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05 outubro 2010

2 TIMÓTEO 2.8-13

25 de outubro de 1998
2 Timóteo 2.8-1 3
Contexto
O contexto é de sofrimento e até de lágrimas por causa do Nome de Cristo, tanto para o apóstolo Paulo, que está preso em Roma sob as ameaças do imperador Nero (129, quanto para Timóteo (1.4). O cap. 2 caracteriza-se como um estímulo do apóstolo para o seu "filho" (2.1)
Texto
"Lembra-te de Jesus Cristov- é uma das poucas vezes que o nome e o atributo de Jesus aparecem nessa ordem nas cartas paulinas e a única vez em 2 Timóteo. Nas demais vezes é sempre "Cristo Jesus." Mais do que uma simples variaçáo estilística, ou uma alegada oposição ao gnosticismo, o apóstolo escreve nessa ordem- Iesou Kriston -, colocando primeiro o nome de batismo, com o objetivo de enfatizar a humanidade de Jesus, Sua encarnação, Sua presença tão importantes para Timóteo neste contexto de incentivo de suportar o sofrimento. A ênfase do apóstolo é mais pastoral que apologética. Ao mesmo tempo, esse Jesus Homem é também Aquele que "ressuscitou de entre os mortos". O apóstolo ressalta aqui, em primeiro lugar, a singularidade de Cristo na Sua vitória, que "destruiu a morte" (1.10). É na ressurreição que se caracteriza por excelência a presença de Deus em Cristo. Timóteo deve lembrar-se que o triunfo do Cordeiro Pascal sobre a morte deve encorqjá-lo ao contemplar o sofrimento que passa pela causa de Cristo.
Ao lado da ênfase na natureza humana de Cristo, Paulo ressalta Jesus como "descendente de Davi". Além da referência em nosso texto, a outra e unica menção desta expressão acontece em Romanos 1.3, também em paralela com a ressurreição de Cristo. "Descendente de Davi" assinala, de novo, a linhagem física de Cristo e vincula-o à promessa de que o descendente de Davi reinaria para sempre (2 Sm 7.12s). Tais ênfases sumarizam o cerne do evangelho do apóstolo.
Nos vv. O e 1 O o apóstolo reitera a lembrança também de que as aflições pelas quais passa no momento originam-se no exercício da sua obra, ou seja, na proclamaqáo do evangelho. Por causa do evangelho o apóstolo sofre ao ponto de ser preso. Paulo, cidadão romano e inocente, é lançado nas imundas e fétidas celas como um grande criminoso. A palavra kakourgoj, que ocorre em Lc 23.32-30, e que designa os malfeitores crucificados ao lado de Jesus, é palavra forte empregada para os que "cometem perversidades grosseiras e crimes hediondos" (W. Arndt e W. Gingrich, A Greek- English Lexicon of the New Testament, 310). 
Contrastando com a repugnante prisão do apóstolo está a liberdade da Palavra de Deus. O mensageiro pode ser preso, a mensagem não. Vivenciando a semana da Reforma, é bom lembrar o que o Dr. Martinho Lutero diz em seu hino de batalha: "O Verbo eterno ficará, sabemos com certeza."
A prisão e o sofrimento do servo de Deus oportuniza a que o evangelho alcance outras pessoas. Naquela época, como também hoje, não era fácil chegar à prisáo com o evangelho. Em Atos 16.23 é-nos contada a experiência que Paulo e Silas tiveram na prisão, em Filipos. Não sabiam qual seria o seu destino - mais provavelmente a morte -; entretanto ali "oravam e cantavam louvores a Deus" (At 13.25). O resultado nós conhecemos. Do mesmo modo, agora sua prisão em Roma, de alguma forma poderá ser de bênção para outras pessoas. Na primeira leitura para o domingo de hoje (Rute 1.1-19a), as agruras pelas quais passou Noemi saindo de Belém para Moabe - perdendo lá seu esposo, seus dois filhos, status social, sua descendência, quiçá sua sobrevivência - não a impediram de confessar o Nome de Yahweh na terra do deus Moloque cujo culto promovia e estimulava até mesmo o sacrifício de crianças. O resultado também conhecemos, e Rute torna-se importante na genealogia de Cristo (Rt 4.17, 22; Mt 1.5,6).
A perseverança do apóstolo tem também um propósito: a salvação dos eleitos. Em outra ocasião ele diz que suas cadeias "têm contribuído para o progresso do evangelho" (Fp 1.12). O verbo upomoneo, também usado no v. 12, significa "suportar," ou "permanecer" no local ao invés de fugir do problema, da aflição, da perseguição. Suportar todas as coisas"(7~avra) é uma expressão forte. Em termos de vivência cristã, nós tendemos, via de regra, a cultivar a autocomiseração. Nosso limiar de suporte do sofrimento é bastante baixo. Preferimos a lamentação e a lamúria. Não nos é fácil dizer com o apóstolo: "aprendi a viver contente em toda e qualquer situação" (Fp 4.11).
Que otimismo! Que perspectiva! Para o apóstolo crise não é crise mas momento de crescimento. Tribulação não é obstáculo, mas tempo de amadurecimento. Onde está o segredo do apóstolo'? A resposta é categórica: em Cristo, pois "tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4.13). Até onde a salvação das pessoas é um argumento que nos move a suportar o sofrimento por causa de Cristo? De que modo o apóstolo compreende que o seu sofrimento ajuda o evangelho não sabemos. O que sabemos é que o evangelho pelo qual ele sofre é que traz a salvação as pessoas, e não o seu sofrimento.
Nos vv. 11-13, para motivar Timóteo e a nós também a assumirmos o sofrimento no Reino de Deus, o apóstolo conclui sua argumentação com um hino. Da prisão emana, de novo, uma nova canção. Nesse hino, provavelmente parte da liturgia e bem conhecido por Timóteo, cada prótase (cláusula iniciada com "se") diz respeito a obra dos crentes e cada apódose (cláusula enfatizada por "também") antecipa os resultados do estarmos em Cristo; a apódose final apresenta uma coda explicativa. Os três primeiros versos progridem na conversão (verso I), passam pela perseverança e o prêmio escatológico (verso 2) e chegam a uma advertência sobre as conseqüências da infidelidade (verso 3). O quarto verso é provavelmente uma resposta ao verso 3 como palavra de esperança.
Que morrer é esse do primeiro verso? Alguns afirmam que Paulo está se referindo ao martírio em nome de Cristo; outros a união espiritual com Cristo. Esta é a mais provável. A "morte com" resulta na "vida com". Morte com Cristo é morte para o pecado (Rni 6.11). O apóstolo está se referindo ao batismo. No batismo morremos e ressuscitamos. O segundo verso mostra que a perseverança resulta também na participação do Reino de Cristo.
O verbo upomoneo, como vimos, significa "perseverar", "suportar." O NT mostra o que é perseverar: os cristãos perseveram em Cristo mesmo tendo contra si o ódio de outros (Mt 10.22), suportam a tribulação (Rm12.12), a exposição como espetáculo (Hb 10.32), a tentação (Tg 1.12) e suportam o sofrimento por fazerem o bem (1 Pe 2.20). O terceiro verso apresenta uma advertência: assim como a fé em Jesus, também a sua negação tem conseqüências eternas. O verso 4 afirma que "se somos infiéis (Apistoumen), não "incrédulos"), isto de forma alguma altera a fidelidade de Deus para com o
seu povo. Deus anulará nossa infidelidade com a sua graça. A Escritura mostra a infidelidade de muitos, mas a fidelidade de Deus não se retraiu em razão disso. Jesus Cristo não deixa de demonstrar seu amor salvador porque ele não pode negar-se a si mesmo.
Sugestão de tema
Tempo de sofrimento e tempo de perseverança
a) Nela está presente uma pessoa amiga e vitoriosa (v. 8)
b) Nela há um propósito nobre e solidário (vv.9-10)
c) Nela esconde-se uma realidade feliz e eterna (vv. 11-13)
Acir Raymann

RUTE 1.1-19a

VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
29 de outubro de 1995
Rute l. l-19a
Leituras do dia
Epístola - 2 Tm 2.8-13. O texto focaliza o sofrimento que o apóstolo suporta por causa da Boa Notícia do amor de Deus. Tendo como referencial de vida o Salvador Jesus, espelha-se no seu exemplo e prossegue a sua jornada sabedor de que, vencidos esses desafios terrenos, reinará com Cristo. Depois de dizer que "se o negarmos (a Cristo), ele também nos negará", enfatiza sobretudo a fidelidade "àquele que é a razão de nossa esperança".
Evangelho - Lc 17.11-19. O evangelho fala, em primeiro lugar, de sofrimento. São dez leprosos que sofrem. São sofredores que buscam auxílio em Jesus e dele recebem a cura de seu mal. Enfatiza, depois do sofrimento, a cura e a alegria, acrescentando a ingratidão dos nove que não reconhecem a misericórdia e a graça de Deus. Sublinha, entretanto, a fidelidade do estrangeiro - o único de todos os curados - que volta para agradecer e louvar a Deus. 
A linha do pensamento, portanto, está perfeitamente atada ao episódio da estrangeira Rute, a contar do sofrimento à atitude de extrema fidelidade. 
Contexto
O livro de Rute narra à trajetória dramática de uma família em tempos de crise. A trama não está datada com precisão, mas se desenrola "nos dias em que julgavam os juizes". O relato diz que por esta época houve fome na terra. Não se define bem o sentido de terra mas, para o hebreu, só um país poderia ser a terra. Era a terra dada por Deus ao seu povo - a terra de Canaã. Fome e pobreza bateram forte, então, na casa de muitas famílias (fato, aliás, atualíssimo em nosso cotidiano). Entre elas estava a de Elimeleque (cujo nome significa "Deus é Rei" ou "Meu Deus é Rei"). Essa família, constituída de quatro pessoas - o pai Elimeleque, a mãe Noemi e dois filhos, Malom e Quiliom - teve que abandonar a terra para buscar trabalho e alimento em outro país, Moabe. Os rapazes se casaram com moças daquele país, chamadas Orfa e Rute. Mas por lá as coisas não melhoraram muito. Para não dizer que a desgraça era pouca, o pai acabou morrendo e, depois, os filhos. Sobraram as três mulheres. A família foi minguando e o ânimo também: três mulheres, três pobres, três viúvas.
Noemi sentiu-se só e sem raízes e apoio em um país estrangeiro. Resolveu voltar à sua terra. Sendo já falecidos seus filhos e não tendo outros para que desse às suas noras, resolve devolver-lhes sua liberdade, para que pudessem reconstruir suas vidas, casar novamente e livrar-se do sofrimento e da humilhação que significava naquela cultura não ter marido nem filhos. Para a mulher, o casamento significava ser praticamente comprada pela família de seu marido e nesta deveria realizar-se gerando filhos e garantindo o nome e a continuidade da herança da família e seu marido. Rute, uma das noras, recusa a separar-se de sua sogra (sogra!) velha, desanimada e sem grandes condições de lutar por sua sobrevivência. Dá admirável testemunho de fé no Deus de Israel, que aprendera a amar no seu convívio com a família israelita. Juntamente com a questão da fé, salta da atitude de Rute também um gesto profundamente impregnado de ternura, de solidariedade, de fidelidade e amor desinteressado.
Texto
Vv. 1,2. "Nos dias em que julgavam os juizes, houve fome na terra." Os juizes eram homens levantados por Deus para serem os libertadores da nação em épocas de opressão. "Julgavam" é tradução literal do hebraico. Exerciam funções legais, mas sua tarefa maior era dirigir o povo. Por essa época, houve fome na terra. A Palestina se caracteriza por precipitações pluviais irregulares, daí decorrendo épocas de seca e, conseqüentemente, de fome, que não eram incomuns. Um homem de Belém ("casa do pão" ou "celeiro"), cidade da região de Judá, tenta escapar das dificuldades indo para Moabe. Evidentemente, não havia intenção de migração permanente. O verbo gûr, "saiu", denota que o homem planejava retornar no devido tempo. As indicações que temos favorecem a idéia de que esta família era distinta: no final do capítulo, quando Noemi retorna, “toda a cidade" estava interessada, o que indica o retorno de alguém bem conhecido, não um "joão-ninguém".
Vv. 3,4. Não há qualquer registro do tempo que permaneceram em Moabe nem acerca das atividades que desenvolviam até que viesse a falecer Elimeleque. Os filhos, então, casam-se com esposas moabitas: Orfa e Rute. A declaração de que "ficaram ali quase dez anos" provavelmente refere-se ao período todo que ali moraram, e não apenas ao tempo que estiveram casados. Não sabemos quantos anos tinham quando foram a Moabe nem em que época contraíram matrimônio.
Vv. 5. Malom e Quiliom também faleceram completando o quadro de desgraças: três homens da família mortos. O autor não dá as causas das mortes e, para os propósitos da história, isto não é importante: o que interessa são as reações das mulheres. Noemi ficou só, sem marido e sem filhos.
Vv. 6,7. Como as comunicações funcionavam já naquele tempo, Noemi soube do fim da fome em Judá. A razão era de que "o Senhor se lembrara do seu povo". Como não tinha raízes em Moabe, decidiu retornar à sua terra (qûm indica o início de uma ação). Logo estavam a caminho. Tem-se a impressão de que se tratava de um lar muito pobre, visto que os preparativos de viagem foram feitos rapidamente. As três mulheres caminhantes rumo a Judá amadureceram no caminho a decisão final quanto a se realmente todas elas desejavam ir para lá. 
Vv. 8,9. De um total de 85 versículos do livro, mais de 50 constituem-se de diálogos, como esses, onde Noemi convida as viúvas jovens a deixá-la e retornarem à casa de suas mães. Noemi ora para que Javé use com elas de benevolência (hesed, aqui traduzido por "benevolência", tem também o sentido de lealdade e amor. Noemi reconhece que Javé é um Deus fiel e amoroso, e ora para que ele trate de suas noras de acordo com a sua natureza). Não pode passar despercebido o fato de ela usar o nome "Javé", o nome pessoal do Deus de Israel. Poder-se-ia esperar que, falando a mulheres moabitas, usasse a palavra geral para "Deus" ('elohîm), ou "Camos", nome de um dos principais deuses dos moabitas. Ela, porém, usa "Javé"; Camos não merece consideração! Depois de lhes desejar felicidade, rompe com um beijo uma longa relação familiar, o que fez as noras romperem em choro, em alta voz - expressão oriental de profunda tristeza.
Vv. 10-13. O rompimento, a despedida são rejeitados. Noemi retoma a argumentação de que viver com ela significará nada mais do que pobreza e incerteza. Não gerará outros filhos que possam vir a ser seus esposos. "A mim me amarga o ter o Senhor descarregado contra mim a sua mão" não dá, segundo Cundal e Morris, o sentido hebraico como a tradução "mais amargo me é a mim do que a vós". Elas haviam perdido o marido; Noemi, marido e filhos. Elas poderiam casar-se outra vez, encontrar segurança e felicidade. Para Noemi, não havia outra perspectiva senão a da velhice solitária. 
V. 14. Após mais lágrimas, as jovens viúvas reagem. Orfa com um beijo sedespede. Não raro se condena como egoísta a atitude de Orfa, que aceita a liberdade para reconstruir sua vida. J. T. Cleland nos lembra de sua "obediência submissa". Ele enfatiza que "ela foi dissuadida pelo aconselhamento ajuizado de uma mulher mais idosa. Não há um bom motivo para menosprezá-la. A obediência não é uma virtude que se possa desprezar ou censurar". Rute demonstrou mais imaginação e um amor mais profundo. O que não significa que devamos nos apressar em culpar Orfa.
Vv. 15-19. A resposta de Rute é expressão clássica de fidelidade. Declara a Noemi sua devoção imorredoura e recusa-se a deixá-la. Rompe com seu passado, com seu povo e decide fazer do povo de Noemi seu próprio povo. O Deus de Noemi será o seu Deus. Isto não significa que não tenha princípios religiosos, ou que coloque a amizade acima da fé. Já no v. 17 ela invoca a Javé, o que indica que ela veio a confiar nele (cf. 2.12). "Eu juro que a morte, e só a morte, nos separará". Há aí uma determinação e firmeza inabaláveis. Noemi não pode argumentar contra voto tão solene e abre seu coração àquele gesto de fidelidade e amor.
Proposta homilética
O texto nos coloca diante de duas mulheres de muito valor. Noemi, reconhecendo a sua fraqueza e impossibilidade de oferecer a suas noras uma uma vida digna e respeitável, lhes devolve a liberdade e com desapego as envia a buscar a sua realização enquanto mulheres. A outra, Rute, ultrapassa as exigências feitas a ela, pelos costumes da época, e assume colocar sua vida a serviço de uma mulher ainda mais frágil e necessitada do que ela. Há um exemplo - contrário aos frívolos relacionamentos de telenovelas - de valorização e preservação do sentido de família. Há o exemplo de uma sogra (!) que, em terra estranha, consegue manter-se fiel à sua fé e ao seu Deus e, ainda mais, com suas atitudes e testemunho de vida, conquistar o coração estrangeiro à mesma fé. Com razão, há quase mil e seiscentos anos, na primeira Homilia sobre as estátuas, bradava, por sua boca de ouro, S. João Crisóstomo: "Um homem só, mas abrasado de fé, pode reformar um povo inteiro". A fidelidade a Javé e a estrutura dessa fé são as bases de uma aliança de solidariedade e os laços rijos de uma amizade inseparável. Nesse fundamento, elas se articulam e reconstroem o sentido de vida e a esperança, como demonstra o restante do relato: num segundo casamento, Rute veio a ser bisavó de Davi, o maior rei de Israel. Duas mulheres de valor (ou, cooperadores de valor):
1. Noemi - no desejo de ver a felicidade alheia na fidelidade e no testemunho aos estrangeiros
2. Rute - na dedicação e amor ao mais fraco na preservação do sentido de família na determinação de seguir e servir o Deus verdadeiro
3. Nós - a medida do nosso valor: na atitude para com os outros, especialmente os mais fracos na atitude para com Deus e em relação à nossa fé na resolução dos rumos a tomar em meio às nossas jornadas.
Astomiro Romais

LUCAS 17.11-19

VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO APÔS
PENTECOSTES
1 de Novembro de 1992
Lucas 17.11-19
O Contexto: Jesus escolheu a divisa entre Samaria e Galiléia em direção do rio Jordão e logo seguiu o curso deste até Jerico. Lucas não informa o porquê desta atitude e nem discute o assunto. Certamente esta decisão não foi tomada por acaso. Lucas é o único que narra este acontecimento, depois de escrever sobre a parábola do "Rico e do Lázaro", os "tropeços” e os ensinamentos de Jesus sobre "quantas vezes se deve perdoar a um irmão". Conforme Lucas, o último grande pedido dos discípulos, antes de presenciar a cura dos leprosos, foi; "Senhor, aumenta-nos a fé".
a) A lepra; Esta devora o homem aos poucos e mata o, homem apenas depois de o fazer passar por longos anos de sofrimentos.
A lepra trazia consigo um estigma quase pior ainda que as dores físicas: desprezo e horror de todos, e pela Lei de Moisés (cap. 13 e 14 de Lev. e Dt. 24.8), o leproso tinha de viver completamente isolado da sociedade (cavernas e lugares desertos). Ao ver alguém, de longe tinha que gritar: "Afastai-vos, aqui vem os leprosos".
b) Os dez leprosos: Os samaritanos e judeus viviam em constantes atritos. Não conviviam. Os judeus desprezavam os samaritanos ao ponto de afirmar que se algum judeu comesse da comida dos samaritanos, estaria comendo comida de porcos. Debaixo da desgraça da lepra, porém, precisavam conviver.
O texto:
"Ficaram de longe e lhe gritaram" (v. 13): Jesus operou este milagre em, sua última viagem para Jerusalém. A fama de Jesus levou muitas pessoas a acompanhá-lo em, suas viagens. Os leprosos ficaram de longe também, por causa da multidão.
Gritaram para serem ouvidos. Mas, também gritaram por que suas vozes já estavam fracas por causa da doença. "Jesus, Mestre, compadece-te de nós": Em seu pedido não fazem exigência nenhuma de Jesus, nem tão pouco acham que eles fizeram algo para merecer a cura. Imploram, apenas por misericórdia. O seu pedido foi correto. "Ao vê-los, disse-lhes Jesus: Ide, e mostrai-vos ao sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados" (v. 14): Jesus dá ouvidos à súplica dos dez leprosos e mostra o seu amor, mesmo durante uma viagem, que o levaria para a prisão, onde sofreria blasfêmias, açoites, escárneo e morte. O prêmio da confiança dos dez na promessa de Jesus, mesmo que implícita, de que se eles fossem, seriam curados, foi a sua purificação.
"Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz, e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe, e este era samaritano" (v. 16): Para serem curados, os nove confiaram em Jesus, mas para voltar, prostrar-se aos seus pés e reconhecê-lo também como o Salvador de suas almas, isto era demais para eles. Pode ser que tenham sido enganados pelos sacerdotes aos quais foram mostrar-se e eram inimigos de Jesus, seja como for, eles não voltaram.
Mas, o samaritano não pode calar, ele tem de mostrar a sua gratidão, dar glória a Deus, lançar-se aos pés de Jesus, agradecer-lhe e adorá-lo como Salvador. O samaritano faz confissão pública de sua fé e por causa da fé, não só o seu corpo, também sua alma é curada. Os nove tiveram só o seu corpo curado, mas não a alma. 
"Onde estão os nove"? (v. 17): A parábola do credor incompassivo ilustra esta verdade, Lc 7.41. Se alguém diz que Deus lhe perdoou os pecados, mas recusa-se a perdoar uma ofensa a um irmão, assemelha-se a este credor incompassivo. Se alguém despreza a Cristo e sua Palavra, deixando-se levar pela indiferença, fazendo pouco caso da Palavra de Deus; se alguém procura servir a dois senhores, quer ser cristão e ao mesmo tempo acompanhar o mundo em seus prazeres, se alguém persiste em viver num pecado apesar de saber que é pecado o que está fazendo, este não se mostra agradecido a Deus, mas faz como os nove leprosos que não voltaram que tiveram os corpos curados mas não à alma.
Leituras do dia: O Salmo 111 destaca as grandes bênçãos que o povo de Deus recebe continuamente e convida ao louvor e gratidão permanente. O exemplo de Rute nos leva a considerar a solidariedade, o amor e a gratidão, frutos do amor de Deus (Rt 1.1-19). Em 1 Tm 2.8 o apóstolo é claro quando expressa o resultado da fé em relação ao próximo e a Deus: "Quero, portanto, que os varões orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade".
Disposição:
Introdução
a) O povo que mais privilégios recebeu de Deus foi o povo de Israel. Deus guiou este povo; protegeu-o com sinais e prodígios e lhe deu a terra de Canaã. De seu meio:
Deus fez surgir os profetas, revelou e confiou a sua Palavra. Até seu Filho Unigênito Deus fez nascer entre o povo. Por causa da ingratidão o povo de Israel foi regeitado por Deus — Dt 32.15; Jr 13.24; Jr 18.14,15.
b) Nós temos a Palavra de Deus entre nós como Israel a teve. Cuidemos para que não aconteça que a desprezemos e nos tornemos ingratos, forçando Deus. A tirar o Evangelho salvador do nosso meio.
c) A primeira ênfase debaixo do grande lema da IELB para dentro do ano 2.000 — Cristo para todos, é: "Respondendo ao amor de Deus". A história de nosso texto nos ensina que:
LOUVAR E MOSTRAR SUA GRATIDÃO A DEUS É CARACTERÍSTICA DOS CRISTÃOS
1 — Que motivos temos para isto?
2 — De que modo podemos fazê-lo?
a) A lepra não deixou esperança de cura para os dez. Assim como a lepra conduzia à morte, o pecado leva o homem à condenação eterna. O pecado é a doença espiritual de que todos os homens são vítimas, pior que a lepra, pois os leprosos a viam e sentiam, enquanto que os homens muitas vezes não reconhecem o seu estado de perdição. 
Os leprosos pediram misericórdia. Confiaram na purificação. Este foi o motivo que os leprosos tiveram para agradecer a Deus. O amor de Deus em Jesus Cristo que nos limpa de nossa doença espiritual é o motivo e o que nos dá forças para nos mostrar-mos gratos a Deus.
b) Bênçãos terrenas: não nos curou da lepra, mas protegeu-nos dela; liberdade de consciência (em outros tempos os cristãos tinham que se refugiar para praticar a fé); evangelho inalterado; guias espirituais fiéis; oportunidades de trabalho; direito de posse (apesar das injustiças sociais). Maior bênção: paz que temos com Deus por intermédio de Jesus Cristo.
II
a) Deus não desculpa a ingratidão, Rm 1.20,21. O credor incompassivo, Lc 7.41-43.
b) O samaritano confessou publicamente a respeito de Jesus e o adorou. Em sincero arrependimento e fé, também não podemos calar. Nos cultos (Santa Ceia); com hinos de louvor; em casa com a família; tomar parte ativa na congregação; ofertar com liberalidade; testemunhar de Cristo ao mundo (começando pelos mais próximos de nós). Assim, "respondemos ao amor de Deus".
c) Louvar a Deus não é fazê-lo só com palavras, também significa deixar o pecado e louvar a Deus com, a vida. "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei", Jo 13.34-35. Conclusão: Somos os dez que Jesus curou. Somos filhos de Deus e herdeiros da vida eterna. Ficamos com os nove? ou com o samaritano? Não nos impressionemos com "as maiorias". Na história elas revelaram ingratidão, que é abominável. Se somos minoria, consolemo-nos com o fato de que estamos no Senhor, temos paz no coração e Deus poderá assim, realizar a sua obra capacitando-nos a responder ao seu amor. Amém,
Daltro B. Koutzmann
Porto Alegre, RS.