25 de outubro de 1998
2 Timóteo 2.8-1 3
Contexto
O contexto é de sofrimento e até de lágrimas por causa do Nome de Cristo, tanto para o apóstolo Paulo, que está preso em Roma sob as ameaças do imperador Nero (129, quanto para Timóteo (1.4). O cap. 2 caracteriza-se como um estímulo do apóstolo para o seu "filho" (2.1)
Texto
"Lembra-te de Jesus Cristov- é uma das poucas vezes que o nome e o atributo de Jesus aparecem nessa ordem nas cartas paulinas e a única vez em 2 Timóteo. Nas demais vezes é sempre "Cristo Jesus." Mais do que uma simples variaçáo estilística, ou uma alegada oposição ao gnosticismo, o apóstolo escreve nessa ordem- Iesou Kriston -, colocando primeiro o nome de batismo, com o objetivo de enfatizar a humanidade de Jesus, Sua encarnação, Sua presença tão importantes para Timóteo neste contexto de incentivo de suportar o sofrimento. A ênfase do apóstolo é mais pastoral que apologética. Ao mesmo tempo, esse Jesus Homem é também Aquele que "ressuscitou de entre os mortos". O apóstolo ressalta aqui, em primeiro lugar, a singularidade de Cristo na Sua vitória, que "destruiu a morte" (1.10). É na ressurreição que se caracteriza por excelência a presença de Deus em Cristo. Timóteo deve lembrar-se que o triunfo do Cordeiro Pascal sobre a morte deve encorqjá-lo ao contemplar o sofrimento que passa pela causa de Cristo.
Ao lado da ênfase na natureza humana de Cristo, Paulo ressalta Jesus como "descendente de Davi". Além da referência em nosso texto, a outra e unica menção desta expressão acontece em Romanos 1.3, também em paralela com a ressurreição de Cristo. "Descendente de Davi" assinala, de novo, a linhagem física de Cristo e vincula-o à promessa de que o descendente de Davi reinaria para sempre (2 Sm 7.12s). Tais ênfases sumarizam o cerne do evangelho do apóstolo.
Nos vv. O e 1 O o apóstolo reitera a lembrança também de que as aflições pelas quais passa no momento originam-se no exercício da sua obra, ou seja, na proclamaqáo do evangelho. Por causa do evangelho o apóstolo sofre ao ponto de ser preso. Paulo, cidadão romano e inocente, é lançado nas imundas e fétidas celas como um grande criminoso. A palavra kakourgoj, que ocorre em Lc 23.32-30, e que designa os malfeitores crucificados ao lado de Jesus, é palavra forte empregada para os que "cometem perversidades grosseiras e crimes hediondos" (W. Arndt e W. Gingrich, A Greek- English Lexicon of the New Testament, 310).
Contrastando com a repugnante prisão do apóstolo está a liberdade da Palavra de Deus. O mensageiro pode ser preso, a mensagem não. Vivenciando a semana da Reforma, é bom lembrar o que o Dr. Martinho Lutero diz em seu hino de batalha: "O Verbo eterno ficará, sabemos com certeza."
A prisão e o sofrimento do servo de Deus oportuniza a que o evangelho alcance outras pessoas. Naquela época, como também hoje, não era fácil chegar à prisáo com o evangelho. Em Atos 16.23 é-nos contada a experiência que Paulo e Silas tiveram na prisão, em Filipos. Não sabiam qual seria o seu destino - mais provavelmente a morte -; entretanto ali "oravam e cantavam louvores a Deus" (At 13.25). O resultado nós conhecemos. Do mesmo modo, agora sua prisão em Roma, de alguma forma poderá ser de bênção para outras pessoas. Na primeira leitura para o domingo de hoje (Rute 1.1-19a), as agruras pelas quais passou Noemi saindo de Belém para Moabe - perdendo lá seu esposo, seus dois filhos, status social, sua descendência, quiçá sua sobrevivência - não a impediram de confessar o Nome de Yahweh na terra do deus Moloque cujo culto promovia e estimulava até mesmo o sacrifício de crianças. O resultado também conhecemos, e Rute torna-se importante na genealogia de Cristo (Rt 4.17, 22; Mt 1.5,6).
A perseverança do apóstolo tem também um propósito: a salvação dos eleitos. Em outra ocasião ele diz que suas cadeias "têm contribuído para o progresso do evangelho" (Fp 1.12). O verbo upomoneo, também usado no v. 12, significa "suportar," ou "permanecer" no local ao invés de fugir do problema, da aflição, da perseguição. Suportar todas as coisas"(7~avra) é uma expressão forte. Em termos de vivência cristã, nós tendemos, via de regra, a cultivar a autocomiseração. Nosso limiar de suporte do sofrimento é bastante baixo. Preferimos a lamentação e a lamúria. Não nos é fácil dizer com o apóstolo: "aprendi a viver contente em toda e qualquer situação" (Fp 4.11).
Que otimismo! Que perspectiva! Para o apóstolo crise não é crise mas momento de crescimento. Tribulação não é obstáculo, mas tempo de amadurecimento. Onde está o segredo do apóstolo'? A resposta é categórica: em Cristo, pois "tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4.13). Até onde a salvação das pessoas é um argumento que nos move a suportar o sofrimento por causa de Cristo? De que modo o apóstolo compreende que o seu sofrimento ajuda o evangelho não sabemos. O que sabemos é que o evangelho pelo qual ele sofre é que traz a salvação as pessoas, e não o seu sofrimento.
Nos vv. 11-13, para motivar Timóteo e a nós também a assumirmos o sofrimento no Reino de Deus, o apóstolo conclui sua argumentação com um hino. Da prisão emana, de novo, uma nova canção. Nesse hino, provavelmente parte da liturgia e bem conhecido por Timóteo, cada prótase (cláusula iniciada com "se") diz respeito a obra dos crentes e cada apódose (cláusula enfatizada por "também") antecipa os resultados do estarmos em Cristo; a apódose final apresenta uma coda explicativa. Os três primeiros versos progridem na conversão (verso I), passam pela perseverança e o prêmio escatológico (verso 2) e chegam a uma advertência sobre as conseqüências da infidelidade (verso 3). O quarto verso é provavelmente uma resposta ao verso 3 como palavra de esperança.
Que morrer é esse do primeiro verso? Alguns afirmam que Paulo está se referindo ao martírio em nome de Cristo; outros a união espiritual com Cristo. Esta é a mais provável. A "morte com" resulta na "vida com". Morte com Cristo é morte para o pecado (Rni 6.11). O apóstolo está se referindo ao batismo. No batismo morremos e ressuscitamos. O segundo verso mostra que a perseverança resulta também na participação do Reino de Cristo.
O verbo upomoneo, como vimos, significa "perseverar", "suportar." O NT mostra o que é perseverar: os cristãos perseveram em Cristo mesmo tendo contra si o ódio de outros (Mt 10.22), suportam a tribulação (Rm12.12), a exposição como espetáculo (Hb 10.32), a tentação (Tg 1.12) e suportam o sofrimento por fazerem o bem (1 Pe 2.20). O terceiro verso apresenta uma advertência: assim como a fé em Jesus, também a sua negação tem conseqüências eternas. O verso 4 afirma que "se somos infiéis (Apistoumen), não "incrédulos"), isto de forma alguma altera a fidelidade de Deus para com o
seu povo. Deus anulará nossa infidelidade com a sua graça. A Escritura mostra a infidelidade de muitos, mas a fidelidade de Deus não se retraiu em razão disso. Jesus Cristo não deixa de demonstrar seu amor salvador porque ele não pode negar-se a si mesmo.
Sugestão de tema
Tempo de sofrimento e tempo de perseverança
a) Nela está presente uma pessoa amiga e vitoriosa (v. 8)
b) Nela há um propósito nobre e solidário (vv.9-10)
c) Nela esconde-se uma realidade feliz e eterna (vv. 11-13)
Acir Raymann
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