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12 fevereiro 2014

MATEUS 5.20-37

SEXTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
11 de fevereiro de 1996
Mateus 5.20-37
1. Contexto
Esta é a última das três perícopes consecutivas extraídas do capítulo 5 do evangelho segundo São Mateus. É oportuno lembrar que o Sermão do Monte está sendo pregado aos discípulos de Jesus - um núcleo da congregação cristã, seleto e bem informado.
2. Texto
Na verdade, o centro desta perícope é o v. 20. O tema do sermão está na polarização entre a "vossa justiça" (v. 20) e "a justiça dos escribas e fariseus" (w. 21 ss.). Antes de tudo, é preciso sublinhar que o contraste que Jesus estabelece não é entre o Antigo Testamento e o Seu ensinamento. Jesus acabara de atestar a validade do Antigo Testamento (v.17). Ao contrário, a questão é entre a interpretação da tradição rabínica de um lado e a correta interpretação do Antigo Testamento por Jesus de outro lado. Toda vez que Jesus emprega a expressão "está escrito" (4.4,7,10) Ele refere-se ao Antigo Testamento; quando Ele utiliza a expressão "ouvistes o que foi dito" (vv. 21,27,31,33,38,43), Ele refere-se às tradições judaicas cuja interpretação adulterou o sentido original da Palavra de Deus no Antigo Testamento.

A lei exige perfeição; o evangelho presenteia a perfeição, ou seja, o evangelho credita a nós a justiça de Cristo. Fariseus e escribas entendem que podem, por eles mesmos, cumprir a lei de Deus e nesta tentativa criam leis subsidiárias que abrandam a ira divina e possibilitam a sua propiciação. Jesus, numa abordagem exegética, "resgata" o que diz o Antigo Testamento e demonstra que a lei de Deus, sintetizada no Decálogo, devido a suas exigências, impede o seu cumprimento por parte do ser humano.
No v. 20 a expressão "vossa justiça" (hymôn hê dikaiosine) é fundamental. O genitivo não é subjetivo, mas objetivo. A justiça não é própria dos discípulos, mas é uma justiça que lhes foi outorgada. E a iustitia aliena, que vem de Cristo que cumpriu - não anulou - toda a lei (v. 17). A justiça de Cristo, esta sim, excede a exigência da lei de Deus. E tal justiça, pela fé, Cristo dá aos seus discípulos, à sua igreja, a nós cristãos.
Os vv. 21-37 são, na realidade, ilustrações que Jesus emprega para demonstrar o caminho tortuoso pelo qual escribas e fariseus enveredam na tentativa de cumprir, por suas próprias forças, obras (opinio legis), a lei. A religião dos fariseus e escribas era uma religião (e uma justiça) externa, formal, longe de fideísta e cordial. Jesus, embora não sendo fariseu, conhecia perfeitamente esta religião-tradição (pré)talmúdica (e este fato enfurecia fariseus e escribas). Na parábola do fariseu e do publicano no templo, Jesus caracteriza bem o primeiro. O fariseu considerava-se superior a todos os homens, especialmente àquele publicano - e dava graças a Deus por isso. Gloriava-se: não era roubador, nem injusto ou adúltero (moichós) e nem como aquele publicano. Tais afirmações eram verdadeiras. Aqueles homens viviam esse tipo de justiça exterior. Não só. O Antigo Testamento, por exemplo, prescrevia apenas um jejum ao ano (Dia da Expiação); mas os fariseus, por sua própria determinação, jejuavam duas vezes por semana. Davam o dízimo de tudo quanto possuíam, inclusive de suas ervas: hortelã, endro, cominho. Tudo isto era verdadeiro sobre os fariseus. Eles não apenas diziam, eles praticavam.
"Não matarás"(ú foneuseis) é citado da LXX, de Êx 20.13. Há várias palavras em hebraico e grego para "matar". As empregadas aqui especifi-camente significam "assassinar". Fariseus e escribas julgam apenas o ato; Jesus mostra que o pecado é cometido já no coração - pelo simples pen-samento e palavras - antes mesmo de o ato ser consumado. Tal intenção pode levar não apenas a julgamento do sinédrio ou à morte física, mas até mesmo ao inferno (geena). O mesmo ocorre com o adultério (27-30) e o divórcio (31-32). Deus é testemunha da aliança matrimonial e ele "odeia o repúdio (divórcio)" tanto quanto a violência sangrenta (Ml 2.14-16). Para fugir aos engodos do adultério (fornicação) e divórcio, o discípulo de Cristo mantém sua mão e seu olho sob disciplina de ferro. Jesus não está aqui sugerindo automutilação - mesmo porque um cego também pode ter desejos lascivos. Na linguagem bíblica as diversas partes do corpo são instrumentos da vontade humana e representam o homem todo (Pv 4.27). "Arrancar o olho" ou "cortar a mão" significam, pois, uma determinação repressiva aos desejos pecami-nosos, por mais dolorido que seja o esforço.
O judaísmo em geral interpretava a prescrição do Antigo Testamento quanto ao divórcio de forma bastante liberal. Um homem podia divorciar-se de sua mulher "por qualquer motivo" (19.3). Jesus assume a causa da mulher cuja honra ficava manchada portal procedimento. Contudo ela, assim como seu marido, não podia violar impunemente o matrimónio.
Nos vv. 33-37 Jesus fala dos juramentos (ou votos) a que os fariseus se submetiam mas que, no Antigo Testamento, não eram obrigatórios (Lv 19.12; Nm 30.2; Dt 23.21). O voto no Antigo Testamento era feito, obviamente, na presença do SENHOR. Os judeus no período do Novo Testamento tentaram esvaziar a seriedade e dignidade do voto estabelecendo distinções artificiais para a sua validade ou não. Jesus reafirma que visto ser dito na presença de Deus, o Sim ou o Não do Seu discípulo tem conotação e peso votivos.
Em cada exemplo Jesus mostra o vigor da lei cujo cumprimento precisa dar-se na esfera do pensamento, da palavra, bem antes da ação. Interpretada desta forma, quem pode cumprir as exigências da lei? Nenhuma justiça ou ação humanas. Por essa razão, apenas a "vossa justiça", que vem de fora, da parte de Deus, e que foi graciosamente outorgada por Ele através de Cristo, pode cumprir tais exigências e nos fará entrar no Reino dos Céus. Tornados perfeitos, santos e justos pelo sangue de Cristo não precisamos mais temer a exigência da lei de Deus. Como filhos de Deus desejamos, natural e alegremente, viver segundo a Sua vontade.
Sugestão de tema:
A Nossa Justiça vem de Deus.


Acir Raymann

Revista Igreja Luterana, Ano 1995, Vol 2. Pag 202

EU VOU NO CONGRESSÃO. AMÉM!

2015

10 fevereiro 2014

DONS

“Já se ouviu muitas vezes pessoas na igreja, dizendo não terem nenhum dom. Mas isso não é bem assim. Pois cada cristão, cada servo, cada serva que foi resgatado pelo precioso sangue de Cristo tem, com toda certeza, ao menos um dom. Observemos o que dizem as Escrituras: “Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens.” (Efésios 4.8). Temos ainda muitos outros textos na Bíblia, como por exemplo, a parábola dos talentos (Mt 25.14-30) que nos fala de servos que receberam pelo menos um talento. Por isso, se queremos ser usados por Deus neste ano, saibamos que cada um de nós tem pelo menos um dom para ser utilizado no Reino de Deus durante este ano!

Pensa nisso!

CADERNO DO PEM

2-destaque-dce61a08d60c4bc7ea67cf5d43df2369[1]AGORA É:  “Igreja em Grupos” - com estes conteúdos: (em 84 páginas). Como nos anos anteriores cada família  terá o seu!

Apresentação

Parte 1 - Igreja em Grupos - estudos do PEM

Estudo 1 - Jesus - a fonte da água viva

Estudo 2 - Comunicar a partir da fonte

Estudo 3 - Conheço o fundamento - Jesus, a fonte da água viva

Estudo 4 - Fui capacitado. E agora?

Estudo 5 - O que comunicar? Jesus comunica

Estudo 6 - As pessoas comunicam o Evangelho - exemplos práticos

Estudo 7 - A Igreja comunica Jesus

Estudo 8 - A Igreja comunica Jesus usando os meios de comunicação

Estudo 9 - Comunicando Jesus a partir dos nossos relacionamentos

Parte 2 - Teologia e prática

Estudo 10 - O dízimo - ontem e hoje

Estudo 11 - Simplificando o ato de ofertar

Estudo 12 - Primícias

Estudo 13 - Conceito de Mordomia Cristã

Estudo 14 - O sentimento de Cristo e nossa ação social

Parte 3 - Anexos

Temática 2014 - A Igreja comunica a Vida: Cristo para todos

Hinos (21 Hinos diversos)

LEIA-ME

Os estudos deste caderno refletem a preocupação da igreja com estes dois assuntos básicos e fundamentais da santificação, a evangelização e a mordomia. É para isso que o Programa do PEM também surgiu.

Pensando em cumprir estes fundamentos, este caderno Igreja em Grupos foi direcionado nesta perspectiva. Especialmente a evangelização e o testemunho pessoal provocando-nos com a temática do ano.

- Na primeira parte, temos nove estudos, o primeiro diretamente abordando a temática. E, para fundamentar, o texto está colocado nos adendos, na íntegra.

- Na segunda parte, oferecemos quatro estudos. O primeiro destacando uma compreensão do dízimo, ontem e hoje; o segundo nos traz uma abordagem simplificada do ofertar, motivado pela graça. E mais dois estudos, extraídos do nosso manual Primeiro ao Senhor, visando motivar a que cada luterano tenha sempre em mãos este manual. É sugestão do senhor Renato Bauermann, responsável pelo Departamento de Administração, que cada família tenha o seu livrete, oferecido pela própria congregação.

- Também adicionamos alguns hinos, para facilitar o estudo em determinadas ocasiões e possibilitar um momento de cânticos.

- Fica a sugestão dos DVDs Louvai ao Senhor, disponibilizados pela Editora Concórdia, com acompanhamento, voz e legenda (estes DVDs possuem diversos recursos). Uma ótima ferramenta para estudos em grupo.

Adilson Derly Schünke

04 fevereiro 2014

ISAIAS 58.5-9a

5' DOMINGO APóS EPIFANIA
Contexto
Is 58 distingue-se da passagem anterior pelo fato de referir-se, não aos sacrifícios e a idiolatria, mas ao jejum e a hipocrisia na prática de cerimonias externas, sem arrependimento verdadeiro. Apresenta um resumo claro e abrangente dos deveres em relacão aos semelhantes. Os caminhos de Deus não passam pelos atalhos das tentativas humanas diz conseguir seu aperfeiçoamento moral pela melhoria das condicões intelectuais, sociais ou econômicas. A formula para se "chegar a Deus" (v. 2) não se baseia aa experiência humana, pecaminosa, mas no entendimento e na confianca do seu livramento do cativeiro do pecado e no seu interior às criaturas caídas.

O estilo é de questionamento. Duas perguntas no contexto imediato são feitas pelo povo que procura saber os caminhos de Deus. No entanto, Deus responde em forma de mais quatro perguntas, cuja resposta é evidente. É, pois, um discurso vibrante e cheio de respostas.
Texto
A profecia estabelece o contraste entre a verdadeira religião e o formalismo oco, presente no culto exterior, em vários períodos da História de Israel. Os versículos iniciais registram a repreensão de um costume externo, o jejum, e a confiança vã que Israel nele deposita. Alias, no jejuar, o povo cuidava de interesses pessoais, e dava lugar a contendas e rixas.
V. 5 - O erro básico que aqui se condena é pensar no jejum em termos puramente externos. O jejum, como era praticado, consistia na auto-flagelação, revestida de sinais exteriores de lamentacão, curvando-se a cabeca como o junco, e vestindo os conhecidos símbolos de arrependimento, saco e cinzas, como
marcas visíveis. A intenção do profeta não
é condenar lamentos e sinais exteriores de arrependimento, mas de dizer que tudo isso de nada vale, quando a disposicão íntima se acha ausente.
Vs. 6-7 - As perguntas são apenas retóricas, pois a resposta é clara. O jejum que agrada a Deus, como obra da fé, consiste em que se soltem as ligaduras da impiedade, em que se desfaçam as ataduras da servidão do pecado, da formalidade exterior e da hiprocrisia, e que se deixem livrees os oprimidos e se despedacem tais jugos. A pratica da justiça  e da misericórdia é o cerne do jejum que agrada a Deus. A pratica do jejum tinha e tem o até hoje a intenção de ser um meio de ganhar o favor do Senhor. Uma demonstração de tristeza prentendia mostrar Deus à compaixão e era também uma expressão de falsa humildade e de uma auto-flagelação inócua. A essencia está, não em aparencias externas, mas na conversão de coração e vida: a pessoa deve rasgar o coração e não suas roupas em sinal de arrependimento.

O. v.7 questiona a vida do homem em sociedade e parece antecipar a afirmação do apóstolo João: “Aquele que não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. (1 João 1.2). A nossa vida de culto deve transformar-se, diariamente, num culto de vida. A teoria precisa aparecer na prática da vida cristã, mas com significado e coerencia.

Os vs. 6 e 7 apresentam forma constrastante dos dois lados do verdadeiro jejum: no primeiro dos muitos obstáculos que se se interpoem entre o verdadeiro culto e a hiprocrisia, e o ultimo propondo a prática positivas de obras de amor cristão.

Vs. 8-9a – Atendidos os requisitos estabelecidos para o verdadeiro jejum conforme indicados no versiculo anterior, surge a promessa meridiana de que o Senhor dará a sua benção. A sequencia de figuras de linguagem anunciando anunciando a salvacão de
Deus, é riquissima. A luz representa a felicidade e o conhecimento da salvacão (cf. Is 60.1,3). A repeticão da idéia de urgência torna o socorro divino imediato. As referências a glória do Senhor que "vai adiante" e na retaguarda, remetem o povo ao momento histórico em que foi protegido, na caminhada pelo deserto, por coluna de nuvem e de fogo. (Cf. Ex 13.21 e 2 Co 4.6)
A justica é a vanguarda e rompe as barreiras. Israel será restaurado os olhos de todos, porque Deus o fará prosperar. A retaguarda será a gloria do Senhor, isto é, sua graciosa presença no meio de seu povo, a protegê-lo de todo o mal. Então Israel não precisara mais queixar-se, mas o Senhor lhe respondera quando clamar.
"Eis-me aqui!" É a expressão que garante, ao final do texto, a presença de Deus no auxilio a seu povo necessitado. Revela a disposicão divina em responder as orações do povo que ele clama e que grita por socorro. Confere ao crente a certeza de que suas oracóes são ouvildas e que o Senhor promete e dar a assisitência de que precisa.

A fé do apóstolo Paulo, por ele referida na leitura de 1 Co, exclui a possibilidade de a fé apoiar-se em cerimònias, linguagem ou sabedoria humanas. O evangelho, em Mt 5, reforça a necessidade de fazer brilhar a luz da fé através do testemunho pessoal.
Disposição
QUAL É O CULTO QUE AGRADA A DEUS?
PRATICA A VERDADEIRA RELIGIÃO!
1. Sua aparência exterior
1.1 Não te perturbes com falsas aparèncias e hipocrisia.
1.2 A observância de certos ritos não é fundamental.
1.3 É preciso haver ordem e decência (liturgia, etc.)
2. Sua substância e essencial
2.1 Partilha com o crente a libertacão do pecado (ligaduras da impiedade, ataduras da servidão, liberdade aos oprimidos) .
2.2 Exerce o temor do Senhor (desenvolve a luz da fé, faz-se acompanhar da justiça no evangelho, tem a glória de Deus como retaguarda).
3. Sua recompensa é certa
3.1 A recompensa não está na iluminação espiritual (luz como a alva)
2 O grito por socorro é atendido
3.3 Deus presente (Eis-me aqui!) na vida do crente, diante de toda as adversidades da vida.

Elmer Flor

Revista Igreja Luterana, Ano 1989, Vol 2, pag 42

1 CORINTIOS 2.6-13

SEXTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
14 de fevereiro de 1993
1 Coríntios 2.6-13
1) Leituras do dia
Sl 11.9.1-6 - A bem-aventurança dos que andam na lei do Senhor. Os mandamentos de Deus são para o nosso bem.
Dt 30.15-20 - Lembrados dos mandamentos do Senhor, somos confrontados com o caminho da vida e o caminho da morte. E a recomendação insistente de Deus é: “Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando ao Senhor teu Deus, dando ouvidos à sua voz, e apegando-te a ele; pois disto depende a tua vida".
1 Co 2,6-13 - A verdadeira sabedoria: o ensino do Espírito Santo, que dá vida em Cristo, - em contraste com a sabedoria do mundo, que é enganosa.
Mt 5.20-37 - O comentário de Jesus sobre alguns mandamentos. Nossa justiça não pode ser só aparente, mas deve proceder do coração como fruto da fé em Cristo e como resposta a todo amor revelado por Deus.
Pensamento central das leituras: A Palavra da Bíblia que pregamos, tanto os Mandamentos como o Evangelho, não provém de conclusões e sabedoria humana, mas é revelada pelo Espírito Santo e é sabedoria divina para a nossa salvação!
2) Contexto
Corinto, cidade portuária, recebia influências de todas as partes do mundo. A filosofia e as artes eram bem desenvolvidas nesta cidade. O ministério de Paulo foi questionado por alguns, apesar dele ter sido o fundador da congregação em Corinto. Paulo não havia sido discípulo direto de Jesus, como os 12 apóstolos. Mesmo assim, ele argumenta, seu ensino não é inferior, pois ele não pregou palavra própria, mas palavras recebidas do Senhor e ensinadas pelo Espírito Santo (1 Co 11.23; 15.3; 2.13). No texto em questão, ele faz o contraste entre a sabedoria do mundo e a sabedoria de Deus, a qual ele havia recebido e anunciava.
Contexto litúrgico: Estamos na Epafania-Revelação/Manifestação. Este texto mostra que Deus revela/manifesta sua sabedoria através da ação do Espírito Santo pela Palavra. O v.8 faz a ponte entre a Epifania e a Quaresma.
Contexto da IELB: Lema - "Cristo para todos - Respondendo ao amor de Deus”: Nossa resposta à manifestação amorosa de Deus só pode ser a aceitação da sua sabedoria revelada, a fidelidade a esta sabedoria na Palavra, nos deixando guiar pelo Espírito Santo em nosso testemunho e pregação desta Palavra de sabedoria divina.
3) Texto
v. 6,7 - "a sabedoria de Deus em mistério outrora oculta." O plano da salvação de Deus não pode ser descoberto nem desvendado pela sabedoria humana; há necessidade de revelação por parte do próprio Deus (v.10; Rm 16.25, 26; Ef 3.3-9) e apreensão pela fé, não por sabedoria humana. Pois se o quisermos desvendar pela sabedoria humana, ele se toma loucura e absurdo; mas quando o apreendemos pela fé, ele se toma poderoso para nos salvar (1 Co 1,18ss).
vv. 8,9 - Faz a ponte entre a Epifania e a Quaresma. Os poderosos deste mundo na sua sabedoria não reconheceram em Jesus o Filho de Deus nem aceitaram a reve- lação/manifestação feita por Deus por intermédio dele; e o crucificaram.
v.10 - "Deus no-lo revela pelo Espírito." Cf. explicação do 3o artigo do Credo no Catecismo Menor : "O Espírito Santo me chamou pelo Evangelho , me iluminou com os seus dons..." O Espírito Santo é aquele que ensina (Jo 16.13). Aqui está o segredo de toda a pregação cristã: não na sabedoria humana, mas na sabedoria divina revela- da e ensinada pelo Espírito Santo. - Esta é uma palavra muito importante aos pregado- res: Não são apenas cursos de desenvolvimento intelectual que fazem um bom prega- dor; mas é o Espírito Santo de Deus! Sem ele, nada somos.
v. 11-13 - Na sua argumentação, o ap. remete o leitor à sua própria experiência: cada um sabe de si, o que vai no seu íntimo. Assim: Apenas o Espírito de Deus sabe o que vai no íntimo de Deus. E é este Espírito que Deus nos deu, para nos revelar os seus pensamentos a nosso respeito e a sua sabedoria! E é por meio dele que temos condições de falar e pregar a sabedoria de Deus! Ninguém se arrisque a falar em nome de Deus sem ter o Espírito de Deus!
4) Disposição/Proposta Homilética/Tema e Partes Tema:

A sabedoria humana X A sabedoria de Deus
Objetivos: Contrastar as duas sabedorias reforçando a verdade de que a nos- sa pregação é fruto da revelação do E.S. na Palavra, e não apenas exposição de idéias/sabedoria humana. Os problemas: - Nossa vaidade nos instiga a uma independência da Palavra. - Os ouvintes são tentados a ver o homem/pregador, e não a Palavra pregada como sendo de Deus. - A sabedoria humana tem prestígio na sociedade em geral e é debatida com facilidade; a revelação de Deus é olhada com desconfiança e considerada coisa de fracos. A solução: - Deus nos revela a sua sabedoria=salvação em Cristo pelo Espíri- to Santo em sua Palavra. Um alerta: - Não devemos desfazer a sabedoria humana no que diz respeito a coisas desta vida (medicina, matemática, física, etc.), pois também é um dom de Deus. O que está em questão são filosofias huma- nas que propõem um caminho de salvação. Introdução: O homem é um ser competitivo. Ele gosta de competir e gosta de assistir competições. Cf.: futebol, jogos olímpicos, político, irmãos em casa... O ap. Paulo nos apresenta dois adversários que lutam por conquistar o 1o lugar no coração do homem: a sabedoria humana e a sabedoria divina. Quem vence o jogo final nós já o sabemos; mas quem está vencendo o jogo na minha vida particular? Quem fala mais alto aos meus ouvidos e norteia a minha vida?
1o parte - A sabedoria humana: Seu valor: no que tange a coisas deste mundo: saúde, economia, educação... Seu perigo: tornar-se um fim em si, como se só ela fosse suficiente para a vida do ser humano, inclusive para a vida eterna! Este caminho leva à morte (Dt 30.12-20).
2o parte - A sabedoria de Deus: Oculta aos olhos do mundo. Revelada pelo Espírito Santo. Seu propósito: a nossa salvação em Cristo (vida: Dt 30.20).
Conclusão: Epifania - período de Revelação/Manifestação entre Natal e Quaresma. Quem é o menino nascido em Belém? Quem ó o Jesus de Nazaré crucificado? Somente a sabedoria de Deus por ação do E.S. nos reve- la esta verdade e nos dá a fé salvadora. Quando cremos em Cristo e nos mantemos fiéis à sabedoria revelada por Deus, estamos "respon- dendo ao amor de Deus".

Carlos Walter Winterle

Revista Igreja Luterana, Ano 1992, Vol 2, Pag 133

1 CORINTIOS 2.1-5

QUINTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
7 de fevereiro de 1993
1 Coríntios 2.1-5
1) As leituras do dia
SI 119.17-24 - Os caminhos da vida são difíceis. Mesmo aqueles que são servos do Senhor, encontrarão dificuldades, perseguições e perigos. O salmista pede auxílio, esperando de modo especial que lhe sejam iluminados, desvendados os assuntos referentes à vontade do Senhor, através da Palavra (IMRA).
Is 58.5-9a - Pelos frutos, pelos resultados, pela vida é que se percebe quem está no verdadeiro caminho; a este o Senhor responde: 'Eis-me aqui".
Mt 5.13-20 - Entre outras coisas, Jesus afirma a importância fundamental dada por ele às Escrituras (do AT), bem como, da necessidade de viver os ensinamentos a partir de uma nova vida, transformada, e não somente vivê-los externa e superficialmente.
2) O contexto
Nos primeiros quatro capítulos, o apóstolo Paulo enfrenta o assunto da divisão na igreja de Corinto. O apóstolo não escreve para algum grupo especial, mas à toda congregação. No presente texto parece que Paulo quer referir-se em especial aos gnósti- cos, que davam grande ênfase ao conhecimento esotérico, ou sabedoria, e que, através do seu orgulho, criavam muitos conflitos na igreja.
3) O texto
Aqui Paulo fala a respeito e discute o tema: meu apostolado e a sabedoria. Lembra a seus ouvintes que a sua pregação realmente adequara-se ao que ele dissera sobre a “loucura” do evangelho. Nada havia de atraente em torno dela. Por essa pregação descolorida, simples e despretensiosa, mostrava-se convincentemente o poder de Deus.
v.1: Paulo pregou em Corinto sem ostentação de linguagem ou de sabedoria, ou seja, a forma de apresentar os fatos ou a maneira que sua mente organizou as declarações não buscavam mostrar superioridade, sofisticação, astúcia ou esperteza. Simplesmente anunciou-lhes o testemunho de Deus: testemunhou, foi arauto daquilo que Deus fez pela salvação do ser humano. v.2: O apóstolo só não abria mão de uma verdade central na sua pregação: "Jesus Cristo é este crucificado". Esse é o coração do evangelho. v.3: Sem dúvida, essas palavras são melhor entendidas à luz de 1.25. Diante da difícil tarefa de arauto, diante das coisas santas, diante da grandiosidade de sua missão, Paulo tem toda consciência de sua pequenez e que "sua suficiência" terá sempre que vir "do Senhor". vv.4, 5: Persuasiva, palavra rara, só encontrada aqui. Paulo, com isso, quer declarar que desiste dos métodos da sabedoria humana para convencer, levar à fé. Claramente declara que sua pregação fora uma demonstração do poder do Espírito Santo. Ou seja: não há palavras humanas de sabedoria ou da retórica que levem os seres humanos à fé. Portanto, Deus é o que faz e opera, Deus é que é poderoso. Portanto, a verdadeira fé, a fé que salva, "não se apoia em sabedoria humana, e sim, no poder de Deus".

3. Alguns temas, como sugestão
a) O Evangelho da cruz é poder de Deus.
b) Argumentos da sabedoria, nem sempre convencem, por mais lógicos. O poder do Espírito Santo, sim.
c) A fé cristã "não se apoia em sabedoria humana, e, sim, no poder de Deus".

Norberto E. Heine

Revista Igreja Luterana, Ano 1992, Vol 2, Pag 131

ISAIAS 58.5-9a

QUINTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
7 de fevereiro de 1999 Isaías 58.5-9a
Contexto
Na Bíblia Almeida Revista e Atualizada, Isaías 58 aparece com o título de "Observância devida do jejum". Também poderia levar o título de "O jejum que agrada a Deus". Diante disso, o pregador poderia bem perguntar: "Se ainda não é Quarta-feira de Cinzas, por que ocupar-me com o jejum"? Na verdade, o texto de Isaías 58 é lido hoje porque rima tematicamente com Mt 5.13-20, o evangelho do dia. Em particular, os conceitos de luz e justiça em Is 58.8 rimam com Mateus 5. Acima de tudo, então, o que se tem aqui é uma mensagem de Epifania: "romperá a tua luz", e "a glória do SENHOR será a tua retaguarda".
A perícope inclui a parte final de um parágrafo, o v.5, e metade de outro, vv.6-9a. Existe um belo clímax na metade do v.9, onde o Senhor diz: "Eis-me aqui"! Assim, pode-se muito bem encerrar a leitura ali mesmo. Agora, por que não ler toda a primeira parte do capítulo, começando em 58.1? A leitura não se torna demasiado longa e tem-se um contexto muito mais adequado.
Aliás, o contexto maior da perícope é Is 58 a 66. É uma seção em que promessas de futuro glorioso aparecem lado a lado com severas advertên-cias de juízo. É a alternância de lei e evangelho. O capítulo 58 então é basicamente lei. O tema é anunciado em Is 57.21: "Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz". Será um desafio pregar este texto de modo a não impor aos ouvintes um jejum de evangelho.
Texto
O texto abre-se no v. 1 com uma chamada a que o profeta faça soar sua voz como a trombeta ( HSJÍfêí no original). O povo tem pecado. Não se trata de falta de religiosidade. O versículo 2 mostra que é tudo menos um povo secularizado. Eles têm prazer em se chegar a Deus. A primeira parte do v.3 dá a entender que o jejum foi transformado em forma de barganha. O povo se queixa que Deus faz pouco caso. Deus responde (3b-4) que o jejum está associado à injustiça. No v.5 o foco parece se ampliar para toda e qualquer pessoa, pois faz-se referência a "o homem" (). Ao mesmo tempo o discurso fica muito mais individualizado, pois passa-se da segunda pessoa do plural ("vós") à segunda pessoa do singular ("tu").
No todo, o texto tem uma cadência poética, que é muito bem reproduzida em Almeida. Liberdade, que por certo seria um tema caro a um povo às voltas com o exílio, é apresentada com quatro imagens diferentes em Is 58.6. O acúmulo de imagens tem um raro efeito retórico.
Igualmente importante é notar a tensão entre aquilo em que o povo "tem prazer" (v.2) e o que Deus escolheu e lhe é aceitável (v.5). (No v.3, o que é traduzido por "vossos próprios interesses" é uma palavra que tem a mesma raiz hebraica do verbo "ter prazer" e pode ser traduzido por "buscais o vosso próprio prazer"). A rigor, o jejum era algo auto-imposto. Deus havia prescrito um jejum anual (Lv 16.29) e só. O povo decidiu ter prazer no jejum. Deus redefine o jejum e aponta para a prática da justiça social, que é outra forma de falar do amor ao próximo. O que importa não é o que o povo gosta ou prefere, mas o que Deus escolhe e lhe é aceitável. Como reflexão, vale acrescentar que a luta de Lutero, em seu tempo, foi muito semelhante a isso. Há quem tenha feito a observação de que ainda hoje em muitas igrejas ditas evangélicas o que a igreja decide (e que não passa de adiáforo, como, por exemplo, certos comportamentos) se torna obrigatório o que é "obrigatório" por ser instituído por Deus (como, por exemplo, os sacramentos) se torna opcional ou adiáforo. Mas, quem mora em casa de vidro não deve brincar com pedras, ou seja, tampouco nós estamos totalmente imunes ou sem culpa neste departamento.
Igualmente importante para compreender a linguagem do profeta é no-tar que, ao invés de enfatizar o caminho da integridade ("Não há nada errado em se jejuar, desde que esteja acompanhado de amor ao próximo"), o profeta enfatiza o caminho da alteridade ("Não isto, mas aquilo"). Temos a mesma linguagem, apenas mais ofensiva por envolver os sacrifícios, em Oséias 6.6: "Pois misericórdia quero, e não sacrifícios". Para bem entender os profe-tas, não se pode esquecer a dimensão retórica de tais afirmações. Evita que se incorra na lei do pêndulo, ou seja, passar-se de um extremo ao outro. Na busca de nova espiritualidade, Israel esqueceu-se do próximo. No afã de engajar-se a favor do próximo, facilmente perde-se a busca de Deus.
Reflexão homilética
Tratando-se de um texto do Antigo Testamento, nem sempre é fácil encontrar passagens paralelas ou relacionadas com o texto em estudo. Segue uma lista. Para a questão do jejum, conferir Zc 7 a 8, bem como Jr 14.12. A imagem da glória do Senhor como retaguarda, no v.8, é um eco do êxodo: Êx 13.21-22; 14.19; 16.10; Is 52.12. A restauração descrita em ter-mos de uma repentina irrupção de luz no alvorecer aparece também em Os 6.3-5 e Sf 3.5. O texto como um todo encontra eco nas palavras de Jesus em Mt 25.31-46.
Ao se pregar o texto, é fundamental que, além de permitir que o evangelho seja o ponto alto (e este aparece nos vv.8-9), não se confunda lei e evangelho. No caso presente, a confusão pode resultar da apresentação da lei como pré-requisito do evangelho. Se fizeres justiça, o Senhor te respon-derá. Aliás, ao se ler o texto é esta a impressão que fica: comportamento certo desencadeia a promessa. (Notar o duplo "então", v.8 e 9). O contexto, no entanto, sugere uma outra interpretação, em particular Is 59.1,2: "Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar... Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vos-sos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça". Em outras palavras, a ação salvífica de Deus está sempre voltada para o seu povo; o pecado do povo é que impede que ela se concretize.
Para manter a perspectiva correta, nada melhor do que lembrar o ma-gistral resumo que Lutero fez da condição cristã: "O cristão é livre de tudo e de todos; o cristão é servo de todos". O estar em Cristo nos liberta da preocupação de querermos nos chegar a Deus (v.3). Não há necessidade de jejuns ou quaisquer outras obras nossas. Qualquer tentativa de "subornar" a Deus será abominável a ele. Em Cristo, temos a liberdade de sermos epifânicos. Nossa luz, que é sempre luz refletida, pode romper como o sol nascente e nossa justiça, que é sempre recebida (cf. Mt 5.20), vai adiante de nós. À nossa frente, à nossa volta, na nossa retaguarda irá a glória do Se-nhor, que é sua presença salvífica.

Dr. Vilson Scholz St. Louis, USA

Igreja Luterana, 1998 Vol 2, pag 220

MATEUS 5.13-20

QUINTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
4 de fevereiro de 1996

Mateus 5.13-20
1. Contexto
A perícope faz parte do Sermão do Monte (5.1-7.29), vindo após as bem-aventuranças. Lembramos que Mateus é o livro dos logoi ou ensinos de Jesus.
A partir do v. 11 parece que Jesus se dirige especificamente aos discípulos e neste contexto está colocada a perícope em estudo. As bem-aventuranças são objetivas, apenas a última (vv. 11-12) é subjetiva. Quando Jesus passa da nossa relação com Deus para a nossa relação com o mundo, suas palavras são subjetivas. Esta transição para a segunda relação é feita na última bem-aventurança, a qual também recebe um tom subjetivo. Primeiro a bênção de Deus, agora através e por nós a bênção ao mundo.
Os outros evangelhos não mencionam esta perícope, exceto breve referên-cia aos discípulos como sal da terra (Mc 9.49,50 e Lc 14.34,35).
O texto é composto por duas diferentes partes:
- O sal da terra e a luz do mundo (w.13-16);
- O cumprimento da lei ou a nova lei (vv.17-20).
2. Texto
A responsabilidade dos crentes para com o mundo é estabelecida em três quadros, intimamente relacionados: sal, luz e uma cidade situada sobre um monte. O ministério não pertence opcionalmente, mas essencialmente ao povo de Cristo. Uma marca dos remidos é que são remidores.
As bem-aventuranças descrevem o caráter essencial dos discípulos de Jesus, especialmente a última; as metáforas usadas na perícope denotam a sua influência para o bem no mundo.
Ademais, a simples ideia de que os cristãos podem exercer uma influência sadia no mundo deveria nos causar um sobressalto. Que influência poderiam exercer as pessoas descritas nas bem-aventuranças, neste mundo violento e agressivo? Que bem duradouro poderiam proporcionar o humilde e o manso, os que choram e os misericordiosos, ou aqueles que tentam fazer paz e não guerra? Não seriam simplesmente tragados pela enchente do mal? O que poderiam realizar aqueles cuja única paixão é um apetite pela justiça, e cuja única arma é a pureza de coração?
Parece evidente que Jesus não participava desse ceticismo. O mundo, sem dúvida, perseguirá a igreja (vv. 10-12); apesar disso, a igreja é chamada a servira este mundo que a persegue (vv. 13-16). Jesus referiu-se aos discípu-los como sal da terra e luz do mundo por causa do alcance que sua influência teria.
A fim de definir a natureza dessa influência, Jesus recorreu a metáforas bem domésticas. A necessidade da luz é óbvia. O sal, por outro lado, tem uma variedade de usos. O sal era grandemente valorizado no tempo de Cristo. No clima da Palestina era indispensável para a conservação dos alimentos. Uma bolsa de sal era considerada tão preciosa como a vida humana.
O sal é considerado pela sua característica essencialmente distinta e diferente do meio em que é posto. Os discípulos deveriam ser facilmente identificáveis, expressando aquilo que professavam, da mesma forma como o sal apresenta a propriedade que esperamos dele. Outra função do sal é preservar, deter a decomposição. Os discípulos também são chamados a ser purificadores em um mundo onde os padrões morais são baixos ou inexistentes.
Ser sal da terra é ter qualidades preservativas e temperantes à sociedade; é ter o sabor agradável de uma vida pura e santa; é viver o Evangelho de Cristo, no meio de uma geração corrompida.
No v. 13 a afirmação é direta: "Vós sois o sal do mundo". Isto significa que, quando cada comunidade e cada cristão se revela tal como é, o mundo se deteriora como o peixe ou a carne estragada, enquanto que a Igreja pode retardar a sua deterioração.
A eficácia do sal, entretanto, é condicional: tem de conservar a sua salinidade. O sal é um produto químico muito estável, resistente a quase todos os ataques. Isto é, em termos precisos, o sal nunca pode perder a sua salinidade. Não obstante pode ser contaminado por impurezas, tornando-se inútil e até mesmo perigoso. O sal que perdeu a sua propriedade de salgar não serve nem mesmo para adubo, isto é, fertilizante.
A salinidade do cristão é o seu caráter conforme descrito nas bem-aven-turanças, é discipulado cristão verdadeiro, visível em atos e palavras. Para ter eficácia, o cristão precisa conservar a sua semelhança com Cristo, assim como o sal deve preservar a sua salinidade. Se os cristãos forem assimilados pelos não-cristãos, deixando-se contaminar pelas impurezas do mundo, perderão a sua capacidade de influenciar. A influência dos cristãos na sociedade e sobre a saciedade depende da sua diferença e não da identidade. Se os cristãos forem indistinguíveis dos não-cristãos serão inúteis.
Jesus apresentou a sua segunda metáfora com uma afirmação seme-lhante: "vós sois a luz do mundo". É verdade, mais tarde ele diria: "Eu sou a luz do mundo" (Jo 8.12; 9.5). Mas, por derivação, nós também o somos, pois brilhamos com a luz de Cristo no mundo.
Em todas as descrições dos discípulos, o Senhor pressupõe que seu espírito e sua retidão tomar-se-iam o princípio de suas vidas. Eles são a luz do mundo, recebendo e refletindo a luz, a verdadeira luz do mundo (Ef 3.9; Fp2.15).
A luz tem a função única de espancar as trevas e brilhar no meio delas. A luz, à semelhança do sal, deve ser útil. A luz deve brilhar livremente, sem qualquer empecilho. Muitas vezes, nas Escrituras, o mundo é associado às trevas, à ignorância, à esfera da escravidão. Jesus foi a luz entre os homens (Jo 1.5). Os crentes também são luzes que iluminam as trevas. Segundo os ensinos de Jesus, sem essa iluminação o mundo seria um lugar tenebroso.
Em sentido geral, Cristo é a luz do mundo. A antítese de luz é trevas (Ef 6.12; Is 9.2). Num segundo sentido os cristãos são a luz do mundo; Cristo indiretamente, eles diretamente; ele a original, eles a derivada; ele o sol, eles a lua refletindo a luz. Ver essas relações em Jo 8.12; 12.36; 1 Ts 5.5. Nós temos a mesma derivação da luz de Cristo na figura da lâmpada, que não tem luz própria.

Jesus esclarece que essa luz são as nossas "boas obras". Que os homens "vejam as vossas boas obras", disse, "e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus", pois é através dessas boas obras que a nossa luz tem de brilhar. "Boas obras" é uma expressão generalizada, que abrange tudo o que o cristão diz e faz porque é cristão, toda e qualquer manifestação externa e visível da fé cristã.
Assim como acontece com o sal, também a afirmação referente à luz foi seguida de uma condição: "Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens". Se o sal pode perder a sua salinidade, a luz em nós pode transfor-mar-se em trevas (6.23). Mas nós temos de permitir que a luz de Cristo dentro de nós brilhe para fora, a fim de que as pessoas a vejam. Não podemos ser como uma cidade ou vila aninhada em um vale, cujas luzes ficam ocultas, mas sim como uma "cidade edificada sobre um monte", que não se pode esconder e cujas luzes são claramente visíveis a quilómetros de distância. E mais, devemos ser como uma lâmpada acesa colocada no velador, numa posição de destaque na casa a fim de iluminar "a todos que se encontram na casa" e não ficando escondida, onde não produz bem algum.
Isto é, na qualidade de discípulos de Jesus, não devemos esconder a verdade que conhecemos ou a verdade do que somos. Não devemos fingir que somos diferentes, mas devemos desejar que o nosso cristianismo seja visível a todos. Devemos ser cristãos autênticos, vivendo abertamente a vida descrita nas bem-aventuranças, sem nos envergonhar de Cristo. Então as pessoas nos verão, e verão as nossas boas obras e, assim, glorificarão a Deus, pois reconhecerão inevitavelmente que é pela graça de Deus que somos assim, que a nossa luz é a luz dele, e que as nossas obras são obras dele feitas em nós e através de nós. Desse modo, louvarão e glorificarão ao nosso Pai que está nos céus.
No v. 17 começa a segunda parte do sermão do monte: Jesus explica a sua relação para com a lei de Moisés, na qualidade de Messias, especialmente conforme era interpretada em seu tempo. Até aqui Jesus falara sobre o caráter do cristão e sobre a influência que este teria no mundo, caso manifestasse tal caráter. Agora ele prossegue definindo melhor este caráter e estas obras em termos de justiça. Ele explica que a justiça, já duas vezes mencionada, e da qual os seus discípulos têm fome (v.6) e por cuja causa eles sofrem (v.10), é uma correspondência à lei moral de Deus e ultrapassa a justiça dos escribas e fariseus (v.20). Jesus começou o seu Sermão do Monte com as bem-aventuranças na terceira pessoa; continuou na segunda pessoa; e, agora, muda para a primeira pessoa, usando, pela primeira vez, sua fórmula característica e dogmática: "Porque ... (eu) vos digo" (w. 18 e 20).

Este parágrafo é de grande importância, não só por causa da definição que ele dá da justiça cristã, mas também por causa da luz que lança sobre a relação entre o Novo e o Velho Testamento, entre o evangelho e a lei. Divide-se em duas partes: primeiro, Cristo e a lei (vv. 17,18) e, segundo, o cristão e a lei (vv. 19,20).
Os versículos 17-20 aparecem apenas em Mateus. Jesus começa dizendo que não imaginem que ele veio para revogar a lei ou os profetas, isto é, todo o Antigo Testamento ou qualquer parte dele. O modo como Jesus enunciou esta declaração negativa dá a entender que alguns já pensavam exatamente isso que ele agora está contradizendo. Embora seu ministério público tivesse começado há tão pouco tempo, os seus contemporâneos estavam profunda-mente perturbados com a sua suposta atitude com relação ao Antigo Testa-mento. Portanto, era natural que as pessoas perguntassem que relação havia entre a "sua" autoridade e a autoridade da lei de Moisés. Eles sabiam que os escribas submetiam-se à lei, pois eram "mestres da lei". Dedicavam-se à sua interpretação e declaravam não haver qualquer outra autoridade além daquela que citavam. Mas Jesus falava com autoridade própria. Ele apresen-tava alguns dos seus mais impressionantes pronunciamentos com "Em verdade digo", falando em seu próprio nome e com sua própria autoridade. Jesus não veio para "revogar" a lei e os profetas, deixando-os de lado ou anulando-os, nem tampouco para endossá-los de maneira estéril e literal, mas para "cumpri-los". O verbo traduzido por "cumprir" (plerosaí) significa literal-mente "encher".
Após declarar que o seu propósito em vir era o cumprimento da lei, Jesus prossegue, apresentando a causa e a consequência disto. A causa é a permanência da lei até que seja cumprida (v.18); e a consequência é a obediência à lei, que os cidadãos do reino de Deus devem prestar (vv. 19,20).
Isto é o que Jesus tem a dizer sobre a lei que ele veio cumprir. "Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i (yod, a menor das letras do alfabeto grego, quase tão pequena como uma vírgula) ou um til (keraia, um acento, sinal que distinguia algumas letras gregas de outras) passará da lei, até que tudo se cumpra.
No v. 19 a palavra "pois" introduz a dedução que Jesus agora apresenta a seus discípulos para a validade duradoura da lei e a sua própria atitude com relação a ela. Revela uma conexão vital entre a lei de Deus e o reino de Deus.
Jesus, pela sua morte de cruz, aboliu a lei, não como lei moral, mas como método ou meio de salvação do pecador e como sistema de penalidade. Os escribas e fariseus eram considerados como possuidores das chaves da ciência, mas a justiça de que Jesus trata é a justiça que é imputada pela fé em Cristo e que Cristo cumpriu perfeitamente. "A vossa justiça" de que Jesus fala é infinitamente superior a dos escribas e fariseus (os escribas tinham 248 mandamentos e 365 proibições), porquanto é de natureza completamente diferente: é a justiça que vem da fé, é a justiça do reino de Deus. Portanto, Jesus está comparando a justiça própria dos homens com a justiça que vem de Deus. Jesus estava se referindo à justiça que o apóstolo Paulo prega e escreve (Rm 3.19-22; Gl 5).
3. Proposta homilética
Como COOPERADORES DE DEUS, este texto tem muito a nos ensinar sobre nossas responsabilidades cristãs no mundo, e três lições se destacam aqui:
1 - Há uma diferença fundamental entre os cristãos e não-cristãos, entre a igreja e o mundo;
2 - Somos chamados à responsabilidade de mostrar esta diferença: a) sendo sal da terra; b) sendo luz do mundo.
3 - A força e o poder para sermos cooperadores de Deus não estão em nós, mas na justiça que recebemos pela fé em Cristo. É esta justiça que nos capacita.

Joel Renato Schacht

Revista Igreja Luterana, Vol 2, pag 197