UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
Curso de Teologia – Bacharelado
Culto e Música no Contexto Cristão
Trabalho em dupla: 20 de maio de 2004
Prof: Paulo Gerhard Pietzsch
Alunos: Dirceu Strelow e Fábio Reinke
LITURGIA DA PALAVRA
- Ofício Sinagogal: Os Judeus celebravam os atos de Deus não só lendo as suas histórias, mas também com cantos que se regozijavam com essa história (salmos), em orações e na reflexão sobre os sermões. Com o passar do tempo, as orações começaram a tomar a forma de uma súplica para que Deus agisse. Ao longo do tempo, as orações passaram a funcionar como credos, como louvor e súplica. A leitura da lei passou a ser prática normal. O culto transformou-se numa forma de ensino e transmissão das memórias comunitárias de um povo com o qual Deus havia se comprometido. O Padrão sinagogal foi enxertado no padrão da eucaristia: a palavra falada e o sinal executado. Na Primeira Apologia de Justino Mártir, meados do séc. 2, Justino deu dois exemplos de uma reunião eucarística. A 1ª segue um batismo, e a 2ª parece ser o culto dominical normal. Em tempos modernos, havia leituras do AT e NT, um sermão e intercessões gerais. Na Sexta-feira Santa tinha-se: leituras, salmodia, sermão e intercessões. Os primeiros elementos a desaparecer foram as leituras do AT no séc.4. A despedida dos catecúmenos desapareceu no Ocidente no final do séc.6, permanecendo assim no Oriente. As intercessões desapareceram no séc.7 no rito romano. Teve-se o acréscimo do canto e da oração no séc.5. Do rito romano no Ocidente, aparecera um rito introdutório: intróito, Kyrie, Gloria in excelsis e coleta. O intróito era basicamente um salmo musicado. No final do séc.5, a oração foi substituída em Roma por uma oração em forma de litania, antes das leituras e do sermão. No início do séc.7, as petições desapareceram em Roma, embora as litanias ainda permaneciam no rito Bizantino. O Kyrie permaneceu em Roma. A liturgia romana da palavra ficou destituída de intercessões. O acréscimo do Gloria in excelsis no Ocidente foi confinado. A coleta e a oração conclui a liturgia de entrada. Há também, por acumulo gradativo, um acréscimo de pedidos de excusas pela indignidade do oficiante no sentido de ser tornado mais digno para servir a Deus ao oficiar o culto. O resultado foi um rito preparatório, antes da liturgia da palavra, com o salmo 43. No séc.14 prefaciava o salmo com uma benção trinitária, seguindo com uma oração de confissão e de absolvição. Num acréscimo medieval, implantou-se o salmo responsorial, após as leituras. Quando estas desapareceram, seguiu-se à epístola, e o aleluia. A Idade Média acrescentou o Credo Niceno, original da Espanha, que não foi adotado em Roma antes do séc.11. No Oriente foi adotado no séc. 6.
- Na tradição reformada: O rito começava com uma oração de confissão, absolvição, depois um canto do decálogo, uma oração espontânea, um salmo cantado, oração de coleta, leitura, sermão, oração pastoral, petição, Pai-nosso e benção final.
- O Puritanismo: o ministro chama a congregação para o culto e inicia com uma oração, depois a leitura, um salmo, intercessões, oração pastoral, pregação, oração de ação de graças, pai-nosso, salmo cantado e uma benção. A abordagem medieval, com ênfase na confissão de pecados e na penitência, há claros ganhos na recuperação das leituras, na alta consideração pelos salmos e na importância da pregação.
- O Presbiterianismo: reunião das pessoas, chamado para o culto, hino de louvor, salmo, confissão e perdão, ato de louvor, a paz, oração, 1ª leitura, salmo, 2ª leitura, hino, evangelho, sermão, hino, credo, oração de intercessão, ofertas, oração de ação de graças, pai-nosso, hino, comissão e benção final. Aqui é encorajado o uso da eucaristia a cada dia do Senhor, o que não se tornou comum.
- Os reformadores anglicanos: salmo de intróito, pai-nosso, oração de coleta, Kyrie, Gloria in excelsis, saudação, coleta do dia e coleta pelo rei, epístola, evangelho, credo niceno e sermão. Seguindo com a exortação e a eucaristia. Em 1552, os salmos desapareceram e o decálogo foi acrescentado após a oração da coleta. As intercessões voltaram para logo após o sermão e as ofertas, e a confissão sucede as exortações. O Kyrie desapareceu e o Gloria in excelsis foi banido para antes da benção final. Houve ganhos na restauração da leitura e da salmodia, e na redução da confissão. A palavra de Deus inclui uma saudação, coleta, decálogo, Kyrie, Gloria in excelsis, coleta do dia duas leituras, sermão, credo niceno, oração do povo, confissão e a paz. Esquema do séc.6.
- Os Quacres: não implica necessariamente a palavra falada. Tem seu foco numa silenciosa espera por Deus. Após um período de concentração, as pessoas podem levantar-se para falar à medida que o Espírito as induza a tal. Há um elevado senso de disciplina, forte relutância em se precipitar em palavras.
- O Metodismo: herdou o padrão anglicano dominical da oração matutina, litania e antecomunhão com sermão. Foram feitas alterações mínimas na liturgia da palavra, além da omissão do credo. A principal mudança foi a expectativa do canto de hinos. Em 1792, ano subseqüente à morte de Wesley, o texto impresso da liturgia da palavra foi posto de lado. No séc.19, os livros oficiais da lei eclesial metodista, davam apenas um esboço: “o ofício deve consistir em canto, oração, leitura e pregação. O metodismo do séc.19 se aproximou bastante do reavivamentismo da tradição da fronteira. Com isso, o metodismo voltou-se cada vez mais para o esteticismo no início do séc.20, e para o historicismo em meados do séc. Para a igreja metodista unida inclui: reunião, saudação, hino, oração, louvor, leitura, salmo, hino, leitura, sermão, resposta à palavra, intercessões, confissão, perdão, paz, ofertas, oração de ação de graças, pai-nosso, hino, benção e saída.
- A tradição reformada: No séc.19 teve uma nova abordagem da liturgia da palavra. Dirigiam seu ministério para pessoas irreligiosas, as quais eles esperavam converter para o cristianismo. A forma de cultos era ao ar livre ou em tendas, reunindo a população para a pregação, orientação espiritual, batismos para convertidos e uma eucaristia de encerramento. O resultado foi uma tripartite de liturgia da palavra: um ofício de canto e louvor, hino, a canção gospel, oração e recitação de uma leitura bíblica, um chamado àqueles que foram convertidos, sendo batizados ou fazendo alguma outra indicação do seu novo ser.
- A tradição Pentecostal: começou no início do séc.20, envolvendo a utilização do dom de línguas e sua interpretação, insistência na liberdade de formas, canto espontâneo, testemunhas e leituras bíblicas. Boa parte do ímpeto para as reformas mais recentes, veio do Vaticano II. Preceitou simplicidade e clareza na missa, a pregação deveria ser normativa aos domingos, e que deve ser restaurada para depois do evangelho e da homilia. A ordem é: canto de entrada, saudação, rito de benção, Kyrie, Gloria, oração de abertura, 1ª leitura, salmo, 2ª leitura, aleluia, evangelho, homilia, profissão de fé e intercessões gerais.
Teologia da Liturgia da Palavra
A Liturgia da palavra é ouvir e responder à palavra de Deus pela fala humana. Deus fala a nós por meio das leituras e do sermão, lidos e pregados por seres humanos. Precisamos reconhecer este meio e seus poderes e limites. A fala como um meio de autodoação. Por meio de palavras estamos presentes para outras pessoas e Deus está presente para nós. Palavras expressam nossos pensamentos, nossas emoções, nosso próprio ser, de modo que outros possam compartilhar dos mesmos. Significa que esses tipos de culto giram em torno da palavra de Deus lida nas leituras e exposta no sermão. Quatro elementos são vitais no conceito de pregação: o poder de Deus, a fonte na Escritura, a autoridade a partir da igreja e a relação com as pessoas. A oração assume muitas formas: invocação, louvor, agradecimentos, confissão, súplica, intercessão, oblação e outras. Cada uma delas opera de modo algo diferente, embora todas tenham em comum o fato de serem a voz da criatura para o criador. A Salmodia proporciona uma forma jubilante de resposta da congregação àquilo que foi lido. Articulam nossa admiração e maravilha em relação ao que Deus fez. Por vezes eles são profunda e intimamente pessoais; outras vezes, são uma recapitulação da história ao culto, mas seu uso normal é de resposta às leituras. Os cânticos operam da mesma forma como os salmos. Os mais familiares são o magnificat, benedictus e nunc dimitis, e um hino de fins do séc.4. Os hinos funcionam de muitas formas diferentes. Há hinos de louvor, agradecimento, proclamação, contrição, invocação, oblação e uma enorme listagem de hinos com outras finalidades. Os hinos em geral são dirigidos a Deus e muitas vezes recitam atos de Deus. Oferecem uma forma mais intensa de se dirigir a Deus: música que envolve todo o nosso corpo.
EUCARISTIA
O termo Eucaristia tem sido usado desde o final do século I. Qualquer que seja o nome, o conteúdo é o mesmo em toda a cristandade: uma refeição Sagrada baseada nos atos de Jesus na última Ceia.Apesar de toda diversidade existente na prática do culto cristão afora, há também uma notável constância na forma que o rito toma.A semelhança das práticas eucarísticas difundidas por toda a cristandade atesta a marca que Jesus deixou sobre este tipo de culto.Agora, nós traremos em resumo, alguns fatores que foram adicionados com o tempo nas praxes da Eucaristia.
- A partir do séc, VII a.C., o culto sacrificial judaico foi nacionalizado no templo de Jerusalém. Todo o culto sacrificial se desenvolveu como um meio de se relacionar com Deus como nação e de alcançar comunhão com Deus enquanto indivíduos.O Sacrifício era um modo de vida, e os sacrifícios diários no templo, matutinos e vespertinos. Imagens sacrificiais encontram-se nas próprias narrativas da instituição da Ceia do Senhor e voltam a ocorrer em todo o novo testamento, particularmente em Hebreus.Salmos cantados diariamente no culto do templo passaram a fazer parte da Eucaristia. Ex:canto da entrada, e o Benedictus qui venit . E a salmodia responsiva também constituiu parte importante da liturgia da palavra.
- Após o ano 70, a súplica por novos prodígios é a conseqüência da proclamação do que Deus já fez. Boa parte da forma e conteúdo das orações sinagogais foi simplesmente adotada como padrão para a oração eucarística cristã, em especial a estrutura da bendição de Deus por meio da oração do credo.Aí também vem às narrativas da instituição e as palavras da instituição.No NT, temos uma rápida noção de outra eucaristia da instituída por Cristo, que é quando Paulo se prepara para deixar Trôade, onde Eutíquio continuou dormindo até mesmo durante a pregação de Paulo, era a Ágape ou festa do amor, ele era aparentemente uma refeição completa, mas de certa forma distinta da Eucaristia.
- O ágape degenerou facilmente, transformando-se em abuso, sendo proscrito por concílios no séc. 4. A Festa do amor foi revivificada entre os Irmãos, menonitas e morávios do séc.18, e continua em pleno vigor. John Wesley tomou emprestado essa prática e a introduziu no metodismo em 1738. O Ágape tem sido usado em ocasiões ecumênicas em anos recentes, quando não é possível celebrar uma Eucaristia.
- O Ósculo da Paz, é um sinal de amor e unidade que concluía as intercessões e conduzia ao ofertório, posição que reteve no Oriente, mas perdeu no Ocidente até mesmo as recentes revisões feitas em algumas Igrejas.Nossa mais importante fonte de informação sobre a Eucaristia dos primeiros tempos é Hipólito. Esses firmes reacionários, que tentava resistir á experimentação litúrgica no séc. 3, inspirou muitas inovações no século 20. Sua formulação da oração eucarística após a ordenação de um bispo tem sido amplamente copiada tanto por protestantes quanto por católicos romanos. Ela é a fonte básica para a oração Eucarística católica romana II.Assim que um novo bispo é ordenado, todos lhe oferecem o ósculo da paz.Após isso inicia a ação de graças. A Ação de graças começa com um diálogo entre o principal oficiante e a comunidade. O diálogo inclui o sursum corda, hoje formulado como “Elevai os vossos corações”, e convida a comunidade a participar da ação de graças proferida pelo bispo.Pequenas mudanças ocorreram após Hipólito na oração Eucarística, principalmente numa expansão das palavras que conclamam a dar graças após o sursum corda.
Na era pós nicena, uma variedade de ritos eucarísticos se desenvolveram dispersos ao redor do perímetro do mediterrâneo. Todos apresentam características comuns.Por volta do séc.6 a liturgia da palavra e a eucaristia já haviam sido casadas para todo o milênio seguinte.Nos séculos 4,5 e 6 aparecem importantes divergências de estilo e formulação, testemunhando a diversidade dos povos, porém preservando a constância do objetivo. A oração eucarística típica da família Alexandrina ou egípcia é aquela denominada segundo Marcos, que, de acordo com a tradição, atuou em Alexandria. Mais para o Oriente encontramos a família antioquena ou sírio-ocidental, com importantes documentos de Antioquia e Jerusalém, freqüentemente designada sob o nome de liturgia de São Tiago.A família que mais nos deixa intrigados é com certeza a família sirio-oriental, que se originou em Edessa como a Liturgia dos santos Addai e Mari. Isolada por heresia e pelo islamismo, ela continuou em uso relativamente intocada por outras influências.Para a família de Basílio de Cesaréia na Ásia Menor devemos uma versão antiga conhecida como a de Basílio Alexandrino, uma vez que pode ter sido trazida ao Egito pelo próprio Basílio em torno do ano de 357.Para deixar mais claro, colocaremos um gráfico:
A EUCARISTIA
Hipólito Sécs. 4 a 6 Medieval
(ósculo da paz)
Ofertório
Orações de ofertório e cerimônias
Oração eucarística oração sobre as ofertas
Prefácio, sanctus,
Intercessões
Pai-nosso
Ósculo da paz
Fração Agnus dei
Comistura
Orações sacerdotais
“Senhor, não sou digno”
distribuição de pão e vinho canto da comunhão
oração silenciosa
abluções
oração pós-comunhão
benção com despedida
último evangelho
orações de conclusão
Os reformadores, entretanto, tomaram algumas medidas positivas muito importantes, embora nenhuma delas tivesse captado o antigo significado da oração eucarística. Lutero deu o mais forte, se não o primeiro, ímpeto para a reforma da missa com seu rito latino, a Formula Missae de 1523 e sua Deutsche Messe de 1525 no vernáculo. Tendências recentes em muitas igrejas estão centradas na restauração de muitas práticas da igreja antiga. Geralmente há concordância que a maioria dos desdobramentos medievais foram distorções, embora possamos estar propensos a romantizar a igreja antiga assim como os vitorianos faziam com a medieval. Básica para a maioria dos ritos desde o surgimento do rito da igreja do Sul da Índia em 1950 é a estruturação em torno das quatro ações descritas por Dix. A redescoberta da centralidade da oração eucarística como a suprema declaração de fé da igreja estimulou a revisão de orações existentes e a composição de novos exemplos. Os luteranos americanos a recuperaram em 1958.
Compreensão de Eucaristia
Paulo torna evidente o sentido de comunhão em passagens como 1Co 10.16-17. O foco da oração judaica está num processo de pensar e agradecer numa comemoração com ação de graças. As palavras da instituição usam a linguagem do sacrifício ao recordar uma aliança estabelecida pelo derramamento de sangue. O Primeiro milênio do cristianismo se caracteriza pela ausência de distinções teológicas precisas sobre a compreensão de eucaristia. Falta inclusive o vocabulário para a discussão teológica técnica da eucaristia. No Ocidente, a proposta de Ambrósio de que é a recitação das palavras da instituição que realiza a consagração. Pascásio Radberto e Ratramno, ambos monges da abadia de Corbie, França, no séc.9. Pascásio, tentando comprimir em palavras a presença de Cristo experimentada na eucaristia, usou uma linguagem que chamaríamos de literal ou realista; pouco depois, Ratramno tentou expressar a mesma experiência em linguagem mais espiritual ou simbólica. A reflexão a respeito da eucaristia como sacrifício também se desenvolveu, de modo que a missa era vista como propiciatória, realizada para alcançar objetivos desejados. Presença e sacrifícios foram aspectos altamente desenvolvidos pelo período da Idade Média tardia, porém esse incremento na construção doutrinal se deu às custas de uma interpretação equilibrada. Lutero, que descartara o cânon da missa por cheirar demais a sacrifício e que via no sacrifício o “terceiro cativeiro da missa” não conseguiu alcançar muito de positivo no tocante ao sacrifício. Os últimos anos têm presenciado um extraordinário desenvolvimento na compreensão da eucaristia, particularmente em direção a uma abordagem de equilíbrio mais esmerado.