Quarto Domingo de Páscoa
2 de maio de 1993
I Pe 2.19-25
Leituras do dia
Salmo 23 - Destaca a vida sob o pastoreio de Deus e a confiança na sua ação graciosa a nosso favor, que nos leva a encontrar segurança até mesmo nos momentos mais ameaçadores.
Atos 6.1-9, 7.2a, 51-60: A história de Estevão, um dos primeiros sete diáconos escolhidos pela igreja de Jerusalém. Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, assim descrito pelo texto. Por meio da fé recebera a dádiva de pertencer ao rebanho do bom pastor. Encontrara coragem para testemunhar diante dos inimigos da fé cristã. Sabendo-se amparado pelo Senhor, enfrentou a morte horrível por apedrejamento sem temor, pelo contrário, invocando perdão divino para os seus algozes.
João 10.1-10: O conhecido texto onde Jesus se apresenta como o bom pastor que conduz em segurança o seu rebanho, ao contrário do que faria o ladrão e salteador. Na presença desse bom pastor, o rebanho está a salvo.
"Eu sou a porta das ovelhas" afirma Cristo. Ressalta aqui o seu valor junto daqueles que o seguem. Ingressar por esta porta é garantia de encontrar a vida em abundância, vida em comunhão com o Senhor Deus, vida que propicia segurança em meio às ameaças, paciência em vez do desespero, esperança em lugar do pavor e salvação em troca da condenação.
As três leituras mencionadas fornecem nítidos elementos para se estabelecer o tema do domingo, que poderia ser assim resumido: a vida sob o pastoreio de Deus, à qual temos acesso por Cristo.
Resta-nos agora examinar o texto da epístola para descobrirmos que aspecto dessa vida tão especial é destacado pelo apóstolo Pedro.
I Pedro 2.19-25: Texto encontra-se em meio a uma série de orientações dadas pe- lo apóstolo quanto à prática da fé nas mais diferentes áreas em que o cristão atua. Lendo toda a epístola, verificamos que se salienta uma verdade: a vida do cristão reve- la um aspecto que se constitui numa novidade toda especial dentro do contexto de atuação humana. Que novidade será? É o libertar-se dos mandos e desmandos da nossa carne, do diabo e do mundo. Este trio incômodo e cheio de poder destruidor, procura nos impor um certo tipo de conduta. Aos olhos dos não regenerados é uma ação "normal e natural". No entanto, tudo se transforma a partir da "metánoia" operada pelo evangelho de Cristo no coração do crente.
No texto, Pedro aborda o seguinte aspecto dessa nova vida: a fidelidade de nossa consciência para com Deus, mesmo sofrendo em conseqüência disso. O que importa, porém, é a nossa consciência para com Deus (exemplo de Estevão).
Vers. 19 - A partir da recomendação aos servos para que se sujeitem também aos senhores perversos (18), o apóstolo apresenta a novidade: é graça (cháris) se alguém suporta tristezas, sofrendo injustamente, por causa de sua consciência para com Deus.
Deus concede-nos a graça de até sofrer injustamente por causa de nossa cons- ciência para com ele. Sendo uma graça, também tal atitude se torna agradável na presença do Senhor. À pergunta pelo objetivo de tal procedimento estranho para muitos, recebemos a seguinte resposta: é a preservação de nossa boa consciência para com Deus.
Pedro tem em mente uma consciência iluminada, ou seja, aquela que julga os atos da pessoa a partir do confronto desses com a vontade de Deus. A luz que ilumina provém da Palavra e o reconhecimento desta como verdade única e soberana nada mais é do que fé, confiança naquilo que ela apresenta. Agraciados com a fé, busca- mos a Palavra. Nela encontramos a revelação da vontade divina que ilumina nossa consciência. Nosso agir, então, deverá se proceder segundo a vontade revelada do Senhor, mesmo que isso implique em sofrimento. No caso dos servos cristãos da época de Pedro, tal experiência não era tão incomum. Senhores pagãos sentiam pra- zer especial em maltratar aqueles que se professavam de Cristo. A eles o apóstolo re- comendou não apenas fazer o bem submissamente, mas até sofrer enquanto o bem é praticado.
Vers. 20 - A glória da atitude cristã não está em pecar, ser esbofeteado por isso e suportar o castigo pacientemente. Qualquer pagão pode apresentar o reconhecimento do erro e a aceitação da pena. A glória resulta da fidelidade a Deus, o que se torna agradável aos seus olhos. Em nome dessa fidelidade, suportariam os servos cristãos a aflição mesmo praticando o bem. Acima de qualquer outra coisa, até mesmo da dor dos castigos, haveria a procura para a preservação da boa consciência para com Deus. Assim age alguém sob o pastoreio do Senhor.
Agora há como identificar claramente aquela que vem a ser a Moléstia sacada do texto. Embora desfrutando de uma existência inigualável em bênçãos sob o pastoreio do Senhor, esquecemo-nos muitas vezes de preservar nossa consciência para com Deus. Afogamo-la no mar das conveniências que servem à nossa carne por uma ou outra razão. Apesar de cientes da revelação divina esquivamo-nos do confronto com ela, amarramos nossa consciência e procuramos amordaçá-la para que não nos im- peça de agir segundo outras conveniências, ignorando a fidelidade a Deus. Os moti- vos para tanto podem ser vários, inclusive o temor da perseguição por parte dos pagãos ou maus. Aos servos cristãos injustiçados do tempo de Pedro poderia lhes pa- recer muito conveniente a rebelião contra os senhores. O apóstolo, todavia, lhes indica outro caminho.
Vers. 21-24 - O outro caminho indicado por Pedro segue um exemplo magnífico: o próprio Cristo. Fiel ao que o Pai lhe havia determinado como missão aqui no mundo, Jesus permaneceu dentro do propósito de vida em total conformidade à vontade do Pai. Tudo suportou para que chegasse ao fim de sua obra redentora com o seguinte resultado para nós: nos fazer passar da morte para a vida. Nestes versículos encon- tramos a Cura para a moléstia antes apontada. Cristo não se constitui apenas num modelo humano, mas é o exemplo que também os capacita a seguir os seus passos, pois com seu perdão e salvação nos consola e nos coloca numa nova vida. Trata-se do viver sob o seu pastoreio, em que vemos tudo à luz da Palavra de Deus, num agir impulsionado pela nossa consciência para com Deus, sendo que esta, por sua vez, re- ceberá de Cristo a suficiência para ir em frente nessa perspectiva.
Vers. 25 - Reafirma a nova vida resultante da ação de Jesus a nosso favor. Agora, não mais desgarrados, porém debaixo da condução segura do Salvador, Pastor e Bispo das nossas almas, podemos estabelecer objetivos claros à nossa conduta. Como objetivo de fé, destacamos a constante ação em conformidade à vontade divina, não importa se a situação que nos rodeia favorece ou dificulta tal coisa. O mais importante é glorificar a Deus com nosso comportamento. Temos a nos amparar a graça divina, tão evidente em toda a obra vicária de Cristo.
Como objetivo de vida, salientamos a conduta junto ao próximo espelhada no exemplo de Jesus. Não obstante, as tentações para uma atitude à nível da má conduta dos outros para conosco, estimulados pelo modelo encontrados em Cristo, buscaremos colocar em prática aquilo que nossa consciência iluminada por Deus nos apre- senta como agradável ao Senhor.
Proposta homilética
A vida sob o pastoreio do Senhor - esboço a ser desenvolvido a partir do exposto em termos de Moléstia, Cura e Objetivos.
Rev. Prof. Paulo Moisés Nerbas
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