UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
A Influência da Emoção do Orador
Reinaldo Polito
Retórica e Anúncio da Palavra de Deus
Prof. Clóvis Jair Prunzel
Alunos: Eduardo, Geomar, Isack, Jayro, Miquéias
18 de setembro de 2007
A emoção e o orador
A emoção tem um papel fundamental para o orador. Dela dependem o sucesso do discurso e a receptividade do expectador. Ela faz parte deste processo e por isso é um item importante no estudo da oratória.
A influência da emoção pode ser observada por seus próprios resultados, mas não pode ser defina ou mesmo descrita. Ela esta entrelaçada com palavras e gestos ou em forma silenciosas de expressões.
A emoção e a música
Desde os tempos primórdios os seres humanos experimentaram os sentimentos produzidos por sons ordenadamente organizados. Alguns cientistas concluem que também outras espécies de igual modo sentem emoções com a música. Os seres racionais refletem e descrevem sem poder definir, as sensações arrebatadoras provocadas pela música, isso não somente em quem escuta , mas também em quem executa a melodia. O autor, considera uma ironia o fato da expressão verbal não poder explicar a emoção que o conduz.
Emoções em sua origem
Ao abordamos a emoção não podemos esquecer que estamos lidando com funções biológicas primarias. Quando emitimos emoções em nossas expressões levamos o nosso interlocutor a assumir nossas reações como fosse dele. Por isso deve haver coerência na expressão verbal do orador para que seu ouvinte possa interpretar. Seus gestos palavras postura, olhar formaram um conjunto capaz de dar vida ao seu discurso.
Ao discutir a origem de um discurso, sabe-se que ele iniciar internamente no orador, e não apenas na razão ou como um simples conjunto de palavras organizadas em uma folha de papel. Conclui-se desta forma que a mensagem racional tem sua origem na emoção. Como alguns costumam dizer: “falei o que sinto.”
O emocionar segundo Maturana
Temos a capacidade de perceber e distinguir as diversas emoções que estão a nossa volta, do nosso dia a dia, ao observarmos os comportamentos, as ações e as reações das outras pessoas e até dos animais. E cada ação dependerá da emoção que a pessoa ou animal estiver sentindo.
Maturana e Reich dizem que a existência humana só se realiza na linguagem e no racional, partindo do emocional.
Maturana descreve a linguagem como um fenômeno de vida, que é a característica das pessoas ao longo de sua vida e que é dividido em duas experiências de vida: Emocional - ou imediata, que também é comum aos animais e que dinamiza suas ações; Racional - só as pessoas a possuem, em que todo comportamento será impulsionado, constituído e especificado por alguma emoção no curso de suas ações e interações.
O orador tem a capacidade ou liberdade em decidir sobre o nosso querer ou sobre a mudança do nosso desejar, fazendo o uso da linguagem para adequar suas emoções ao querer e aos desejos dos ouvintes.
Na comunicação em público o orador deve estar atento à reação de seus ouvintes, e supor que tipos de respostas seu discurso está produzindo, e se ver que seu assunto não é agradável, deve mudá-lo o quanto antes.
A emoção do orador dependerá da maneira em que ele transmite sua mensagem. Ao comunicá-la com emoção, estaria expressando seus sentimentos, ou estaria interpretando seus sentimentos para expressar o que está sentindo ou quer que seu público sinta.
A poesia e a arte são formas de expressar sentimentos e pensamentos do autor.
A emoção se dá diante de coisas novas, que se percebem nas esculturas, nas pinturas e nos poemas.
Os sentimentos ou emoções simulados normalmente são utilizados para manipular o público. Essa atitude deve ser condenada, pois pode estar agredindo a conduta ética recomendada aos oradores.
Emoção e Imagens
O Autor enfatiza que a emoção do orador, comparada com o papel das imagens para o consumo dos produtos hoje em dia, é relacionada a sua função que se presta ao mesmo objetivo: influenciar o ânimo das pessoas.
Assim como Marx definia que a partir do capitalismo, existia um acumulo de mercadorias, hoje existe na sociedade o acumulo de espetáculo, ou seja, a produção tanto comercial, como pessoal, esta unida ao espetáculo, e muitas coisas que eram vividas na pratica, agora não passam de representações.
Da mesma maneira que a essência do produto depende da imagem e da aparência para seduzir o consumidor, assim é com a emoção, quando ela é utilizada de forma verdadeira, ou interpretada, pois ela pode lançar mão do aspecto espetacular, mesmo que ela mude o conteúdo da mensagem para seduzir o ouvinte.
Ex: Podemos perceber este exemplo nas grandes igrejas pentecostais, que pregam a teologia da prosperidade. O orador usa de dois artifícios: O primeiro é quando ele apresenta um espetáculo diante do publico, utilizando a imagem e a aparência, e o outro é a emoção de forma verdadeira ou falsa para conquistar o publico.
E cada vez mais esses mecanismos são utilizados, seja na empresa, na igreja, e principalmente em palestras onde o objetivo é conquistar a platéia.
Sendo assim a imagem é um elemento de influência na sociedade para que o consumidor deseje o produto, o mesmo se da com a emoção para que os ouvintes aceitem a mensagem do orador.
A Sociedade do Espetáculo
As relações do homem com os objetos estão cada vez mais associados às imagens. O Autor sustenta que numa primeira fase capitalista, existia o acumulo de objetos e de mercadorias numa perspectiva de quantidade para aumentar o capital, não importando com a aparência.
Hoje, o acumulo de capitais está vinculado a imagem e ao mundo das aparências. Quando nós compramos um objeto, temos a sensação de estar adquirindo também as imagens que estão associadas a ele, parece que fazemos parte dessa imagem.
Ex: A indústria do cigarro faz um marketing incrível, são imagens, propagandas e espetáculos, que leva o fumante a pensar que ele faz parte desse mundo, assim é com a cerveja, com os carros, moda etc.
Muitas vezes a essência do produto nem é importante, mas sim a imagem dela, ou seja, homem valoriza a aparência.
A Sociedade do Espetáculo está subordinada a aparência
Uma qualidade só vai se manifestar se for transformada em imagem. Para vender uma mercadoria na sociedade do espetáculo, é preciso investir na sua aparência. Isso também é uma característica que precisa estar presente para que o orador possa influenciar o ânimo dos ouvintes.
A influência da imagem é um fator importante para que o consumidor possa se interessar pelo produto, assim é com a emoção, ela está presente na comunicação da mensagem e tem influência nos ouvintes. As imagens e as emoções não surgem por acaso, ao contrario, possuem objetivos determinados que, de maneira geral, pela sua aparência e interpretação, visam estimular a compra de um produto ou a aceitação de uma idéia.
É importante saber que a emoção pode ser percebida, observada pelo ouvinte ou comunicada pelo orador, mesmo que não seja possível defini-la ou explicá-la.
Os estudos sobre o processo da recepção
Polito relata que durante todo o processo evolutivo da teoria da recepção, passando pelo funcionalismo e pelo estruturalismo, diversos estudos se sucederam dando enfoque ao emissor, depois no contexto, até posteriormente ser considerada a participação do receptor na formação da mensagem.
O autor descreve que a estética da recepção não se prende a simples contextualização de um discurso e também não se limita a uma abordagem sociopolítica, pois o encontro do homem com o texto é marcado por um redimensionamento do elemento histórico.
Surge, assim, interação mensagem/recepção e a proposta de uma semiologia de contexto, onde se busca um estudo da estética da recepção. Recepção entendida aqui, obviamente, não como algo passivo, ou seja, há uma representação em que o dualismo sujeito/objeto se dilui, havendo o encontro do sujeito com o mundo.
Polito cita Martin-Barbero, em "A América Latina e os anos recentes: o estudo da recepção em comunicação social” o qual diz que a recepção é um espaço de interação e que o processo de recepção é um processo de interação e conclui dizendo que a recepção é um processo de negociação do sentido.
Preocupado com o possível mal entendido do papel do emissor/receptor no processo de comunicação, chama a atenção para o risco dos extremos. Ele alerta para que não se caia em extremos, imaginando que agora a comunicação, por considerar o receptor, suas circunstâncias e suas características, se concretize se cada um ler no jornal o que lhe "der na cabeça". Segundo o autor, dão-se outras coisas, como neuroses, histerias, mas não um processo de comunicação.
O primeiro extremo: quem sabe o que se passa na comunicação é o emissor. É necessário estudar as intenções do emissor, se são manipulatórias ou ideológicas.
O segundo extremo: pensar que o receptor faz o que quer com a mensagem.
O autor escreve que o que se estuda com base na recepção é um modo de interagir não só com a mensagem, mas com a sociedade, com os outros atos sociais, e não só com aparatos. Assim se entende hoje o processo de comunicação com a participação e a influência da recepção. Todos os agentes envolvidos: emissor, receptor, o texto e o contexto ambos agindo e interagindo entre si.
A possível manipulação
Polito chama a atenção para a possibilidade de manipulação mesmo que não desejada, não pretendida como fim último do processo de comunicação, mas possível. Se o emissor, sabendo de antemão quais são as características que compõem o receptor e também estando consciente dos elementos que formam o contexto do conteúdo, desejar construir o resultado final da mensagem, bastará agir nessa direção.
Ideologia e mensagem
Para explicar a formação da ideologia do indivíduo como integrante de uma sociedade, Polito cita, Althusser que diz que desde que nasce, a pessoa recebe influências de todas as instituições e, quando aprende uma linguagem, absorve também os valores da sociedade através do aparelho político, submetendo os indivíduos à ideologia política do Estado, o aparelho da informação através da imprensa, do rádio e da televisão, o aparelho cultural, o aparelho religioso, relembrando em seus sermões, e nas outras grandes cerimônias do Nascimento, Casamento e Morte, que o homem são apenas cinzas, a menos que ame seu próximo a ponto de dar a outra face a quem quer que bata primeiro e o aparelho familiar dentre outros. Ele conclui dizendo que nessa nesta análise reside a chave que poderia permitir ou dificultar o trabalho de manipulação. O autor cita o exemplo da formação do jornalista como pessoa, interferindo no processo de produção da notícia. Ele relata que como qualquer profissional, é vítima da sua trajetória social, ou seja a combinação de pré-conceitos pessoais e de pré-suposições compartilhadas com seu meio. Polito cita Bourdieu e sua sociologia através do conceito de habitus, que é o princípio gerador de comportamento, conjunto de disposições que fazem agir, pensar, perceber e sentir de maneira determinada, um conjunto de esquemas de classificação do mundo social, interiorizado durante toda a trajetória do indivíduo. Ele gera o comportamento por se constituir em predisposições a fazer, dizer, pensar isto ou aquilo.
Polito conclui dizendo que assim como o jornalista, todas as pessoas sofrem influência do seu meio e do meio onde viveram outras pessoas com quem passaram a ter contato. Embora o exemplo da formação do jornalista refira-se ao seu papel como emissor da mensagem, é óbvio que a influência no seu comportamento será a mesma quando ele agir como receptor. Por extensão de raciocínio, o mesmo processo se dará com qualquer outra pessoa. Essa experiência cristalizada estará presente em todas as etapas de formação da mensagem.
Adaptação da mensagem à realidade da recepção
Podemos seguir algumas técnicas, que promovem uma interação entre o orador e os ouvintes. O autor Weiss, aborda o assunto em seu livro “Como falar em público”. Ele sugere que sejam feitas perguntas aos ouvintes sobre suas expectativas, com relação ao assunto que será tratado e à medida que forem surgindo, relacioná-las ao conteúdo tratado. Esse método interativo é uma maneira prática de conhecer melhor as características e as expectativas dos ouvintes e adaptar melhor a mensagem visando uma boa recepção por parte do público.
Segundo o autor, Ireneu Evangelista de Souza, o mais importante empresário da época do império, é um exemplo de fracasso, após ter ido à falência por não observar a importância da adaptação da mensagem à realidade da recepção. Isto porque, em determinada ocasião convidou D. Pedro II e as mais altas personalidades do país para batizar as locomotivas da primeira ferrovia brasileira. Na oportunidade, o empresário cometeu o grave erro de tocar em um assunto que meses atrás havia desgastado a pessoa do Imperador.
O desafio da análise das características dos receptores
Através dos conceitos de Althusser, é possível descobrir qual é a formação predominante dos seus receptores, quais são as suas origens e heranças sociais, que tipo de valores que absorveram durante o processo de aprendizado da linguagem, mas por outro lado, iremos nos deparar com obstáculos difíceis de ser contornados. Pois cada receptor é um indivíduo, que foi moldado diferentemente do outro, com sentimentos, emoções e gostos diferentes, mas mesmo assim, é possível manipular os ouvintes, mesmo sem compreender plenamente os elementos que participaram de sua formação.
Conclusão
Em todos os momentos históricos, desde Aristóteles, passando por Quintiliano, até chegarmos à época mais recente com Roman Jakobson, o uso da emoção do orador no processo de conquista dos ouvintes não foi contestado, ao contrário, foi sempre estimulado como sendo um valioso instrumento para o orador atingir seus objetivos diante da platéia.
Reich afirma que: "o organismo possui uma linguagem expressiva própria, antes de, para além de, e independentemente de toda a linguagem verbal". Essa característica demonstra que a emoção do orador poderá ser sentida, observada, mas jamais explicada ou dominada no seu entendimento.
A emoção do orador tem influência determinante no processo de conquista dos ouvintes e a sua ação depende de um conjunto de aspectos da comunicação, que se alternam no comportamento do orador e que atuam ora de maneira simultânea, ora de forma isolada.