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04 maio 2011

O MINISTÉRIO PASTORAL DA IGREJA

MOÇÃO Nº 20

O MINISTÉRIO PASTORAL DA IGREJA

INTRODUÇÃO

1. A IELB perguntou às Convenções Nacionais (53ª CN, 1992; 54ª CN, 1994; 55ª CN, 1996) por um posicionamento claro sobre o ministério pastoral da igreja. Dúvidas surgidas no relacionamento pastor-igreja, despertaram esta necessidade.

2. A IELB debateu esta tema nas convenções, nos concílios, nas conferências, nos congressos, nos simpósios e nos conselhos distritais, em todos os níveis, especialmente a partir de 1990.

3. A IELB solicitou um pronunciamento mais amplo e um posicionamento oficial, para que haja a necessária unidade no ensino, na linguagem e na prática.

4. A IELB se pronuncia através da CTRE, que tem como finalidade “zelar e defender a pureza doutrinária e a unidade confessional da IELB” (Regimento da IELB, Art. 31) - após examinar, pesquisar, e ouvir a igreja em busca de um posicionamento que seja fiel à sua doutrina e tenha o consenso da igreja e apresenta este Parecer sobre o MINISTÉRIO PASTORAL DA IGREJA.

Este Parecer, não podendo definir todo o ensino referente ao Ministério Pastoral, apenas responde as principais questões levantadas nos documentos, nos eventos e diálogos.

O Parecer está fundamentado na Escritura Sagrada, nas Confissões Luteranas e documentos teológicos da igreja. E dentro da nossa realidade, como IELB, este Parecer é o testemunho e exposição da fé, que mostra, como aconselha a Fórmula de Concórdia, 8, como a Escritura Sagrada é entendida e explicada, em cada tempo no respeitante a artigos controvertidos.

1. O MINISTÉRIO PASTORAL E A IGREJA

1.1 Por causa da queda em pecado de Adão e Eva, Deus restabelece o seu reino espiritual mediante um ato de reconciliação, entregando-se à morte em Cristo (Gn 3.15).

1.2 Este ato de reconciliação é também o serviço permanente de reconciliação de Deus com o mundo. Pelo serviço, ou ministério da reconciliação, Deus estabelece o seu reino de sacerdotes, a sua nação santa, a sua raça eleita. (1 Pe 2.9 ss; Ex 19.5,6)

1.3 Deus estabeleceu entre os seus sacerdotes este ministério da reconciliação pela proclamação dos seus atos de salvação. (2 Co 5.18,19; Rm 10.14)

1.4 Por meio desta proclamação, Deus desperta a fé nos que ouvem. Esta fé distingue os que são o seu reino de sacerdotes daqueles que não o são. A Apologia, designa este reino como “sociedade de fé e do Espírito Santo nos corações”, “povo espiritual”.1

1.5 Este reino de sacerdotes constitue a igreja em seu sentido mais próprio. Deus instituiu a igreja e lhe confiou o seu tesouro, o Evangelho, visando a proclamação pública da sua palavra de reconciliação o Evangelho.2

2. O MINISTÉRIO PASTORAL E O SACERDÓCIO UNIVERSAL

2.1 Pertencer à ordem dos sacerdotes de Deus e proclamar o evangelho é um direito e privilégio divino de todos os cristãos.

2.2 Os sacerdotes são incumbidos por Deus para promover esta proclamação pública. Alguns dos sacerdotes são chamados para exercer o ministério pastoral em seu meio, isto é, são designados para que, oficialmente, em nome deles, desempenhem o ofício da proclamação do Evangelho e da administração dos sacramentos.

2.3 Este ofício, entre nós denominado Ministério Pastoral, é instituição de Cristo, como um dom entregue por Cristo à igreja, conforme Efésios 4.7 ss, para, através dele, aperfeiçoar os santos e edificar o corpo de Cristo.

2.4 Através da igreja, Deus designa pessoas para determinado ofício dentro do ministério da proclamação. Nesta designação, o ofício do ministério é e permanece privilégio da igreja. A Igreja estende somente a administração oficial da palavra e dos sacramentos aos designados para um ofício dentro da igreja.3 Distingue-se o sacerdócio universal de todos os crentes (leigos) do ministério público (pastores) “não pela competência, mas pelo chamado ou designação.”4

2.5 A relação entre a igreja e os seus designados ministros é a mesma relação descrita em Ef 4.16, 5.21, de auxílio e serviço mútuo, ou, no dizer de Lutero, “patrão e empregado, proprietário e escravo”5 com o único objetivo: a proclamação do Evangelho, o serviço ou ministério do Evangelho, aqui designado como Ministério Pastoral.

2.6 De maneira que, ao proclamarem o Evangelho, os ministros recebem, como dom de Deus, a obediência da igreja ao evangelho (Hb 13.17), enquanto que os ministros, como indivíduos, são servos da igreja e lhe obedecem, como Lutero sublinha contra autoridade de Roma: “Em 1 Co 3 (4-8) Paulo iguala os ministros e ensina então que a igreja está acima dos ministros.”6

2.7 O Ministério Pastoral é exercido por delegação, ou designação de Cristo através dos sacerdotes reais. Dele se espera que ensine como cada ofício na igreja seja administrado, de modo a que, no dizer de Lutero, e citado por Pieper neste contexto, o designado para o ministério pode realizar todas as funções e serviços, como pode também treinar e levar outros a exercer funções como batizar, distribuir a ceia, como fizeram Cristo, Paulo e todos os apóstolos.7

2.8 Ao designar alguém ao Ministério Pastoral, a igreja permanece responsável pelo ministério. Cabe-lhe, por isso, receber e apoiar o ministério como obra de Deus, ou obra divina. Este serviço ou ministério pode se chamar divino somente e enquanto é serviço da proclamação do Evangelho.

Cristo chama sacerdotes e ministros para que, em conjunto, realizem a obra para a qual ele estabeleceu a igreja.

Por esta razão, também é de responsabilidade do povo de Deus julgar a fidelidade do serviço a Cristo e à igreja, e se o ministro não puder ser convencido a ser fiel no cargo a Cristo e à igreja, cabe-lhe depô-lo.8

3. O MINISTÉRIO PASTORAL: CHAMADO E ORDENAÇÃO

3.1 Todos nascem sacerdotes reais pelo batismo para proclamarem o Evangelho, mas ministros da proclamação pública da Palavra são feitos na igreja.

3.2 É impróprio e falso referir o atestado ou diploma de chamado como “chamado divino”. Esta designação para a função do ministério pastoral apenas é divina naquilo que realiza por mandato divino em acordo com o Evangelho e em consenso com a igreja. Isto é, divino em sentido próprio, neste contexto é o exercício do Ministério Pastoral para anunciar a salvação, administrar os sacramentos, perdoar os crentes e advertir os impenitentes e ímpios.

Este chamado é mais propriamente denominado chamado regular, segundo a Confissão de Augsburgo, Art. XIV.

3.3 Vocação é também entendido como a inclinação íntima ou aconselhamento pelos quais Deus encaminha alguém a procurar o Ministério Pastoral, ou outra ocupação de vida. Esta vocação não autoriza, por si, o exercício do ministério. A aptidão para o exercício desta excelente obra necessita da aprovação da igreja para o seu exercício público. (Cf. 1 Tm 3 e Tt 1)

3.4 A aprovação pública da aptidão acontece pela designação ou chamado ao exercício do ministério, confirmado pela instalação. Ordenação, segundo os artigos de Esmalcalde, é o rito que declara publicamente que alguém foi chamado e é apto para o ministério em determinada função e lugar.9

3.5 Esta aprovação pública, os confessores e pais definiram como chamado regular ou legítimo, (ordentlich) quando tem o consenso e aprovação da igreja, como, por exemplo, expressa o Regimento da IELB.

A IELB define como regular o chamado que é feito pela congregação local em harmonia com as igrejas ou Sínodo. Comissionamentos são feitos pela Diretoria Nacional da IELB para funções em que esta forma de chamar se mostra necessária e é de interesse da igreja.

3.6 O tempo para o exercício do ministério é definido pelo consenso da igreja. A igreja, agindo de forma sensata, justa e piedosa, pode definir o exercício como de tempo indeterminado, determinado, parcial ou integral.

4. O MINISTÉRIO PASTORAL E AS FUNÇÕES DO MINISTÉRIO

4.1 O Novo Testamento não estabeleceu uma estrutura ou hierarquias no ministério. Em Efésios, o apóstolo menciona os presentes que Deus deu à igreja: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, mestres...para o desempenho do seu ministério. (Ef 4.11,12).

4.2 Estes títulos designam funções e atribuições diferentes, dons e capacidades diferentes e maneiras diferentes de completar o serviço, ou ministério, que é “edificar o corpo de Cristo” (Ef 4.12), ou “proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.10).

4.3 Estas funções foram dons de Deus à igreja de Éfeso para que o Evangelho fosse servido da maneira própria nas situações e oportunidades que o mundo apresentava.

4.4 Cabe à igreja, em cada tempo, estar atenta às oportunidades e privilegiar o serviço do Evangelho renovando e criando estruturas adequadas à sua missão. A igreja, cuja tradição parece apontar para “um pastor, uma paróquia”, não deve limitar o ministério pastoral e a missão da igreja no mundo a esta tradição de ter apenas um pastor paroquial.

4.5 Neste sentido, os sacerdotes que se reúnem sob a IELB definem funções e atribuições para tornar pública a designação daqueles que atuam oficialmente em nome e para a igreja no serviço da proclamação do Evangelho.

4.6 As diferentes funções aceitas pela IELB são e permanecem funções em desdobramento do ministério pastoral da Palavra e do Sacramento com vistas à realização da missão da igreja no mundo.

4.7 A IELB definiu em seu Regimento aqueles que pública e oficialmente são reconhecidos como ministros e que exercem diferentes funções em nome da, e para a, igreja:

4.7.1 Pastores em geral (Artigo 79)

Pastor ativo (Artigo 80)

Professor de Teologia (Artigo 83, 84, 85)

Professor de Teologia de tempo integral (Artigo 86)

Professor de Teologia de tempo parcial (Artigo 86)

Diretores das Faculdades de Teologia (Artigo 87, 88, 89)

Capelães - em escolas, hospitais, entidades assistenciais, corporações militares e outras entidades (Artigos 93,94 e 95)

4.7.2 Além destes casos definidos, e ainda conforme os Artigos 93 e 94 do Regimento, devem também ser aceitos e instalados como pastores os que exercem funções especiais do ministério pastoral:

Pastores que lecionam Ensino Religioso;

Pastores ativos em administração eclesiástica, instituições de ensino, editoras, meios de comunicação, atividades públicas e outras instituições a critério expresso da IELB.

5. O MINISTÉRIO PASTORAL E O STATUS PASTORAL

5.1 O status pastoral é concedido pela igreja de acordo com a ordem estabelecida na igreja. Esta ordenação (Ordnung, cf. CA XIV) está nas mãos da igreja, para ser estabelecida pelo consenso geral, conforme as ordenações ou regulamentos aceitos por ela de acordo com a palavra e a boa ordem.10 Considera-se pastor na IELB e que publicamente atua em nome da igreja, para admoestar, ensinar, pregar, administrar os sacramentos, aquele que (e sublinhamos o texto do Regimento):

5.1.1 foi formado e recomendado ao ministério pastoral por uma Faculdade de Teologia da IELB, ou de uma de suas igrejas irmãs, ou ter sido aceito por colóquio;

5.1.2 aceitou chamado e solicitou ao presidente da IELB sua ordenação e instalação e foi ordenado e instalado conforme o rito da igreja;

5.1.3 solicitou ao Conselho Diretor, através do Presidente, a sua filiação à IELB.

5.2.1 O comissionamento está reservado para funções especiais do ministério da IELB, por designação da Diretoria Nacional, estando-lhe reservados os mesmos direitos, privilégios e obrigações de todos os pastores.

5.2.2 Para a boa ordem, a igreja pode estabelecer ministério supervisionado ou auxiliar em congregações ou outras instituições, onde o volume de serviço exigir maior número de pastores.

5.2.3 Ao bacharel em teologia, sem chamado e ordenação, não cabe exercer publicamente (oficialmente) funções do ministério.

5.2.4 Ao licenciado do ministério, em função do exposto acima, não cabe exercer publicamente (oficialmente) funções do ministério. O bacharel em teologia ou licenciado do ministério, mediante autorização das instâncias regulares, autorizadas pela CN, poderão oficiar em casos especiais.

5.2.5 O pastor emérito, regularmente aposentado, tem as mesmas prerrogativas do pastor chamado, podendo exercer as funções do ministério quando convidado pela igreja.

5.3 Pastor Principal e pastor assistente. Onde houver a necessidade de mais de um pastor, para a boa ordem, as congregações definem e atribuem as funções pastorais, entregando a um a responsabilidade da supervisão do serviço.

CONCLUSÃO

Este Parecer visa a concórdia na prática posto que vivemos em unidade de doutrina quanto ao ministério. Este Ministério Pastoral foi dado por Cristo, que é a nossa cabeça. E a igreja “não pode ser melhor governada e conservada do que quando todos vivemos sob uma só cabeça, Cristo, e os bispos, todos iguais quanto ao ofício (ainda que desiguais no concernente aos dons) diligentemente se mantém juntos em unidade de doutrina, na fé, nos sacramentos, nas orações, nas obras de amor. ¹¹¹

A unidade em Cristo é o maior privilégio que a igreja possui e é um presente de Deus. Nesta unidade, deslocados em diferentes funções, nem uma função maior do que a outra, mas todas no ministério da reconciliação pela proclamação do Evangelho e administração dos sacramentos, queremos, também a concórdia na prática e, com este Parecer da CTRE, atender o pedido de Lutero:

“Razão por que peço mais uma vez a todos os cristãos, especialmente aos pastores e pregadores ... exercitem-se bem nesses estudos diariamente e sempre os inculquem. ... Perseverem em ler, ensinar, aprender, meditar e refletir, e não desistam até fazerem a experiência e adquirirem a certeza de que mataram o diabo de tanto lecionar e se tornaram mais sábios que o próprio Deus e todos os seus santos. Se aplicarem tal diligência, prometo-lhes - e eles hão de percebê-lo - que alcançarão grande fruto e que Deus fará deles pessoas excelentes.”¹²

Porque neste Parecer, de acordo com os pais, tratamos do serviço mais nobre da igreja, que não encontra melhor expressão do que nestas palavras do apóstolo Paulo ditas aos pastores de Éfeso, no encontro em Mileto: (Atos 20.24 e 28)

“Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.”

CTRE, setembro de 1997

Ronaldo Hoffmann Haroldo Lauffer .

Martim C. Warth Acir Raymann .

Gerson Linden Paulo P. Weirich

11 LC. Artigos de Esmalcalde, 9, p. 320.

12 LC, Catecismo Maior, Prefácio, 19,20, p. 390/1.

Moção 20: O Ministério Pastoral da Igreja - Foi aprovado o parecer substitutivo da Comissão de Moções:

A moção nº 20

- que é um documento produzido pela CTRE sobre o ministério pastoral da igreja, resultante de debates em convenções, concílios e conferências a partir de 1992;

- que é um documento que, fundamentado nas Escrituras, Confissões e documentos teológicos da igreja, responde às principais inquietações levantadas recebe da Comissão parecer favorável à sua aprovação, com as seguintes alterações:

- No item 3.2 – eliminar a palavra “falso”;

- No item 4.7.2 – suprimir a expressão “atividades públicas”.


1 LIVRO DE CONCÓRDIA (LC), Apologia da Confissão, VII e VIII, 5, Porto Alegre/São Leopoldo, Concórdia/Sinodal, 1993, 4ª Edição, 1993, p. 177. Cfe. Tb. PIEPER, Christian Dogmatics, vol. III, p. 456/7, cita LUTERO: “Pelo Batismo nascemos sacerdotes. Destes ... chamamos e elegemos alguns ... para executar as funções deste ofício em nome de todos.”

2 “Em resumo, todas as coisas são da igreja, tanto o ministério como os ministros”. CHEMNITZ, Martin. Enchiridion, Saint Louis, Concordia, 1981, Trad. Luther Poellot, página 32, pergunta 21. Confere tb. PIEPER, F., Christian Dogmatics. III, p. 458: “the public office is comitted (uebertragen) only if the teaching of Scripture is maintained that Word and Sacrament have been entrusted by Christ to all christians for possession and aministration.”

3 PIEPER, F., Op. Cit., p. 457 “eleitos ... para exercer as funções deste ofício em nome de todos.”

4 BOUMANN, H.J.A. A doutrina do Ministério segundo Lutero e as Confissões Luteranas, Casa Publicadora Concórdia, s/d, p.14. Cfe. Tb. PIEPER, F., Op. Cit. P. 457: “A Palavra e o Sacramento no qual ministram são e permanecem a imediata propriedade da congregação e somente a administração deles em nome de todos é delegada a estas determinadas pessoas.”

5 PIEPER, III, p. 457.

6 Id. Ibid, 457 e 458. O ministério pastoral recebe a obediência da igreja “enquanto proclama a Palavra de Deus.”

7 Id. Ibid, p. 462, citando WALTHER que cita LUTERO: “Caso, decida limitar-se ao ofício da pregação, poderá dedicar-se a este ofício, delegando outras funções auxiliares a outras pessoas, como fizeram Cristo, Paulo ...”

8 PIEPER, F. Op. Cit. Em citação de Lutero, p. 458.

9 LC. Artigos de Esmalcalde, X, p. 337

10 LC. Tratado, p. 347: 11, 350: 26,60,61.

O CHAMADO PASTOR - TRABALHO

SEMINÁRIO CONCÓRDIA

TEOLOGIA PASTORAL

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O CHAMADO PASTORAL

Iromar Schreiber, Silvair Litzkow,

Walduino Paulo Littig Junior, Wylmar Klippel

São Leopoldo, 2005

SEMINÁRIO CONCÓRDIA

TEOLOGIA PASTORAL

O CHAMADO PASTORAL

Iromar Schreiber, Silvair Litzkof,

Walduino Paulo Littig Junior, Wylmar Klippel

Trabalho apresentado ao Professor Paulo Proske Weirich da Disciplina de Teologia Pastoral do Seminário Concórdia.

São Leopoldo, 2005

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................04

1. O QUE É O CHAMADO?..........................................................................05

2. O CHAMADO VEM DE DEUS..................................................................07

3. DEUS CHAMA ATRAVÉS DA IGREJA...................................................10

4. A NECESSIDADE DO CHAMADO..........................................................12

5. O PROCESSO DO CHAMADO................................................................13

5.1 No Novo Testamento.......................................................................13

5.2 Aposentadoria..................................................................................14

5.3 Troca de Comunidade.....................................................................14

5.4 Destituído do Pastorado..................................................................14

5.5 Destituído Injustamente...................................................................15

6. OFÍCIO......................................................................................................17

6.1 Ofício do Sacerdócio Universal......................................................18

6.2 Ofício do Ministério Pastoral...........................................................21

7. O CHAMADO PASTORAL NA IELB........................................................23

CONCLUSÃO...............................................................................................27

BIBLIOGRAFIA.............................................................................................28

INTRODUÇÃO

O Chamado Pastoral sempre foi um tema discutido em toda vida, e, em todo o tempo da Igreja, desde os primórdios. Hodierno, não é diferente. A Igreja está vivendo este momento em que se discute e questiona este tão relevante tema: O Chamado. No entanto, este ensaio tem como objetivo avaliar o “Chamado Pastoral” a luz da história da Igreja e a partir de dogmáticos, Lutero e outros. Feito isso, se tem subsídios e fundamentos para uma avaliação e aplicação para o contexto da Igreja atual.


1. O QUE É O CHAMADO?

O termo “chamado” é muito usado nas Confissões e nas Escrituras. 1º) É usado simplesmente para nomear algo, para denominar ou identificar algo; 2º) É usado para designar o chamado que Deus dirige a alguém para torná-lo cristão, o chamado à fé ou o chamado eterno e a eleição para a vida eterna, a eterna salvação; 3º) As Confissões falam do chamado (vocatio, Beruf) como uma posição, mandato divino.

A maioria dos casos em que se usa o termo “chamado”, se refere em vários casos à ação de Deus que é pessoal e concreta: chamados são pessoais. Deus age sobre indivíduos para salvá-los ou para colocá-los em algum ofício, no qual eles possam servi-lo. Ele chama a pessoa de uma posição para uma posição, um estado.

Lutero vê o chamado de Deus para o ministério como vocação externa, como vocação mediata. E “vocação” é “entendida como a inclinação íntima ou aconselhamento pelos quais Deus encaminha alguém a procurar o Ministério Pastoral, ou outra ocupação de vida”.[1]

O dogmático Quenstedt diz que o chamado é um ato pelo qual Deus chama homens para a fé e o arrependimento pela Palavra, quando escrita ou lida, e lhes oferece a graça da conversão.[2]

Gerhard descreve o chamado ao ministério da Palavra como sendo a escolha de Deus, de “pessoas especiais”, do resto da multidão de homens. Logo, o chamado pode ser denominado uma missão (Rm 10.15), por vezes, uma eleição (1Cr 23.13; Lc 6.13; Jo 6.70; At 1.2,24; 9.15; Rm 16.13). A eleição precede o chamado e é mais importante. Em determinadas ocasiões o chamado está ligado a um escolher, chamar, enviar (Is 49.1).[3]

O artigo XIV da Confissão de Augsburgo apresenta a doutrina do chamado como sendo “a ação de Deus pela igreja inteira”.

O pastor precisa ter em mente que a igreja não é dele. E que o chamado não é um instrumento de dominação! Mas é uma dádiva de Deus para que ele cumpra com fidelidade o ministério que recebeu. É um ministério de servir, não de servir-se!


2. O CHAMADO VEM DE DEUS

Deus é o autor do chamado. Ele é o único sujeito em ação. Nós somos apenas instrumentos (representantes) pelos quais Deus age: “Somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio” 2Co 5.20.

Mentzer afirma que Deus é o único que tem direito e poder para chamar. E "não é verdadeiro o chamado que não provém de Deus e em resposta a Deus”. Assim Deus chama ministros não só para pregar a Palavra, mas também para proteger a igreja, salvar almas, porque ele ama a todos.[4]

Lutero acreditava que é possível que Deus chamasse de maneira direta um pregador, e que isso poderia acontecer por meio de sinais e milagres.

No Antigo Testamento Deus chamava de maneira direta. O que não podemos fazer é generalizar definindo uma só forma de chamado. Deus chama obreiros de diversas maneiras, e para isso ele usa meios.

Podemos ver isso a partir de exemplos bíblicos do Antigo e Novo Testamento: no AT temos o exemplo de Moisés que foi diretamente chamado por Deus do meio da sarça ardente (Ex 3.1-10; Gn 12.1; Is 51.2; Hb 11.8); o chamado de Abraão por intermédio de Melquisedeque (Gn 14.18-24). No NT os apóstolos foram designados diretamente por Cristo (Gl 1.1) supervisionados pela igreja (2 Co 11.28). Os bispos ou presbíteros eram eleitos por suas congregações (At. 1.23; 6.2-6; 14.23).

Lutero, as Confissões, Chemnitz e todos os dogmáticos ensinaram de uma só voz contra os Anabatistas, Socianos, Schwenckfeldianos e outros entusiastas de que após o tempo dos apóstolos, Deus não chama mais pastores e ministros diretamente, mas por intermédio da igreja. Desta forma, Deus chama pela igreja, a noiva de Cristo, à qual Ele dá o ofício das chaves. Desta forma todo o ministério é da igreja (Ef 4.12; l Co 3.21).

Hoje, em geral, Deus chama os responsáveis pelo ministério por ele instituído de maneira mediada, por meio de pessoas. Deus age de maneira oculta, enquanto chama através de pessoas. É através da vocação externa que o ministro recebe a autoridade para o exercício do anúncio público na Igreja.[5]

Lutero sempre teve a convicção de que a Igreja recebeu a incumbência de chamar pessoas para o ministério. Essa Igreja é o “santo povo cristão”, e o “povo de Deus”, “a comunidade santa”, como o podemos ver ao longo de incontáveis escritos seus. Ele está autorizado a convocar e chamar ministros. Onde esta igreja chama, devemos ter a certeza de que ela age em nome de Deus.

Como por exemplo, Paulo mandou a Tito e a Timóteo que ordenassem presbíteros e sobre como eles deveriam fazê-lo, por meios (Tt 1.5; l Tm 2.2). Daí Chemnitz argumenta de que este chamado mediato em nossos dias é o mesmo chamado divino, que os profetas do Antigo Testamento receberam. Timóteo não foi menos chamado do que o próprio apóstolo Paulo. E assim o é com cada ministro hoje (At 20.28; 2 Co 5.18-20; l Co 12.28). Deus dá a mesma graça, ajuda, poder e eficácia divina ao ministério da Palavra hoje.

3. DEUS CHAMA ATRAVÉS DA IGREJA

Lutero, as Confissões, Chemnitz e todos os dogmáticos ensinaram de uma só voz contra os Anabatistas, Socianos, Schwenckfeldianos e outros entusiastas de que após o tempo dos apóstolos, Deus não chama mais pastores e ministros diretamente, mas por intermédio da igreja.

Os pastores são chamados de ministros da igreja. E o chamado de Deus é mandamento seu[6], não simplesmente uma promessa insignificante ou decisão que as pessoas fazem para si mesmas. Pois pelos apóstolos, Deus deu e prescreveu para a igreja certa forma de como ele quer enviar e chamar ministros, a saber, por um chamado mediato.

Em virtude do seu sacerdócio espiritual, todos os crentes possuem até “à consumação dos séculos” o direito inerente de pregar o evangelho e administrar os sacramentos. Uma vez, que todos os crentes cristãos são depositários dos meios da graça, é privilégio seu chamar pastores ou ministros que em seu nome apliquem publicamente os meios da graça.

No tempo dos apóstolos, eles não elegiam presbíteros arbitrariamente, apenas por sua autoridade apostólica, mas com o seu consentimento expresso e mediante cooperação ativa das igrejas locais.

Johann Gerhard ressalta o poder da igreja no chamado. Ele diz que em geral, dizemos que os ministros não devem ser apontados unicamente pelos ministros ou somente pelos magistrados civis, muito menos deve a sua indicação ser submetida à vontade do povo indiscriminado e inculto. O direito de chamar pertence à igreja toda.

Por isso, cada igreja deve conservar o poder de reclamar, eleger e ordenar ministros. Esta igreja Lutero chama de Igreja Legítima. Quando se fala de sacerdotes Reais, está dizendo realmente a respeito da igreja legítima, que por possuir só ela o sacerdócio, também deve ter o poder para eleger e ordenar ministros.

4. A NECESSIDADE DO CHAMADO

E assim, o chamado é necessário. Este é o ponto central da Confissão de Augsburgo XIV, quando diz: "Ninguém deve publicamente ensinar na igreja ou administrar os sacramentos a menos que seja legitimamente chamado".[7]

Mas uma igreja, pela graça de Deus, pode existir por um tempo sem um pastor. Lutero admitiu isto em sua carta aos cidadãos de Praga, quando insistiu com eles para que ficassem sem o sacramento do altar, só com a devoção familiar.

O chamado é tão importante que nenhuma pessoa deve pregar publicamente sem ser chamado por Deus. E se acaso alguém pregar, nenhum cristão deve ouvi-lo. E também ninguém deve ocupar este ofício da pregação (munus docendi), sem um chamado legítimo. E como vimos, sem chamado não há ministério.

Nossas Confissões e teólogos com grande consistência vêem o chamado para o ministério da Palavra como uma ação divina, não diferente do batismo.

5. O PROCESSO DO CHAMADO

5.1 No Novo Testamento

Na prática no NT, o chamado incluía uma série de etapas num processo: o exame, a ordenação, a instalação, que são levados a efeito pelos ministros; nominação, apresentação e confirmação pelos magistrados cristãos; consentimento, voto e aprovação pelo "povo". O Povo tinha que aprovar o ministro e os ministros deviam cumprir a sua parte no processo do chamado, especialmente no exame que era aberto e diante da assembléia, o qual nunca era omitido.

Todo plano elaborado no processo do chamado surgiu pela preocupação de preservar o ministério evangélico, para que o ensino fosse preservado puro e o ministro no ofício público fosse honrado, e, sobretudo, almas fossem salvas.

Os dogmáticos ressaltam que o chamado é sempre permanente. A noção do chamado temporário é inconcebível pela natureza do caso, e, por isso, a matéria não foi considerada por Lutero e as Confissões ou algum teólogo luterano.

5.2 Aposentadoria

Como era de se esperar, a idéia de aposentaria não ocorreu às pessoas no tempo da Reforma e nos séculos seguintes. Lutero, as Confissões e os dogmáticos falam da morte, doença física grave, ou incapacidade, perseguição e exílio, e muitas vezes na recusa inflexível de uma congregação inteira, que rejeita a palavra de Deus, como causa do término de um chamado. Mas para Lutero o chamado é vitalício.

5.3 Troca de Comunidade

O que dizer da transferência de um pastor de uma igreja para outra, ou remover o pastor do seu ofício? Chemnitz segue dizendo:

"Assim como há um método legal (legitima ratio) para chamar alguém para dentro do ministério da igreja, assim há também um método legal para remover alguém ou transferi-lo de uma congregação para outra”.[8]

A transferência ocorre somente quando vem outro chamado legítimo.

Chemnitz se opõe firmemente a pastores paroquiais que se afastam da posição assumida e mudam de locais, “para seu próprio benefício”.

5.4 Destituído do Pastorado

A posição de Lutero e de todos os dogmáticos sobre esta matéria da destituição de um ministro concordam exatamente com a teologia das Confissões, sem nenhum desvio. O chamado é chamado de Deus. É para o ministério da palavra e a administração dos sacramentos. Se alguém é faltoso para com o seu chamado por doutrina falsa ou vida ímpia, Deus o removerá. E ele o fará imediatamente como o chamou.

Gerhard admoesta:

"Nunca devemos permitir pressa neste assunto ou arbitrariedades por parte daqueles que têm o poder para remover um ministro de sua posição e colocá-lo no exílio, sem o reconhecimento das causas legítimas e o cuidadoso exame da situação”.[9]

Tal conhecimento cabe a toda a igreja.

Há duas razões pelas quais Deus remove ministros infiéis de seu ofício:

1) Por causa da doutrina, quando ensinam doutrina falsa: "Os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução" Mt 2.7.

2) Por causa da vida, quando agem de tal maneira que o nome do Senhor é blasfemado, 1 Sm 2.30.

Assim como o chamado, também a deposição pertence à igreja toda, de uma forma correta e ordeira.

5.5 Destituído Injustamente

Se alguém, sem um processo formal e por questões que não são legítimas e suficientes, (conforme o demasiado zelo e condenação dos vícios dos homens, aversão, ou erros insignificantes) é deposto do seu ministério, então aquele que toma o seu lugar não pode ser considerado um ministro verdadeiro, legítimo e chamado. Lutero chama a pessoa que substitui um pastor que foi deposto ilegitimamente de "ladrão e assassino". Ele roubou o chamado do outro e destrói seu ministério.


6. OFÍCIO

A partir da descrição de um dicionário a palavra ofício toma várias direções, ou seja, é analisada amplamente, por isso, é descrita como: Encargo, incumbência, papel, modo de vida, ocupação, profissão, dever especial, obrigação, etc.

A vida é feita de ofícios. Estamos diariamente executando ofícios. Quando terminamos um ofício começamos outro simultaneamente. Cada ofício executa ações diferentes dentre um acordo, contrato, ou chamado. Até podemos dizer que o ofício ocorre de forma concomitante com outro que não está em ação, mas, que pode ser acionado a qualquer momento, ou, ao término do ofício que está em ação. Entende-se melhor o ofício quando colocado dentro das três ordens: Família, Igreja e Estado. Pois, não é fácil administrar os ofícios. Podemos distinguir o ofício da família (pai, mãe) da Igreja (leigo, pastor, líder) do Estado (cidadão, governo), mas, não podemos separá-los. Ser radical e fazer uma separação não funciona. Colocar todos os ofícios no mesmo pacote, e tentar exercê-los ao mesmo instante, também não funciona. Aqui se faz necessário pedir sabedoria Divina, para que através da disciplina, da ética cristã, e até mesmo com condicionamento se possam exercer os ofícios de forma coerente, sensata e que agrade a Deus. Deve-se exercer um ofício como se fosse o único, se dedicando a ele com toda responsabilidade e empatia. Ao passo que, dentro de uma nova função, novo exercício, no ofício seguinte deve esquecer o ofício anterior no qual foi cumprida a responsabilidade; é muito importante deixar as tensões dentro do seu próprio ofício, o leva e traz de tensões acarreta em conflito e pode provocar uma guerra. Trazer as tensões do trabalho para o lar é o mesmo que trazer bactérias para um outro ambiente. Isso pode se tornar muito grave até porque o novo local (corpo) não sabe reagir diante de tal situação, uma vez que não possui anticorpos, não está imunizada para estas bactérias. O mesmo se dá com outros ofícios. É importante se prevenir a fim de não transmitir viroses para outros.

A necessidade tem o poder de encerrar um ofício chamando ao exercício de um outro ou de um novo ofício que precisa ser atendido com urgência. O texto de Lc 10. 25-37 (O Bom Samaritano) ilustra bem esta situação: Sacerdote passou de largo, Levita passou de largo, certo Samaritano passou-lhe perto e teve piedade. Qual destes cumpriu seu ofício? Acudir ao necessitado é ofício de todos. O ofício vai de encontro com o próximo e agrada a Deus. Sem isto, não é ofício, é egotismo.

6.1 Ofício do Sacerdócio Universal

Deus nos chamou por meio do Batismo ao sacerdócio real, nos adotou e nos concedeu benefícios, bem como, somos todos chamados ao serviço através deste ato de graça. A Bíblia deixa claro que todos são sacerdotes (1Pe 2. 5,9; Ap 5.10) e que o sacerdócio oficial (ministério) não parece ser distinto dos leigos a não ser através do ofício que administra os sacramentos e a Palavra. Todos os cristãos são sacerdotes em grau idênticos. Lutero fala em sete funções do sacerdote universal, a saber: Ensino da Palavra de Deus, Batizar, Consagrar, Ligar e desligar pecados, Sacrificar, Orar pelos outros e Julgar e ensinar doutrinas. Após colocar tanta ênfase nos direitos e funções comuns de todos os cristãos, Lutero prossegue e deixa clara a distinção que ele vê entre o sacerdócio universal e o oficio do Santo Ministério:

“É dos direitos comuns dos cristãos que estivemos falando. Pois uma vez que provamos que todas estas coisas são propriedade comum de todos os cristãos, nenhum indivíduo pode se levantar por sua própria autoridade e arrogar apenas para si próprio o que pertence a todos. Aproprie-se, portanto, deste direito e exerça-o onde não houver mais ninguém que tenha os mesmos direitos. Mas os direitos da comunidade exigem que um, ou tantos quantos a comunidade decidir, seja escolhido ou aprovado que, em nome de todos os que tem estes direitos, execute essas funções publicamente. De outra maneira, poderia resultar uma confusão vergonhosa entre o povo de Deus, e um tipo da Babilônia na Igreja, onde tudo dever ser feito com ordem, conforme o apostolo ensina [1Co 14.40]. Pois uma coisa é exercer um direito publicamente; outra é usá-lo em situação de emergência. Publicamente, ninguém dever exercer um direito sem o consentimento do corpo todo ou da Igreja. Em situação de emergência, cada um pode usá-lo como lhe parece melhor”.[10]

O sacerdócio universal capacita os cristãos a proclamar a Palavra de Deus em toda forma possível. Mas, há um limite: ele não pode proclamar esta Palavra publicamente na Igreja. Exceções são casos de emergência ou onde não há outros cristãos.

A proclamação pública é restrita de acordo com a ordem divina apenas a Ministros especialmente chamados. A autoridade do Ministro chamado é distinta daquela dos demais cristãos na extensão se sua comissão: ela inclui a proclamação pública. Ambos, porém, tem a mesma obrigação: Proclamar o mesmo Evangelho.

“É impossível que todos os sacerdotes exerçam o Ministério público ao mesmo tempo. O oficio deve ser confiado a uma pessoa e somente ele deve ser autorizado a pregar, batizar, absolver, e administrar os sacramentos. Onde isto é feito ali o povo de Deus, o santo povo cristão, está presente”.[11]

Quando o cristão pode ou não pode pregar a Palavra e administrar os sacramentos? Em suma:

Onde não há outros cristãos à Pode pregar mesmo sem chamado ou convocação.

Onde há outros cristãos à Não deve pregar a não ser que seja escolhido para ensinar no lugar e por ordem dos demais.

“As funções do sacerdócio geral e do ofício pastoral são as mesmas. A esfera de atuação (pública/privada) e o nível de responsabilidade, no entanto, variam”. [12] Muller expressa este tema da seguinte maneira:

“Pois, conquanto nem todos estejamos no ofício ou vocação pública, ainda assim deve e pode cada cristão ensinar, instruir, admoestar, consolar, repreender com a palavra de Deus a seu próximo quando e onde alguém o necessitar, tal como o pai e a mãe aos filhos e criados, um irmão, vizinho, cidadão ou camponês ao outro. Porquanto um cristão bem pode instruir e admoestar com os dez mandamentos, o credo, a oração, etc., ao outro, que ainda é ignorante ou fraco, e quem o ouve tem a obrigação de também o aceitar dele como palavra de Deus e juntamente dar disto profissão pública”.[13]

Cristo é sacerdote, logo os cristãos são sacerdotes.

6.2 Ofício do Ministério Pastoral

Por uma questão de ordem como o próprio apóstolo Paulo adverte, o grupo de crentes (sacerdócio universal) escolhe alguém para que exerça em função dos demais, o ministério pastoral. Este que exerce este ministério é chamado de: Pastor, ancião, pregador, ministro, bispo, sacerdote – mas tanto faz se é pastor ou reverendo, ambos exercem o mesmo ofício: Ensinar o Evangelho e administrar os Sacramentos. É o chamado que se transforma em ofício. A Confissão de Augsburgo XIV diz que a ninguém é permitido ensinar ou pregar publicamente na igreja ou administrar os Sacramentos sem chamado legítimo. Lutero argumenta no sentido de que é impossível que todos os sacerdotes exerçam o Ministério público ao mesmo tempo. Por isso, o ofício deve ser confiado a uma pessoa e somente ele deve ser autorizado a pregar, batizar, absolver, e administrar os sacramentos.

O pastor chamado tem como ofício unicamente: Pregar e ensinar os meios da Graça; Palavra e Sacramentos. Pois, “ninguém é responsável por tudo, mas apenas até o limite do seu chamado”. [14] Ser guia dos demais significa exercer a paraclesia, ou seja, defender, consolar e exortar por meio do Evangelho. No entanto, para este fim, a ordenação foi originalmente instituída com base escriturística visando prover o povo com Ministros da Palavra.

O Amor a Deus e ao próximo é o ofício número um do sacerdócio.

Em amor a Deus buscamos cumprir os seus mandamentos e lhe prestamos obediência a fim de cumprir o seu propósito de levar a todos a salvação em Cristo por meio da Palavra e dos Sacramentos.

Tanto o sacerdócio universal quanto o ministerial são chamados a fim de cumprir os propósitos de Deus, e não ao contrário; não podemos utilizar Deus para cumprir nossos propósitos. E o propósito de Deus é: Salvar vidas em Cristo. Nós somos instrumentos nas mãos de Deus a fim de cumprir este propósito. Podemos escolher muitas coisas na vida, mas aqui temos que prestar obediência a Deus e cumprir o propósito Dele. O autor Warren afirmou em seu livro: “Sem Deus, a vida não tem nenhum propósito, e sem um propósito a vida não tem significado. Sem um significado, a vida não tem relevância ou esperança”. [15] Pastores e leigos são instrumentos dos propósitos de Deus cada qual com suas responsabilidades. O pastor não é chamado para o propósito da congregação, mas de Deus. De igual forma a congregação existe para cumprir os propósitos de Deus. Cabe ao pastor zelar pelas vidas das ovelhas cumprindo o propósito de Deus em: Ensinar o Evangelho e administrar os Sacramentos.

Pastores tem encontrado dificuldades porque acham que devem estabelecer propósitos para a congregação e para si, se esquecendo dos propósitos de Deus. Ele acaba fazendo do seu ofício uma miscelânea, criando com isto um ativismo, e deixando de executar de maneira melhor e coerente o ofício da Palavra e dos Sacramentos que Deus estabeleceu como propósito.

7. O CHAMADO PASTORAL NA IELB

O chamado ao Ofício Ministerial é de Deus. Não existe uma regra pela qual Deus chama pessoas ao Ofício Ministerial de maneira que somente este ou aquele chamado seja o correto e verdadeiro. Deus chama pessoas de acordo com a sua vontade. A medida em que a pessoa chamada exerce o Ofício Ministerial de maneira que possa ser honrado, então o chamado é divino.

Passaremos a expor o sistema de chamado da IELB que não é o único correto e verdadeiro. Na IELB há uma distinção entre Sacerdócio Universal de todos os Crentes (leigos) e Ministério Público (pastores). Essa distinção não é pela competência, mas pelo chamado ou designação. O Ministério pastoral pode ser resumido em pregação pública da Palavra de Deus e administração dos Sacramentos. Somente se estenderá este Ofício aos designados para tal dentro da igreja. O Ministério Pastoral é uma obra de Deus, ou obra divina, enquanto é serviço da proclamação do Evangelho.

O designado para o Ministério Pastoral pode realizar todas as funções e serviços, como pode também treinar e levar outros a exercerem funções como batizar, distribuir a Santa Ceia. Lutero: “Caso decida limitar-se ao ofício da pregação, poderá dedicar-se a este ofício, delegando outras funções auxiliares a outras pessoas, como fizeram Cristo, Paulo...”.[16]

A relação entre igreja e ministro é de auxílio e serviço mútuos: “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor”. “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” Efésios 4.15-16, 5.21. Os ministros como indivíduos, são servos da igreja e lhe obedecem: “Quando, pois, alguém diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu sou de Apolo, não é evidente que andais segundo os homens? Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um” 1ª Coríntios 3.4-8.

É impróprio referir o atestado ou diploma de chamado como “chamado divino”. Divino é o exercício do Ministério Pastoral. O chamado é mais propriamente designado “Chamado Regular”.[17]

A vocação não autoriza o Ministério Pastoral. É preciso a aprovação pública da Igreja por meio da designação ou chamado, confirmado pela instalação.

A ordenação é o rito que declara publicamente que alguém foi chamado e é apto para o Ministério Pastoral em determinada função e lugar.

O ministério pastoral será exercido pelo chamado ou comissionamento dirigido a um homem devidamente formado e recomendado ao ministério pela Faculdade de Teologia da IELB, ou por uma de suas igrejas-irmãs, ou pela comissão colóquio. O chamado pastoral será feito pela congregação por tempo indeterminado, e em casos especiais poderá ser por tempo determinado. O comissionamento será feito pela Diretoria Nacional por tempo determinado; em casos especiais por tempo indeterminado, estando-lhe reservados os mesmos direitos, privilégios e obrigações de todos os pastores. Não há diferença no ofício, porém há diferença em quem expede o chamado.

No processo de chamado o pastor poderá ser entrevistado pela congregação como também, após receber o chamado ou comissionamento, poderá visitar a congregação, para conhecimento mútuo.

É considerado pastor ativo aquele que: aceitou chamado ou comissionamento; que solicitou ao Presidente da IELB sua ordenação e instalação; que solicitou ao Conselho Diretor, através da Comissão Jurídica, a sua filiação como membro votante da IELB. O pastor em período de estudo para aperfeiçoamento, mestrado ou doutorado, mediante autorização da Diretoria Nacional, é considerado pastor ativo durante este período.

Ao bacharel em Teologia, sem chamado e ordenação, não cabe exercer publicamente (oficialmente) funções do Ministério Pastoral. Somente mediante autorização das instâncias regulares, autorizadas pela Convenção Nacional, poderão oficiar em casos especiais.

O pastor chamado ou comissionado poderá ser demitido pelo voto concorde de dois terços dos membros votantes presentes na assembléia da congregação, após tratativas em nível de congregação ou paróquia, Conselheiro e Líder Leigo Distrital, e Diretoria Nacional, ocorrendo um dos seguintes motivos:

· Comprovada incapacidade física permanente para o exercício de suas funções;

· Recusa de cooperação com a IELB;

· Negligência comprovada de suas funções;

· Não cumprimento de preceitos regulamentares;

· Profissão de doutrina falsa;

· Conduta indigna;

· Comprovada incompetência para a função.

CONCLUSÃO

Concluí-se, portanto, afirmando que: O Chamado hoje é o mesmo da Igreja Primitiva e da Reforma. Pois, sempre foi e continua sendo Deus o autor do Chamado. Contudo, Deus usa meios para cumprir seus propósitos. Todos são chamados a fim de cumprir os propósitos de Deus, cada um em sua esfera de atuação e dentro de sua responsabilidade.

BIBLIOGRAFIA

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WARREN, Rick. Uma Vida com Propósitos. James Monteiro dos Reis, trad. São Paulo: Vida, 2003.

WARTH, Martim Carlos. A Ética de Cada Dia. Canoas: ULBRA, 2002.


[1] Pareceres da CTRE. p. 10.

[2] A Doutrina do Chamado nas Confissões e Ortodoxia Luterana. p. 3.

[3] Ibidem. p. 3.

[4] Confessional Lutheranism in Today's World. p. 5.

[5] Lutero e o Ministério Pastoral – 1º Simpósio Internacional de Lutero. p. 128.

[6] Livro de Concórdia. Apologia da Confissão XXVII 41. p. 296.

[7] Livro de Concórdia. p. 34.

[8] Loci Theologici. p. 698.

[9] Loci Theologici. p. 4ss.

[10] Lutero citado em Lutero e o Ministério Pastoral – 1º Simpósio Internacional de Lutero. p. 37.

[11] Lutero e o Ministério Pastoral – 1º Simpósio Internacional de Lutero. p. 21.

[12] Ibidem. p. 37.

[13] Dogmática Cristã. p. 245

[14] A Ética de Cada Dia. p. 154.

[15] Uma Vida com Propósitos. p. 29.

[16] Pareceres da CTRE. p. 9. Nota 7.

[17] Livro de Concórdia. p. 34.

A VIDA DEVOCIONAL DO PASTOR LUTERANO

SEMINÁRIO CONCÓRDIA-FACULDADE DE TEOLOGIA

Disciplina: Teologia Pastoral

Aluno: Jonas Naor Glienke

Professor: Orlando Ott.

Data:07/04/1999

A VIDA DEVOCIONAL DO PASTOR LUTERANO

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“Viel gebetet ist zur Haelfte studiert”(Martin Luther)

Trad. “Muita oração é a metade do estudo.”

“Ensina-me, SENHOR, os teus decretos e os seguirei até o

fim”(Sl119:33).

“Talis populus, qualis sacerdos”.

. . . .

I Crescimento espiritual x ministério

Uma dieta espiritual diária, balanceada, regular é tão importante quanto uma nutrição adequada para o nosso corpo. Não é uma questão opcional, muito pelo contrário, é o fundamento de um ministério público bem sucedido – sob o ponto de vista de Deus.

O ministério público refletirá a vida pessoal que o pastor possui.

O risco que ele corre é de fazer do seu ministério uma simples profissão, um lugar comum, onde lida com a Bíblia com mãos e corações insensíveis.

Deus deseja que o pastor responda com fé, amor e compromisso a seu convite (Jo 8:31).

Pastor- é um modelo a ser imitado.

Não há tempo”, pode ser a desculpa arranjada. As tarefas são muitas, há reuniões, decisões a tomar, estudos bíblicos, cultos, departamentos, e tantos outros. O tempo deixa pouco espaço para o estudo da Palavra e a lutar com o SENHOR em oração.

Porém, se assim for, o ministro torna-se igual ao presidente da industria local (talvez este ainda possa dar um exemplo de vida devocional ao pastor).

ICO 9:27 – muitas vezes o pregador prega para os outros esquecendo-se de pôr em prática o que ensina. Prega a salvação e ele próprio vem a perder-se. Para tanto, existem algumas máximas:

- “Comporta-te primeiro, ensina depois;”

- “Vive-se como se pensa; educa-se como se vive;”

- “Casa de ferreiro, espeto de pau;”

- Lutero afirmou: “a teologia consiste, prinsipalmente, no seu uso e prática e não na especulação.”

Segundo Lutero, o progresso do cristão está intimamente ligado à prática.

“Quando o Pastor não progride, acaba perdendo a confiança no poder da palavra e apela ao legalismo, moralismo, para alcançar os objetivos.”[1] A falta de autodisciplina afeta diretamente qualificações indispensáveis do ministério público(Itm 3:1ss ). É necessário que o ministro tenha cuidado de si mesmo e da doutrina (I Tm 4:16).

“Quando não há santificação, o pastor facilmente assume uma posição de ‘senhor’ ao invés de ‘servo’. Prefere os cargos às cargas”. Quando o salário atrasa um pouco, já perde o bom humor.[2]

O pastor passa a sofrer de um “mal-estar-pastoral”. O “primeiro amor” foi perdido, e passa a se arrastar pelo ministério com um senso de obrigação, o que traz infelicidade. Surgem muitos problemas na congregação e então tenta sobressair-se a estes, mudando de paróquia.

Não é o lugar onde está, mas o que ele é que vai determinar as coisas.

Necessita, o pastor, recuperar a excitação, a alegria, as expectativas do ministério de Deus.

Neste ministério não há lugar para aborrecimentos, obstáculos, fardos temíveis ou profissão frustrada. Ser pastor é o chamado maior e mais satisfatório que Deus colocou no mundo. É o privilégio de chamar homens a Cristo(Rm 10:15). Nossas atitudes devem refletir isto.

George Kraus (pastor luterano) diz:

Pelos momentos sombrios de meu ministério não tenho ninguém para culpar senão a mim mesmo, e para estes preciso arrepender-me diante de meu Senhor e clamar pelo seu perdão. Pelos tempos de alegria e esperança dou graças a Ele, pois Ele é o único responsável por qualquer satisfação que tenha conhecido.[3]

A história nos mostra o fato de que, todas as épocas que tem presenciado a deterioração da vida espiritual de congregações tiveram pastores os quais deixaram de ser um bom exemplo.

O Reverendo Elmar Regauer compara o ministro de Cristo com um membro da Alcoólicos Anônimos. Ponto em comum é o “estado de alerta”. Não há mais o domínio, mas a tentação de voltar ao modo de vida anterior.

O Apóstolo Paulo admoesta freqüentemente os ministros de Cristo, quanto a sua atitude e ministério (Fp 3:17; IITs 3:9; ITm 4:16). Ainda, em ITm 4:12 Paulo dá algumas sugestões sobre áreas da vida que devem passar por avaliação para que o pastor possa ser um ‘padrão’ dos fiéis.(Ver: Guesth, A. Rev. Igreja Luterana, pp34-35. II Tri 84).

Mas, o que atitudes e ministério têm em comum com a vida devocional?

A vida devocional está apontada para a atitude, fé, ministério e desempenho diário do profeta de Deus.

O propósito da vida devocional do pastor é torna-lo mais habilitado para a servidão e felicidade. Não tem como objetivo apenas o crescimento intelectual, mas espiritual. O processo de crescer na graça dura a vida toda.

II Ser pastor – um ministério glorioso

Para tanto, seguem seis observações:

1- Disciplina

Esta é uma palavra sempre presente em nosso vocabulário.

A ausência de disciplina é um perigo para o pastor. Ele não tem relógio de ponto, supervisor, chefe. Ele é o seu próprio chefe. “A distância que separa a mesa da cozinha até a escrivaninha pode ser a de mais difícil percurso.”[4]

Para nós, disciplina cheira a legalismo, autoritarismo, mas Salomão nos lembra bem em Pv 6:6-8.

Portanto, “disciplina é como tomar-nos a nós pelo congote de nosso pescoço e pelos fundilhos de nossas calças para colocar-nos a nós mesmos às tarefas, às obrigações que Cristo colocou diante de nós. Isto se aplica tanto a nosso vida devocional como às tarefas gerais do ministério público.”[5]

O tempo, por sua vez, é um dos mais preciosos dons que recebemos de Deus. Porém, como o gastamos?

“Viver pelo relógio” é um sinal do mordomo fiel de Cristo, o qual está procurando aproveitar o máximo de cada hora, de cada dia. (Ec 9:10; Ef 5:16-17).

Que o ministro tome conta da sua vida, do seu tempo, do seu ministério, dos seus dias é a vontade do Senhor. Fazer assim é abrir a porta de uma vida satisfatória de serviço.

“O pregador possui uma arma poderosa em suas mãos e em sua boca: a palavra do Deus vivo, que é uma espada do Espírito Santo. Com ela, conferida por Deus, ele não poderá fugir e dar ouvidos aos convites de sua vontade corrupta; com ela terá forças para manter o seu relacionamento com a fonte de todo o poder através da oração; com ela dominará a ‘santa ira’ que por vezes dele se apossa como se apossou dos filhos de Zebedeu, discípulos de Jesus, que por isso não sabiam de ‘de que espírito’ eram(Lc(9:54).”[6]

2- Estudo

Somos considerados a Igreja da Palavra de Deus, em sua plenitude e doutrina. Todavia a excelência do treinamento teológico não é a garantia para a excelência da fé pessoal.

A palavra de Deus não é como uma vacina que possa ser tomada para eliminar a descrença, o mal, mas Ela é como vitamina, devendo ser de uso diário.[7]

Muitas vezes o pastor repousa sobre os conhecimentos adquiridos no seminário. Não tem um firme e constante regime alimentar da maravilhosa Palavra.

Talvez a oração diária do pastor deveria ser a coleta pela palavra de nossa liturgia v.I pp.8.

Também temos a admoestação de São Paulo em IITm3:16,17.

Assim sendo, nenhum pastor luterano pode ser fiel ao seu chamado se ele negligencia o estudo diário, regular, profundo da palavra de Deus.

3- Livro Concórdia

As confissões normalmente não são consideradas como parte integrante da vida devocional do pastor. Porém, na nossa vida devocional não escolhemos entre crescimento espiritual ou intelectual, mas esperamos ambos.

Somos uma Igreja dos meios da graça, e para tanto as confissões (norma normata) são um grande auxílio para a clara e correta compreensão destes meios da graça (Palavra e Sacramentos), a qual é diferente em outras religiões. Além disso, elas nos dão um profundo conhecimento das Escrituras, bem como um estímulo nas magnificantes tradições de nossa Igreja.

Sendo assim, o pastor consagrado irá fazer uso, em primeiro lugar, da Bíblia (norma normans), mas também da norma normata, para seu crescimento espiritual e intelectual.

O Livro Concórdia, em seu frontispício, dá o seu valor e a sua utilidade: “Confissão Cristã... ...para ensino e admoestação de seus territórios, igrejas, escolas e descendentes.”[8]

4- Oração

“A oração é a respiração diária do cristão”. É fácil concordar com esta expressão e, até mesmo, elogia-la e considera-la corretíssima. Contudo, quando nos deparamos com a expressão: “Pratique o que você mesmo prega”, aí pode complicar um pouco.

Bom, oração é aquele privilégio maravilhoso que Deus dá aos seus filhos, para falarem com Ele. A deficiência na oração sempre ferirá o ser humano, não a Deus.

O Senhor deseja um ministério imerso em oração. Um dos exemplos mais admiráveis é o de Jacó (Gn32:24-26).Hoje precisamos de “Jacós” em nosso mundo e congregação.

O Dr. Martinho Lutero orava 2 horas por dia. E nós conseguimos orar 10 minutos diários? As admoestações do apóstolo de Cristo são claras em Tg 4:2,3.

Creio que cada pastor precisa começar seu dia com oração. Isto se torna ainda mais necessário por que sobre ele pesam enormes responsabilidades neste santo ofício.

“O Pastor é o embaixador de Deus – sepulta mortos, conforta vivos, ora com doentes, pastoreia perturbados, consola os desesperados, ama os que não são amados, convida o pecador.” Assim sendo, o pastor não pode ter a ousadia de fazer estas coisas sem chamar uma Mão Poderosa para ajuda-lo e orienta-lo. São Paulo dá a ordem “Orai se cessar” (ITs5:17), mas é preciso começar.[9]

“Falar aos homens a respeito de Deus é uma grande coisa; mas falar a Deus em favor dos homens é ainda maior”[10]

5 Meditação

O encorajamento à meditação vem de Davi (Sl19:14). A meditação existe desde tempos imemoriais. É a arte de ruminar, ponderar, refletir, olhar para, de cada ângulo.

“Meditar é como experimentar um vinho. Não o tomamos de uma só vez, mas o revolvemos na língua, saboreamos cada bocadinho, cheiramos seu buquê.”[11]

Apesar de termos perdido um pouco esta importante prática, podemos e devemos recapturar a arte da meditação cristã.

6- grandes expectativas

As promessas de Deus não são vazias. Você deve desafiar grandes coisas para Deus e esperar grandes coisas dele. Ele não nos desaponta. Em Fp 4:4 São Paulo diz para nos alegrarmos no Senhor. Talvez possamos começar a nos alegrar com a benção e a satisfação da vida devocional diária, com a meditação da palavra e com a oração. Fazer com que aquela hora de silêncio seja a melhor parte do dia!

“Habite em vós a palavra de Cristo (Cl 3:16)”. Quando nos imergimos na Palavra de Cristo começamos a adquirir a plena estrutura dEle, e nos tornamos “pequenos cristos”.

Deus não chamou pastores ao ministério para serem fracassados, mas para produzirem sucessos no seu ministério e com seu ministério.[12]

II Subsídios Para a Devoção

Basicamente: Bíblia, Livro de Concórdia, Hinário e materiais adicionais como um livro de oração.

Uma vida devocional diária regular não é uma opção para o pastor luterano. É a necessidade mais urgente para ele.

Os materiais adicionais usados devem ser os que mais se ajustam a ele.

Um conselho é que o pastor faça um pacto de crescimento, com colegas ou em particular. Isso lhe traz uma certa “cobrança”, e o lembra continuamente de seu compromisso como ministro de Cristo.

IV O Pastor e a sua Vida Devocional com a Família

A família pastoral sempre será alvo de observação e atenção da parte dos membros e dos estranhos.

O pastor traz sobre si a responsabilidade de bispo da família (ITm3:4-5).

É importante que a devoção familiar realmente aconteça. Este momento deve ser de alegria e comunhão. Para tanto vão abaixo algumas sugestões de Kraus:[13]

- Horário adequado: cada um precisa encontrar o seu melhor horário, o qual deve ser cumprido. A não possibilidade da presença de todos, nunca deve suspender a devoção.

- Conteúdo adequado: de acordo com a idade das crianças (caso tiver). A devoção sempre deve visar a compreensão por parte de todos.

- Canto: melhor expressão de louvor , une a família, traz comunhão com Deus.

- Oração: oportunidade para todos poderem orar.

- Liturgia para devoção familiar: esta é muito útil. contextualiza e organiza o momento devocional.

V O Pastor e a sua Vida Devocional com a Congregação

- Culto: é o ponto mais alto da vida devocional do pastor e sua congregação. Isto requer que todo o culto seja bem preparado.

- Estudos bíblicos: este pode ser informal. Portanto, um momento formal (oração, e outros) enriquece o estudo.

- Reuniões: nestas, o momento de devocional muitas vezes é pobre e desprezado. Porém, é uma ótima oportunidade de se aproveitar para Ter um momento de comunhão e edificação espiritual, o que faz com que o trabalho seja visto mais na perspectiva de Deus.

VI Conclusão

“O cura d’almas que quer consolar precisa ele mesmo estar consolado, ter vida espiritual. Precisa estar com as baterias carregadas. É assim que estará disposto a renovar diariamente o seu comprometimento para o desempenho dos compromissos do ministério. Apesar de indignos é pela Palavra que nos é assegurado o amor de Deus em Cristo Jesus. Este amor nos constrange a dedicar-nos à tarefa de apascentar e consolar o povo de Deus.”[14]

“Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno(IIPe 3:18)”. Que assim seja.


[1] Revista Igreja Luterana. I Tri 1979, pp30.

[2] Revista Igreja Luterana. I Tri 1979, pp 31.

[3] Vox Concordiana. Suplemento Teológico. Ano 7,nO_1-2, 1991. Pp73.

[4] Vox Concordiana. Suplemento Teológico. Ano 7,nO_1-2, 1991. Pp74.

[5] Vox Concordiana. Suplemento Teológico. Ano 7,nO_1-2, 1991. Pp75.

[6] Revista Igreja Luterana; II Tri 1979. Pp 122. (??? Certificar).

[7] Vox Concordiana. Suplemento Teológico. Ano 7,nO_1-2, 1991. Pp76.

[8] Livro de Concórdia, Frontispício, pp5

[9] Vox Concordiana. Suplemento Teológico. Ano 7,nO_1-2, 1991. Pp78-79.

[10] E.M.Brous. Poder Através da Oração (São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1962), pp 21.

[11] Vox Concordiana. Suplemento Teológico. Ano 7,nO_1-2, 1991. Pp79.

[12] Vox Concordiana. Suplemento Teológico. Ano 7,nO_1-2, 1991. Pp80.

[13] Vox Concordiana. Suplemento Teológico. Ano 7,nO_1-2, 1991. Pp83-84.

[14] Revista Igreja Luterana. Número 2/1991. Pp174.