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30 maio 2011

ATOS 1.12-26

12 – Então, voltaram para Jerusalém, do monte chamado Olival, que dista daquela cidade tanto como a jornada de um sábado.

13 – Quando ali entraram, subiram para o cenáculo onde se reuniam Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago.
14 – Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele.

15 – Naqueles dias, levantou-se Pedro no meio dos irmãos (ora, compunha-se a assembléia de umas cento e vinte pessoas) e disse:
16 – Irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus,
17 – porque ele era contado entre nós e teve parte neste ministério.
18 – (Ora, este homem adquiriu um campo com o preço da iniqüidade; e, precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram;
19 – e isto chegou ao conhecimento de todos os habitantes de Jerusalém, de maneira que em sua própria língua esse campo era chamado Aceldama, isto é, Campo de Sangue.)
20 – Porque está escrito no Livro dos Salmos: Fique deserta a sua morada; e não haja quem nela habite; e: Tome outro o seu encargo.
21 – É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós,
22 – começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição.
23 – Então, propuseram dois: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias.
24 – E, orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido
25 – para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar.
26 – E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos.

12 A palavra dos anjos faz parte da instrução que os apóstolos receberam do próprio Jesus diretamente antes de sua despedida. Os apóstolos compreendem a situação! Compreendem o que Jesus sintetizou na sucinta palavra: “Negociai até que eu volte!” (Lc 19.13). Não é hora de ficar olhando com saudades ou admiração enquanto Jesus se afasta. Tão logo vier o Espírito, começará o grande trabalho em Jerusalém. Nesse trabalho eles sentirão que o Senhor invisível age com poder (At 2.47). Todo o trabalho, porém, está debaixo da responsabilidade do Senhor, que no Seu dia novamente estará “presente” e “visível” e examinará nossa obra pelo fogo (2Co 5.10; 3.11ss). É por isso que, obedientes, eles tiram as conclusões corretas. Não solicitam aos anjos mais esclarecimentos escatológicos, mas “voltaram para Jerusalém”.
Agora também é mencionado o local da ascensão: o monte que traz o nome de “Jardim das Oliveiras” ou “Horto das Oliveiras” e que conhecemos como “Monte das Oliveiras”. Bem diante deles, “distante como a jornada de um sábado”, está a cidade, à qual retornam, rumo à emocionante história de sua vida, com seus altos e baixos, com os acontecimentos esperados e inesperados que Lucas deseja relatar.

14 – Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele.
13 Os discípulos cumprem a ordem de Jesus: “Esperem!” Para isso, recolhem-se ao silêncio oferecido pelo “cenáculo” [recinto superior], diferente das peças da casa no andar de baixo. Lucas afirma expressamente que esse não apenas era um encontro isolado depois da ascensão, mas que levou a uma reunião permanente durante todos os dias. Sim, teremos de imaginar essa casa com a peça no
andar superior como sendo o local de permanência constante dos apóstolos enquanto de fato estavam em Jerusalém.
A espera não é nem impaciente e agitada, nem vazia e inativa. É plena de “perseverar em oração”. Todo israelita conhecia a oração desde a infância. Mais tarde os discípulos haviam recebido o ensino de Jesus sobre como orar, tendo sempre diante de si o Seu exemplo. Naturalmente não precisamos imaginar que ali ficavam de joelhos da manhã até a noite, proferindo orações. Contudo, esses dias foram determinados pelo falar com Deus, relembrando tudo o que haviam vivenciado, e em expectativa esperançosa pelo que lhes havia sido prometido e ordenado. Essa oração não era algo ligado ao sentimento religioso, mas era trabalho sério da vontade. É assim que se preparam acontecimentos divinos: na espera por determinadas promessas de Deus e na oração consistente e perseverante.
Recebemos a informação sobre quem esteve reunido naqueles dias de preparação. Em primeiro lugar são os onze apóstolos. São arrolados expressamente pelo nome. Muitas vezes Atos dos Apóstolos foi criticado porque a obra de modo algum faz justiça ao seu nome. Na realidade estaríamos ouvindo pormenores somente sobre Pedro, e nem sequer a respeito dele haveria uma história abrangente de sua vida e atuação. O que os demais fizeram em sua vocação apostólica nem sequer estaria sendo contado. Mas também nesse caso a Bíblia difere substancialmente de nosso interesse por pessoas de renome. Na Bíblia não existe nenhuma “biografia”, nem mesmo as de Isaías ou Jeremias. Homens como o profeta Micaías em 1Rs 22.28 surgem e desaparecem, sem que sejamos informado a respeito de sua atuação, que de forma alguma se limitou a essa uma aparição. Da mesma forma, Lucas também não escreve nada sobre a história de cada apóstolo. No entanto, a reunião deles em oração, a vivência conjunta da história do Pentecostes, a contribuição na construção da primeira igreja e a participação na liderança da igreja em formação é obra apostólica completa (cf. At 2.1,14,37,42; 4.33; 5.15,40-42; 8.14). Eles não importam como originais isolados, biograficamente interessantes, mas como grupo de doze, que o próprio Jesus havia convocado e que está solidariamente no serviço.
No entanto, agregavam-se aos apóstolos também “mulheres”. Dificilmente eram apenas esposas dos apóstolos e dos irmãos de Jesus, mas sobretudo aquelas mulheres às quais justamente Lucas atribui uma participação importante na obra de Jesus: Lc 8.2s; 23.49,55; 24.10. É significativo para a igreja de Jesus que nela a mulher receba um papel bem diferente do que na sinagoga. Isso também aflora intensamente neste momento: mulheres participam do preparo de Pentecostes pela oração (cf. também o comentário a At 8.3).
Também Maria, a mãe de Jesus, está presente com os irmãos de Jesus. É nesse ponto que o NT cita pela última vez o nome de Maria. Não a encontramos numa posição de honra, mas colocada lado a lado com as demais mulheres com um singelo “e”. Sobre a posição anterior dos irmãos de Jesus lemos em Mc 3.31-35 (v. 21!); Jo 7.3-8. O próprio Jesus havia recusado todas as reivindicações de sua família. Contudo, nos dias de Páscoa ele também foi ao encontro de seu irmão Tiago (1Co 15.7), e Tiago chegou à fé. Ao que parece, isso fez com que a família toda entrasse na igreja, na qual Tiago obteve uma posição de liderança ao lado dos apóstolos (cf. o comentário sobre At 12.17; Gl 2.9; At 15.13ss).
14 “Todos esses perseveraram unânimes em oração.” Existe também “unanimidade” no campo contrário: At 7.57; 18.12; 19.29; é a unanimidade da excitação acalorada. Tanto mais importante é a tranqüila e concentrada unanimidade dos discípulos de Jesus, que leva à comunhão de oração. De acordo com a promessa do Sl 133 ela constitui uma premissa básica para bênçãos divinas. Ninguém em Jerusalém deve ter dado muita atenção ao pequeno grupo que se reunia ali em segredo, no recinto superior de uma casa. Muito menos alguém em Roma e na corte do imperador tinha qualquer suspeita disso. Não obstante: aqui acontecia algo que superava todos os grandes e ruidosos processos da política e da economia, tornado-se a premissa para uma história de alcance mundial, que inclui também a nós e desemboca no futuro eterno.

Agora vemos que “aqueles dias” de fato não estavam preenchidos apenas com a oração como tal. Oração verdadeira sempre nos insere também nas nossas tarefas. Os discípulos falam com Deus sobre o envio do Espírito e sobre a imensa obra que se abre diante deles, pessoas humildes da Galiléia. Em vista disso, eles se deparam com a enigmática e dolorosa situação de que há uma lacuna em seu grupo. Foram doze os apóstolos que o Senhor convocara para as doze tribos de Israel; e agora perfazem apenas onze. Não precisam se tornar completos antes de começar a trabalhar em Israel?
15 Pedro assume a tarefa que Jesus lhe deu em Cesaréia de Filipe (Mt 16.18s) e que lhe transferiu novamente após a Páscoa no mar de Tiberíades (Jo 21.15-17). Ele reúne um círculo grande de discípulos de Jesus, de sorte que cerca de cento e vinte “nomes” estavam reunidos “no mesmo lugar”. A expressão “nome” representa o que nós designamos com a palavra “pessoa”. O local da reunião dificilmente seria o cenáculo, que não ofereceria espaço para cento e vinte pessoas, mas outra sala, talvez também o pátio da casa. No Oriente, a vida transcorre muito mais ao ar livre do que entre nós.
Pedro “levanta-se no meio dos irmãos” e toma a palavra. Aqui algo muito grandioso se torna visível: a realidade plena do perdão! Quem está se levantando no meio dos irmãos é aquele homem que traiu o Senhor. Todos os reunidos têm conhecimento disso. Será ele ainda “digno” de ser o dirigente em seu meio? Acaso não havia perdido toda a autoridade? Não se manifesta desprezo e rejeição contra ele? Nem aqui nem mais tarde palavra alguma é dita a respeito disso! Milagrosamente, a primeira igreja foi capaz de ambas as coisas: não dissimular a queda de Pedro, mas relatá-la com toda a clareza no próprio evangelho, e ao mesmo tempo reconhecer sem restrições em Pedro o cabeça do grupo dos discípulos. O perdão que Jesus concedeu a Pedro, como a todos eles, havia apagado integralmente a culpa dele, como a deles também. Conseqüentemente, o próprio Pedro também não está diante deles inseguro, com sentimentos de inferioridade. Também ele acolhe o perdão com toda a sua glória, assumindo seu lugar com uma obediência objetiva.
Em sua atitude Pedro traz no coração a palavra de Jesus que exclui do grupo dos discípulos qualquer dominação mundana (Mt 20.25-28). Por isso Pedro não ordena as coisas de forma determinante a partir de si mesmo (“episcopalmente”), e tampouco delibera sobre elas no círculo de seus colegas apóstolos, mas dirige-se conscientemente à “igreja”, ainda que agora ela seja formada apenas por esse grupo variável de discípulos.
16/19 De acordo com o costume da Antiguidade e também do judaísmo, ele interpela somente os “homens e irmãos”. É assim que está registrado também nas cartas apostólicas. Nosso costumeiro “Amados irmãos e irmãs!” é desconhecido no NT. Ocorre, porém, que são precisamente as cartas que mostram – basta lembrar a “lista de saudações” em Rm 16! – com que intensidade as mulheres também estavam envolvidas na construção da igreja. Por isso, conforme diz o v. 14, com certeza elas estavam presentes nessa primeira “assembléia da igreja” e de fato incluídas na interpelação.
Para o discurso subseqüente vale o que afirmou G. Stählin (op. cit., p. 23): “É a forma artística do assim chamado discurso breve. Consiste somente de frases que de fato poderiam ter sido ditas num discurso verbal, mas em termos de conteúdo representa tão somente um resumo sucinto do verdadeiro discurso.” Ademais, o v. 19 não deve pertencer diretamente ao discurso do próprio Pedro, mas ser uma “anotação” de Lucas. Isso porque Pedro falava a seus companheiros na língua aramaica que o povo de Jerusalém usava, e para eles não haveria necessidade de traduzir a palavra “Aceldama”. Para Teófilo, porém, e os leitores gregos de Atos dos Apóstolos essa referência que Lucas intercala nas considerações de Pedro era necessária.
Os informes sobre os quais Lucas alicerça seu relato divergem daquilo que Mateus nos conta sobre o fim de Judas e sobre o “Campo de Sangue” (Mt 27.3-10). Isso não é surpreendente. Nós mesmos já presenciamos diversas vezes como pessoas, que haviam sido testemunhas oculares de determinado acontecimento, mais tarde dão descrições bastante diferentes do mesmo entre si. E até quando compartilhamos lembranças de experiências que tivemos em conjunto, como é diferente a maneira como cada um guardou as imagens em sua memória. Isso não deve levar à conclusão tola de que o respectivo acontecimento nem teria acontecido e que os informantes teriam apenas imaginado tudo. Pelo contrário, as variações comprovam a autenticidade das declarações das testemunhas: nada foi combinado e ajeitado. E tudo aquilo que é essencial é apresentado de forma concordante nos diversos relatos. É o que também acontece aqui. Não visamos harmonizar artificialmente a tradição de Mateus com a de Lucas. Mas queremos prestar atenção nas linhas essenciais que são iguais em ambos: o traidor chegou a um fim terrível pouco tempo depois de seu ato; seu dinheiro tornou-se funesto para ele. Isso não ficou oculto, mas tornou-se de domínio público em Jerusalém. A memória disso – como costuma acontecer entre o povo – fixou-se ao nome de um terreno que se relaciona com o dinheiro do sangue do traidor e por isso é chamado de “Campo de Sangue”. É isso que precisamos saber. Nisso mostra-se a seriedade do juízo divino.
16/17 Essa seriedade determina a atitude de Pedro. Ressalta mais uma vez o lado terrível do ato de Judas. Aquele homem que “era contado entre nós e obteve parte neste ministério” tornou-se “o guia daqueles que prenderam Jesus”. Não se ensaia nenhuma palavra para explicar profundamente esse processo. Aqui, como em todo verdadeiro “pecado”, não há o que “explicar”. Qualquer “explicação” seria um passo para anular a culpa. Contudo, tampouco se diz alguma palavra ofensiva sobre Judas. O que Pedro afirma está completamente isento do odioso prazer com que nós facilmente nos levantamos, cheios de indignação, contra um culpado. Deus já julgou de forma suficientemente grave, toda Jerusalém o sabe. Nessa questão o veredicto humano pode e deve calar-se.
16 Ainda se ouvem resquícios da consternação: “Era contado entre nós!” Contudo, essa consternação foi superada por meio do refúgio na palavra da Escritura. Foi isso que a igreja de Deus experimentou em todos os tempos, até hoje: justamente na hora dos eventos enigmáticos, difíceis de suportar, abre-se subitamente para nós uma palavra da Escritura. Ela adquire um sentido completamente novo para nós e lança sua luz sobre a escuridão dos fatos. Percebemos com gratidão: o que era incompreensível para nós, o que nos causou tamanhas preocupações e aflições, foi previsto por Deus e incluído em Seu plano. Há muito tempo Deus já deu Sua palavra a esse respeito. Então não existe objeção a que a respectiva palavra bíblica “objetiva” ou “historicamente” fale de algo bem diferente. Obviamente os Sl 69.25 e 109.8 inicialmente eram orações gerais de fiéis contra inimigos cruéis. Esses salmos já haviam sido orados várias vezes desse modo por pessoas aflitas. Mas quando Pedro refletiu com os demais apóstolos sobre o episódio com Judas, essas antigas palavras o atingiram de forma nova. Não foi a ação de Judas como tal que havia sido “predestinada”! Na Bíblia não se buscam teorias sobre a relação entre determinações divinas e culpa humana. Ambas as realidades vigoram assim como as experimentamos pessoalmente: o governo divino que a tudo abrange, e a liberdade e responsabilidade próprias do ser humano (sobre isso, cf. sobretudo Rm 9 e a explicação desse capítulo na série Comentário Esperança). Por isso Pedro não soluciona o terrível mistério em torno da traição de Judas e não afirma: essa traição precisava acontecer, porque a Escritura a predisse. Mas de qualquer forma ela foi vista e classificada por Deus. Isso se torna claro no fim do traidor, que corresponde à profecia no salmo de Davi.
20 Foi em vão a tentativa de Judas de assegurar para si uma morada com o “salário da injustiça”! Não, Deus o declarou: “Fique deserta a sua morada; e não haja mais quem habita nela.” De forma correspondente, Deus executou o fim horrível do traidor, provavelmente no terreno recém-adquirido.
Então, porém, é preciso compreender igualmente a outra palavra do salmo: “Tome outro seu cargo de supervisão.” E para isso a assembléia fora convocada.
21/22 Pedro constata inicialmente as exigências imprescindíveis a um “apóstolo”. Um “apóstolo” é acima de tudo uma “testemunha da ressurreição de Jesus”. A ressurreição de Jesus é – obviamente mediante ligação indissolúvel com sua cruz! – o evento decisivo que realmente faz do evangelho um evangelho. Sem o acontecimento do dia da Páscoa, o “cristianismo” jamais teria surgido no mundo. Não teria significado extremo para nós e para o mundo todo o fato de que o ser humano Jesus de Nazaré viveu, ensinou, curou, amou e sofreu, se esse Jesus não tivesse sido despertado por Deus e transformado em seu “Senhor e Cristo” (cf. At 2.32-36; 3.13-15; 4.10-12; 13.38s; 17.30s). Jesus foi “designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos” (Rm 1.4). Essa ressurreição dentre os mortos, contudo, constitui ao mesmo tempo o “impossível”, o humanamente inconcebível e por isso escandaloso, irritante e ridículo (At 17.32). Por isso o testemunho originário do apostolado, fundador da igreja, somente pode ser prestado nesse mundo alienado de Deus por aquela pessoa que presenciou pessoalmente o fato inaudito da ressurreição de Jesus e que experimentou sua verdade. Essa ressurreição, porém, não é um evento isolado em si. Jesus, e unicamente Jesus, é aquele que ressuscitou dentre os mortos! E precisamente Jesus é, como o Ressuscitado, de fato o Salvador glorioso de que os pecadores precisam. Por isso a testemunha de sua ressurreição igualmente precisa ter conhecido bem a Jesus pessoalmente. No entanto, ele não é “apóstolo” como pessoa isolada e solitária, mas – já falávamos disso – unicamente como membro do grupo de apóstolos. Por isso precisa ter estado em contado desde o início com esse grupo a que deverá pertencer integralmente. Ele deve exercer o ministério “conosco”.
23 Havia homens com essa qualificação entre os cento e vinte. Dois deles pareciam especialmente dignos de confiança aos que estavam reunidos. Destacaram José, chamado Barsabás, com o cognome Justo, e Matias. Contudo, nem eles nem os apóstolos queriam tomar pessoalmente a decisão definitiva. Afinal, o Espírito Santo, que mais tarde – p. ex., em At 13.2 – separa e convoca para o ministério, ainda não está presente.
24 Por isso voltam-se ao que “conhece os corações” e em oração perguntam pela vontade dele.
25 Expõem diante dele a necessidade de suas preces. É o que podemos fazer na oração. Judas se demitiu da “vaga neste ministério e envio”, para ir “para seu próprio lugar”, i. é, para a perdição. O lugar vazio precisa ser preenchido e assumido por outro.
26 O Senhor deve decidir agora através do sorteio. O texto não deixa inequivocamente claro se eles “lançam sortes por eles” (assim traduz A. Schlatter) ou se fazem que os dois tirem a sorte. Seja como for, o sorteio indicou Matias como aquele que foi eleito pelo Senhor, e “foi acrescentado aos onze apóstolos” [NVI].
Portanto, tão vivos e múltiplos eram os acontecimentos no começo da igreja! Pedro age a partir de si com sua própria autoridade. Na igreja existem homens que a lideram. Mas então ele convoca a própria igreja para agir, depois que lhe mostrou sobre o que deve dirigir sua atenção. E em oração a igreja entrega a última decisão na mão do Senhor, recorrendo uma vez, aqui no começo, ao método do sorteio. Não se implanta nenhum princípio, nem “episcopal”, nem “democrático”, nem tampouco se estabelece um direito de gozar constantemente da maravilhosa direção através do Senhor. De forma livre fez-se justiça a tudo, conforme a respectiva situação demandava.
Às vezes se afirmou que apesar disso a igreja agiu com precipitação. O décimo segundo apóstolo preparado pelo Senhor seria Paulo, por cuja vocação a igreja deveria ter esperado. Porém, será que a igreja podia esperar durante anos por algo incerto? Para isso ela teria necessidade de uma instrução clara do Senhor. Sobretudo, porém, Paulo nunca se considerou entre os “Doze”, aos quais diferencia expressamente de si em 1Co 15.5 como sendo um grupo especial. Em sua característica numérica, os Doze se dirigiam a Israel. Quem desejasse pertencer a eles de fato precisava ter vivenciado, como Pedro está demandando aqui, a história especial de Deus no âmbito de Israel desde o movimento de arrependimento desencadeado por João até o último desfecho na ascensão de Jesus. Nesse sentido, Paulo não podia ser um apóstolo. Em vista disso, Paulo se considerou pessoalmente uma exceção muito peculiar: 1Co 15.8-10. Ele tinha consciência de ser um “apóstolo das nações”, embora, nessa tarefa, fosse plena e integralmente um “apóstolo” – Paulo lutou com todas as forças pelo reconhecimento de seu envio e autoridade apostólicos – mas não como um dos “Doze”, que juntos exerciam seu ministério em Jerusalém, sobretudo em prol de Israel.

28 maio 2011

EFÉSIOS 1.16-23

A ASCENSÁO DO SENHOR
21 de maio de 1998
Efésios 1 .16-23
Contexto
A quem Paulo está escrevendo esta carta? A igreja em Éfeso? Como a expressão "em Éfeso" é omitida em alguns dos mais antigos manuscritos, pensam alguns que esta carta foi dirigida a várias igrejas. Seja como for, Paulo, nesta carta endereçada a todos os santos e fiéis em Cristo Jesus, expressa a graça, o amor, a misericórdia, o propósito de Deus - em Cristo Jesus - para com os homens (vv.3ss.). Especialmente, também Paulo louva a Deus pelo fato de os cristãos de Éfeso terem ouvido, crido e estarem na fé verdadeira (v.13). O Cristo para Todos foi também anunciado em Éfeso, na Galácia, em Filipos ... e ali ouvido e crido por muitos. Que fantásticos resultados são operados pelo Espírito Santo quando o evangelho de Cristo é testemunhado pela igreja de Deus!
O desejo das testemunhas de Deus é que os "santos e fiéis" continuem vivendo na fé ... "no Senhor Jesus e no amor para com todos" (v. 15) e assim continuem adorando a Deus, como filhos amados. Este santo desejo Paulo expressa agora nesta belíssima e profunda oração, em favor dos "santos e fiéis" a quem escrevia, a fim de que habite Cristo sempre nos seus corações, pela fé (repete esta oração em Ef 3.14-2 l).
A ressurreição e a ascensão de Cristo aos céus - o estar Cristo a direita de Deus nos céus (v.20) - é a garantia da ressurreição dos "santos ...e fiéis em Cristo Jesus".

Texto
V.16 - O amor faz o cristão se lembrar sempre dos seus irmãos na fé, ajudando-os em todas as suas necessidades, interessando-se por eles, sacrificando-se por eles, orando por eles (Tg 5.16). O amor de Cristo "constrangia" Paulo a agir assim para com os "santos e fiéis em Cristo". Especialmente, a permanecerem e crescerem na "graça e conhecimento de Cristo". Paulo os tinha em sua lembrança, em sua memória (mneía). Eles estavam no coração de Paulo e eram sempre mencionados (poioúmenos) em suas orações (como é importante sermos "lembrados" e mencionados nas orações de nossos irmãos na fé!).
V. 17 - O desejo expresso de Paulo nesta oração - (dok) é que Deus conceda sabedoria plena, conhecimento pleno (ES) para a permanência nEle (Cristo). Precisamos do "espírito de sabedoria" de Deus, para que continuemos sábios para a salvação, para que continuemos reconhecendo a Cristo Jesus como nosso único Senhor e Salvador.
V. 18 - Só com a luz do Espírito Santo, com o seu contínuo iluminar Votízo), pode o nosso entendimento (mente, coração) absorver a profundidade do amor de Deus e nEle permanecer. Que clara compreensão dos "mistérios de Deus", do chamamento de Deus há naqueles que têm os "olhos do coração" assim iluminados! Este ato afeta profundamente a vida do cristão. 
V.19 - Compreender a grandeza do poder de Deus ultrapassa (iperballo) a razão humana. Quando só a razão humana vai entender, por exemplo, o poder da ressurreição, a ascensão ... ? Por isso precisamos do Poder em ação, do Poder ativo, do Poder "força" de Deus (krátos), que opera naqueles que crêem, para assim compreendermos a profundidade do seu amor e poder.
V.20 - Paulo, utilizando dos três vocábulos (dinámeos, krátous, isríos), enfatiza este poder que é de Deus, que é próprio dEle, mas que é colocado a disposição dos homens. Este poder, "o qual exerceu Deus em Cristo", nós o vemos efetivado, de um forma muito peculiar, na ressurreição e na ascensão de Cristo. Este poder é posto à nossa disposição, pois a vitória de Cristo é nossa também (Ef 2.6).
V.21 - Este poder absoluto de Deus é aqui descrito por Paulo, no domínio que Ele (Deus) tem sobre tudo e sobre todas as coisas. Tudo neste mundo e no vindouro (mélonti) - está sob o poder do Cristo exaltado (Fp 2.9). Cristo é o nome que está acima (iperáno) de qualquer nome.
V.22 - As mesmas palavras usadas por Davi no SI 8.6, são aqui mencionadas por Paulo (e novamente em 1 Co 15.27). Assim como Cristo é Senhor sobre todas as coisas, também o é sobre a Igreja. Deus o deu como cabeça (édoken - Cristo é aquele que tem domínio sobre todas as coisas). É de Cristo (a cabeça) que a Igreja recebe luz e vida plena.
V.23 - Como Cristo é a Cabeça da Igreja, a Igreja, por sua vez, é o complemento de Cristo (a cabeça). Por isso ela é esta plenitude de Cristo (plerournénou). Ele (Cristo) a enche totalmente. Toda a igreja tem de estar envolvida por Cristo. A Igreja se torna ativa - igreja viva - tomando Cristo tudo para todos. Portanto, o Cristo que morreu, ressuscitou e subiu aos céus é Aquele que tem todo o poder, é Aquele que a "tudo enche em todas as coisas".
Proposta homilética
Tema: Quando temos o Espírito de Sabedoria e Revelação:
1. Conhecemos o Cristo Vivo (que ascendeu aos céus - Jo 14.2,3).
2. Estamos nEle (sua ressurreição e ascensão é também nossa).
3. Temos o Seu Poder (o poder da vitória de Cristo - w. 19,20).
José Eraldo Schulz

1 PEDRO 4.12-17 E 5.6-11

Sétimo Domingo de Páscoa
23 de Maio de 1993
I Pedro 4.12-17 e 5.6-11
Leituras do Dia
O Salmo 133 ressalta o objetivo e a importância da comunhão entre irmãos na fé. Diante do sofrimento causado pelo fato de ser cristão (tema do dia), tal Salmo estimula o "estar juntos e unidos" na vida da fé. Uma brasa cercada de outras acessas é mais difícil de apagar. O texto de Atos (1.8-14) destaca as promessas de Deus aos seus filhos - presença constante, capacitação e fortalecimento pelo Espírito Santo - assim como também menciona a importante missão de testemunhar. A prática religiosa daqueles primeiros cristãos é muito bem lembrada. O evangelho por sua vez, estimula uma reflexão sobre o que significa "ser cristão" a partir da Oração Sacerdotal de Cristo (Jo 17.1-11). Evidencia-se de maneira muito forte a identificação de Cristo com seu Pai (envio), assim como em I Pedro os cristãos são relacionado ao seu Salvador, inclusive na questão do sofrimento.
Contexto
No que tudo indica, a carta de I Pedro foi escrita não em virtude específica de uma perseguição declarada aos cristãos (Nero, gladiadores, Coliseu, etc.), mas por causa da hostilidade gerada pelo novo estilo de vida que os cristãos praticavam após sua conversão. Muitos destes novos convertidos eram inclusive estrangeiros na Ásia Me- nor, fato que os fazia mais contestados e discriminados ainda. Pedro escreve com o objetivo de consolar e oferecer um amparo para aqueles que se achavam perdidos e abandonados na sociedade (pagã) em que viviam. Três referências lhe propiciam melhor análise deste específico contexto:
Texto 4.12- O sofrimento destes cristãos em perseguição não-declarada é citado como "fogo", podendo ser analisado como julgamento ou como purificação. Pedro volta-se para o problema que eles estão enfrentando no dia a dia, provas essas que colocam em dúvida a fé dos cristãos. Chama-se a atenção aos não-judeus que estavam acostumados a viver integrados numa sociedade panteísta e sincrética, mas sem estrutura para suportar o desprezo e a marginalização (até sem violência) a partir da adesão à fé. "Será que vale a pena ser cristão?" poderiam eles indagar.
4.13 - "Co-participantes" utiliza o conhecido termo "koinonia". A comunhão, portanto, dos cristãos com Cristo vai até o ponto de sofrerem as mesmas coisas (Fp 3.10). Este destino comum com Cristo (koinós) além de envolver sofrimento, injúria e até a morte, também engloba a participação na glória de Deus, que já começa agora. Os sofrimentos decorrentes da opção religiosa passam a ser indícios de que se encontra no caminho certo. Cristãos, pois, podem alegrar-se na medida que vão sofrendo pela fé cristã.
4.14 - Ser identificado com o nome de alguém era ser identificado com a própria pessoa e o nome de Cristo é uma identificação preciosíssima para os cristãos (At 4.12,30). O fato do Espírito repousar traz consolo e certeza de amparo ante as provações, contestações e difamações.
4.15,16 - Motivos para sofrimento existem os mais diversos. Cristão não busca coisas para sofrer mais, mas agradece e louva a Deus se está sofrendo por ter seguido a Cristo como seu Salvador. O termo "Cristiános" iniciou como apelido pejorativo e agora torna-se título especial que honra os seguidores de Cristo.
4.17 - Dois importantes conceitos gregos - kairós (tempo, ocasião) e oíkos (casa) podem enriquecer o estudo se analisados minuciosamente relacionando o momento sofrimento para com aqueles que são considerados estrangeiros, fora de casa, e contestados por apresentarem um modo de vida que contraria o costumeiro naquela cultura.
5.6-11 - Estes versículos encaixam-se como dicas que Pedro oferece aqueles que sofrem pelo nome de Cristo:
- humilhai-vos...
- deixai nas mãos de Deus as suas preocupações...
- vigiai para não cair em tentação...
- resisti firmes na fé - irmãos de vocês também estão sofrendo assim ...
- Deus há de vos aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar.
É significativo o fato destes verbos encontrarem-se no poristo imperativo, tornando seu consolo prático e palpável. Proposta Homilética Introdução
- Dor e sofrimento: constantes no ser humano desde a queda.
- Motivos diversos que produzem sofrimento: doença, preocupações, crise financeira (colocar problemas bem práticos).
Tema: Jesus Cristo - um bom motivo (o melhor motivo) para sofrer ou Alegria ao participar dos sofrimentos de Cristo. 
1. Prova de que se está no caminho certo. 
2. Motivo de gratidão diante de Deus. 
Conclusão - Reflexão sobre o quanto se sofre hoje por ser cristão - Certeza de que Deus nos acompanha
Christian Hoffmann

EFÉSIOS 1.16-23

A Ascensão do Senhor
20 de maio de 1993
Efésios 1.16-23
Reflexão Exegética
V.16 - Paulo recebeu boas notícias a respeito dos fiéis em Éfeso e agradece a Deus.
V.17 - Agradecimento brota do reconhecimento da graciosa ação de Deus. Isto leva a novas súplicas. - Reconhecemos a glória que o Pai deu a Cristo e aos que estão em Cristo? - A palavra espírito deve ser, aqui, escrita com maiúsculo. Refere-se ao Espírito Santo. Ele é o doador da verdadeira sabedoria, que é Cristo (I Co 1.30). Todo o saber da salvação, para fé e vida.
V.18 - Ilumine vosso coração. Precisamos pedir sempre esta iluminação, em dias bons e maus, a fim de nunca perdermos a esperança que há em Cristo.
V.19 - A fé em Cristo é o maior milagre que se realiza na terra pelo poder de Cristo.
V.20, 21 - O poder de Deus se revelou no fato de ter ressuscitado e exaltado a Cristo.
V.22, 23 - Tudo está sob seus pés. Ele é cabeça da igreja e a igreja seu corpo. Mas enquanto, aqui na terra, temos este tesouro em fé, estamos sob a cruz. Há lutas e sofrimentos (Gl 5.24, At 14.22).
Podemos seguir vários caminhos. A oração do pastor por sua congregação. Mas por ser texto para a ascensão, preferimos o tema: Súplica ao Senhor da glória, para que nos conceda o Espírito de sabedoria.
Sermão - resumo Introdução - Grande pompa se dispensa, normalmente, à posse de um chefe de estado, a coroação de um rei. A maior coroação, nesta terra, da qual anjos e o universo participou, foi a coroação de Cristo, no dia da ascensão. Cristo subiu ao céu e levou cativo o cativeiro (nossos inimigos), e concedeu dons aos homens (Ef 4.8). Infelizmente, este dia é quase esquecido na cristandade. Em que igrejas há ainda culto? E se há, são um número insignificante que se reúne. Em que lares se faz, neste dia, uma reflexão mais profunda com oração e júbilo, agradecimentos e súplicas pela igreja? Terrível desleixo. Revela falta de compreensão e a pouca importância que damos ao reino de Deus. Aqui cabe arrependimento. Contemplemos o Senhor da glória, suplicando que nos conceda o Espírito para abrir nossos olhos e nos conceda sabedoria.
NOSSO SENHOR - O que aconteceu no dia da ascensão? Deus, que ressuscitou a Cristo da morte, pela força do seu poder, o "fez assentar à sua direita..." (v. 20-22).
Cristo confirma a seus discípulos: "Toda a autoridade me foi dada .. " (Mt 28.20). Ele já tinha todo o poder, mas agora um poder especial, o maior de todos, lhe foi dado, o poder de perdoar pecados. O poder sobre os nossos inimigos: pecado, morte e Satanás, que tinham pela força da lei, poder sobre nós. Cristo cumpriu a lei e pagou por nossos pecados. Agora podemos jubilar: "Onde está ó morte..." (I Co 15.55). Há vitó- ria. Há esperança. Há vida eterna. Cristo é Senhor. Ele governa.
"Eis que estou convosco...” (Mt 28.20). Em breve virá para julgar vivos e mortos. Voltará em glória (At 1.11).
VOS CONCEDA O ESPÍRITO - De sabedoria e de revelação no pleno conhecimento" (v.17).
Os efésios, como nós, conheciam a Cristo. Confessamos isto no Credo Apostólico. Mas precisamos suplicar, para que o Espírito Santo nos ilumine cada dia e nos faça crescer no conhecimento, nos conceda sabedoria para a vida santificada.
Nossa natureza carnal não entende as coisas do espírito de Deus (I Co 2.14). Diariamente nossa natureza carnal levanta perguntas e murmurações contra Deus. Parece que, quem guia este mundo, é o maligno. A luta é diária. Importa crucificar nossa carne (Gl 5.24). Nossa luta é contra as potestades do ar (Ef 6.12). Eles foram vencidos, mas tem pequena liberdade de ação até o dia do juízo final. Vigiai e orai (Mc 14.38, Ap 16.15). Os cristãos, durante os primeiros séculos sofreram muitas perseguições. Pais eram mortos diante dos olhos de seus filhos e vice-versa. Eram jogados aos leões e queimados vivos. Quanta angústia! Quanto clamor! Nestes momentos, só o Espírito Santo poderia mantê-los na fé e revelar-lhes de que Cristo, apesar de tudo, era Senhor. E firmá-los na esperança.
Hoje, Satanás ataca a igreja, especialmente a nós no Brasil, de outra forma. Com tentações sutis. Ele nos desvia do estudo bíblico. Deixamos de apreciar nossa liturgia e nossos hinos, para substituí-los por "cisternas rotas que não retém água" (Jr 2.13), por hinos que não têm lei e evangelho, que não doutrinam nem consolam. Daí as fraquezas. Não temos amor a missão. Uma igreja rica, em terra rica, suplicando favores de outras igrejas. Como podemos justificar isto diante de Jesus?
Que Deus abra nossos olhos, para conhecermos a esperança a qual fomos chamados. E na medida em que crescermos no conhecimento, cresceremos também no amor. Na medida em que crescermos no amor, cresceremos também no louvor ao Salvador, no testemunhar de Jesus, no ofertar para a expansão do reino de Deus. Importa que, como pastores e líderes, supliquemos a Cristo, para que nos conceda o Espírito Santo e este nos conceda "sabedoria e revelação" e nos dirija, como mem- bros do corpo de Cristo. Então, reconheceremos que a verdadeira alegria de vida, não consiste em gozarmos as coisas do mundo, mas no lutar pela salvação de almas e no aguardar a vinda gloriosa de Cristo.
Cristo subiu ao céu e está à direita do Pai. Ele ouve nossas súplicas e intercede por nós. Ele envia o seu Espírito aos filhos de Deus, para que estes possam crescer em toda a sabedoria e na esperança da glória celestial, e poderem cumprir cada vez melhor a missão que Cristo lhes legou. Em breve ele virá em glória para julgar vivos e mortos.
Horst Kuchenbecker

25 maio 2011

PROJETO DE ABERTURA DE ESCOLAS BÍBLICAS

CONGREGAÇÃO EBENÉZER - ÁREA DE ENSINO

PROJETO DE ABERTURA DE ESCOLAS BÍBLICAS

OBJETIVOS:

ð Anunciar Cristo para as crianças proporcionando:

. Salvação pela fé no Salvador;

. Filiação à Igreja Luterana ou outra denominação evangélica;

. Crescimento na fé e conseqüente vida consagrada a Deus;

. Convivência cristã com familiares, amigos e comunidade;

ð Promover pequenos cursos para crianças, famílias e comunidade que favoreçam o desenvolvimento físico, emocional, espiritual e social tais como: esporte, higiene, alimentação, artesanato, música, reforço nas tarefas escolares, alfabetização de adultos, etc..

ESTRATÉGIAS:

1. Definir local levando-se em consideração situações como:

- disponibilidade de espaço físico para as aulas podendo ser uma casa de família cristã e bem

relacionada na vizinhança, sede comunitária, igreja, outros;

- número de crianças residentes nas imediações do local;

- atuação de outras igrejas no local.;

2. Definir data de início.

3. Expor o assunto à congregação buscando auxílio material e oração.

4. Definir tipo de programa: Escola Bíblica de Férias, Classe de 5 dias...

5. Definir um programa de conteúdos para as aulas bíblicas.

6. Definir uma equipe de trabalho composta de pessoas consagradas a Deus, com disponibilidade

de tempo e dons para o trabalho requerido:

- 1 coordenador

- 2 professores por classe

- 2 monitores por classe

7. Realizar treinamento da equipe envolvendo planejamento de aulas, noções de psicologia

infantil, relações humanas, preparação de materiais ilustrativos..

8. Providenciar equipamentos para o local como: cadeiras, mesas, tripés, flanelógrafo, armário...

9. Preparar todo o material das aulas: figuras das histórias, versículos, cânticos, atividades

manuais.....

10. Preparar estratégia de divulgação e colocá-la em prática: convites, cartazes, faixas, visitas a

casas, escolas...

FUNÇÃO DA DIRETORIA:

· Fazer os contatos para escolha do local ( residência, sede...)

· Equipar o local para o trabalho.

· Prover recursos financeiros para aquisição do material necessário às aulas.

· Supervisionar o andamento do planejamento e trabalho após iniciado.

FUNÇÃO DO COORDENADOR:

· Escalar professores e monitores.

· Assistir as aulas e fazer ajustes, se necessário.

· Prover as necessidades dos professores para o bom andamento das aulas, buscando ajuda junto à liderança, pastor e/ou diretoria.

· Prestar relatório à liderança de ensino, pastor e diretoria.

FUNÇÃO DOS PROFESSORES

· Preparar-se com estudo, oração e material de aula.

· Comparecer com pontualidade sempre que estiver escalado.

· Ministrar as aulas completas ou pedir ajuda a outro para determinadas partes como música...

· Ficar atento para situações de crianças que necessitem de encaminhamento específico nos aspectos disciplinares, espirituais, emocionais ou materiais e fazer os devidos encaminhamentos.

· Relatar suas necessidades ao coordenador.

FUNÇÃO DOS MONITORES

· Preparar-se para a tarefa escalada.

· Comparecer com pontualidade sempre que for escalado.

· Conduzir atividades de fixação da aula.

· Fazer anotações de nomes e endereços e encaminhá-los para registro.

· Auxiliar na disciplina da aula.

FUNÇÃO DA LIDERANÇA DA ÁREA:

· Supervisionar todo o andamento do trabalho em todos os locais.

· Prover recursos de ensino para todos os locais.

· Prover treinamento constante para todas as equipes.

· Manter contato constante com coordenadores e professores.

FUNÇÃO DOS PASTORES:

· Supervisionar o correto ensino da Palavra de Deus.

· Apoiar espiritualmente a equipe.

· Participar do treinamento das equipes.

· Assistir aulas e buscar relacionamento com crianças, pais e comunidade.

· Visitar lares das crianças e orientar outras pessoas nas visitas.

FUNÇÃO DAS OUTRAS ÁREAS:

ÁREA DO TESTEMUNHO:

· Planejar e fazer a divulgação do trabalho.

· Fazer visitas e relatórios das mesmas ao pastor.

· Providenciar literatura para uso das famílias das crianças.

ÁREA DO SERVIÇO SOCIAL

· Programar e ministrar cursos de interesse da comunidade local.

· Apoiar alunos e familiares com recursos materiais.

23 maio 2011

1 PEDRO 3.15-22

Sexto Domingo da Páscoa
16 de maio de 1993
1 Pe 3.15-22
Contextualização do domingo no Ano Eclesiástico
Sexto domingo de Páscoa. Ainda persiste o clima de alegria pascal entre os cristãos. A mensagem: "Ele vive!" removeu o "aguilhão da morte". A tristeza da morte cedeu lugar à esperança da vida eterna. A igreja primitiva reconhecia a necessidade de perpetuar a alegria pascal. E fê-la expressar-se em seus "intróitos", "graduais" e " pró- prios" dos domingos entre Páscoa e Pentecostes. A cristandade atual não pode ficar cativa, em mera atitude contemplativa, diante da alegria pascal. Que o Espírito Santo nos assista, para que, a partir das reflexões sobre a vitória de Cristo sobre o "último inimigo" - a morte - "respondendo ao amor de Deus", possamos levar "Cristo para todos".
As Leituras do Domingo
SI 98 - O autor conclama a igreja a tributar o louvor devido ao Senhor, pois, salvou o seu povo de modo maravilhoso. Que esta proeza seja conhecida "aos olhos das nações" (Cristo para todos). Há também uma referência à promessa de salvação, feita por Deus a Abraão e sua descendência para sempre. Maria, em seu "Magnificat”, também usa palavras sintonizadas com este salmo: ”... A fim de lembrar-se de sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência para sempre, como prometera aos nossos pais" (Lc 1.54,55).
Indícios levam a crer que este salmo foi compilado para a festa da Páscoa do ano 515 a.C. para enaltecer a Deus pela maravilhosa libertação do cativeiro babilônico. Um grande motivo para jubilar. Nosso motivo para exultar é ainda maior: A libertação do cativeiro espiritual. Éramos escravos do diabo, do pecado e da morte. Agora somos li- vres. Alegria deve reinar em nossos corações.
At 17.22-31 - O apóstolo Paulo tenta levar "Cristo para todos" os atenienses, apresentando-o como o Filho do Deus eterno. Ele o faz, citando termos elementares do Credo Cristão. Usa elementos do 1o e 2o Artigo. Entretanto, ao mencionar a ressur- reição dos mortos, é rejeitado pelos ouvintes. Mas nem por isso deixou de seguir pre- gando a Cristo aos demais homens.
I Pe 3.15-22 - Consideremos os destinatários da carta de Pedro. Diferentes dos atenienses, já eram cristãos. Eram forasteiros da Dispersão. Muitos eram cidadãos livres. Mas todos eram estrangeiros - sem cobertura dos direitos de cidadania. Confes- sando uma "nova religião", estavam sujeitos ao ódio e às arbitrariedades dos cidadãos da terra. Outros eram escravos, ocupados em trabalho braçal, escribas, professores e médicos. Como escravos, eram destituídos de qualquer direito e entregues "à própria sorte". Embora a opinião pública impusesse alguns limites a maus tratos contra escra- vos, os donos podiam ordenar açoitá-los até a morte, ou crucificá-los. No contexto desta carta, o apóstolo Pedro não emite juízo contrário ou favorável à prática de escra- vidão. Ele quer levar o cristão a dar-se conta dos seus direitos e deveres na sociedade em que vive, e leva uma vida digna do evangelho.
Jo 14.15-21 - É difícil ser cristão? E manter a fé? É humanamente impossível. Se ninguém pode dizer: Senhor Jesus, senão pelo Espírito Santo, também ninguém consegue permanecer na fé e enfrentar todas as dificuldades e tentações sem o apoio dele. Por isso Jesus promete aos seus discípulos a presença constante do Consolador.
Exegese do texto
V.15 - "Santificai a Cristo em vossos corações" - i.e. reconhecei a Cristo como Senhor e temei-o como tal, tendo receio de macular de forma alguma sua santidade (Is 8.13). Sejam "agiói" - guardai-vos incólumes do pecado, não descendo às suas provocações. Pois, em assim procedendo, os cristãos estarão preparados para a "apologían" de sua fé, não só perante autoridades, mas a todo aquele que "pedir razão da esperança que há em vós". Confessar a Cristo não se restringe a umas poucas palavras, mas inclui a refutação de críticas, preconceitos e equívocos dos adversários - até mesmo o martí- rio.
V.16 -"... Com mansidão e temor..." - O testemunho, porém, não deve ser com envolvimento carnal, passional, com agravo pessoal, como o retrucar áspero, a gros- seria e as ameaças. Estes modos de tratamento destoam do louvor ("ação de gra- ças"), que deveria povoar sempre a mente, a boca e a vida do cristão - sepultadas as artimanhas do velho homem.
V.17 - A colocação dos termos deste versículo leva à expressão suscinta e axiomá- tica daquilo que já havia sido dito em I Pe 2.15,19, 20 e 3.14 e, mais adiante, em 4.14-19 - a saber, que o "sofrer por causa da justiça... é grato a Deus". Pedro não está que- rendo dizer que devemos assumir atitude masoquista, mas que o nosso "temor" a Deus, nossa mansidão, sejam constantes e superem a injustiça, sem "pagar mal por mal". Louvor e júbilo não podem ser tolhidos por sofrimento de injustiça. O motivo de nossa alegria é maior: O amor de Deus, que nos libertou de um sofrimento incompara- velmente maior - a condenação eterna. Assim, quando ele nos reservar sofrimentos, suportemo-los como resposta ao que nos amou primeiro. O versículo seguinte de nosso texto nos ajuda nesta compreensão...
V.18 - Em vez de "apétanem" (morreu), alguns textos originais (Vaticanus, Koinê e outros) usam "épaten" (sofreu). Esta última forma parece coadunar melhor no contex- to da linha de raciocínio: existem sofrimentos causados por injustiça? - Cristo também os sofreu! Sendo inocente! E, ainda, pelos pecados de outrem! Mas, depois disso, as- sumiu o "status gloriosus", com o qual também nos acena.
V.19 - Este versículo trata especificamente da descida de Cristo ao inferno, depois de vivificado. Acerca dos "espíritos em prisão", a Escritura conhece apenas um único lugar para confinar "espíritos": o "Hades", o "gehena" de fogo (Mt 5.22 e 18.9). Como subsídio para pregação de Lei, temos como informação de que o inferno é uma reali- dade! E que, efetivamente, muitos já estão nele na qualidade de "espírito em prisão", a saber, os que no tempo de Noé (et al) "foram desobedientes".
V.20 - "... A longanimidade de Deus..." pode ser usada como elemento de evange- lho no sermão, como referência a um prazo "sobremodo oportuno" e tempo suficiente para aceitar a salvação - o caminho que desvia da condenação. Deus é longânimo em Cristo. Urge, pois, neste "tempo sobremodo oportuno" proclamar "Cristo para todos".
Neste versículo há também um elemento de consolo para nossa missão. É a pala- vra "poucos". Os fiéis sempre são minoria ("pequenino rebanho"). Sua missão será sempre evangelizar a "maioria", para que não venham a tornar-se em "espírito em prisão".
V.21 - Este versículo faz referência ao batismo - por meio do qual Deus nos faz a proposta de uma boa consciência. E a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos tornou isto possível (Rm 6.4). Também após sua ressurreição, Jesus instituiu o batis- mo (Mt 28.19), com a promessa que salva (Mc 16.16). Sem a ressurreição não tería- mos batismo, não haveria salvação, nem boa consciência para com Deus. Sem ressur- reição não haveria justificação. A redenção foi consumada na cruz (Jo 19.30), mas a ressurreição é o próprio atestado de Deus para seu efeito (At. 2.36, 38 e 5.30-32).
Considerações homiléticas
O grande objetivo do apóstolo é consolar os fiéis. Fortalecer-lhes a fé. Animá-los a continuar carregando a sua cruz - a perseverança! Seu escrito não é prioritariamente de cunho doutrinário. É mais de característica ilustrativa e de persuasão.
Nossa sugestão para mensagem é a seguinte:
SANTIFICAI A CRISTO COMO SENHOR
I - Ele sofreu pelos vossos pecados Il - Agora está entronizado à destra de Deus OU ALEGRAI-VOS SEMPRE NO SENHOR, porque ...
I - Na igreja militante ele mitiga vosso sofrer
lI - Na igreja triunfante vos dará um galardão eterno
Elberto Manske

ATOS 17.16-34

7 – PAULO EM ATENAS - Atos 17.16-34
16 – Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade.
17 – Por isso, dissertava na sinagoga entre os judeus e os gentios piedosos; também na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali.
18 – E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele, havendo quem perguntasse: Que quer dizer esse tagarela? E outros: Parece pregador de estranhos deuses; pois pregava a Jesus e a ressurreição.
19 – Então, tomando-o consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas?
20 – Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas, queremos saber o que vem a ser isso.
21 – Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades.
22 – Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos;
23 – porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio.
24 – O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas.
25 – Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais;
26 – de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação;
27 – para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós;
28 – pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração.
29 – Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem.
30 – Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam;
31 – porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.
32 – Quando ouviram falar de ressurreição de mortos, uns escarneceram, e outros disseram: A respeito disso te ouviremos noutra ocasião.
33 – A essa altura, Paulo se retirou do meio deles.
34 – Houve, porém, alguns homens que se agregaram a ele e creram; entre eles estava Dionísio, o areopagita, uma mulher chamada Dâmaris e, com eles, outros mais.
16 “Enquanto Paulo os esperava em Atenas…” Agora Paulo está em Atenas! Não foi seu plano pessoal que o conduziu até o centro intelectual daquele tempo. Foi o plano de Deus. Havia sido empurrado adiante, de cidade em cidade, de fato “empurrado” pelas reiteradas oposições e perseguições que não lhe permitiam permanecer em nenhum lugar. Timóteo está com ele nos primeiros dias, até que o envie com muitas preocupações para Tessalônica (1Ts 3.1s). Era difícil para ele ficar sem os companheiros e irmãos de oração nesse mundo estranho. Aquilo que ele vê em Atenas “revolta seu espírito”, enche seu coração de tristeza e ira. Não consegue contemplar os numerosos templos e as estátuas de deuses com um catálogo turístico na mão, deleitando-se como entendido da arte. Sendo alguém que conhece o Deus santo e vivo, ele constata aqui todo o descaminho da humanidade. Ainda que naquele tempo Atenas não fosse mais a grande Atenas clássica, mas uma cidade relativamente pequena, não obstante era “a cidade universitária” da época, o lugar em que muitos buscavam sua formação intelectual. E as pessoas de um lugar assim passavam ao largo de Deus, apesar da abundância de suas “religiões” e de suas “visões de mundo”. Por isso “seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade”.
17 Paulo não despende os dias com espera ociosa e revolta interior. Procura as pessoas e o diálogo com elas. Ele é e não deixa de ser missionário. Também Atenas possui uma comunidade judaica e uma sinagoga. Como sempre, Paulo vai primeiramente até eles e “discutia na sinagoga com judeus e com gregos tementes a Deus” [NVI]. Não ouvimos nada sobre um sucesso como em Tessalônica ou Beréia. Contudo, também o movimento na praça lhe oferece oportunidade para falar “todos os dias
com aqueles por ali se encontravam” [NVI]. Será que Teófilo, ao ler a presente passagem do livro dedicado a ele, se lembrou de Sócrates, que muito tempo antes também falara dessa forma com as pessoas em Atenas? Sem dúvida Sócrates era pobre em comparação com o que Paulo possuía em sua mensagem para as pessoas!
18 Nesses diálogos ele rapidamente encontra “filósofos”. A filosofia, “amor pela verdade”, é em si algo grandioso. Faz parte da nobreza do ser humano que ele pergunte, busque pela causa e natureza do mundo, busque por sua própria existência, pelo alvo e sentido de sua vida. Não deixa de ser significativo quando esse questionamento acaba, como no caso de Sócrates, na confissão “Eu sei que nada sei”. Perigosas, porém, tornam-se a filosofia e a visão de mundo quando proporcionam à pessoa um abrigo para a medrosa e orgulhosa proteção de seu eu, no qual ele se esquiva justamente das perguntas que pressionam sua existência. Obviamente é diferente se o ser humano busca o sentido da existência com os “epicureus”, realizando-o ao desfrutar a vida com requinte, dando somente de ombros para tudo o que vai além disso, ou se ele reconhece com os “estóicos” uma razão universal acima das coisas, tentando, através de seu engajamento em prol da virtude, libertar a pessoa da coerção dos destinos extrínsecos e do domínio de suas pulsões e paixões. Contudo, nenhum dos dois acerta a verdade essencial, ainda que estóicos como Sêneca ou o imperador Marco Aurélio humanamente possam conquistar nossa sincera admiração. Ambas as filosofias conhecem tão somente o ser humano desprendido de Deus e baseado sobre si mesmo, que jamais poderá encontrar sua verdade real, uma vez que ela reside – como Paulo depois evidenciará – justamente em seu relacionamento com o Deus vivo.
Além disso, não havia naquela época em Atenas nenhum mestre realmente importante da filosofia. Todos tinham um aspecto precário e epigônico, sendo justamente por isso repletos do orgulho da ingenuidade. É o que aparece imediatamente nas controvérsias com Paulo. Alguns são rápidos em sentenciar: “Que quer dizer, afinal, esse catador de grãos?” [tradução do autor]. A zombeteira ofensa “catador de grãos” foi tomada da imagem do pássaro que recolhe seus grãos aqui e acolá. Um “catador de grãos” é, portanto, uma pessoa que, sem pensamento próprio e sem clareza sistemática, se apropriou de uma porção de idéias pelo ouvir e pela leitura, as quais ele passa a transmitir aleatoriamente como verdade sua. É assim que essas pessoas vêem justamente alguém como Paulo! Outros ouvem apenas superficialmente o que Paulo afirma sobre Jesus e a “Anástasis” (a “ressurreição”). Afinal, haviam ouvido dizer que das bandas do Oriente sempre surgiam novos deuses e deusas, cujos cultos misteriosos eram propagados em uma geração cansada e decepcionada. Logo, esse “Jesus” e essa “Anástasis” também devem ser um novo casal de deuses. Nessa opinião também pode estar contida uma ameaça velada: será que esse judeu também estava trazendo uma “religio licita”, uma religião permitida pelo Estado? O Estado romano era muito disposto a fazer concessões às religiões de outros povos. No entanto, o mínimo exigido era que se tivesse essa concessão quando se queria divulgar “novos deuses”.
19/20 Será que na seqüência realizou-se um processo oficial? Esta é a interpretação preferencialmente dada à frase seguinte: “Então, tomando-o consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas.” Nesse “tomar” e “levar” de Paulo – são expressões que de fato também ocorrem na linguagem do tribunal – estaria expressa uma espécie de “aprisionamento” e nas “coisas estranhas”, uma acusação. Nesse caso, o “Areópago” não seria tanto o local sobre a “colina de Ares” a noroeste da Acrópole, a famosa fortaleza de Atenas, mas uma autoridade que nos tempos romanos aparentemente exercia uma certa supervisão sobre as religiões, as escolas e os bons costumes. No entanto, as referências a esse respeito são incertas e controvertidas. Acima de tudo: a descrição de Lucas caracteriza a situação de forma bem diferente. Após concluir seu discurso “Paulo se retirou do meio deles”. Isso não combina com um “interrogatório”, por mais brando que possa ser. E, como justificativa, a pergunta “Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas?” não é seguida por uma referência a quaisquer determinações oficiais, mas uma descrição da desperta curiosidade da população ateniense.
21 “Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades.” Paulo chamou a atenção de uma série de pessoas com seus diálogos. Não estão entendendo bem o que ele diz. Há o desejo de ouvir “o que vem a ser isso” de uma forma conexa e básica, explicando o que, afinal, está querendo dizer com tudo isso. Opta-se, para tanto, por um local de reuniões nobre e até certo ponto oficial, o Areópago. É um momento memorável este,
quando Paulo precisa expor sua mensagem nesse local de Atenas! Agora ele realmente está na “Europa”. Sem dúvida é uma Europa degenerada. Não existe a busca séria e sincera pela verdade. Aqui prevalece a avidez pela novidade e pelo novíssimo. Na melhor das hipóteses, o evangelho poderá ser “interessante” por alguns dias, como novidade sensacional, dando rapidamente lugar a outra atração. O “insucesso” em Atenas pode ser esperado de antemão. A manifestação pública de alguém como Paulo nessa cidade não traz consigo nenhuma guinada decisiva, mas permanece um episódio sem grande repercussão. Apesar disso Lucas se encontrava sob a direção do Espírito Santo quando descreveu esse “episódio” de modo tão exaustivo e com todo o vigor literário. Porque também o “insucesso” possui um significado profundo para a causa de Deus. O evangelho sempre é também “cheiro de morte para morte” [2Co 2.16]. O “não” do ser humano vale perante Deus da mesma forma como seu “sim”. Em Atenas Deus torna eternamente claro o que Paulo depois declara aos coríntios, em 1Co 1.26ss: Deus escolheu “aquelas que não são, para reduzir a nada as que são.” Cumpre-se a jubilosa oração de gratidão de Jesus, de que Deus o “ocultou aos sábios e instruídos e as revelou aos pequeninos” [Mt 11.25]. Nós constantemente queremos conquistar justamente “Atenas” e desprezamos as “mulheres de Filipos”. Deus, porém, sem dúvida também leva pessoas como Paulo até Atenas, fazendo com que lutem com todo o empenho pela cidade. Porém Paulo não escreve uma “carta aos atenienses”, enquanto sua carta aos filipenses lança até hoje sua luz radiante.
Agiremos bem se não analisarmos imediatamente os pensamentos do discurso de Paulo. Poderíamos ouvi-los de modo demasiado abstrato e, conseqüentemente, sem vivacidade, e não como testemunho de um pregador autêntico, que permite que sua palavra seja moldada pelo local em que ele se encontra e pelo que ele tem diante dos olhos ali. Permitamos que um cristão que esteve pessoalmente no Areópago nos descreva o impacto sofrido ali. “Um mundo de indescritível beleza se estende a nossos pés. Numa estimulante diversidade alternam-se morros e planícies, terra e mar. Lá embaixo, a cidade, cujo quadro revela singularmente o templo de Teseu, com seu mármore de coloração vermelha e dourada, e a planície de Ática, com seus jardins e hortos de oliveiras e os dois rios Quefisor e Iliso. Como uma ampla auréola acomodam-se em redor as montanhas vestidas de perfume colorido, o Himeto, o Pentêlico, a cúpula audaciosa e repentina do Licobeto e, ao norte, fechando o círculo, o Parnaso. A oeste, porém, lampeja o mar, o vasto e majestoso golfo de Egina.
Nessa colina postou-se Paulo, cercado por muitos atenienses. Cerca de cem pessoas podem assentar-se lá no alto. Paulo não viu apenas a beleza da natureza. Diante de seus olhos descortinavam-se também com esplendor cativante as obras mais belas e magníficas que a arte humana jamais construiu e elaborou sobre a face da terra.
Paulo tinha olhos abertos para todas as coisas. É como se ele apenas lesse seu famoso discurso do Areópago a partir dessa natureza, dessa arte e desse povo que o fitava de todos os lados” (D. L. Schneller, “Paulus”. Leipzig 1926, p. 210).
Na seqüência, vejamos o próprio discurso do Areópago, com o qual Lucas obviamente não queria apenas caracterizar uma hora histórica, mas ao mesmo tempo visava mostrar como Paulo evangelizava de forma geral no mundo grego.
22 Os pontos de conexão e introdução da evangelização eram ao mesmo tempo amáveis e hábeis. Enquanto inicialmente a distorção e o obscurecimento, com os quais pessoas no auge da cultura trocam “a glória do incorruptível pela imagem de homem corruptível” (Rm 1.23; cf. o comentário sobre esse texto na Série Esperança, p. 46ss) o irritaram, ele agora, ao questionar as pessoas, constata nisso uma conotação “religiosa”. De fato Atenas era considerada na Antigüidade como “cidade devota”. Toda a “religião” é ambígua com tal. Pensa falar de “Deus” de algum modo, mas ao mesmo tempo é cega para Deus.
23 Parece a Paulo que os próprios gentios se aperceberam dessa ambigüidade, quando erigem altares para “deuses desconhecidos”. Com isso eles mesmos admitiam que, apesar de todos os seus templos, imagens e sacrifícios, não chegavam à certeza grata e tranqüila que tinha uma consciência clara de Deus. É com essa incerteza e com o anseio que inconscientemente lhe subjaz que Paulo estabelece contato: “Aquilo que adorais assim, sem o conhecer, é o que eu vos venho anunciar” [TEB]. Também hoje a evangelização entre pessoas “religiosas” não poderá proceder de outro modo. No entanto, ocorre imediatamente a séria palavra sobre o “desconhecimento”, que retorna com clareza no final do discurso (v. 30). Uma palavra dura. Toda a “filosofia” e “ciência”, das quais Atenas (e todo o mundo civilizado do Império Romano!) se orgulhavam tanto, não deixa de ser “desconhecedora” em relação ao mais sublime e mais necessário, e sobre o que é preciso ter plena certeza! “Anseio e busca”
religiosos não constituem distinção, mas miséria e culpa! O mensageiro de Jesus, porém, não acaba com essa “ignorância” pelo fato de, por sua vez, trazer o verdadeiro “conhecimento”, a “filosofia religiosa” superior, mas por “anunciar”. Aqui no Areópago, diante de filósofos, Paulo não pode agir diferentemente do que fazia também na sinagoga de Tessalônica ou de Antioquia: anunciar a mensagem (At 13.32; 17.3). Pois também Israel é “desconhecedor” como Atenas, motivo pelo qual teve de cumprir as palavras dos profetas justamente por não compreendê-las (At 13.27). Em toda a humanidade, portanto, o evangelista terá de afirmar: “Aquilo que adorais assim, sem o conhecer, é o que eu vos venho anunciar.”
24 Na seqüência o discurso adquire imediatamente sua característica decisiva. Sem dúvida também a filosofia e visão de mundo gregas eram em grande medida “religiosas” e falavam de “deus”. Mas nessa visão de mundo religiosa o ser humano e o mundo aparecem sempre como algo certo e claro, a partir do qual o “divino” surge no horizonte do pensamento como o incerto e duvidoso. Contra essa circunstância se projeta o testemunho do mensageiro de Deus. Ele não tem opiniões, conclusões, raciocínios que se ocupam do imenso desconhecido, mas ele depõe diante de seus ouvintes com certeza plena, jubilosa e respeitosa: “Deus!” Deus é a única coisa certa, firme e clara. Somente a partir dele o mundo, a humanidade e o indivíduo passam a ter firmeza e sentido. “Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe” – o mundo com toda sua esplendorosa beleza, que pode ser visto do Areópago, apenas possui consistência na palavra criadora de Deus. ”Ele, o Senhor do céu e da terra” – de máquina gigantesca que gira sem sentido e sem rumo em torno de si mesma o mundo somente passa a ser uma construção com sentido porque possui esse Senhor.
25 Conseqüentemente, será sem sentido toda a “religião” que deseja prestar serviços a Deus, construir belas casas para Deus e lhe fazer gentilezas, “como se de alguma coisa precisasse”, enquanto ele, afinal, é totalmente aquele que dá, e não aquele que necessita, uma vez que sua natureza divina reside justamente em criar e doar. Com essas palavras, qualquer “religião”, a grosseira e a refinada, está sendo arrancada pela raiz, e abre-se espaço para o evangelho, para a palavra de Deus que doa e presenteia.
26 Em seguida o olhar se volta para o ser humano e sua história. Com que desprezo Atenas, com todas as suas glórias culturais, flagrantes a cada pessoa no Areópago, olhava para os povos “bárbaros”! Como os homens gregos, que estavam escutando a Paulo, tendiam a nem sequer reconhecê-lo plenamente como pessoa! Porém diante de Paulo a humanidade aparece como uma única grande unidade: “De um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra.” É óbvio que isso não transforma a humanidade numa massa indiferenciada. O missionário Paulo já conheceu muitas etnias, ouvindo sobre sua história, e agora encontra-se em chão eminentemente histórico na colina do Ares. Mas também essa história não é nada em si mesma. Novamente é Deus o fundamento claro e firme até mesmo nas imprevisíveis ondas e tempestades da história da humanidade: “Fixou os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação.”
27 Além disso, o “sentido” da história de todos os povos e raças é somente um único: “Buscar a Deus se, porventura, tateando, o possam achar”. No entanto, será que Deus pode ser achado? Independentemente das dificuldades que possamos ter com isso, Paulo estava convicto de que sim. Em Rm 1.19s ele o escreveu de próprio punho: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas”. Da mesma maneira, embora de forma muito simples para pessoas sem estudo, ele o disse em Listra (At 14.15-17). Agora expressa o mesmo fato de forma diferente:
28 “Bem que não está longe de cada um de nós, pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos.” A rigor, aqui isso está sendo dito de modo mais penetrante do que na carta aos Romanos. De fato não existe uma verdadeira “incredulidade para com Deus”! Todo ser humano é abrangido por Deus e se depara com o poder eterno e com a divindade de Deus não somente nas obras, mas também pode ter cada pulsação vital, cada movimento muscular, cada segundo de sua existência unicamente “em Deus” e por meio dele! É isso que Paulo vê expresso no verso do poeta grego Arato: “Também somos descendência dele” [NVI]. Porque justamente a vida interior, as emoções e o interior da pessoa também são dádiva de Deus. A citação é audaciosa! O sentido dado pelo próprio poeta é o daquele parentesco natural e inato com Deus, daquele “Deus em nós” que constitui o exato oposto da
mensagem bíblica. Por essa razão é que a pessoa religiosa moderna também não consegue ouvir o evangelho, porque ela imediatamente se escuda por trás desse pensamento: de qualquer modo sou parte de Deus, encontro Deus na natureza, trago Deus dentro de mim mesmo! Paulo, porém, vê a mesma verdade numa luz completamente diferente. A percepção de Deus na natureza torna-se acusação inescapável contra o ser humano, tornando-o indesculpável (Rm 1.20). Ademais, a condição real do ser humano como imagem de Deus (Gn 1.27) nada mais produz do que revelar todos os descaminhos e trevas do atual ser humano “gentio”.
29 Que descaminho e deturpação quando se pensa agora que “a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem.” O mesmo vale para situações em que as imagens de Deus não são mais feitas de ouro, prata e pedra, mas de idéias e opiniões. O mais nobre “deus dos filósofos” não passa de um “fabrico da arte e imaginação do homem”. Também nesse caso acontece aquela “inversão” própria de todas as religiões: o “fabrico”, o ser humano, torna-se “fabricante” de Deus em pedra ou em pensamentos. O Deus vivo é transformado em “imagem divina” que o ser humano adapta segundo sua conveniência. O Único, integral e completamente “Sujeito”, é transformado em “objeto” do ser humano, de sua filosofia da religião, de sua teologia, de seu culto a Deus.
30 Na seqüência a evangelização desemboca em seu verdadeiro alvo: o chamado ao arrependimento, lançado aos gregos eruditos com a mesma seriedade que a Israel no dia de Pentecostes. Enquanto naquela ocasião o chamado designava Israel como uma “geração corrompida” [NVI], e sua suposta justiça como pecado, ele agora chama a orgulhosa cultura e sabedoria dos gregos e toda a sua “religião”, com todos os templos e cultos, de “ignorância”. Deus “não levou em conta os tempos da ignorância”. Será que a carta aos Romanos fala de outro modo? Sem dúvida, ele diz que o mundo dos povos foi “entregue” à degradação moral por terem mudado a verdade de Deus em mentira. Paulo não afirma isso agora, no Areópago. No entanto, é obrigado a dizer tudo em todos os lugares? Será que um evangelista não tem todo o direito de, vez ou outra, deixar de pronunciar certas verdades numa situação? Por outro lado, também a carta aos Romanos está ciente de que Deus se contém, “tolerando” temporariamente os pecados (Rm 3.25), e que somente “no tempo presente” traz o desfecho de tudo. Esse “agora” decisivo é proclamado por Paulo também no Areópago!
31 Esse “agora” possui peso total porque Deus “estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça”. Essa mensagem do juízo constitui de fato uma verdade, que se demonstra “à consciência de todo homem, na presença de Deus” (2Co 4.2). Paulo conta com o fato de que também no peito dos atenienses, que o escutam por curiosidade, a testemunha dessa poderosa verdade poderá levantar sua voz. Em tempos antigos se realizava julgamentos de sangue aqui sobre a colina do Ares. Todo juízo humano, porém, constitui tão somente uma sombra antecipada do juízo infalível que o próprio Deus realizará. Ali no escuro penhasco do Areópago se prestava sacrifício às “erínias”, aquelas terríveis deusas da vingança, que perseguiam implacavelmente todo ímpio. Também nessa prática residia um pressentimento “do dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus” (Rm 2.5). Essa verdade obviamente não é uma “novidade” artística ou filosófica, sobre a qual se pode discutir com interesse! Paulo realça toda a realidade e proximidade desse juízo com o fato de que o Juiz já foi nomeado e incumbido. De novo Deus ocupa o centro da cena como aquele que age. Por isso ninguém poderá escapar desse juízo. Deus julga todo o “mundo”. E o faz “com justiça”. Nele não prevalecerá o renome da pessoa, a fama literária, um relacionamento influente, uma anedota elegante. Todos eles, os quais Paulo tem diante de si, terão de responder por sua vida diante desse juízo e de sua insubornável justiça.
O texto subseqüente permite duas interpretações diferentes. Literalmente consta: “fé oferecendo a todos”. Isso pode ter o significado de “tornar digno de crédito a todos”, “fornecer uma prova a todos”. Nesse caso, Paulo teve a intenção de afirmar que o fato de Deus ter realmente autorizado esse homem e nenhum outro como Juiz do juízo universal é comprovado pelo fato de que o fez ressurgir dentre os mortos. Como mais tarde perante Félix, com o encerramento, assim formulado, de seu discurso, Paulo teria salientado a gravidade da responsabilidade perante Deus, chamando a partir dele para o arrependimento, sem mostrar o caminho da salvação desde já em pormenores. Isso poderia e deveria ser feito somente quando também aqui brotasse a pergunta: o que haveremos de fazer para ser salvos? O discurso do Areópago ficaria exatamente paralelo à pregação de Pedro em Pentecostes. No entanto, também pode-se fundamentar a compreensão antiga: “A todos Deus oferece a fé redentora.” Nesse caso, Paulo anuncia, no fim de seu discurso, o evangelho propriamente dito e
mostra a seus ouvintes que o Juiz universal instituído por Deus agora ainda é o Salvador vivo ressuscitado da morte, ao qual podem vir todos, a fim de obter perdão e salvação. Esse entendimento é plausível porque, diferente da pregação de Pedro em Pentecostes, o chamado ao arrependimento constitui o verdadeiro vetor do discurso do Areópago. No dia de Pentecostes o “arrependei-vos” vem a ser somente a resposta à aflita pergunta dos ouvintes. Aqui, com toda a ênfase de que “todos, em toda parte” se arrependam, ele constitui o conteúdo da própria proclamação. Nesse caso, porém, era preciso dizer para onde, afinal, esse “arrependimento” deve levar. Do contrário ele se tornaria uma manobra moral arbitrária, incapaz de ajudar a alguém. Um chamado ao arrependimento sem citar o Salvador ao qual podemos chegar seria outra vez uma “lei”, e não “evangelho”. É por essa razão que também no dia de Pentecostes consta, além do “arrependei-vos”, imediatamente o segundo elemento “e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados”. Diante de gentios, porém, era cabalmente necessário citar de modo concreto aquele em quem de fato podiam encontrar o “Deus desconhecido”. Nessa situação a “ressurreição” desse “um varão” se revestia de importância decisiva. Somente podemos “chegar” e “dar meia-volta” em direção de uma pessoa viva e presente. Do contrário o chamado ao arrependimento se torna uma frase devota, e seu cumprimento uma mera emoção da vida interior, sem verdade e sem poder.
Obviamente o discurso de Paulo no Areópago não durou os poucos minutos de que necessitamos para ler hoje o presente texto. Recordamo-nos aquilo que ficou claro já na p. … [42] sobre a transcrição que Lucas faz dos discursos em Atos. Especialmente na decisiva parte final Paulo não disse apenas uma frase, que da forma como está teria de ser completamente incompreensível para os ouvintes. Lucas somente fornece o “lema” dessa parte. De qualquer forma, seu conteúdo estava claro para os leitores de At. De maneira extensa, porém, Lucas reproduziu a “introdução” e a primeira parte do discurso, porque visava mostra-nos com isso que assim Paulo falava a “gentios”, assim ele abria o caminho, assim ele trazia seus ouvintes até o ponto em que ele podia apresentar sua mensagem propriamente dita. A prova de que nem mesmo em Atenas, com seus “filósofos”, Paulo deixou essa mensagem central à margem é trazida pelo relato sobre seus diálogos na praça: “Jesus” e “a ressurreição” evidentemente estavam no centro deles (cf. v. 18). Porventura agora, na análise mais detalhada, ele repentinamente deixaria fora de seu ensino, para o qual fora expressamente convidado, essas “coisas estranhas” [v. 20], justamente sobre as quais estava sendo perguntado?!
32 De forma cordial Paulo fez uma conexão com a situação em que se encontravam seus ouvintes, mas em seguida não os poupou de nada: ao invés de discussões interessantes, o chamado ao arrependimento; ao invés de pensamentos elaborados, o duro fato do juízo universal; ao invés de moral e religião pessoais, a ressurreição de um Salvador, no qual é preciso crer. Não é de surpreender que a maioria dos atenienses permaneceu incompreensiva, utilizando a palavra da ressurreição de mortos para zombar publicamente. Mas outros, apesar de tudo, se tornaram pensativos e declaram: “A respeito disso te ouviremos noutra ocasião.” É claro que isso pode muito bem ser uma maneira cortês de se esquivar, como mais tarde no caso de Félix (At 24.25). A “outra ocasião” nunca se concretizou, o hoje se tornou uma oportunidade perdida. Nenhum evangelista, nem mesmo alguém tão poderoso quanto Paulo, pode evitar isso.
33 “Com isso, Paulo retirou-se do meio deles.” Não acontecem novos diálogos como no dia de Pentecostes ou como em Antioquia da Pisídia. Por sua iniciativa Paulo tampouco tenta concretizar esses diálogos a qualquer custo. “Ele se retira do meio deles”. Outra vez ocorre a atitude “apostólica” que já encontramos em At 13.46. Os mensageiros de Jesus conhecem a árdua luta pela salvação de pessoas perdidas, até com o empenho da própria vida (1Ts 2.8), mas não “correm atrás”, não “mercadejam” o evangelho a qualquer custo. Têm consciência de toda a magnitude da dádiva que trazem; quem não deseja obtê-la, há de correr imperiosamente para a morte. “A palavra da cruz é loucura para os que se perdem”, escreveu Paulo aos coríntios (1Co 1.18). É por isso que os mensageiros de Jesus sabem “retirar-se”, como fez o próprio Senhor Jesus, o que significa uma sentença de morte (Jo 8.21).
34 Na seqüência, porém, acontece o fato admirável que nos impede falar de um “insucesso” de Paulo em Atenas: “Houve, porém, alguns homens que se agregaram a ele e creram; entre eles estava Dionísio, o areopagita, uma mulher chamada Dâmaris e, com eles, outros mais.” Um membro do supremo tribunal foi atingido e comovido pelo anúncio do juízo final, e com ele uma mulher de renome e mais alguns. Não chegou a ser formada uma igreja completa; não temos conhecimento de uma “carta aos atenienses” escrita por Paulo. Contudo, quando Paulo saúda aqueles cristãos da
Grécia que em seus lugares “invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo” na primeira carta aos corintios (1Co 1.2), ele também tinha em mente aqueles que viviam com fé em Jesus em Atenas.

1 PEDRO 3.13-22

Vencer o mal pelo bem – 1Pe 3.13-22
13 – Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom?
14 – Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados (sois). Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados;
15 – antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós.
16 – fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo.
17 – porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal.
18 – Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito.
19 – no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão
20 – os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água,
21 – a qual, figurando o batismo, agora também vos salva, não sendo a remoção da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo,
22 – o qual, depois de ir para o céu, está à destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potestades, e poderes.
13 E quem é que vos fará mal, se vos tornais zelosos do bem? Uma vez que o bem é um termo muito genérico, cada um tem de examinar o que é concretamente o bem na sua situação (cf. Rm 12.2b). Pedro quer que os cristãos se tornem “zelosos” (literalmente: zelotes) “do bem”. Ele conta com dificuldades por parte do ambiente, particularmente quando este apresenta uma atitude hostil. O que deverá ser feito nesse caso? Pedro declara: “Tornai-vos zelosos do bem!” Pessoas zelosas buscam o bem de forma tão sincera e incondicional que não perguntam se ele é fácil ou difícil de obter. Assumem grandes esforços e renúncias para alcançar o alvo, de sorte que deles se irradia um enorme efeito. Tornai-vos zelosos, diz Pedro. Não o somos por natureza, tampouco após a conversão. É nisso que o cristão precisa crescer. Na frase Quem é que vos fará mal (ou prejudicará), se vos tornais zelosos do bem? está subjacente a convicção de que dificilmente alguém lhes fará mal por bem. Afinal, essa oportunidade nem mesmo é concedida aos adversários. É preciso muita ousadia para causar mal a um benfeitor conseqüente. A maioria das pessoas não é capaz disso.
14 O apóstolo, porém, é sóbrio e não levanta falsas promessas. Ainda que o v. 13 aponte para reação normal, pode ocorrer o fato de que a prática do bem acarrete sofrimento: Mas ainda que tenhais de sofrer por causa de justiça – bem-aventurados (sois)! A formulação ainda que tenhais de sofrer expressa: as igrejas não se encontram todas sob sofrimento intenso, mas deparam-se constantemente com esta possibilidade. Não deve surgir nenhuma autocomiseração debilitante, e tampouco uma falsa cautela. Não, se sofrerem por ser zelosos do bem, isso acontece por causa de justiça. Então vale para eles a exclamação de Jesus (Mt 5.10): bem-aventurados sois! Uma bem-aventurança dessas expressa uma invejável felicidade. O termo ocorre tanto no mundo grego como no judaísmo, mas especialmente na literatura sapiencial do AT (p. ex., Pv 3.13; Sl 1.1; 2.12; Jó 5.17; mas também 1Rs 10.8). No NT ele ainda é aprofundado pela combinação com a salvação. Porque quem por meio de Jesus participa do governo messiânico de Deus deve ser declarado verdadeiramente ditoso. São particularmente impactantes as bem-aventuranças em que ressoa este paradoxo: pessoas a rigor consideradas dignas de pena são declaradas bem-aventuradas (Mt 5.3-6,9-12; 1Pe 3.14; 4.14). Isso as ajuda a superar o sofrimento de maneira autêntica, a assumir uma atitude de fé ativa, afirmativa inclusive no sofrimento. A bem-aventurança, porém, vale somente para aqueles que sofrem por causa de justiça. Aqui justiça é usada no sentido do bom e justo governo de Deus, no sentido do contraste radical com tudo o que é mau, como também em 1Pe 2.24. Por causa da justiça vale a pena sofrer. Novamente cabe ponderar que isso não vale somente para tempos de perseguição. Todo fiel que é prejudicado por causa de sua justiça pode saber que a palavra vale também para ele: bem-aventurado!
Em uma situação dessas tudo depende de uma atitude acertada de fé: Não os temais nem vos deixeis confundir (ou: intimidar, abalar, assustar). É uma citação de Is 8.12s. Lá o sentido é que os crentes não devem temer o que teme o povo infiel. Temor diante de pessoas seria um sinal de incredulidade. Para a força de resistência da igreja de Deus é decisivo em todos os tempos que ela não se atemorize nem se deixe confundir. Ao longo de todos os séculos, infundir medo na igreja de Deus é um princípio dos seus inimigos. Quanto têm sucesso, a luta já está perdida, chegou a apostasia. Quem teme pessoas não depositou sua confiança inteiramente em Deus, e quem crê a rigor não temerá pessoas. Conseqüentemente, tempos de perseguição são sempre tempos de aprovação da fé.
15 Como, porém, é possível superar o temor diante de humanos? Pelo temor a Deus. Santificai, porém, o Senhor, o Cristo, em vossos corações, sempre preparados para defender diante de cada um que demanda de vós razão da esperança em vós. “Santificai o Senhor” ainda é citação de Is 8.13. Lá a expressão estabelece o contraste com o temor perante pessoas. “Santo” significa “separado”. Logo “santificar o Senhor” significa atribuir-lhe a posição absolutamente superior a tudo
que é humano. Santificai o Senhor em vossos corações significa: deixai condicionar vosso coração exclusivamente pela realidade de Deus. O coração é o centro do pensar, planejar e sentir humanos. Se o Senhor for santificado ali, estará assegurada a premissa de um destemido testemunho de sofrimento e fé aqui. Em Isaías (8) “o Senhor” é Javé. É significativo que Pedro transfira o nome dado para Deus no AT (Javé, em grego kýrios) para Cristo. Sempre preparados para defender diante de cada um que demanda de vós razão da esperança em vós – essas palavras estão estreitamente ligadas às anteriores. Considerando que a formulação na realidade expressa uma ligação estreita, porém indefinida das duas partes da frase, provavelmente temos de inferir uma relação de reciprocidade. Preparados para a defesa estão aqueles que santificam o Senhor no coração. E aqueles que se mantêm prontos para responder ao mundo realmente santificam a Cristo. Por meio dessas palavras, porém, fica explícito que a prontidão para responder não é primordialmente uma questão de capacitação e de formulação correta, mas que ela depende de que Cristo de fato seja santificado nos corações dos que o confessam, de que estejam totalmente repletos dele. “Pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At 4.20) – foi com essa atitude que os apóstolos se tornaram testemunhas tão sensacionais. E daquilo que o coração está repleto, “disso falam os lábios” (Mt 12.34). A continuação do versículo pode ser aplicada tanto a situações tranqüilas como a tensas. Podemos traduzir: “sempre preparados para responder a cada um que demanda uma palavra (tradução literal) de vós”, mas da mesma forma também: “para a defesa (ou até mesmo responsabilidade) perante cada um que demandar de vós prestação de contas”. Os termos gregos aqui empregados apresentam um amplo leque de significados. Dessa maneira são condizentes com todos os cristãos, com cada um em sua realidade. Se um cristão em tempos tranqüilos é solicitado a dar uma palavra sobre a esperança em seu íntimo ou se outro se encontra em um inquérito diante de autoridades, cada um é desafiado por Deus a estar sempre preparado, mais precisamente para cada pessoa – Pedro conta com a circunstância de que os próprios concidadãos comecem a indagar. Essa sempre será a situação mais favorável. Assim a mensagem de Jesus não é pregada por imposição, mas por solicitação. Cabe notar que o questionamento do entorno não é motivado tanto pela fé dos cristãos, mas por sua esperança! Uma esperança viva chama atenção, porque na realidade as pessoas deste mundo somente produzem para si esperanças enganosas (ou melhor: ilusões), de modo que efetivamente não “têm esperança nenhuma” (1Ts 4.13). Porém a esperança que o Ressuscitado incendeia nos seus (1Pe 1.3) confere algo radiante à vida deles, algo atraente. Ressoa em todo o seu falar e agir. Não importa se são capazes de formular sua esperança em palavras dignas de crédito, mas se de fato possuem uma esperança verdadeira. Então também serão capazes de fornecer uma orientação clara. Sua esperança designa ao mesmo tempo o patrimônio de esperança que está preparado para eles (cf. o comentário a respeito de 1Pe 1.3). Não a erudição, mas a realidade vigente é decisiva para saber se será demandada deles uma razão (ou “uma palavra”) de sua esperança.
16 Também é relevante a maneira como o cristão dá a resposta, ou seja: com mansidão e temor, tendo boa consciência, para que naquilo em que sois difamados sejam aniquilados os que ofendem vossa boa conduta em Cristo. Ressalta-se a “mansidão” porque até mesmo no testemunho dos que são zelosos pelo bem facilmente se imiscuem no fanatismo cego, desavenças e sentimento de superioridade. Desse modo surge um clima de controvérsia que deturpa muitas coisas. Por trás do espírito de desavença se oculta o egocentrismo, mas por trás da mansidão (= cordialidade, benevolência) está a dedicação amorosa ao próximo. A resposta do cristão aos semelhantes penetra a mente, quando apresentada com inteligência, mas no coração, quando for marcada pela cordialidade de Jesus para com adversários insensatos. Jesus afirma sobre si: “Sou manso…”. E nos conclama: “tomem sobre si o meu jugo e aprendam de mim” (Mt 11.29)! A mansidão, porém, precisa vir acompanhada do temor. Novamente se tem em vista o temor a Deus, aquele cuidadoso levar a sério da santa presença de Deus. Ela protege contra o risco de silenciar sobre a verdade do evangelho por temor diante de pessoas. O temor a Deus faz com que levemos a sério a perdição dos que estão longe de Deus, bem como a circunstância de que a mensagem de salvação para eles foi confiada a nós. O temor a Deus previne contra a falta de retidão e a vanglória, bem como contra a autoconfiança. Quem teme a Deus, portanto, cuidará para continuar dependente do agir de Jesus (Jo 15.5!) e para não ser pessoalmente um empecilho para esse agir. Ter boa consciência – a consciência, literalmente: o “saber com” é a instância no ser humano que atesta se ele seguiu ou não aquilo que reconheceu como bem. É significativo que nossa consciência é um permanente “saber com” de todos os nossos atos e que essa participação no saber nos acompanhará até a eternidade. Não haverá esquecimento, e a
consciência é insubornável. É mais fácil matá-la do que fazer com que chame de bom, em sua constituição, algo reconhecido como mau, ou de mau algo reconhecido como bom. Ela é independente da vontade do ser humano, mas dependente da vida dele. É por isso que, segundo este versículo, uma boa consciência e uma boa conduta formam uma unidade. Podemos parecer impecáveis diante de pessoas. Podemos nos eximir do veredicto delas, contudo não do veredicto de Deus na consciência. Para ter boa consciência cumpre viver de modo tão puro diante de Deus que ele não testemunhe contra nós na consciência. “Boa” é a consciência que Deus não deixa inquieta por causa de pecado e vergonha secretos, ocultos. A que resultado, porém, levam mansidão, temor e boa consciência? Para que naquilo em que sois difamados sejam aniquilados os que ofendem vossa boa conduta em Cristo. Novamente se prevêem desde já difamações por causa de Jesus (1Pe 2.12; 4.14). Isso vale também para épocas não caracterizadas por perseguições. No bojo do testemunho correto de Jesus sempre consta também o juízo de Deus sobre os pecados das pessoas. Muitas vezes os impenitentes reagem a esse testemunho procurando identificar pecados nos cristãos. Para isso existe somente uma resposta apropriada e promissora: uma boa conduta em Cristo. Se alguém está em Cristo – isso significa: recriação da personalidade (2Co 5.17), i. é, ser configurado por Cristo em toda a existência. É isso que produzirá uma nova vida, uma boa conduta. Por mais que os difamadores a ofendam, mais cedo ou mais tarde terão de ser aniquilados (ou: envergonhados).
17 Difamadores aniquilados, envergonhados – em todas as circunstâncias isso não significa que parem de difamar ou perseguir. Pode ser que apesar disso, ou justamente por isso, as testemunhas de Jesus tenham de sofrer, porque os difamadores foram atingidos na consciência (cf. At 5.33; 7.54; etc.). Em todos os casos é necessário perseverar inabalavelmente na boa conduta. Porque é melhor sofrer como quem pratica o bem, se for essa vontade de Deus. Quem segue o Crucificado precisa contar sempre com a possibilidade do sofrimento. Entretanto não está à mercê da arbitrariedade dos inimigos, mas sob a vontade de Deus. É Deus quem determina isso e quem conserva em sua mão a forma e duração do sofrimento. Novamente (como em 1Pe 2.20) sofrer pela prática do bem é uma formulação muito genérica. Pode significar: sofrer, apesar de praticar o bem, ou também: porque e enquanto se pratica o bem. Porque é melhor sofrer pela prática do bem… que pela prática do mal. Nos v. 13-16 tratava-se de superar os difamadores pela prática do bem. O v. 17 sintetiza tudo isso: no sofrimento daqueles que fazem o bem reside uma força que supera. O bloco subseqüente torna isso palpável pelo exemplo de nosso Senhor Jesus.
18 Porque também Cristo morreu por nós de uma vez por todas por causa dos pecados, como justo por injustos, para nos conduzir a Deus, em verdade morto na carne, mas vivificado no espírito. As conjunções aditivas com que começa esse trecho mostram que ela é concebida como fundamentação (“porque”) e como paralelo (“também”) ao bloco precedente. O fato de que o bloco anterior é fundamentado de forma tão exaustiva e central com o anúncio agora subseqüente de Cristo visa a realçar sua relevância. A partir do sofrimento de seu Senhor os discípulos devem aprender a perseverar na prática do bem até mesmo no sofrimento, confiando que esse sofrer possui força de superação (“é melhor, mais eficaz”). Ao mesmo tempo a justaposição dos dois trechos lança luzes sobre o entendimento dos seguintes: sofrer sob a prática do bem sempre é eficaz, o sofrimento de Cristo aconteceu até no mundo dos mortos e nos lugares celestiais, com efeito retroativo sobre as gerações passadas e prospectivo sobre as gerações futuras da humanidade. A formulação porque também Cristo indica que, de certa maneira, também o padecimento de seus seguidores possui eficácia para a eternidade. A saber, quando por meio dele se evidencia sua esperança, de sorte que, em função disso, pessoas distantes da fé indagam pela razão dessa esperança (v. 15). A chance que reside em tal sofrimento foi demonstrada mais tarde pelas grandes perseguições ao cristianismo. Não obstante, no final do bloco procuramos em vão por um paralelismo de síntese entre o sofrimento de Cristo e o dos cristãos. O sofrer de Cristo é incomparável. A conseqüência que Pedro deriva desse trecho está em 1Pe 4.1, onde consta: “Armai-vos do mesmo pensamento.”
Cristo morreu de uma vez por todas por causa dos pecados. A asserção de que seu sacrifício propiciatório vale de uma vez por todas é muito significativa Explicita a diferença fundamental entre os sacrifícios de animais da antiga aliança e o sacrifício que alicerça a nova aliança. Enquanto as oferendas da antiga aliança tinham de ser constantemente repetidas, e apesar disso não eram capazes de realmente afastar os pecados (Hb 10.11), o sacrifício de Cristo é único, definitivo, eternamente eficaz, por ter anulado para sempre o pecado de todo o mundo. Por isso consta aqui: por causa dos pecados (cf. também Gl 1.4; Rm 4.25). De acordo com toda a Sagrada Escritura o pecado constitui a
miséria fundamental do ser humano, porque causa a separação de Deus (Gn 3; Is 53.5; Jo 3.19). Ele é tão grave que somente a morte do Filho inocente de Deus foi capaz de expiá-la (Cl 1.21s). Somente quem reconheceu o peso do pecado consegue entender a cruz de Jesus. Somente ele poderá compreender que dádiva imensurável é o perdão dos pecados. Morreu como justo por injustos, esses dois termos devem ser vistos de forma absoluta e irrestrita. Jesus era inteiramente justo, era “o Justo” por excelência (Is 53.11; At 3.14; 7.52; 22.14; 1Jo 2.1) e não precisaria ter morrido por si mesmo. Contudo também por injustos tem sentido absoluto, valendo sem restrições para todos. Todos são injustos por natureza, vale dizer: perdidos. O justo morreu por injustos, o que para nós significa redenção, mas para ele, sofrimento imerecido. Assumiu esse sofrimento pela vontade incondicional de liberar o caminho de volta ao Pai para nós e levar-nos até Deus. Para nos conduzir a Deus – esse é o alvo de seu sacrifício. Dessa forma de fato existe acesso até Deus para pecadores. O que todas as religiões almejam, embora jamais o tenham alcançado nem jamais possam alcançar, a saber, encontrar um caminho até Deus – precisamente isso se tornou realidade em Jesus, o Crucificado. Quem pensa encontrar um acesso a Deus sem perdão dos pecados não tem a menor idéia da santidade de Deus e da perdição humana. Seu pecado o separa de Deus. Quem ainda se encontra em pecados nunca poderá ter paz com Deus. No entanto, pelo fato de que Jesus morreu por nós, por causa dos pecados, todo aquele que se entregar a ele realmente chegará a Deus (Jo 14.6). Jesus em verdade foi morto na carne, mas vivificado no espírito. Pela concatenação da frase, a ênfase cai sobre a segunda afirmação: vivificado no espírito. Depois que Jesus foi morto na carne – dano maior os inimigos não lhe puderam causar – foi vivificado no espírito. Isso não significa que o Espírito de Jesus tivesse morrido. Não existe na Escritura nenhuma referência a que Jesus também tivesse morrido “no espírito” (cf. Lc 23.46). O termo grego zoopoiein pode significar, além de “vivificar”, também “avivar”. Podemos entender isso no sentido de Rm 8.36 (“Somos mortificados o dia todo”) e de 1Ts 3.8 (“porque agora vivemos, se estais firmes no Senhor”). Das citações depreendemos que as palavras “matar”, “viver”, bem como “avivar”, podem ser entendidas no sentido da obtenção de forças adicionais de morte, respectivamente de vida. Cristo foi morto na carne, porém no espírito foi avivado para uma eficácia nova, maior (cf. Fp 2.9). Morto na carne pode dar um reforço a essa idéia. Sua encarnação significou rebaixamento, limitação de sua eficácia. Agora isso foi desfeito, e o espírito está completamente livre para uma atuação irrestrita, de abrangência mundial.
19 No qual ele também foi aos espíritos na prisão e lhes anunciou. Portanto, foi no espírito que Cristo chegou aos espíritos e lhes “anunciou”, a saber, sua vitória. Não apenas à terra e ao mundo dos mortos, mas também aos mundos celestiais chega o poder eficaz de seu padecimento (v. 22). “No qual”, ou também “pelo qual”, respectivamente “mediante” o espírito, independentemente de como traduzirmos, precisamos interpretá-lo assim: Cristo como espírito e Cristo em espírito. Logo não permaneceu inativo depois de morrer na cruz. Apto agora para se dirigir a esferas que não alcançou na carne, proclamou sua vitória também no mundo dos mortos, tornando-a eficaz. Os “espíritos na prisão” são os espíritos dos falecidos (cf. 1Pe 4.6). Também eles não são entes inativos ou “nadas” desligados. Encontram-se “na prisão”, podendo ouvir a mensagem de Cristo e com certeza também responder e tomar decisões. Isso combina com as demais informações do NT: ao morrer o ser humano de fato perde o corpo carnal, mas permanece preservado como pessoa (Mt 10.28; Lc 16.22ss; 23.43; At 7.59; Hb 12.23; Ap 6.9). Nesse caso o falecido pode ser designado tanto como “alma” como também “espírito”, conforme evidenciam as passagens bíblicas citadas. Prisão (literalmente: local de depósito ou vigilância) é o local em que se encontram os espíritos dos adormecidos, ou seja, o reino dos mortos (em grego: Hades). A palavra prisão expressa, sem sombra de dúvida, que cada pessoa continua vivendo, quer queira ou não, quer aceite isso ou não. Visto que os espíritos precisam aguardar o julgamento na prisão, essa palavra também pode ter a conotação de um local inóspito, penoso, de vigilância, no qual os mortos se encontram contra a vontade. Lá, pois, lhes foi anunciado, literalmente: “trazida mensagem de arauto”. Neste ponto Pedro é extremamente reservado e não afirma nada específico acerca do conteúdo da mensagem. Alguns intérpretes pensam que ele teria anunciado juízo aos mortos. No entanto, pelo fato de Pedro empregar aqui o mesmo termo usado no anúncio da mensagem de salvação aos vivos podemos seguramente depreender que também aqui tem em mente uma oferta de salvação (cf. também 1Pe 4.6). A esses mortos que não conseguiram captar em vida a salvação por meio de Cristo ele deve ter oferecido a possibilidade de que a aceitem no reino dos mortos. A boa nova deste trecho da chamada “descida ao inferno” é que
ele se voltou aos que faleceram antes de seus dias na terra, anunciando-lhes sua vitória. Essa “descida” ao mundo dos mortos também é atestada em Rm 10.7; Ef 4.9s; alude-se a ela também em Mt 12.40 e em outras passagens.
20 No v. 20 são descritos em detalhe os espíritos na prisão: os quais outrora foram desobedientes, quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto era preparada a arca, na qual poucos, a saber, oito almas, foram salvos através da água. Pedro caracteriza os contemporâneos de Noé como “desobedientes”. Isso somente pode ser afirmado sobre pessoas que tinham certa noção da vontade de Deus. A longanimidade de Deus aguarda. Isso multiplica a culpa deles. Perseveraram na desobediência por muito tempo, embora tivessem diante de si a advertência de Deus: a construção da arca. – Porventura o Senhor teria trazido a mensagem somente àquela geração, aos contemporâneos de Noé? Será que não são citados aqui como exemplo para todas as gerações? Contudo, por que justamente eles? Eles evidenciam com especial clareza os efeitos de seu sacrifício. Se ele avança até mesmo em direção aos que faleceram na prístina proto-história, comunicando a essas pessoas permanente e conscientemente desobedientes a mensagem redentora e oferecendo-lhes assim sua salvação consumada – quanto mais sua oferta valerá para todas as demais gerações dos séculos passados, a todos que já viveram sobre a terra até Adão! Naquele tempo era na arca que se decidia a salvação ou perdição. Para todos ela representou anúncio do juízo do dilúvio e exortação de Deus. Contudo tornou-se salvação para alguns poucos. Na qual (entrando) poucos, a saber oito almas, foram salvos através de (da) água (cf. Gn 7.7; 9.18). Para dentro da qual significa: para serem salvas, as oito almas tinham de entrar na arca. Somente é salvo quem atende o chamado de Deus, quem é obediente e vem até o lugar de salvação e abrigo. A menção expressa do pequeno número dos salvos – poucos, a saber, oito almas – poderia salientar especialmente o contraste com a grande multidão dos que se perderam. Ou será que o pequeno número pretende evidenciar o número muito maior dos que foram salvos por Jesus? Seu poder redentor na realidade é incomparavelmente maior que o da arca. Naquele tempo somente oito salvos, agora incontáveis. Uma vez que na presente passagem ocorre uma comparação tipológica, como afirma expressamente o v. 21, essa última interpretação é a mais provável. No NT encontramos com freqüência a comparação de um exemplo do AT (typos) com uma figura oposta do NT (antítypos). Nessa forma interpretativa impressiona o superlativo tipológico, a saber, a comprovação de que a salvação trazida por Jesus é maior que o exemplo do AT. Poucos foram salvos através de (da) água. Podemos traduzir – novamente de forma livre, no estilo daquele tempo: “salvos por água”. É o que fazem alguns exegetas, interpretando a água como meio através do qual foi salva a família de Noé. Em termos gramaticais estabelece-se uma boa conexão com o v. 21: a qual (a água) salva também a vós. Contudo impõe-se uma objeção de conteúdo. A água certamente também foi meio de salvação, uma vez que sustentou a arca. Mas foi primordialmente elemento de juízo. Por isso daremos preferência à tradução que, embora seja incomum, é mais precisa: (entrando) para dentro da arca as oito almas foram “salvas atravessando (a) água”. Conseqüentemente, o texto está aberto para o entendimento duplo: as oito almas foram “salvas através da água” como também “salvas atravessando a água”. Essa formulação corresponde exatamente ao evento do juízo do dilúvio descrito no AT.
21 A qual agora também salva antitipicamente a vós como batismo, que não é uma remoção da sujeira na carne, mas uma prece dirigida a Deus por boa consciência mediante a ressurreição de Jesus de Cristo. Gramaticalmente parece plausível relacionar o pronome relativo (“a qual”) com a água. Afinal, a água trouxe à família de Noé a verdadeira salvação por sustentar a arca. E também hoje, na nova aliança, existe de certo modo uma salvação por água. No entanto, o pronome relativo também pode se referir à totalidade do acontecimento da salvação no v. 20. A salvação na nova aliança é descrita, no presente versículo, como antítipo, como contra-figura. O exemplo do AT (o typos) é a salvação de Noé e sua família atravessando a água. No dilúvio aconteceram simultaneamente juízo e salvação. As oito almas foram salvas mediante a água atravessando a água do juízo. Agora existe um processo análogo na nova aliança, a saber, o batismo. Também no batismo acontece redenção atravessando-se a água do juízo: o ser humano é batizado na morte de Cristo (Rm 6.3s) e assim simultaneamente entregue a Cristo. Salvação atravessando a água, esse é o evento que liga typos e antítypos. No entanto, no dilúvio e também no batismo o que redime é o acontecimento todo, não a água em si.
O batismo não é uma remoção da sujeira na carne, mas uma oração dirigida a Deus por boa consciência mediante a ressurreição de Jesus Cristo. Agora a comparação tipológica dos dois
processos de salvação foi deixada para trás, e o pensamento prossegue com uma nova ilustração. A água passa a ser vista como elemento de purificação, o que corresponde ao entendimento original do batismo, segundo o qual ele é expressão de um lavar. O batismo não é uma remoção da sujeira na carne. Por meio dele de fato acontece uma limpeza, mas isso pode ser interpretado mal. Por isso se destaca: mergulhar e lavar o ser humano exterior ainda não é batismo. O batismo é uma remoção da sujeira no ser humano interior – é assim que a frase deveria ser concluída no paralelismo com a precedente. No entanto, isso novamente poderia levar a mal-entendidos, como se o batismo em si, pela mera execução, descartasse os pecados. Não, diz Pedro: O batismo é uma prece dirigida a Deus por uma boa consciência. Aqui se torna claro que no batismo se trata de um acontecimento no interior do ser humano, de um voltar-se pessoal do batizando para Deus. Assim o batismo caracteriza-se como um ato em que o batizando expressa o primeiro desejo de obter uma boa consciência para com Deus. Confissão dos pecados e subordinação da vida ao senhorio de Deus formam uma unidade indissociável, e no batismo Deus confirma o pertencimento a ele, o perdão dos pecados e conseqüentemente a boa consciência. Logo, está em jogo, no batismo, uma boa consciência. O versículo sob análise mostra que a consciência possui uma relevância central em nosso relacionamento com Deus. Enquanto uma pessoa for “morta” em “transgressões e pecados” perante Deus (Ef 2.1), ela tem uma consciência embotada perante Deus. Há de silenciá-la até certo ponto, fechar-se para a voz de sua consciência. Contudo uma boa consciência jamais será tão embotada. A consciência adormecida constitui praticamente um indício de que a referida pessoa está distante de Deus. Quando, porém, Deus fala para dentro da vida de um ser humano, a consciência acorda. A luz da palavra e do Espírito de Deus revelam à pessoa seu pecado, e dessa maneira sua consciência se torna inquieta. E, quanto mais claramente Deus lhe falar e instar com ele, tanto mais o ser humano se assusta com seu pecado. Porque fica evidente para ele que o pecado significa inimizade contra Deus (Rm 5.10). Por isso forma-se uma boa consciência naqueles que se voltam para Deus, entregando-lhe a vida, confessando-lhe os pecados (1Jo 1.9; Tg 5.16; Mt 3.6; At 19.18) e suplicando por perdão em virtude do sacrifício de Jesus, mas em seguida também recebendo o anúncio dele na autoridade do Ressuscitado (Mt 18.18; Jo 20.23). Quando isso acontece na vida de uma pessoa ela obtém paz com Deus (Rm 5.1) e por decorrência também adquire uma boa consciência como expressão desse novo relacionamento de paz e fé do filho perante Deus. A partir disso lança-se novamente uma luz sobre o batismo. Como prece a Deus por uma boa consciência e como resposta de Deus, ele constitui a síntese e a confirmação da conversão do ser humano. Na medida em que o batismo e o voltar-se para Deus formam uma unidade, os batizandos daquele tempo podiam decididamente considerar o batismo como sua redenção. Ele era de fato o acontecimento conclusivo, atestador, no evento geral da redenção.
O último segmento da frase: pela ressurreição de Jesus Cristo pode ser relacionado com a frase toda, especialmente, porém, com a prece por uma boa consciência. Batismo, perdão dos pecados e boa consciência, tudo repousa sobre o evento da ressurreição. Porque o fato de que a morte de Jesus na cruz expiou os pecados dos seres humanos foi confirmado por Deus através da ressurreição de Jesus Cristo, que de fato sustenta toda a salvação (1Pe 1.3). Sem ela não haveria perdão dos pecados. Sem ela tampouco o batismo teria eficácia, e uma boa consciência não passaria de imaginação. Por isso é somente o Ressuscitado que dá aos discípulos a incumbência: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19).
22 Que está à direita de Deus, após ter adentrado os céus e lhe terem sido subordinados anjos, potestades e poderes. Para entender esse versículo é importante relembrar com clareza a grande linha de todo o bloco: o sofrimento por causa de Jesus é eficaz (v. 17), isso pode ser constatado no sofrimento de Cristo (v. 18). Por meio de seu padecimento obteve poder de ação no mundo dos mortos (v. 19s), na terra (v. 21) e no céu (v. 22). À direita de Deus refere-se ao poder governamental divino (Sl 110.1; Mt 26.64; At 7.55; Hb 1.3; etc.). Cristo está à direita de Deus: isso vale desde já. “Foi-me dado todo o poder nos céus e na terra” (Mt 28.18). Ele adentrou os céus. Nessa concepção os céus são a essência da esfera de poder de Deus. Foi para lá que ele tinha de “ir”, para assumir a plenipotência de Deus. Pelo fato de lhe ter sido dado todo o poder nos céus e na terra, foram também sujeitos (literalmente: subordinados) a Jesus os anjos, potestades e poderes. A Bíblia testemunha que existe um sem-número de poderes acima e também debaixo da terra (Fp 2.10), que por sua vez influenciam os poderes e potestades terrenos, e principalmente nós humanos (em geral sem sabermos
e sem querermos isso). Em função disso, são citados pela Bíblia no plural. E o NT sempre fala deles em uma lista de várias expressões, p. ex., “anjos, potestades e poderes” ou “anjos, principados e potestades” (Rm 8.38). Segundo a Escritura existem de um lado poderes angelicais que servem a Deus e que se destacaram com especial nitidez no nascimento de Jesus, em sua tentação, sua luta no Getsêmani, sua ressurreição e ascensão, mas muito mais se destacarão em seu retorno (igualmente em Mt 13.39; 18.10; 26.53; At 5.19; 8.26; Hb 1.13s; Ap 1.1; etc.). Por incumbência de Deus eles intervêm na história do mundo e da igreja (cf. também Dn 10.13,20; certamente também 2Ts 2.6s). Por outro lado existem também anjos, potestades e poderes a serviço de Satanás (Mt 25.41; 2Co 12.7; 2Ts 2.9; Ap 13.2). São eles os mencionados quando Paulo afirma em Ef 6.12: “Nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (cf. Ef 2.2). Todos os anjos, poderes e forças foram subordinados a ele (Jesus). É o que também atesta Paulo: Deus fez Jesus “sentar à sua direita nos lugares celestiais acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no vindouro” (Ef 1.20ss; cf. também Cl 2.10-15; 1Co 15.24). Quem conhece a superioridade absoluta de Jesus sobre todos esses poderes, colherá desse saber confiança e esperança. Ainda que padeça, não precisará temer realmente esses poderes. Nas aflições depositará sua confiança em seu Senhor, que foi exaltado acima de tudo, para honrá-lo e servi-lo.