cristo de enviar ao mundo o Consolador, aquele que nos santifica na caminhada espiritual, na vida de fé. O primeiro Pentecostes do NT foi marcado pela descida do ES em forma de chamas “como se fossem” de fogo (At 2.3), sobre a cabeça dos discípulos e da multidão que estavam reunidos em Jerusalém.
Muito se fala e muito se prega a respeito do Espírito Santo de Deus. Porém, queremos chamar a atenção para o fato de que o Espírito de Deus se manifesta de várias e diferentes formas e maneiras. No primeiro Pentecostes, manifestou-se em forma de línguas de fogo, dando a todos o dom de falar em línguas. Mas esta não é a única forma que ele se manifesta, como pregam inúmeras igrejas mundo à fora. Naquela ocasião, entender o evangelho em diversas línguas, era uma necessidade da igreja. Pentecostes foi o “clarear” daquilo que o próprio Deus escureceu na torre de Babel! Se lá, Deus confundiu as línguas, agora no Pentecostes, Ele mesmo abre o entendimento para que os povos de todas as línguas pudessem entender a boa nova da salvação.
A pergunta que devemos nos fazer hoje é: - Qual a necessidade que se tem de falar em línguas? Além disso, devemos notar que no primeiro Pentecostes, as línguas faladas eram línguas que já existiam. Ninguém inventou sons estranhos como acontecem em igrejas por aí, que balbuciam sons inventados, em geral, uma repetição de sílabas sem sentido algum.
Meus Queridos Irmãos, sob a desculpa de estar possuídas pelo Espírito Santo, muitas igrejas têm realizado verdadeiros “shows da fé”, que não passam de espetáculos humanos.
Não precisamos disso para ter a certeza de que o Espírito de Deus habita em nós. Ele vive em cada cristão desde o dia do seu batismo, onde ele mesmo acende nos corações das crianças a chama da fé.
Perguntou alguém: - Como se começa uma fogueira com água? E a resposta é: “Isso acontece em cada batismo”.
Portanto, o Consolador está presente em nossas vidas desde o dia em que fomos levados à pia batismal. E, ele quer continuar conosco; quer continuar vindo até nós por meio da Palavra e dos Santos Sacramentos que Jesus deixou à Igreja cristã na terra.
É pela presença do Espírito Santo de Deus em nós, que já não somos mais um amontoado de ossos secos. Somos agora ossos que vivem, e que têm esperança. E esta esperança ninguém pode tirá-la de nós.
Não é maravilhoso saber que o Espírito de Deus nos dá vida todos os dias quando Deus nos perdoa?
Não é maravilhoso sentir a presença consoladora e acolhedora de Deus em todas as situações da vida?
Como é bom ter a certeza de que o Espírito Santo de Deus nos tirou da sepultura do pecado e nos transportou para dentro da nação santa de Deus.
O teólogo inglês Willian Barclay, referindo-se ao Espírito Santo escreveu: “Quando o espírito falha, as coisas se agravam de modo assustador, pois a carne é como o inimigo do lado de dentro que abre a porta para o inimigo do lado de fora que está forçando a porta”.
O mais importante é saber que o Espírito de nunca falhará em nossas vidas enquanto nós nos alimentarmos da Palavra de Deus.
Pentecostes é dia de celebrar. É dia de festejar e de agradecer a Deus, que na sua infinita misericórdia, não nos deixou sozinhos a procurar o caminho do céu, mas enviou a sua própria presença espiritual, que de maneira estrondosamente milagrosa, direciona cada passo da nossa caminhada rumo à Pátria Celestial.
Enfim, queremos encerrar citando duas estrofes do hino 143 do Hinário Luterano:
1. Vem, entra em minha porta,
Que vou te receber
Nesta alma que, antes morta,
Fizeste renascer, ó bom Consolador,
Bendito e poderoso tal como Pai bondoso
E o Filho Redentor.
6. A nossa vida guia
segundo o teu dispor.
Chegando a morte um dia,
Ajuda-nos, Senhor;
Nossa alma leva então,
Em tua mão paterna,
A herdar a vida eterna
Na celestial mansão.
Amém!