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05 junho 2012

FESTA DA COLHEITA

clip_image002Domingo da trindade: 15/06/2003

FESTA DA COLHEITA

Culto Especial 100 Anos

Igreja Evangélica Luterana do Brasil - IELB

Congregação “São Miguel”

SAUDAÇÃO & INVOCAÇÃO

HINO: 210 – [as ofertas de gratidão serão depositadas no altar]

MENSAGEM - Israel e os primeiros frutos

CONFISSÃO E ABSOLVIÇÃO DOS PECADOS

P- Confessemos os nossos pecados ao Pai misericordioso:

C- Ouve, ó Deus, a minha súplica e atende a minha oração.

P- Não me desampares, Senhor e Deus meu. Não te ausentes de mim.

C- Apressa-te em socorrer-me Senhor, Salvação minha.

P- Vem do Senhor a Salvação. Ele é a fortaleza no dia da tribulação

C- Senhor, nosso Deus e Pai. Os frutos da terra que estão no altar, nos lembram da tua bondade e do teu amor. Não porque a natureza assim o quer, mas porque tu permitiste semear e colher, trabalhar e fazer uso, planejar e produzir. À tua bênção devemos tudo o que somos e possuímos. Perdoa-nos quando encaramos o nosso sustento apenas como resultado natural do nosso trabalho. Perdoa-nos quando aceitamos estas bênçãos sem pensar em ti – o doador de todas as coisas. Perdoa-nos também quando fazemos uso egoísta e irresponsável daquilo que nos confiaste. Dá a cada filho teu, coração agradecido diante de tantas bênçãos. Tem piedade, Senhor, e perdoa-nos por amor de Jesus.

P- Deus prometeu o perdão dos pecados àqueles que se arrependem e nele confiam. Que Ele nos guarde na sua graça. E, a todos, que assim confessaram e crêem, como ministro da Palavra de Deus, vos perdôo todos os pecados, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

LEITURA RESPONSIVA: Salmo 148

1 ¶ Aleluia! Louvai ao SENHOR do alto dos céus, louvai-o nas alturas.

2 Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todas as suas legiões celestes.

3 Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes.

4 Louvai-o, céus dos céus e as águas que estão acima do firmamento.

5 Louvem o nome do SENHOR, pois mandou ele, e foram criados.

6 E os estabeleceu para todo o sempre; fixou-lhes uma ordem que não passará.

7 ¶ Louvai ao SENHOR da terra, monstros marinhos e abismos todos;

8 fogo e saraiva, neve e vapor e ventos procelosos que lhe executam a palavra;

9 montes e todos os outeiros, árvores frutíferas e todos os cedros;

10 feras e gados, répteis e voláteis;

11 reis da terra e todos os povos, príncipes e todos os juízes da terra;

12 rapazes e donzelas, velhos e crianças.

13 Louvem o nome do SENHOR, porque só o seu nome é excelso; a sua majestade é acima da terra e do céu.

14 Ele exalta o poder do seu povo, o louvor de todos os seus santos, dos filhos de Israel, povo que lhe é chegado. Aleluia!

C- Glória ao Pai e ao Filho e ao Santo Espírito, como era no princípio, agora é e por todo sempre há de ser. Amém!

Senhor, tem piedade de nós. Cristo, tem piedade de nós.
Senhor, tem piedade de nós
.

CORAL: Grande Deus o Teu Louvor

P- A Palavra do Senhor é reta e todo o seu proceder é fiel.

C- Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra e luz para os meus caminhos.

P- Felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam.

C- Guardarei no meu coração as tuas palavras, Deus meu!

LEITURA DA PALAVRA DE DEUS - Rm 12.1,2 e Lc 15.11-31

ORAÇÃO E CREDO: (1º Artigo e explicação – Hinário página 93)

HINO: 145

MENSAGEM O mais valioso que podemos ofertar

ORAÇÃO GERAL:

P- Senhor Deus, temos trabalhado nos campos e nos escritórios,

C- nas fábricas, empresas e oficinas, cuidando das plantações e gado.

P- Colhemos e recebemos o nosso dinheiro e todo o necessário para viver.

C- Recebemos muito mais do que merecemos. Nada nos faltou:

P- nem comida e bebida; nem vestes e calçados; nem casa e família;

C- nem saúde e força para trabalhar; nem amigos e pessoas que gostam de nós.

P- nem dificuldades e forças para enfrentar; nem tentações e vitórias.

C- Por tudo isso queremos dizer: obrigado amado Pai celestial.

P- Por todo amor e bondade. Pelo cuidado para com cada filho teu, obrigado.

C- Olha pelos que sofrem. Alivia sofrimento e dor. De forma especial os que estão acamados e doentes em hospitais.

P- Fortalece a fé e guarda a todos na pureza da doutrina e em Cristo. Recebe, Senhor, ainda a gratidão por todos os aniversariantes da semana, a fim de possam erguer seus olhos para os altos e proclamar o teu amor, dedicando suas vidas cada vez mais a ti. Recebe nossa gratidão pelos 100 Anos de nossa querida Comunidade. Que possamos ser testemunhas vivas do teu amor, e assim proclames CRISTO PARA TODOS. Por Jesus Cristo, nosso Senhor, em nome de que ainda oramos ...

Todos - Pai nosso que estás nos céus...

CELBRAÇÃO DA SANTA CEIA

HINO - 257: 1, 2, 3

MENSAGEMo alimento da nossa alma

ORAÇÃO -

P- Obrigado, Senhor, pelo trigo que a terra produz. Dele obtemos o pão que sustenta o corpo.

C- Obrigado, Senhor, pelo pão que sustenta a nossa alma: a tua Palavra e a Santa Ceia.

P- Recebemos com alegria, nesta Ceia, o pão da vida que é Jesus.
Nosso Senhor Jesus Cristo, na noite em que foi traído, tomou o pão . . .

HINO 257: 4 - Nesta mesa prometemos/ sempre em tua lei viver

E fiéis a ti seremos,/ bom Jesus, até morrer.

DISTRIBUIÇÃO – [Hinos: 146 – 220 – 389]

ORAÇÃO DE AGRADECIMENTO -

C- Senhor, nosso bondoso Deus, nós teus filhos amados, te agradecemos porque nos reconfortaste pelo dom da Santa Ceia. Ajuda-nos a amar nossos irmãos na fé e a todos que cruzam o nosso caminho, mesmo aqueles que não nos amam. Ajuda-nos a repartir com os necessitados as dádivas materiais e com os que andam longe de ti as dádivas espirituais, a fim de que te conheçam a ti, o Deus verdadeiro e a teu Filho Jesus Cristo a quem enviaste para ser o Salvador do mundo.

C - Por Jesus Cristo, o amado e precioso Redentor. Amém.

P - O Senhor seja convosco.

C - E com o teu espírito.

P - Bendigamos ao Senhor.

C – Demos graças a Deus.

HINO DA BÊNÇÃO -

Est.: Seja Deus gracioso/ e nos abençoe/ e resplandeça sobre nós/ o seu rosto.

1. Para que conheçam/ na terra o teu caminho / E em todas as nações
a tua salvação. /Louvem-te os povos, ó Deus.

2. Alegrem-se e exultem/ na terra todas gentes,
pois tua justiça se manifestará, / Guiando na terra as nações.

3. A terra deu seu fruto/ e Deus nos abençoa

e todos os confins/ da terra o temerão. / Louvem-te os povos, ó Deus.

Que o bondoso Deus cuide de cada um de nós!

Pregador convidado: Rev. Rosélio Ruff

ORAÇÃO GERAL–FESTA DA COLHEITA

COLETA:

Senhor Deus amado Pai Celestial, este é um dia especial para todos nós, pois estamos celebrando mais um dia que o SENHOR nos concede. Estamos aqui com o coração agradecidos por todas as dádivas que nos tem sido concedidas. Assim como abençoaste o povo de Israel com boa terra e colheitas fartas somos muito gratos pelas colheitas que puderam ser realizadas durante este ano com a tua benção, meu SENHOR, pois sem ela o nosso trabalho seria em vão, por isso estamos neste culto para cantar louvores ao Deus criador, que preserva e sustenta este mundo com a sua bondade e concede bom tempo para que possamos sempre ter o nosso sustento. Amém!

ORAÇÃO GERAL:

Onipotente e misericordioso Deus, fonte de toda boa dádiva e dom perfeito, agradecemos-te de coração por nos teres abençoado ricamente com a tua palavra e os sacramentos e, ainda, por nos teres suprido em todas as necessidades corporais. Jamais nos faltou pão de cada dia, jamais sentimos falta de cousa alguma. A seu tempo enviaste sol e chuva. Da tempestade protegestes os campos. Proporcionando-nos uma boa colheita. Ao mesmo tempo concedeste bom governo, paz, saúde, e inumeráveis outras bênçãos. Louvamos-te por toda tua bondade, Senhor e reverenciamos o teu glorioso nome.

Reconhecemos e confessamos, não sermos dignos da menor misericórdia, por não cumprirmos a tua santa vontade. Nossas transgressões diárias mereceriam que nos deixasses de fazer o bem. Contudo, sentimos profundamente tristeza por toda desobediência, ingratidão e desleixo. Arrependemos-nos sinceramente dos nosso pecados. E em nome de teu amado Filho Jesus Cristo, nosso único Mediador, rogamos, não nos trates segundo a nossa indignidade, mas em acordo com a tua infinita misericórdia.

Jamais apartes de nós a tua santa palavra, que é o alimento espiritual de nossas almas. Preserva-nos, bem como as gerações futuras, de todo erro e descrença. Conceda-nos alimento para o corpo em geral e, todo o necessário ao bem estar no mundo. Concede igualmente a graça de santificarmos as tuas dádivas, fazendo delas bom emprego. Permite que, tendo o sustento e com que nos vestir, estejamos contentes, confiando-te a ti os caminhos todos da vida. E caso aumentarem as riquezas, não fique preso a elas o coração; antes, livras-nos da cobiça e das preocupações terrenas. Livra-nos também de abusarmos da tua generosidade com espírito leviano, vaidade ou prazeres pecaminosos. Não permitas que o teu nome seja blasfemado entre nós. Dá-nos que usemos todas as dádivas para a tua gloria, empregando-as para o sustento pessoal, para a manutenção de igrejas e escolas e para auxiliar os necessitados. Em tua misericórdia, lembra a todos os filhos que tens no mundo e enche-os de bênçãos espirituais e materiais.

Abençoa a todos aos que sofrem doenças, panúria, adversidade, conforta-os na provação e transforma-lhes a dor em alegria. Esteja sobre nós, continuamente, a tua proteção paternal. Livra-nos de pecado os corações, de lágrimas os olhos, da morte as almas. Ensina-nos a viver no teu temor, a fim de podermos apresentar abundante fé; e, quando enviares ao mundo os santos anjos, possamos achegar-nos de ti, para ingressar no reino celestial. Então receberemos, de tua mão, a coroa imperecivel da gloria e com todos os eleitos, louvaremos o teu glorioso nome por toda a eternidade. Em nome de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor. Amém.

O ESPÍRITO SANTO, A LIDERANÇA CRISTÃ E O SACERDÓCIO UNIVERSAL DE TODOS OS CRENTES

SEMINÁRIO CONCÓRDIA – CURSO DE MESTRADO

CADEIRA: PNEUMATOLOGIA NAS PERSPECTIVAS BÍBLICA E CONTEMPORÂNEA

PROFESSOR: GÉRSON L. LINDEN

ALUNO: LEANDRO DANIEL HÜBNER

BREVE ENSAIO TEOLÓGICO SOBRE

O ESPÍRITO SANTO, A LIDERANÇA CRISTÃ E O SACERDÓCIO UNIVERSAL DE TODOS OS CRENTES

Neste pequeno ensaio queremos refletir um pouco sobre o papel do Espírito Santo na liderança cristã e no sacerdócio universal de todos os crentes, aplicando isto ao nosso contexto de Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Para tanto, veremos o que dizem alguns autores sobre os temas principais (liderança e sacerdócio universal), bem como alguns textos bíblicos relacionados ao Espírito Santo e sua relação com o tema proposto.

1. Sacerdócio Universal de Todos os Crentes

O sacerdócio real de todos os crentes, doutrina bíblica que nos diz que cada cristão batizado é um sacerdote real de Cristo, está firmada especialmente no texto de 1 Pedro 2.9: Mas vocês são a raça escolhida, os sacerdotes do Rei, a nação completamente dedicada a Deus, o povo que pertence a ele. Vocês foram escolhidos para anunciar os atos poderosos de Deus, que os chamou da escuridão para a sua maravilhosa luz (NTLH), além de Apocalipse 1.5-6.

Porém, como muitas outras, esta também foi uma doutrina que acabou obscurecida pelo desvio da Igreja Cristã da Palavra de Deus durante a chamada Idade Média. E, assim como Martinho Lutero redescobriu o Evangelho e a salvação pela fé em Cristo, na Reforma do século XVI, ele trouxe à luz também esta preciosa verdade descrita em 1 Pedro 2.9. Sobre isto lemos no volume 7 das Obras Selecionadas de Lutero:

É notória a redescoberta do sacerdócio dos crentes por Lutero. Já na sua preleção sobre a Carta aos Romanos (1515/16), ele faz alusão a ele. Quatro anos depois, em “Um Sermão a respeito do Novo Testamento, isto é, a respeito da Santa Missa” (1520), refere-se literalmente ao sacerdócio dos crentes! Em seguida, em “À Nobreza Cristã da Nação Alemã, acerca da Melhoria do Estamento Cristão” (1520), aprofunda a questão. Perante a postura anti-Reforma de Roma, Lutero assevera o sacerdócio dos crentes como veículo da Reforma da Igreja. A vivência do Batismo desencadeia a renovação da Igreja em doutrina e prática.[1]

Além das referências de Lutero ao assunto citadas acima, neste mesmo volume 7 das obras de Lutero temos uma palavra dele sobre o sacerdócio real:

Por isso ninguém pode negar, que cada cristão tem a Palavra de Deus e foi instruído e ungido por Deus para ser sacerdote, como diz Cristo em Jo 61.45: “Sereis todos instruídos por Deus”, e Salmo 44 [sc. 45.71]: “Deus te ungiu com o óleo da alegria como a nenhum dos teus semelhantes”. Esses companheiros são os cristãos, irmãos de Cristo, que com ele estão ordenados sacerdotes, como também diz Pedro, em 1Pe 2[.9]: “Vós sois sacerdócio real, para que proclameis os benefícios daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.”[2]

É interessante também ver o que nos diz Johannes Rottmann sobre o sacerdócio real e a origem deste termo:

“O Novo Testamento claramente classifica todos os servos de Cristo como sacerdotes reais. ... A fim de que já no início haja entendimento mútuo do sentido deste termos, preciso constatar que na língua grega a palavra “sacerdote” – “hieréus” significa “administrador de coisas sagradas”. É o mesmo sentido que a palavra “sacerdote” tem em nossa língua. A palavra “real” é no grego “basíleion”, derivado de “basiléus”, rei, monarca, alguém que possui autoridade de um rei. Ser “sacerdote real” significa, portanto, possuir autoridade régia de administrar as coisas sagradas de Deus. ... Os servos redimidos de Cristo são sacerdotes reais.”[3] (26)

Desde o momento em que recebemos a fé em Cristo, pelo batismo ou pelo ouvir a Palavra de Deus, nos tornamos sacerdotes reais de Deus, pois naquele momento o Espírito Santo nos uniu a Cristo e nos fez sacerdotes de Cristo, tanto homens como mulheres, sem distinções (Mt 23.8, Gl 3.26-28).

Sendo sacerdotes reais, recebemos pela graça de Deus o perdão pleno, a vida e a salvação em Cristo e podemos com confiança chegar diante de Deus (Hb 10.19-22), como diz Rottmann: Ser sacerdote significa que o servo redimido de Cristo, na sua totalidade, também é sacerdote e pode entrar, sem medo, no Santo dos Santos, isto é, pode e deve diariamente estar face a face com Deus, em diálogo com ele e em oração.[4]

Como sacerdotes chamados e capacitados pelo próprio Deus (1Pe 2.5), somos incumbidos de grandes privilégios e responsabilidades, tais como: oferecer-nos completamente ao Senhor (Rm 12.1ss.), ouvir a Palavra sempre (Cl 3.16), proclamar o Evangelho e batizar (1Pe 2.9, 3.15, Mt 28.18-20), ofertar ao Senhor para o trabalho do Reino (2 Co 8 e 9, Fp 4.18), orar pelo mundo (1Tm 2.1-2), louvar a Deus (Cl 3.16, Hb 13.15-16), chamar pastores (At 14.23), admoestar-nos mutuamente (Gl 6.1-3), servir a Deus no casamento e na criação dos filhos (1Pe 3.1,7, Ef 6.4), entre outras.

Concluímos esta breve reflexão sobre o sacerdócio real dos crentes citando o pastor Leopoldo Heimann, que resume bem o tema:

Além de Pedras Vivas e Raça Eleita, os leigos também são e recebem o terceiro título: Sacerdotes do Rei Jesus. E como Sacerdotes do Rei Jesus, sacerdotes santos ou sacerdotes dedicados a Deus, os cristãos leigos oferecerem sacrifícios espirituais agradáveis a Deus (1 Pedro 2.5). Como sacerdotes espirituais – não como um cargo ou função hierárquica na Igreja – os leigos também reinam com Deus no Reino de Deus, e triunfam sobre o pecado, a morte e Satanás. Podem, agora, dirigir-se diretamente a Deus, o Senhor, o Salvador e Rei, sem mediadores ou sacerdotes, como no Antigo Testamento. Podem dirigir-se ao Pai, tendo um só Mediador; Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote! O livro de Apocalipse (capítulo 16) confirma este conceito e aponta para sua finalidade: Jesus Cristo fez de nós um reino de sacerdotes a fim de servirmos ao seu Deus e Pai. [5]

2. Liderança Cristã

Há várias definições sobre liderança e o que é um líder. Podemos dizer, tentando uma definição derivada delas, que liderança é uma posição de responsabilidade, visando levar um grupo a alcançar uma meta proposta, e que liderar é ter a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir os objetivos identificados como sendo para o bem comum.

Não é nosso propósito neste ensaio detalhar os tipos de liderança e as qualidades esperadas de um líder, mas podemos dizer que os modelos bíblicos de liderança, como Moisés, Neemias, Paulo, e é claro, Jesus, são as fontes principais para buscarmos essas qualidades desejáveis em um líder cristão. Podemos resumir a liderança bíblica, especialmente no caso de Paulo e Cristo, como “liderança de serviço”.

Quando falamos de liderança cristã, pensamos principalmente de líderes cristãos atuando em suas congregações e igrejas, mas também de sua influência na comunidade e sociedade em que vivem. Para J. Oswald Sanders, liderança espiritual é uma mistura de qualidades naturais e espirituais. Até mesmo as qualidades naturais não são oriundas do indivíduo, mas de Deus e, portanto, alcançam maior efetividade quando empregadas no serviço de Deus, e para sua glória.[6] O líder cristão tem muitas qualidades e habilidades comuns aos líderes não cristãos. O diferencial é justamente a fé cristã e a orientação do Espírito Santo. Aqui citamos novamente Sanders:

A liderança natural e a espiritual têm muitos pontos em comum, mas, há alguns aspectos em que elas podem diferenciar-se totalmente. Vê-se isto melhor quando suas características dominantes são comparadas entre si, como no quadro abaixo:

Líder natural Líder espiritual

Autoconfiante Confia em Deus

Conhece aos homens Conhece também a Deus

Faz suas próprias decisões Procura a vontade de Deus

Ambicioso Humilde

Origina seus próprios métodos Encontra e segue os métodos de Deus

Gosta de comandar os outros Delicia-se em obedecer a Deus

Motivado por considerações pessoais Motivado pelo amor a Deus e aos homens

Independente Dependente de Deus”[7]

Concordamos com Sanders também quando ele diz que outras qualificações para a liderança espiritual são desejáveis, mas ser cheio do Espírito Santo é indispensável[8], conforme lemos em Atos 6.3. E o que é estar cheio do Espírito? Novamente Sanders diz:

Estar cheio do Espírito, então, é ser controlado pelo Espírito. O intelecto, as emoções, a vontade, as forças físicas, tudo fica em disponibilidade para o Espírito, para que se atinjam os propósitos de Deus. Sob seu controle, os dons naturais de liderança ficam santificados e elevados à sua maior potência. ... A obra toda, realmente, não é outra coisa senão o fluir do Espírito Santo através de vidas entregues e cheias (Jo 7.37-39).[9]

Para nós luteranos está muito claro como o Espírito Santo vem a nós e controla nosso viver e também o líder cristão: através da Palavra e dos Sacramentos. Isto não quer dizer que seremos cristãos e líderes perfeitos, pois ainda somos pecadores e o próprio Espirito de Deus precisa nos ajudar na luta diária para afogar o velho homem em nós e deixar o novo homem, criado e guiado pelo Espírito, dominar todo nosso ser.

Em vista disso, o líder cristão precisa ter mais um grande diferencial em relação a outros líderes: saber e crer que o centro da Palavra de Deus, da doutrina cristã e de sua fé pessoal é Jesus Cristo e sua salvação e, junto com isso, saber e crer que Deus fala e age em sua Palavra e em nossa vida com Lei e Evangelho.

É através de Cristo que o Espírito Santo vem a nós, na Palavra e Sacramentos, e é através da Lei e Evangelho que o Espírito opera em nossos corações, produzindo arrependimento e fé, guiando, corrigindo e orientando nosso viver, fortalecendo em nós a nova vida que temos em união com Cristo.

O líder cristão, seja ele pastor ou leigo, guiado e fortalecido pelo Espírito Santo na Palavra e Sacramentos, vai então servindo a Deus na sua vocação, posição social e lugar onde Deus o colocou e, ao mesmo tempo, procura também aperfeiçoar-se em sua liderança, com todos os recursos e formas possíveis e agradáveis a Deus. Pensando nisto, concluímos esta seção com as palavras do pastor Leopoldo Heimann:

O leigo e o pastor, no exercício de seus ministérios na Igreja, precisam se aperfeiçoar e capacitar ao longo da vida para serem reconhecidos como líderes verdadeiros, consagrados e responsáveis para guiar o povo de Deus de minha Igreja. Além do significado dos diversos termos empregados nas traduções bíblicas tradicionais, o líder, na linguagem de nossa sociedade, é uma pessoa que governa, comanda, chefia, guia, orienta e capacita os liderados na profissão em que ele estiver atuando.

O líder é de fato um guia, um condutor, um chefe, um governador, um orientador e um professor que prepara e conduz um grupo na sociedade e na profissão em que vive. Também na minha Igreja.[10]

3. O Sacerdócio Universal, a Liderança e o Espírito Santo

O sacerdócio universal de todos os crentes, como vimos, constitui-se de todos os cristãos batizados e integrados à família da fé, a família do Deus triúno. Entre esses sacerdotes alguns tornam-se líderes ou recebem funções de liderança no Reino de Deus, tanto líderes chamados de pastores como os chamados líderes leigos. Heimann nos mostra que tanto os líderes pastores como os líderes leigos servem ao ministério da Palavra:

Numa visão teológica mais profunda, porém, é possível afirmar que, na realidade, existe apenas um ministério na Igreja. É o Ministério da Pregação da Igreja (Predigtamt). Engloba todas as finalidades e atividades da Igreja – o anúncio da Palavra de Deus e administração dos Santos Sacramentos do Batismo e da Santa Ceia.

O Ministério Pastoral (Pfarramt) é uma subordem dentro da ordem maior da Igreja, e é uma função especial exercida pelos cristãos pastores da Igreja. O Ministério Sacerdotal (Priesteramt) é uma subordem dentro da ordem maior, a Igreja, e é uma função geral exercida por todos os cristãos leigos da Igreja.

Os dois ministérios, dentro da mesma Igreja, são inseparáveis. E os dois são absolutamente necessários para cumprir o ministério maior: O Ministério da Pregação da Igreja. Pastor e leigo em conjunto, realizam a missão da Igreja.[11]

Leigos e pastores servem juntos a Deus para levar a Palavra ao mundo, realizando a missão deixada a nós por Jesus (Mt 28.18-20, At 1.8, et alli). Nesta obra é necessário haver liderança e organização, mas sem que isto signifique uma hierarquia que leva à opressão ou à omissão de qualquer cristão, como nos diz Rottmann:

Como podemos exercitar o sacerdócio real hoje? ... Somos sacerdotes; individualmente sacerdotes! Sacerdócio real coloca cada um, leigo, pastor, homem e mulher, jovem e velho em uma posição de responsabilidade direta e pessoal perante Deus. Ser sacerdote real também hoje significa ser servo do Santo dos Santos, ser servo do Deus vivo. E isto diretamente: não numa hierarquia, em que se pode colocar a responsabilidade sobre o que nós é hierarquicamente superior, em que um pode esconder-se atrás das costas do outro. Cada um, tu e eu, homem e mulher, esposo e esposa, pastor e leigo, somos chamados a entrar no Santo dos Santos e dialogar com Deus e servir a Cristo.[12]

Para esta obra, seja como líderes ou liderados, pastores ou leigos, somos capacitados e guiados pelo Espírito Santo de Cristo. E o pastor, por causa de seu ofício, preparo e função, tem um papel fundamental em nutrir e guiar o povo de Deus na vida do Espírito, como nos diz Caemmerer:

“The church is a fellowship in which each member seeks to build the brother with the inner resources of the Spirit of God. But the flesh also seeks for fellowship; it also intercommunicates the counterfeit of life and the will of the devil. In the church, therefore, men remind one another of Christ: 1Pe 4.1-2.

The ministry of the pastor directs Christians to cultivate the life of the Spirit rather than the life of the flesh, in order to set up this distinction from the world which is primary in the Christian witness to the outside; this ministry works by empowering men to empower men.[13]

Somos nutridos, fortalecidos e guiados no Espírito de Cristo para melhor testemunhar nossa fé em Cristo ao mundo. Como dissemos antes, isso acontece através da vocação própria de cada cristão e dos dons que cada um recebe de Deus, sendo o pastor o servo encarregado por Deus para ajudar os cristãos a descobrir, desenvolver e usar seus dons na Igreja e em suas vocações, como afirma Caemmerer,

There are two broad structures for nurture which work simultaneously in the Christian church: the gifts of the Spirit, and the Christian callings. The pastor is to be a chief director and deployer of these gifts of the Spirit; he is to be a trainer for carrying out the purpose of the Christian at work in his calling.[14]

Todos os dons do Espírito e o seu uso tem a ver com o nutrir da fé cristã e com a edificação da fé e da vida do povo de Deus, como também diz Caemmerer[15]. E, assim como a fé salvífica, também esses dons são dados unicamente por Deus, de graça e segundo o seu querer:

Aos assim libertados, aos remidos do Senhor, concedeu então estes dons gratuitos. Porém é mister notar: assim como nada podiam fazer para serem libertados , assim também nada podiam fazer para obter os dons da graça. São dádivas inteira e livremente dadas. Esta verdade deve ser dita àqueles que de uma ou de outra maneira, com maquinações entusiásticas, querem, por assim dizer, forçar o Espírito Santo a lhes dar um determinado dom com o qual querem então fazer alarde e gloriar-se a si mesmos. Não nos enganemos: o Espirito Santo não pode ser forçado; se ele o dá, fá-lo livremente.[16]

É o Espírito de Cristo que dá e distribui a fé e os dons, como nos ensina Paulo em 1 Coríntios 12. Não se pode força-lo nem condicionar sua obra a caprichos ou desejos humanos, mas simplesmente devemos aceitar com alegria os dons que Ele nos concede, usando-os da melhor maneira para o crescimento do Reino, o benefício do próximo e a salvação de muitos. Novamente, para essa doação e uso dos dons do Espírito, necessitam as pessoas ouvir o Evangelho e receber os Sacramentos. Por isso, como diz Caemmerer, falando de 1Co 12,

In this great chapter on the gifts of the heavenly pneuma we find it irresistible to believe that the apostle is thinking of the director of church work as a person who serves his purpose only as he keeps the wind of God, the Holy Ghost, blowing into the spiritual life and heart of the people to the end that they arrive at their destination and fulfill the purpose for which God puts them together in the church. The Spirit of God, however, functions only as He speaks in the hearts of men of Jesus, and keeps repeating there what Jesus Himself held before them concerning His redeeming work; the pastor gets his people to hear and speak that Word.[17]

É o Espírito Santo que vai despertar líderes, como despertou Paulo e Lutero, por exemplo, e vai, através da Palavra e Sacramentos, capacitá-los, guia-los e usá-los na obra da Igreja de Cristo. Assim, podemos concordar que

Aquele que foi chamado por Deus para a liderança pode, confiantemente, ter certeza de que o Espírito Santo o dotou com os dons espirituais exigidos, porque o propósito destes dons é qualificar seu possuidor para aquele ministério específico ao Corpo de Cristo, que lhe foi atribuído pelo próprio Espírito. É digno de nota que nenhum dos dons espirituais relaciona-se diretamente ao caráter; visam, principalmente, o serviço.[18]

Nem sempre os líderes chamados por Deus queriam ser lideres, como Moisés e Jeremias, que pediram que Deus escolhesse outro para a tarefa, ou como Jonas, que chegou a fugir para não assumir a missão confiada a ele pelo Senhor. Mas, como diz Sanders acima, a quem Deus chama Ele também capacita e guia na missão ou tarefa designada.

Em nossa IELB – Igreja Evangélica Luterana do Brasil – não é diferente. Vemos Deus chamando e capacitando lideranças em todos os níveis – congregações, distritos, entidades, escolas, comissões, conselho diretor e diretoria nacional. Estes líderes, pastores e leigos, são treinados e aperfeiçoados pelo Espírito Santo, tanto formalmente, em cursos, concílios, congressos, treinamentos, simpósios, pós-graduação e aperfeiçoamento para pastores e outras formas, como informalmente, no trabalho nas congregações, nas vocações de cada um e na experiência adquirida através dos anos.

Nossa liderança, além de atuar dentro das estruturas da IELB, também é usada por Deus em outros setores, sejam ligados à igreja, como a Sociedade Bíblica do Brasil, onde temos os pastores Rudi Zimmer, Erní Seibert, Mário Rost, Vilson Scholz, Paulo Teixeira e outros, que se destacam em suas funções e cargos, como em outros não ligados diretamente à igreja, como o senhor Gilcler Regina, na área de palestras e treinamento de equipes, o senhor Decio Dalke, na literatura, o senhor Ônix Lorenzoni e vários outros, Brasil afora, na área política, bem como capelães militares e em muitas outras áreas e setores.

Em tudo isso, creio que é muito claro qual o desejo de Deus, através do seu Espírito: aperfeiçoar e guiar todos esses líderes, onde quer que estejam, para leva-los a cada vez mais e melhor servir a Cristo e testemunhar do Evangelho, com voz e vida, para influenciar pessoas e conduzi-las também ao Salvador Jesus.

Em meio a tantas “lideranças” evangélicas em nosso país, que se dedicam a promover a si mesmas e às suas denominações, visando muitas vezes o aumento dos números financeiros acima de tudo, e dizendo-se portadores (às vezes até “comandantes”!) do Espírito Santo de Deus, é válido e necessário refletir sobre qual é a verdadeira obra e desejo do Espírito.

Sem dúvida, fazendo boa hermenêutica bíblica, podemos afirmar que através de líderes e cristãos consagrados, o Espírito de Deus tem um grande e principal desejo e objetivo: que as pessoas sejam levadas a conhecer, confiar e crer em Jesus Cristo como seu único e perfeito Salvador, para receber dele perdão, vida e salvação eterna. Em outras palavras, o Espirito Santo quer sempre apontar para Cristo e não para si mesmo, e muito menos para pessoas, por mais brilhantes ou carismáticas que pareçam ser.

Conclusão

Queremos concluir essa reflexão tentando sintetizar e reafirmar tudo o que acima foi dito, dizendo que: o Espírito Santo chama, ilumina e congrega os cristãos através do Evangelho, reunindo-os como Igreja Cristã. Esta recebe de Deus o Ministério da Palavra, realizado por todos os cristãos como sacerdotes reais de Cristo, que são guiados e alimentados na Palavra e Sacramentos pelos ministros da Palavra (pastores), e liderados também por pessoas chamadas e capacitadas pelo Espírito Santo para serem líderes dentro e fora da Igreja. Tudo isso visando um fim grandioso – levar Cristo para todos que pudermos alcançar e trazer todos que tivermos alcançado a Cristo e à família de Deus, para que sejam iluminados pelo Evangelho e integrados ao Corpo de Cristo, recomeçando assim o ciclo: O Espírito Santo chama, ilumina e, etc., para que muitos sejam salvos.

É para isto que o Espírito Santo chama sacerdotes reais de Cristo, vocaciona pastores e mestres e desperta líderes leigos em nossa IELB: para comunicar a Vida e assim acolher e integrar cada vez mais gente ao povo salvo de Deus.

Assim, que Deus nos conceda ser instrumentos úteis, em qualquer função ou posição que estivermos dentro e fora da Igreja, guiados, capacitados e fortalecidos sempre pelo seu Espírito Santo, para levar Cristo a todos! Amém.

Bibliografia

CAEMMERER, Richard R. Feeding and Leading. St. Louis, Concordia Publishing House, s.d.

HEIMANN, Leopoldo. Os leigos da minha igreja. Porto Alegre, Concórdia, Canoas, Ed. ULBRA, 2009.

LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas, v.7. Darci Drehmer, ed. Porto Alegre, Concórdia, São Leopoldo,

Sinodal, 2000.

ROTTMANN, Johannes H. Servos de Cristo. Porto Alegre, Concórdia, 1982.

SANDERS, J. Oswald. Liderança Espiritual. São Paulo, Mundo Cristão, 5.ed., 1995.


[1] Obras Selecionadas de Martinho Lutero, v.7, p. 75.

[2] Obras Selecionadas de Martinho Lutero, v. 7, p. 31.

[3] Servos de Cristo, p. 26.

[4] Servos de Cristo, p. 35.

[5] Os Leigos da Minha Igreja, p. 69.

[6] Liderança Espiritual, p. 21.

[7] Liderança Espiritual, p. 22.

[8] Liderança Espiritual, p. 69.

[9] Liderança Espiritual, p. 72.

[10] Os Leigos da Minha Igreja, p. 144.

[11] Os Leigos da Minha Igreja, p. 51.

[12] Servos de Cristo, p. 39.

[13] Feeding and Leading, P. 93.

[14] Feeding and Leading, p. 39-40.

[15] Feeding and Leading, p. 40.

[16] Servos de Cristo, p. 51.

[17] Feeding and Leading, p. 43.

[18] Liderança Espiritual, p. 73.