O Primeiro Mandamento
Contexto histórico dos catecismos.
Lutero escreveu dois catecismos, o “Catecismo Menor” e o “Catecismo Maior”, completando ambos em 1529. No prefácio do Catecismo Maior, Lutero explica o termo “catecismo”, tem como finalidade de que sirva de instrução a crianças e pessoas simples. Por isso desde a antiguidade se lhe chama em grego de catecismo, que tem por significado, instrução para crianças. Lutero diz que todo cristão o deveria conhecer.
Os jovens deveriam se exercitar e ocupar com o Catecismo, para que assim possam aprender toda a doutrina. Por isso, diz Lutero aos pais de família, que é deles o dever de pelo menos uma vez por semana, sentar com seus filhos e empregados domésticos, e tomar-lhes a lição, para verificar o seu conhecimento e sua aprendizagem, e caso não souberem de algum assunto, se empenhar com eles no estudo. Então, Lutero usou o termo “catecismo” em vários sentidos, como ensino básico na religião cristã, 1º como ato, depois como determinado material de instrução.
Em um de seus sermões, Lutero diz o seguinte: “catecismo é instrução ou ensino cristão”, que deve estender-se, após o Batismo, a todas as crianças e aos jovens e adultos sem preparo na doutrina cristã, pois cada cristão precisa necessariamente conhecer o Catecismo, “doutrina cristã”.
Primeiro Mandamento
Não terás outros deuses.
Ter um Deus, diz Lutero, é confiar e crer Nele de coração. É em quem nós devemos esperar todo o bem e nos refugiar em momentos de dificuldades. E assim sendo, se a nossa fé e confiança forem verdadeiros, então, também é verdadeiro o nosso Deus, pois fé e Deus não se separam. Então nós devemos ter cuidado, onde nós vamos prender o nosso coração e a nossa confiança.
Este mandamento nos mostra em quem deve estar apegado a nossa confiança de coração, é no único e verdadeiro Deus. Lutero diz, se te faltares alguma coisa material para a vida, peça-o a Deus, e se estiveres em sofrimento, tristeza, recorre a Deus, pois Ele é o único que pode te dar e ajudar nessas coisas.
Talvez hoje, um dos ídolos ou deuses mais conhecidos em nosso meio, é o dinheiro e os bens. As pessoas que tem bastante dinheiro sentem-se seguro, alegre, como se não fosse precisar de nada mais e de ninguém. Da mesma forma, aquela pessoa que se gaba de sua inteligência, poder, honra, e nisso põe a sua confiança, também disso faz um deus, porém não o verdadeiro e único Deus. E por outro lado, uma pessoa que nada possui, está em desespero, como não existisse Deus para ela. Mas são poucas pessoas que não possuem nada, e que tem bom animo e não reclamam de nada. Por isso, ter um Deus diz Lutero, significa ter algo em que o coração confia inteiramente.
Lutero menciona a respeito do papado, onde eles, quando em alguma dificuldade , doença, tragédia, ou coisa assim, procurava ajuda nos vários santos, ou ainda aqueles que fazem pacto com o diabo, para ganhar mais dinheiro e cuidar dos seus bens. Põe a sua confiança em coisas que não são de Deus. Enquanto, que este mandamento nos mostra que Deus quer o coração todo dos homens, pois só Nele o coração do homem encontrará consolo e confiança.
Lutero também fala a respeito dos falsos cultos a Deus e da idolatria, por exemplo: os gregos criaram para si o deus supremo, Júpiter, deus do poder e domínio, a deusa do amor, Afrodite, e as mulheres grávidas, Diana ou Lucina. Então cada um criava um deus e rendia culto a eles. Portanto, para os pagãos ter um Deus também significa confiar e crer, embora esse confiar seja errado e falso. E Lutero cita ainda um outro culto falso, e esse todos nós praticamos, que diz respeito a nossa consciência, ou seja, quando queremos nos justificar, obter a salvação através das obras, pelo nosso próprio esforço, e não querendo nada gratuitamente de Deus. Mas o que deve ser lembrado, que o sentido desse mandamento é que só de Deus devemos esperar as coisas boas, inclusive, a salvação. No 1º Artigo, Lutero diz que é Ele quem nos dá o corpo, vida, comida, bebida, saúde, bens, proteção, paz, tudo o que necessitamos tanto para a vida física como espiritual, e nos protege de todos os perigos. Criatura nenhuma poderia nos dar todas essas coisas. As criaturas são a mão de Deus, pelo qual Ele nos concede estas coisas.
Explicação do apêndice ao 1º Mandamento.
“Porque eu sou o Senhor teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus Mandamentos”.
Como podemos ver estas palavras se referem a todos os mandamentos, mas é o 1º Mandamento que encabeça os demais, pois é importante que o homem tenha a cabeça no caminho certo, pois sendo assim, toda a sua vida está indo para o caminho certo. Vimos portanto, que Deus se ira contra aqueles que confiam em qualquer coisa que não seja Ele, mas também é bondoso e gracioso com aqueles que confiam Nele de coração. Deus quer era temido e não desprezado.
“Os que me aborrecem”, Lutero diz que são aqueles que continuam em sua soberba, insolência, que não querem ouvir quando são repreendidos. Por isso, diz Lutero, Deus castiga duramente, a ponto de não esquecer os filhos dos seus filhos. Por mais sombria que seja essa ameaça, mais poderoso é o consolo na promessa daqueles que confiam Nele, é neles que Deus quer demonstrar as coisas boas e os benefícios.
Mas a visão que se tem no mundo de hoje, é que se não tiver dinheiro, no terá poder, honra, prestigio. Lutero diz o seguinte, no passado o que alcançaram aqueles que amontoaram muito dinheiro ou bens? Vejamos alguns exemplos bíblicos: Saul foi um grande rei, escolhido por Deus, mas seu coração foi tomado por sua coroa e seu poder, resultado: pereceu com tudo o que tinha, e seus filhos todos morreram. Davi, por outro lado, era pobre, mas que se tornou rei, no lugar de Saul. Então em resumo, Deus no 1º mandamento quer mostrar que só Nele devemos confiar e esperar todo o bem, pois onde o coração está bem-vindo com Deus e onde se guarda esse Mandamento, aí o cumprimento dos demais se segue por si.
Aplicação
Como vimos Lutero nos deixa bem claro em sua explanação do 1º Mandamento, que o nosso coração e confiança devem estar unicamente em Deus, que tudo nos dá para o sustento da vida, tanto física como espiritual, e nos protege e consola nos momentos difíceis, pelas quais passamos. Tudo que vemos hoje é completamente igual à época de Lutero, ou seja, as pessoas procuram ajuda em algo fora de Deus, como por exemplo: benzedeiras, horóscopo, macumbeiras, e assim poderíamos citar vários outros “recursos” que as pessoas procuram para resolver problemas financeiros, familiares, problemas de saúde, e assim por diante.
Portanto, assim como Lutero queria que as pessoas estudassem e conhecessem a Santa Doutrina através dos Catecismos. Assim também devemos nós procurar ensinar as pessoas a conhecerem o verdadeiro Deus, para que assim, também elas possam de coração confiar Nele, e a buscar ajuda somente Nele.
Catecismo maior: 2º parte do credo
1) Contexto Histórico:
O Catecismo Maior e o Catecismo Menor foram escritos simultaneamente em abril de 1529, com o nome de Deutsch Katechismus, esse título era apenas para diferenciar essa obra do catecismo latino. Lutero ao criar os Catecismos tinha como intuito e a finalidade de instruir as crianças e as pessoas simples.
O termo “catecismo” é muito antigo na igreja. Tertuliano e Agostinho usaram o termo catechizare na Igreja da África para descrever o ensino oral na pregação para os catecúmenos que iam se convertendo na igreja. Lutero usa o termo com vários sentidos, primeiramente como ensino básico da igreja cristã, ou seja, como ato, depois determinando o conteúdo do livro e finalmente como o próprio livro.
Lutero entende que a essência do que é necessário para ser um cristão depende dos Dez Mandamentos, como expressão da vontade de Deus e espelho da alienação do homem que se relaciona ao primeiro artigo do Credo que fala da criação e do interesse de Deus pelo seu mundo criado, especialmente pela sua humanidade que Deus ama. O segundo artigo é o centro da mensagem cristão, pois fala da salvação em Jesus Cristo. Pelo Espírito Santo, dito no terceiro artigo, que chama, ilumina e congrega a santa igreja cristã.
2) Esboço do escrito, destacando e analisando seus temas relevantes:
A primeira parte da doutrina cristã mostra tudo quanto Deus quer que façamos ou deixamos de fazer, por sua vez, o Credo nos apresenta tudo o que devemos esperar e receber de Deus. O Credo é dividido em três artigos principais, que corresponde a três pessoas da trindade, nas quais refere-se a tudo que cremos. De forma tal que o primeiro artigo, de Deus Pai, explique a criação, o segundo do Filho, a redenção e o terceiro do Espírito Santo, a Santificação. Um só Deus e uma só fé, porém três pessoas, e por isso também três confissões de fé. Porém, vou comentar apenas o primeiro artigo que se refere à Criação.
3) Significado histórico e/ou teológico:
Creio em Deus, o Pai Todo-Poderoso, CRIADOR do céu e da terra, nessas palavras fica traçado o que é a essência, à vontade, a atividade e obra de Deus Pai. Contudo o Credo, não é nada a mais do que a confissão dos cristãos fundamentadas no primeiro mandamento. Este Credo se baseia nas palavras: “Criador do céu e da terra”, mas o que significa: “Creio em Deus, Pai onipotente, criador?” Quero dizer que sou uma criatura de Deus, que ele me deu e ainda mantém, corpo, alma e vida, pequenos e grandes membros, todos os sentidos, razão e inteligência, comida, bebida, vestimenta, mulher e filhos, empregados, casa e lar. Além de por todas as suas criaturas a nosso favor: o sol, a lua, estrelas, o dia e a noite, o ar, o fogo, a água, a terra, e tudo o que subsiste nela e pode produzir: animais, cereais e todo tipo de plantas existentes, e os restantes bens corporais e temporais: bom governo, paz e segurança.
Entretanto, devemos aprender que nenhuma das coisas enumeradas acima, não está sob nossa capacidade de conservar, pois tudo é compreendido pela palavra “Criador”. Além disso, confessamos de mesma forma, que Deus Pai não nos deu apenas tudo o que possuímos e temos diante de nossos olhos, mas ainda nos preserva e defende, diariamente, de todo o mal e adversidade. E ele faz isso unicamente pelo seu amor e bondade, imerecidos por nós, mas ele faz como um Pai amoroso, que cuida de seus filhos, para que nenhum dano nos sobrevenha.
Portanto, nos resta amá-lo, louvá-lo e agradecer-lhe todos os dias sem cessar, em resumo, dedicar tudo isso a seu serviço, conforme ele mesmo o exige e ordena nos Dez Mandamentos.
4) Significado prático, teológico e/ou homilético para os dias atuais:
O próprio Lutero já nos adverte que poucas pessoas crêem no conteúdo deste artigo, pois, se o cressem de coração, também agiriam de acordo, desde o tempo de sua vida, até nos dias atuais não mudou muita coisa, pois, se as pessoas acreditassem que Jesus é seu Salvador, não andariam por aí orgulhosos, como se tivessem eles mesmos o poder da vida, a riqueza, a soberba. E dessa forma que se fundamenta o pervertido no mundo, que não quer enxergar e ainda usa todos os dons de Deus, unicamente para sua soberba e avareza, prazer e diversão, sem ao menos lhe agradecer e reconhecer-lhe como Senhor e Criador.
Da vontade cativa
Contexto
No início de 1524, Erasmo de Roterdã publicou sua "Diatribe sobre o livre-arbítrio". Nela posicionou-se abertamente contra uma afirmação central da teologia de Lutero: sua antropologia. Com essa publicação, Lutero tinha contra si o posicionamento do mais respeitado estudioso da época. Lutero teve que se posicionar. Para ele estava claro que a questão era fundamental. Em muitos sentidos, porém, a discussão entre Lutero e Erasmo não passou de episódio. Não provocou o debate das massas, mas colocou-o no centro da discussão da intelectualidade. Essa discussão não foi concluída. Em seu centro está a concepção humanista e reformatória do ser humano.
Da vontade cativa
Nós não devemos ocultar a palavra de Deus das pessoas, não podemos deixar que entendam de forma equivocada sobre a salvação, para que não façamos com que as pessoas a que ensinamos e também nós vamos para o inferno.
Precisamos saber que precisamos de duas coisas muito importantes: Primeira que devemos ser humildes, Deus promete a sua graça aos humildes, e sem Deus não poderemos ser humildes. O segundo é nossa própria fé, o grau supremo de nossa fé crer que é clemente quem salva a poucos e que condena a tantos, isso não é possível compreender, pois se compreendêssemos não necessitaríamos de fé.
Lutero agora começa a falar contra o livre-arbítrio que é defendido por Erasmo de Roterdã. Tudo o que fazemos não é por livre-arbítrio, mas o fazemos por sua necessidade. Nós necessitamos de Deus para tudo, sem o Espírito Santo agir em nós não podemos ser salvos. Quando o homem faz coisas erradas ele não é contra a sua vontade, mas o faz por prazer. Quando o Espírito Santo age nas pessoas nas pessoas, elas são estimuladas a querer o bem e negar o mal, assim sendo não há livre-arbítrio. O ser Humano não tem escolha quando pratica o bem é porque Deus faz com que ele o faça, quando ele faz o mal é o diabo quem manda no ser humano.
Lutero agora prova que Erasmo está errado, com as próprias palavras de Erasmo que di que o livre arbítrio é uma força limitada que depende do poder de Deus, então não é livre arbítrio.
Não deveria ser falado muito sobre o livre-arbítrio, pois as pessoas podem entender errado o que nós estamos querendo dizer, devemos ensinar que se use de boa fé, de tal modo que se conceda ao ser humano um livre-arbítrio não com respeito ao que lhe é superior, mas apenas ao que lhe é inferior, isso é: ele deve saber que em relação a suas faculdades e posses tem o direito de usar, fazer e omiti-las segundo o livre-arbítrio, embora também isso seja regido unicamente pelo livre-arbítrio de Deus como lhe aprouver.
Lutero finaliza essa parte falando que isso tudo sobre o livre-arbítrio também o impressionou muito quando ele descobriu isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário