A Entrada de Cristo em Jerusalém, Mt.21.1-11.
V.1) Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, ao Monte das Oliveiras, enviou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: 2) Ide à aldeia que aí está diante de vós e logo achareis presa uma jumenta, e com ela um jumentinho. Desprendei-a e trazei-mos. 3) E se alguém vos disser alguma coisa, respondei-lhe que o Senhor precisa deles. E logo os enviará. Jesus, depois do milagre de Jericó, foi direto a Betânia, pequeno povoado no lado leste do Monte das Oliveiras. Havia ressuscitado da morte seu amigo Lázaro, o que intensificou muito o ódio dos fariseus e dos principais dos sacerdotes, Jo.11.23. Nesta ocasião o Senhor chegou num sábado a Betânia e passou o dia na casa de Simão o leproso. No jantar que lá lhe serviram, Maria o ungiu para o seu sepultamento, Jo.12.7. Jesus continuou sua viagem na manhã seguinte. Mas as notícias de sua vinda haviam alcançado Jerusalém, e muitos dos peregrinos, que haviam vindo à festa, deixaram a cidade para encontrá-lo, cantando os hinos jubilosos que eram entoados em ocasiões festivas. “Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em o nome do Senhor,” Jo.12.12,13. Jesus veio com os primeiros da multidão a Betfagé que é a “casa de figos”, uma pequena vila na ladeira sudeste do Monte das Oliveiras, quase vizinha a Betânia, na mesma estrada para Jerusalém. Na entrada deste pequeno povoado, Jesus parou por algum tempo, com o objetivo de enviar dois dos discípulos como delegação sua. Dá-lhes diretrizes claras: Na localidade em frente deles, achariam logo e sem dificuldades, atada uma jumenta tendo consigo o potro. Sem pedirem licença, deviam desatar e trazê-los, como se fossem eles os seus donos. Caso, os donos ou alguma outra pessoa fossem protestar quanto ao seu direito de levar os animais, a simples palavra: O Senhor precisa deles, tendo seus motivos para querê-los, (esta palavra) serviria como senha e faria com que os donos obedecessem em submissão imediata e grata. Três pontos importantes: O Senhor sabia que os animais estavam no lugar indicado, e mais uma vez aproveitou a ocasião para convencer seus discípulos de que nada lhe era oculto. Sua Palavra tem poder e autoridade onipotentes. Tal como as ocorrências do futuro instantaneamente lhe estão manifestas, assim ele, o Senhor a quem todas as coisas pertencem, pode, mesmo à distância, influenciar o coração do dono para que se submeta à
sua vontade. Os dois discípulos estiveram totalmente no escuro quanto à finalidade de sua missão, Jo.12.16, e, sem dúvida, cumpriram com grande relutância a sua ordem, que os poderia colocar em dificuldades desagradáveis. Foram, porém, submissos à sua palavra, porque de experiência souberam que ele removeria quaisquer perigos. Bem da mesma forma os discípulos de Cristo de todos os tempos podem confiar inteiramente na Palavra de seu Senhor onipotente e onisciente, sabendo que, mesmo nos caminhos escuros, sua autoridade os preserva.
A profecia cumprida:
V.4) Ora, isto aconteceu, para se cumprir o que foi dito, por intermédio do profeta: 5) Dizei à filha de Sião: Eis aí te vem o teu Rei, humilde, montado em
jumento, num jumentinho, cria de animal de carga. O acontecimento inteiro, com todos os seus incidentes, ocorreu desta forma para que a palavra do profeta, Zc.9.9, fosse cumprida. Cf.Is.62.11. A citação feita pelo evangelista é feita de modo livre, incorporando tudo o que o Antigo Testamento diz da mansidão e humildade deste Rei dos reis. Cristo, com isto, desaprova todas as
idéias e esperanças messiânicas carnais e vulgares. Ele fez sua entrada na cidade que logo mais o rejeitaria por completo, não no modo de um herói conquistador, como o esperavam os habitantes mundanos de Jerusalém, mas num asno, e no potro dum asno. Este foi um último grande dia de misericórdia para a cidade, para que todos os habitantes pudessem conhecer o Redentor, mas eles não consideraram isto como algo que pertencesse à sua paz. Porém, tanto maior seria a impressão que a vinda do Rei da graça faria aos corações de seus crentes. “É isto, a que o evangelista admoesta pregarmos, quando diz: ‘Dizei à filha de Sião: Eis aí o teu Rei vem a ti, manso’. É, como se dissesse: Ele vem para o teu bem, para a tua paz, para a salvação e a alegria do teu coração. E, porque não o creram, ele profetiza que isso devia ser falado e pregado. Todo aquele que crê, que Cristo vem assim, este o tem desta forma. Ó que pregação singular que hoje é quase desconhecida! Assinalem bem cada palavra. A palavra ‘eis’ é uma palavra de alegria e admoestação, e se refere a
algo que ansiosamente se esperou por muito tempo. ‘Teu Rei’, que destrói o tirano de tua consciência, a saber, a lei, e te governa em paz e de modo muito agradável, dando-te perdão dos pecados e a força de cumprir a lei. ‘Teu’, isto é, prometido a ti, por quem tu esperaste, a quem tu, carregado de pecados, clamaste, por quem suspiraste. ‘Ele vem’, de modo voluntário, sem teu mérito, unicamente por grande amor, pois tu não o trouxeste para cá nem foste tu quem subiu ao céu, tu”. não mereceste seu advento, mas ele deixou a sua propriedade e vem a ti que és aquele que é indigno e que sob a compulsão e o domínio da lei mereceste, como retribuição pelos teus pecados, nada mais do que castigo. ‘A ti’ ele vem, isto é, para o teu benefício, com tudo o que dele necessitas. Ele vem para buscar a ti; vem somente para te servir e te fazer o bem. Ele não vem para o seu próprio bem, não para de ti buscar o que é seu, como anteriormente o fazia a lei. Tu não tens o que a lei exige. Por isso ele vem para te dar o que é seu, mas de ti ele não espera nada, a não ser que tu permitas que teus pecados te sejam tirados e tu sejas salvo. ... O evangelista usa só a palavra ‘humilde’ mas omite as palavras ‘justo e salvador’. Pois na língua hebraica a palavra ‘pobre’ esta intimamente relacionada com a palavra ‘humilde’ ou ‘gentil’. Os hebreus chamam de pobre uma pessoa que é pobre, modesta, humilde, inquieta e abatida de espírito. Todos os cristãos são chamados, por isso, pobres nas Escrituras. Pois, de fato, é manso e humilde aquele que não considera o mal que foi feito ao próximo nunca diferente do que sendo feito a ele próprio. Ele sente de modo apropriado o problema e, por isso, tem compaixão do próximo. O evangelista descreve a Cristo como alguém assim, que foi pobre e martirizado em nosso lugar, e que foi realmente humilde, que veio oprimido pelo nosso mal mas que está pronto para nos socorrer com a maior de todas as misericórdias e com amor”
1). A entrada triunfal: V.6) Indo os discípulos, e tendo feito como Jesus lhes ordenara, 7) trouxeram a jumenta e o jumentinho. Então puseram em cima deles as suas vestes, e sobre elas Jesus montou. 8) E a maior parte da multidão estendeu as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam ramos de árvores, espalhando-os pela estrada. 9) E as multidões, tanto as que o precediam, como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas! Enquanto Jesus esperava junto à entrada de Betfagé, os discípulos cumpriram sua ordem, recebendo, como resultado, a confirmação de sua confiança nele. Obedecer a sua Palavra nunca redundará em vergonha para o cristão. Os animais, quando levados ao Senhor, não estavam areados. Mas, neste momento, um êxtase peculiar se apoderou dos discípulos e da multidão que ia aumentando em número. Despindo, rápido, suas vestes exteriores, que era uma casaca solta, abriram-nas sobre o potro como assento para o Mestre.
O exemplo dos primeiros discípulos foi contagioso. Todos os demais, bem como grande parte do povo, tomaram as vestes e as espalharam sobre o caminho, como para receber um imperador ou rei potente. A agitação, todavia, se espalhou. Visto que muitos dos costumes das grandes festas, de vez em quando, eram transferidos de uma para a outra, o povo não hesitou, também desta vez, de emprestar os hábitos da festa dos tabernáculos. Alguns do povo cortaram ou arrancaram galhos das árvores ao longo da estrada, e os espalharam pelo chão para formarem um tapete de filhas para Ele passar. Mas o auge da exultação se deu no alto do Monte das Oliveiras. Aqui as fileiras dos
primeiros cantores se engrossaram com grandes multidões de recém-chegados. E, enquanto estes iam adiante, outros seguiam após o Senhor. E, numa exclamação antífona a aclamação jubilosa do povo subia ao céu, quando cantavam trechos do grande Aleluia, com a doxologia usada em grandes festas, Sl. 118.25,26. Proclamam-no de público como o Filho de Davi, como o verdadeiro Messias, e lhe desejam bênçãos e salvação do alto. Vindo de toda parte, o povo se juntava nesta demonstração em honra ao humilde Nazareno. Cheios de júbilo ofertavam suas vestes festivas, seus ornamentos de festa, trouxeram ramos de palmeiras e abanavam as verdes capas da incipiente primavera como expressão plena de sua alegria, de sua confissão do Senhor, o Messias. É muitíssimo triste que esta exultação só foi temporária, e que tão de pressa foi esquecida. Contudo, ao menos por breve tempo, o Espírito do Senhor tomou posse do povo. Foi assim que Deus quis testemunhar a respeito de seu Filho, antes que a vergonha e o horror da cruz fosse colocado sobre ele. O fato, ao mesmo tempo, foi profético a respeito do tempo, quando toda língua confessaria que Jesus é o Senhor.
A recepção em Jerusalém: V.10) E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, e perguntavam: Quem é este? 11) E as multidões clamavam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia. A demonstração diante de Jesus continuou durante todo o trecho da descida do Monte das Oliveiras, sobre o vale do Cedrom, para dentro da cidade de Jerusalém. Como sempre acontece nestas circunstâncias, a agitação se espalhou rapidamente e trouxe consigo a muitos que nada sabiam da real motivação. Até a cidade de Jerusalém, com suas multidões de peregrinos que haviam vindo para a festa, foi em extremo movida, como se fosse por um terremoto. O entusiasmo popular irradiou a todas as classes do povo. Todos se perguntavam sobre a identidade do homem
que, desta forma, entrou na cidade. Os habitantes de Jerusalém haviam tido abundância de oportunidades para conhecê-lo. Muitos, porém, haviam esquecido os grandes milagres realizados em seu meio. Outros haviam vindo de longe, e nunca haviam entrado em contato com a obra e mensagem gloriosa de Cristo. Em toda parte era anunciado publicamente diante dele, que ele era Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia. Seu conhecimento dele não era muito claro, e os que possuíam um conhecimento definido hesitavam confessá-lo como tal em público. Proclamar e confessá-lo como o Messias era uma empreitada perigosa na principal cidade dos judeus, visto que os principais dos sacerdotes e os membros do conselho haviam ameaçado publicamente com a excomunhão aos que o fossem confessar. Da mesma maneira, em nossos dias, muitos que estão suficientemente dispostos a proclamar Cristo em meio à grande multidão, não se dispõem a erguer-se em favor de Jesus, quando a confissão individual lhes possa causar desgosto e perseguição.
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