CURSO PARA PROFESSORAS(es) DE ESCOLA DOMINICAL (3)
Alta Floresta(RO), 14 de novembro de 2001
CAPÍTULO I
CONHECENDO AS CRIANÇAS
Quem são as crianças a quem vamos ensinar? Como são elas? Através da observação e estudo de um grande número de crianças, psicólogos têm relacionado características e níveis de crescimento que são típicos das diversas idades.
Características físicas
Ainda que ela esteja ansiosa por “fazê-lo sozinha”, uma criança de três anos ainda precisa de ajuda no vestir-se. Aos quatro anos geralmente está apta para vestir-se sozinha perfeitamente – só não consegue ainda amarrar os cadarços dos seus sapatos (elásticos apertados ou botões na parte traseira de suas vestes, porém, ainda reclamam por ajuda). A razão por que ela não domina esta simples tarefa é simplesmente porque o desenvolvimento dos seus pequenos músculos não atingiu ainda o ponto capaz de realizar essas e semelhantes tarefas com facilidade.
Assim, é especialmente durante os anos pré-escolares que a criança necessita exercitar os grandes músculos do corpo: braços, pernas e tronco. Atividades que exigem precisão no movimento de pequenos músculos (tais como colorir entre as linhas de um desenho) estão além da capacidade da maioria de três anos e são difíceis e enfadonhos para as de quatro e cinco anos. Isto explica também por que as pré-escolares são inquietas. São assim, não porque sejam más. Seus músculos necessitam de movimentos.
Com o desenvolvimento rápido dos músculos, que clamam por movimento, a criança pré-escolar tem sentidos que são penetrantemente vivos. Ela quer ouvir, cheirar, experimentar e tocar. “Deixe-me ver”, ela dirá, pelo que deseja dizer: “Deixa-me tocar, verificar, examinar sua forma e conteúdo”.
Características mentais
Uma observação comum entre os educadores das crianças pré-escolar é que elas são criaturas do “aqui agora”. Através dessa observação, eles afirmam que tais crianças não têm noção do tempo e quase nenhuma percepção de relações espaciais. “Ano passado” e “cem anos atrás” significam a mesma coisa para elas. Não é difícil encontrar numa creche uma criança que creia serem Moisés, Geoge Washington, Tiradentes e a vovó contemporâneos. Assim também, afirmações como “Belém fica a 100 km de Nazaré” têm pouco significado. “Uma estrada comprida”tem mais sentido para ela do que a afirmativa anterior.
Precisamente porque uma criança pré-escolar vive tão intensamente o presente, o alcance da sua percepção é curto. A maioria das crianças de quatro anos não consegue concentrar sua atenção numa atividade por mais de dez minutos; as de três, menos que isso e as de cinco, pouco mais. Esta é a razão por que as crianças pré-escolares necessitam mudanças freqüentes das atividades.
As crianças pré-escolares crescem rapidamente no domínio da linguagem. Uma criança normal aprende a falar aos dois anos e durante os anos seguintes aumenta rapidamente seu vocabulário. Muitas pesquisas indicam, por exemplo, que uma criança de cinco anos possui um vocabulário de duas mil palavras. Aos seis, ela terá duplicando o número – e entenderá cerca de vinte mil palavras. Mesmo, que ela esteja encantada pelas palavras e pela fala e esteja crescendo rápido no domínio da linguagem, sua habilidade verbal é ainda limitada, quando comparada à do adulto (um formando do segundo grau, por exemplo, entende cerca de oitenta mil palavras).
Não só o vocabulário no seu todo é limitado, mas também as classes das palavras que ela capta. Palavras que exprimem “som”, por exemplo, são muito significativas para ela. “Clop, clop, clop, iam as patas dos cavalos.” Palavras e sentenças que contêm alto grau de abstração são sem sentido: “A igreja é uma reunião dos redimidos”, por exemplo. Ela não tem nenhuma experiência passada que dê sentido a essas palavras.
Pelo fato de ser ela orientada pelos sentidos e pensar literal e concretamente, analogias e linguagem simbólica estão além da sua capacidade. Uma canção como “Na Rocha firme o Sábio construiu” (baseada na história de Jesus sobre “Os Dois Fundamentos”) será apreciada por uma
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criança pré-escolar. Ela tem preferência pelo ritmo e melodia simples. Poderá até visualizar a chuva caindo sobre as duas casas. Mas não conseguirá captar a ligação entre esta figura e a analogia ou lição: “Assim também edifique a sua vida sobre o Senhor Jesus Cristo”.
Com uma ativa imaginação e curiosidade sobre pessoas e coisas, a criança pré-escolar gosta de se fazer o papaizinho indo para o trabalho ou a mamãezinha preparando a refeição ou o guarda orientando o trânsito, etc. Brincadeira ingênuas, dramatizações, são portanto, meios pelos quais ela aprende de imediato.
Características sociais
Aos três anos, uma criança estará começando a falar com pessoas e coisas de seu meio ambiente. Ela, muitas vezes, ainda prefere brincar sozinha. Crianças de três anos poderão brincar lado a lado num grupo, mas normalmente não brincarão uma com a outra. Aos quatro e cinco, preferirão brincar com uma ou duas ao invés de com um grupo maior. Ela não aprendeu ainda o bastante para se relacionar num grupo maior – por exemplo, uma atividade como discussão em grupo.
A criança pré-escolar quer e necessita muito a aprovação dos adultos – não aquele exagerado tipo de amor sufocante que a cobre de abraços e conversa infantil, mas o reconhecimento e a aceitação sem cerimônia da criança como indivíduo; na firmeza que impõe limites ao seu procedimento; e a presença de um adulto acessível para criar nela o sentimento de segurança.
Características emocionais
Ciúme de irmãos e irmãs – particularmente um novo bebê – é uma característica comum da criança na idade pré-escolar. Muitas vezes, sentindo-se sem ajuda, fraca e dependente do amor e aprovação dos adultos, uma criança pré-escolar é facilmente tentada pelo pensamento de que o novo bebê poderá estar ultrapassando-a na preferência dos pais.
Uma vantagem no ensino às crianças pré-escolares está no fato de que é bem mais fácil descobrir os seus sentimentos internos profundos. Elas ainda não aprenderam os muitos estratagemas que os adultos usam para disfarçar seus verdadeiros sentimentos – a cara-de-pau, o riso forçado, a saudação excessiva, etc. Quando uma criança pré-escolar se sente mal, logo ficamos sabendo! Ela poderá chorar, ficar amuada, agredir, ou até apresentar um temperamento estranho. Por outro lado, podemos ler prontamente de sua expressão facial se contarmos com sua atenção ou interesse. E quando ela nos oferece um abraço ou um beijo – podemos estar certos de que ela está sendo sincera.
Coisas do dia-a-dia, que nós adultos consideramos comuns, são capazes de alegrar muito a uma criança: um raio de sol através da veneziana, o acariciar os pelos de um gatinho; o perfume de uma flor, o autêntico prazer dos braços e pernas em movimento.
Conhecendo as crianças
Ainda que seja possível e útil classificar as características normais das crianças pré-escolares, é bem mais salutar conhecer individualmente as crianças que vamos ensinar. Conhecer as necessidades e características “gerais” das crianças pré-escolares nos ajudará muito a planejar o tipo de escola dominical mais adaptável a elas. Mas porque desejamos tratar e ensinar crianças específicas – Raquel, Mauro, Carolina – iremos relacionar-nos a elas como pessoas únicas e individuais. Esta é a razão por que precisamos conhecer as crianças individualmente no nosso departamento.
Quais são os caminhos para conhecermos individualmente cada criança da nossa classe? Vamos relacionar os seguintes: observar e ouvir, dialogar com colegas, consultar outros, empatia (tendência para sentir o mesmo que outra pessoa).
Observar
Observe a criança. Observar significa muito mais que simplesmente olhar. Significa olhar e analisar ao mesmo tempo. Por exemplo, antes da aula você nota que Guilherme está impertinente (que incomoda) e agressivo. Então você levantará algumas questões para si mesmo: como Guilherme está se sentindo interiormente? Porque ele puxou a cadeira da Janete? O que posso fazer de melhor para ajudá-lo nesse momento? Tal observação sob questionamentos é bem mais proveitosa e eficaz desde que a
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preocupação seja a de entender os sentimentos profundos e o espírito que está por trás do comportamento exterior das crianças.
Na verdade, até mesmo a mais cuidadosa observação de uma criança não nos revelará tudo o que pretendemos saber sobre ela. Certas crianças são enigmas (um mistério). Nós não podemos imaginar por que Joãozinho “age dessa maneira”. Para compreendermos tais crianças-problema particularmente, faze-se necessário tomarmos nota daquilo que observamos por um período de tempo. Assim, examinando esse registro de nossas observações, poderemos descobrir um significativo padrão para esse comportamento enigmático (misterioso).
Tal registro, chamado “Arquivo de Anotações”, pode constar simplesmente de algumas notas escritas numa agenda ou em fichas. É importante, porém, que os apontamentos sejam feitos imediatamente após a nossa observação – antes que nossa memória altere o que observamos. Por outro lado, os apontamentos devem incluir só o que vimos realmente. A avaliação daquilo que vimos, vem depois – após termos compilado (reunido) quantidade suficiente de anotações. Através de anotar: “Guilherme parece impertinente” (inquieto) - uma avaliação, é melhor anotar tão-somente aquilo que aconteceu: “Quando estava na hora de começar a história, Guilherme disse: “Eu não quero ouvir história boba hoje”.
Ouvir
O velho dito de que “crianças precisam ser olhadas e não ouvidas”, leva à tragédia, quando aplicado ao ensino. Pois é através da conservação com a criança que nós podemos descobrir algumas de suas mais profundas aspirações, temores, prazeres e necessidades. Se nós procuramos conhecer a criança a fim de ensiná-la, há momentos em que precisamos ouvir atentamente o que ela tem a dizer. O ouvir a criança irá nos mostrar se ela nos entende naquilo que falamos. Através do ouvir, nós dizemos à criança que aquilo que ela tem a nos dizer é importante, que ela pode contar conosco, que nós a amamos e a respeitamos como pessoa.
Ouvir com percepção envolve prestar atenção não somente às palavras de uma criança, bem como aos sentimentos e atitudes que estão por trás das palavras. Por exemplo, quando a pequena Susana chega à classe e diz: “Professora, eu tenho um novo par de sapatos”- ela está tentando comunicar mais do que uma informação banal e óbvia. O que ela está realmente dizendo com toda alegria é : “Professora, você está notando como estou crescendo? Estou ficando uma moça grande! E me sinto tão feliz. . !” Um sorriso amigável da professora ou um olhar apreciativo para os sapatos podem revelar à Susana que não apenas ouvimos o que ela disse, mas que compreendemos sua satisfação.
O ouvir real envolve não somente escutar palavras, mas ser receptivo aos sentimentos e temperamentos emocionais. Como cada pai observador percebe, o que uma criança diz nem sempre é o que ela realmente quer dizer: “Eu odeio você, mamãe!” poderá realmente significar: “Mamãe, eu estou me sentindo mal interiormente; estou amedrontada e sozinha também. Eu necessito muito de você, mas não consigo dizê-lo”. A mãe atenciosa, que “ouve” o que a criança está sentindo, mais do que a criança disse, quem abraça carinhosamente nesse momento – ouviu a criança num sentido mais profundo e espiritual. Os mestres também necessitam desenvolver esse tipo de sensibilidade, quando ouvem as suas crianças. Como ficou dito anteriormente, eles encontrarão menos dificuldades no ouvir crianças do pré-escolar do que em qualquer outro nível, porque as crianças deste nível são ainda bem mais penetráveis. São autênticas e não aprenderam ainda as muitas maneiras que as crianças de mais idade e os adultos usam para esconder seus verdadeiros pensamentos e sentimentos.
Dialogar com colegas
Há momentos em que a nossa observação, mesmo o nosso cuidadoso ouvir, não são suficientes. Para confrontar uma criança individualmente com a mensagem do amor de Deus em Cristo, precisamos sentir a necessidade de repartir nosso interesse e observações com nossos colegas professores. Uma das vantagens da organização da equipe de professores descrita nos próximos capítulos é que ela torna eficaz o auxílio nos interesses mútuos entre os colegas professores do grupo. Uma parte do tempo na reunião dos professores deverá ser dedicada ao compartilhar das observações e problemas, e ao planejamento de estratégias destinadas a ajudar particularmente às crianças no crescimento em Cristo.
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Durante uma “clínica de problemas” numa reunião de professores, D. Laura observa: “Como vocês provavelmente sabem, Antônio tem provocado distúrbios ultimamente em minha classe. Tenho tentado descobrir o que é que está errado. Aqui tenho algumas coisas que descobri nas aulas passadas que me incomodaram um pouco”. Nesse ponto D. Laura deverá ler algumas observações que anotou no seu caderno de apontamentos.
D. Cléia comenta: “Sim, tenho notado que Antônio tem estado um tanto impaciente ultimamente. Na semana passada, quando ele ficou sob minha observação, notei que. . .” D. Nadir pergunta: “Você acha que o novo bebê na casa de Antônio tem alguma coisa a ver com isso? Segundo o seu caderno de apontamentos, foi justamente nesses dias que. . .”
Após repartir solidariamente pontos de vista, observações e colocações, o próximo passo na reunião dos professores deverá ser: Que estratégias deveremos tentar para ajudar Antônio? Um número de alternativas deve ser relacionado. Por exemplo, no caso do menino em foco, entrevista com os pais; dando a ele uma responsabilidade especial; transferindo-o para uma outra classe; sendo mais positivo no amor cristão para com ele, etc. Cada possível estratégia precisa ser avaliada antes de ser escolhida ou rejeitada. Após alguns domingos, a reunião de professores deverá novamente avaliar o progresso ou ausência de progresso que Antônio apresentou e pesquisar novamente as várias estratégias que devem empregar para ajudá-lo.
Consultar outras pessoas
Ao lado da análise com os auxiliares do departamento e da reunião dos professores, um professor interessado desejará conhecer os pais de cada criança da sua classe. Conhecer antecipadamente os pais ajudará o professor a buscá-los, quando surgir um problema particular. Em qualquer consulta aos pais, o professor será bem-vindo e terá um proveitoso encontro, se ele os procura como um amigo que deseja ajudar seu filho. Assim, ao invés de se tornar um juiz e colocar os pais na defensiva (“o seu filho é assim porque. . .”), o professor deverá simplesmente procurar a aproximação: “D. Margarida, gostaria imensamente se a senhora pudesse me dizer como proceder com o Antônio.”
Outras pessoas que devem ser consultadas, quando as necessidades particulares surgem, são o pastor, o superintendente da escola dominical, o superintendente do departamento, se houver, ou os professores anteriores da criança. Lembre-se, num sentido bem real somos todos membros de uma equipe – uma união de cristãos interessados – dedicados na tarefa de edificar-nos mutuamente na fé e vida cristãs.
Empatia
Uma parte considerável da eficiência do nosso ensino está intimamente ligada ao tipo de relacionamento que todos experimentamos com um amigo achegado. Pense um momento. Se você estivesse em profunda necessidade ou tivesse um terrível problema anterior, a quem você recorreria?
Agora pense sobre aquela pessoa e a razão por que você recorreria a ela com o seu problema. A razão estaria ligada a isto: “Ele é um exemplo especial de pessoa. Ele é um tipo de pessoa que não julgará você antes de ter todos os fatos. Ele o ouvirá solidariamente. Você sente que ele estará do seu lado; que ele procurará ver as coisas do seu ponto de vista; será honesto até mesmo falando com você de suas deficiências em sua própria atitude ou ponto de vista. Afetivamente ele estará pronto a “sentir com você”, até sofrer com você no seu momento de necessidade.
É justamente este relacionamento – estabelecido por um voluntário dar de si para ver as coisas do ponto de vista da criança – a mais elevada e profunda maneira que podemos obter para conhecer nossas crianças e também influenciá-las. Através da nossa própria identificação solidária pessoa-a-pessoa com as crianças que ministramos, seguimos o método e o caminho do nosso Senhor mesmo – que num sentido bem mais profundo se identificou conosco para que pudéssemos viver e crescer Nele. “Visto, pois que os filhos tem participação comum de carne e sangue, destes também ele igualmente participou. . . Por isso mesmo convinha que em todas as cousas se tornasse semelhante aos irmãos . . . Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2.14-18).
VR
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