Pesquisar este blog

10 setembro 2010

REFORMA

REFORMA
A Reforma, para Lutero, não é um programa de mudança das instituições, mas de renovação a partir das pessoas.  A árvore e os frutos: o coração (homo interior) e o corpo (homo exterior).  A palavra de Deus muda o coração (justificação) e faz do ser humano um cooperador de Deus no mundo (vocação).  
A reforma proposta por Ltuero é uma “secularização” diferente da secularização moderna, porque, na visão de Lutero, o ser humano, quando reconciliado com Deus (coração - justificação), passa a colabor com Deus no mundo (corpo – vocações).
A reforma de Lutero é, primeiro da pessoa cristã, e então da sociedade cristã. O que pode reformar a pessoa cristão é o evangelho, e quem pode reformar a sociedade cristã (igreja, economia e política) é a pessoa cristã, nos ofícios e vocações
-  o pai e a mãe cristãos, os filhos cristãos, os senhores e servos cristãos, os artesãos, comerciantes cristãos, etc. (que é servo do próximo, que se faz útil ao póximo [Onésimo!])
- o ministro cristão (que é servo dos cristãos e não senhor da igreja , servos da Escrituras e não senhor delas)
- o príncipe cristão (bem diferente do príncipe de Maquaivel)
 que Lutero quis promover com seus escritos foi a reforma da pessoa cristã: fé, esperança e amor.
A igreja, pela administração de palavra e sacramentos, renova os cristãos na fé, na esperança e no amor (vida contemplativa, ação do sacramento).
Os cristãos, renovados na fé, na esperança e no amor, renovam o mundo: chuva que rega a terra (Gálatas 1535) (vida ativa, frutos do sacramento)
Os escritos de Lutero não traziam um programa pronto de reforma, mas refletiam a compreensão que Lutero tinha da “reforma” como ação de Deus (não humana), os homens foram criados para serem cooperadores de Deus, os cristãos são reconciliados com Deus para colaborar com o Criador no mundo.
Lutero, como escritor, não foi autor da reforma, mas instrumento da reforma  (1538, Artigos de Esmalcalde; 1539, Dos Concílios e da Igreja – o verdadeiro concílio já estava em curso no cotidiado, pois a pregação do evangelho e os sacramentos havia sido restaurados na igreja, e a comprensão de todas as ordens e vocações como cooperação com Deus também havia sido, conseqüentemente, reastaurada na sociedade cristã).
======================
Luisivan Strelow 

09 setembro 2010

OS VERBOS DO VERBO - LUCAS 15.1-10

Mensagem – 26.09.2004, domingo.
Capela da ULBRA – Canoas, RS
Texto: Lucas 15.1-10
Tema: “Os verbos do Verbo”
___________________________
IntrVERBO é uma palavra usada em João 1.1 para falar de Jesus. Jesus é o logos, que traduzimos como verbo, palavra.
Verbo, na Língua Portuguesa, é uma palavra ligada à ação. Claro, existem alguns de ligação, como ser, estar, ficar, permanecer... Mas a maioria deles falam de ação. Isso quer dizer que, normalmente quando pensamos em verbo, pensamos em ação. Correr, pular, falar, cantar, louvar...
1 – OS VERBOS DOS FARISEUS
Por isso, podemos dizer que verbos também identificam positivamente a Igreja Cristã – nós – pois é da natureza da Igreja agir, não?
Bem, na introdução do texto do Evangelho, não é bem essa realidade que encontramos. Não há verbos de ação, pelo menos não de ação positiva, para identificar as pessoas a quem Jesus principalmente se dirige: A elite eclesiástica de então, os líderes do Povo de Deus: os FARISEUS.
Com honrosas exceções, FARISEU é sinônimo de orgulho, ostentação, hipocrisia – viver de aparências. Eles não aparecem no texto, mas Quatro verbos descrevem bem a vida das pessoas a quem Jesus se dirige. E nenhum deles é de ação.
PERMANECER – nas tradições que levam para longe de Deus “misericórdia quero...”;
SE ACHAR – Soberba, julgar-se separado, especial, melhor do que os outros ;
CONDENAR – ação que não pertence a eles, mas da qual se apropriavam;
IGNORAR – os pecadores, considerá-los indignos.
Nenhum deles é de ação (nem mesmo condenar, pois não pertence a eles). É esta passividade que condena e é condenada por Jesus. Este ausentar-se do mundo, desligar-se daqueles que realmente necessitam.
Até que ponto a nossa vida hoje, também, possui somente verbos não de ação. Vale a pena pensar sobre até que ponto a falta de ação cristã, de vida cristã em nós, nossa família, nossa Igreja, tem nos deixado apenas de lado, observando o que os outros fazem, pensar sobre se estes, por acaso, são os quatro verbos mais utilizados em relação à vida de fé do povo de Deus... Nada mais perdido do que alguém que se acha salvo, especial, merecedor de honra e de alguma coisa da parte de Deus.

2 – OS VERBOS DO VERBO
Que bom que Jesus entrou em ação. Ele veio ao mundo justamente pra isso. Ele primeiro age, para então permanecer. Ele sabe que temos dificuldades, quer dizer, não conseguimos agir sozinhos. Nos falta motivação, força, vontade... Por isso, Ele se entrega para ser o nosso Salvador. Ele age para então permanecer, ficar, estar conosco. Ele se mistura com os pecadores. E quatro verbos da parábola enfatizam isto:
PROCURAR
ACHAR
SALVAR
ALEGRAR-SE

Estes 4 verbos resumem Jesus. Podemos afirmar sem dúvida. Nestas quatro ações de Cristo, temos a essência de seu ministério: Ir ao encontro dos perdidos. Procurar incansavelmente. E, quando a porta não é fechada pelo coração soberbo ou incrédulo, ele acha, ele salva, ele fortalece, e mais, ele e os anjos dos céus se alegram grandemente!
3 – OS VERBOS DA IGREJA
Estes também são os 4 verbos da Igreja. Sem eles, ela perde sua razão de existir. Nós, como cristãos, achados pelo Bom Pastor, temos nestes 4 verbos o resumo de nosso propósito. Cristo para todos é isso: PROCURAR, ACHAR, SALVAR, ALEGRAR-SE. Sempre com a ação de Deus através de nós, a força, a sabedoria, a orientação para isto. Sua Palavra e Sacramentos estão sempre à nossa disposição, para nos alimentar nesta nobre e alegre tarefa!
Por fim, podemos dizer ainda que o resumo destes quatro verbos pode ser feito em um: AMAR. Muitos filmes de Hollywood, muitas novelas, muitas pessoas hoje em dia, podem nos levar a acreditar que amor é apenas um sentimento, e que estamos a mercê dele. Se sente ou não. Acaba ou não. Para mutos, o amor vem e vai, ou como diz aquela música, “eu sou de ninguém eu sou de todo mundo todo mundo me quer bem”. Passageiro, evanescente.
Amor para Deus não se resume a isso. Amar também é sentir. Mas amar, principalmente, é AGIR. Deus fez isso. O seu amor fica claro em toda a sua ação em nosso favor. Nosso amor também, não é apenas de língua, mas de fato e de verdade. Ele sente, sim, amor por nós. Mas Ele sempre faz o principal: age. AMA! Demonstrações concretas disso não nos faltam, na Bíblia, na História, na nossa vida pessoal.

Cc – Escreve Stephen Covey: “Quando eu falava em um seminário, certa vez, um homem ergueu-se e falou: “Stephen, estou preocupado com meu casamento. Minha esposa e eu não sentimos mais as mesmas coisas de antigamente um pelo outro. Creio que não a amo mais, e que ela também não me ama. O que posso fazer?
-O sentimento desapareceu?
-Isso mesmo – ele confirmou. O que sugere?
-Ame sua esposa
-Acabei de dizer, o sentimento desapareceu.
-Ame-a
-Você não compreende. Esse sentimento, o amor, não existe mais.
-Então, ame-a. Se o sentimento desapareceu, você tem um bom motivo para amá-la.
-Mas como amar alguém que a gente não ama?
-Meu caro, amar é um verbo. O amor, o sentimento, é um fruto do verbo amar. Sendo assim, ame-a. Seja bom pra ela. Sacrifique-se, ouça seus problemas, faça um esforço de compreensão. Goste. Vá além. Você está disposto a isso?”
Amar é verbo. É ação. O que Jesus faz, e o que Ele nos pede. PROCURAR, ACHAR, SALVAR, ALEGRAR-SE, também, em muitos momentos, vai nos parecer muito difícil. Mas que bom que estes são Os verbos do Verbo, Jesus. Os verbos que ele nos propõe, e nos ajuda a praticar. Os verbos que fazem parte da vida de cada um de nós, procurados, achados e salvos e alegres - AMADOS de Palavra e de AÇÂO pelo bom pastor!

DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO APÓS PENTECOSTES - LUCAS 15.1-10

DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
4 de Outubro de 1992
Lucas 15.1-10
Texto:
1. O texto divide-se em três partes: a introdução, vv. 1 e 2, que nos apresenta o motivo pelo qual Jesus contou as parábolas seguintes e quem eram os seus destinatários; a parábola da ovelha perdida (ou da ovelha achada!), vv. 3 a 7 e a parábola da dracma perdida (ou achada!), vv. 8 a 10.
2. As parábolas são gêmeas, isto é, trazem o mesmo assunto, querem fazer a mesma colocação, querem evocar a mesma resposta por parte dos ouvintes.
3. Prosdéchctai (v. 2), pres. médio de prosdèchomai, de uni modo geral significa pegar, receber, aceitar, dar as boas-vindas. Em se tratando de pessoas, entretanto, tem um sentido muito mais forte, ligado à hospitalidade oriental: compartilhar, recepcionar, receber na comunhão. Na atitude de Jesus, evoca não somente as leis comunitárias e sociais, mas especialmente a manifestação visível do amor de Deus para com o ser humano pecador.
4. Synesthiei (v. 2), pres. ativo de synesthio, é o comer junto, o comer com alguém. Para os orientais, a fraternidade à mesa simboliza a fraternidade de um modo geral. Veja-se os exemplos da Santa Ceia e da Grande Ceia (Lc 14.15ss). 
5. apololós (v. 4), part. Perfeito de apóllymi, vindo desde a cultura grega clássica e do AT, tem um sentido muito mais profundo do que o simples "perdida". Acrescente-se a isso a idéia de ruína, destruição, morte. Evoca a triste condição existencial daquele que vive afastado de Deus (Ef 2.1-10). Aproveitando-se a figura, pode-se lembrar que, sem a proteção do pastor, a ovelha estaria praticamente condenada à morte diante dos perigos que o éremos palestino comportava.
6. Três conceitos fundamentais são subjacentes a estas duas parábolas: Deus; pecado; arrependimento. Deus, conforme revelado em Jesus Cristo, é o personagem principal, estando representado na forma do homem das ovelhas e da mulher das dracmas. E ele quem age, quem se importa, busca, salva (resgata), encontra, traz de volta, se alegra; enfim, aquele que ama. Não há como voltar, não há como ser achado se Deus não agir.
O pecado é a perda, aquilo que afasta o ser humano do Criador; a ovelha do homem; a dracma da mulher (o filho do pai, na parábola seguinte, Lc 15.11-32). Fazendo a conexão com os versículos 1 e 2, vemos que Jesus não sanciona as práticas pecaminosas, como poderia parecer ao leitor desavisado, pelo contrário, mostra que elas afastam de Deus. O arrependimento é a chave
de todo o discurso de Jesus! Aparecem nitidamente dois grupos:  os que pecam e não se arrependem, os "justos" e os que pecam e se arrependem, os "achados" (na figura da ovelha e da dracma). E o arrependimento que poderá diferenciar publicanos e pecadores de fariseus e escribas. Este é exatamente o motivo pelo qual Jesus está entre os "pecadores": para colocá-los diante do divino que desmascara o pecado humano, que coloca o ser humano a par de sua existência infame, mas que, em contrapartida, oferece a graça perdoadora, a volta. Era o arrependimento que Jesus queria evocar nas "pessoas de má fama" (BLH). Isto faltava aos fariseus e escribas. Esta é a chave homilética do texto e o tema geral do culto, associado, necessariamente, à graça de  Deus, que vai ao encontro do pecador, que evoca o arrependimento, e que acolhe o arrependido.
7. O versículo 7 seria algo problemático se o interpretássemos literalmente, pois iria parecer que Jesus gosta menos daquelas pessoas que se mantêm fiéis, que tentam, com o auxílio do Espírito Santo, viver uma vida consagrada, de acordo com, a vontade de Deus. A luz do Salmo 143.2, parece ser mais prudente ver que Jesus está usando de ironia para com os fariseus e escribas (as duas parábolas são originalmente dirigidas a eles!) por causa da pretensa justiça deles. Em última análise, Jesus está dizendo que aqueles que se consideram "justos" por si mesmos na realidade estão dizendo que não precisam de Deus e estão talvez mais afastados dele do que os publicamos e pecadores. 
8. O Salmo 51.1-17 introduz o tema do arrependimento, aquilo que falta aos fariseus e escribas no contexto das parábolas. Pode bem ser usado como texto para a confissão dos pecados no início do culto.
9. O texto do AT nos mostra o imenso contraste existente entre o pecado humano e a infinita misericórdia de Deus. Um aspecto interessante a ser observado é a atitude de Moisés. Este diferentemente dos fariseus e escribas, os quais condenam de antemão aqueles a quem consideram "pecadores"; roga pela misericórdia de Deus em favor daqueles que estão em práticas pecaminosas. E o reflexo, ao nível humano, da atitude de Jesus de ir em busca dos pecadores.
10. Em conexão com Lc 19.10, o texto da epístola, 1 Tm 1.12-17, vem explicitar aquilo que está implícito no texto das parábolas de Lc 15, isto é, que Jesus está entre os pecadores exatamente porque ele veio chamá-los ao arrependimento, à fé e à nova vida.
Apresentação:
1. Sugere-se a leitura do Evangelho na Bíblia na Linguagem, de Hoje, que traz um português mais acessível e expressões mais próximas do nosso quotidiano. A ironia de Jesus no v. 7 também fica mais clara nesta tradução.
2. Todas as leituras estão bastante próximas, sendo interessante, talvez, usar todas elas em uma mensagem diferente, mais em estilo de estudo bíblico.
3. Dentro do contexto do lema da IELB, "Cristo para todos", o texto tem muito a nos dizer. No aspecto de lei, a condenação de nossa auto-justiça, de nosso juízo temerário e precipitado sobre os outros, de nossa indiferença para com os perdidos. No aspecto de evangelho, o texto evoca a ação de Deus em buscar
e salvar; o seu amor pelo ser humano, seja ele quem for; a identidade de Jesus com o ser humano que sofre por causa do pecado; a graça de Deus que vem ao encontro de todos nós.
Gilberto V. da Silva
São Leopoldo, RS.