28. MISSÃO203
A atitude do Luteranismo antigo com relação à missão está diretamente relacionada com a igreja estatal, que tem sua base no governo da igreja pelos soberanos. Mesmo se não houvessem evidências para o contrário, uma pessoa moderadamente bem intencionada não assumiria que a igreja do Evangelho, que, assim como a Igreja Luterana, vive no e pelo Evangelho, não tivesse pensado em proclamar o Evangelho entre os não cristãos. Realmente, conforme o destacou Gustav Warneck, Lutero não foi “um homem de missão em nosso sentido do termo” (Missionsmann in unserm Sinne). Pobre homem! Ao invés de fundar uma sociedade missionária, acompanhando Cortez ao México, ou, afinal, assegurando para si mesmo um professorado de ciência missionária, ele se devotou, acima de todas as coisas, à reforma da igreja! Nele Warneck sente falta não somente da “sociedade missionária” (Missionstat) mas também a “idéia de missão” (Missionsgedanke). Se alguém tentar imaginar a idéia de missão com base no impacto do Evangelho (evangelicher Ansatz) e não toma-la como uma teoria, que tem a ver com o engajamento numa empresa, significará apenas duas coisas: (1) a fé na onipotência e na teleologia universal do Evangelho e (2) a afirmação da missão de proclamar o Evangelho. (p.385)
Após tudo o que foi dito, não há nenhuma necessidade posterior de se falar sobre a crença de Lutero e do Luteranismo antigo na onipotência do Evangelho. Como poderia Lutero, que expôs os Salmos, os Profetas e Paulo, ter ignorado ou duvidado o propósito universal da missão de Cristo e do seu Evangelho? A partir de Cl 1.23 e Mc 16.15, ele conclui que o Evangelho não deve ser guardado em algum canto, mas deveria encher o mundo todo. A partir de Sl 117, entendeu que “o Evangelho e o Batisvo deviam atravessar o mundo todo” (das Evangelium und die Tauffe müssen durch die gantze wllt komen). Com Ag 2, descobriu que o Evangelho será um precioso tesouro para todas as nações. Deus deseja abençoar, “não duas ou três nações, porém o mundo todo” (nicht zwey oder drey volck, zondern die gantze welt).204 Nem mesmo Melanchthou ou qualquer dos dogmáticos posteriores subtraíram alguma coisa dessa tarefa universal do Evangelho. Isso não era totalmente auto evidente, pois pressupunha a conclusão que há uma necessidade absoluta de salvação para toda a humanidade. Aqui ambos, os Zwinglianos e os posteriores Socinianos tinham opinião diferente.205 Até mesmo Melanchthon precisou destacar que alguns de seus contemporâneos – como Voltair, mais adiante – tinham uma predileção para com a religião dos turcos porque eles se cansaram da sua própria religião (CR 11,145). Contudo, para ele, como para Lutero e para todos os dogmáticos posteriores hão havia nenhuma fé em Cristo que não tivesse incluído a crítica de todas as outras religiões.206 Muito embora Lutero não possa crer que os gentios almejassem pelo Evangelho (WA 13,541,17), ele não duvidava que eles tinham necessidade do mesmo. A própria promessa da bênçãos para os gentios “dá testemunho que todas as nações estão sob uma maldição e sob o poder do diabo” (testaur omnes gentes esse sub maledictione et potestate diaboli; WA 43,252,13). (p.386)
Quando Lutero às vezes fala como se o Evangelho já tivesse cumprido a sua missão em todas as nações – o que seguidamente tem sido citado como prova de sua falta de compreensão da idéia de missão – isso é para ele a simples conclusão tirada da validade universal do Evangelho. Se o Evangelho é proclamado ao todo, ele é proclamado “para todos”. De fato, Lutero por vezes menciona detalhes geográficos quando fala disso. O Evangelho estava no Egito, na Grécia, na Itália, na Espanha e na França. Contudo, o desprezo da promessa divina o leva a chegar constantemente a outras nações. “Agora ele está na Alemanha. Quem sabe por quanto tempo?” (p.386) Ele também acredita “que na Armênia, Etiópia, Mauritânia, Índia e nas nações além do ocidente existem muitos cristãos; porém, na Ásia Menor, elas estão sob os Turcos.” No entanto ele enfatiza essa crença com objetivo de provar que a igreja de Cristo não está presa a uma localidade particular. A idéia de vários teólogos posteriores – que a igreja do tempo presente não está mais obrigada a pregar entre os gentios, porque os apóstolos já atingiram a todos eles – lhe é totalmente estranha, assim como ela é para Melanchthon. Ademais, ela estaria contraposta à visão dinâmica do Evangelho e da igreja. É auto evidente que Lutero entende que nenhum apóstolo chegou até os alemães. Ele também ouviu a respeito das novas “ilhas” descobertas, que são gentílicas, e ninguém havia pregado para eles.”207 (p.387)
O curso do Evangelho para todas as nações não está no tempo perfeito; é uma ação em andamento – um ato que ocorreu e ocorre sem interrupção. “O reino de Deus passa pelo mundo inteiro” (Christi regnum per totum mundum transit), diz Lutero no tempo presente (WA 41,594,22; WA 31 I,285,12). No mesmo lugar onde ele destaca que “muitos gentios de grande nobreza e linhagem se tornaram cristãos (viel von hohen adell und stand der heydenschafft Christen worden) ele acrescenta, como se isso fosse evidente que “o Evangelho espera que seja ensinado e pregado sempre e sempre, a fim de que ele possa sempre aparecer no horizonte” (das Evangelium ymer und ymer will getrieben und gepredigt sein, das es ymer ym auffgang sey; WA 10 I,1,540,5 e 12 ss.). A bênção da promessa foi indo “ através do comprimento e largura do mundo, chegando entre os gentios e os judeus, e continua indo adiante” (so weit die welt ist, komen beyde unter Heyden und jüden unde gehet noch ymer weiter; WA 24,392,28). A pregação do Evangelho “começou com os apóstolos e continua, e é levada adiante pelos pregadores aqui e ali no mundo, é conduzido e perseguido; e ainda é tornado conhecido sempre mais longe para aqueles que nunca o ouviram antes ... Ou, conforme diz o ditado, quando alguém envia uma mensagem, a mensagem foi, muito embora ela ainda não tenha chegado ao local pretendido ou à localização especificada mas já está a caminho.” (isto durch die Apostel angefangen und geedt ymmerdar fürt und wirt durch die prediger weiter getrieben hin und her in der welt, veryagt und verfolget, doch ymmer weyter, die sy zuvor nit gehöret haben, kund gemacht ... Ader wie man sprich, wann ainer ain bottschafft lasst aussgon, bottschafft ist aussgegangen, wie wol sie noch nit in das vorgenomen ordt oder bestympte stelle komen ist, sonder noch underwegen; WA 10 III, 140, 6.). (p.387) “Pois a igreja está em uso constante para converter outros à fé e chamá-los ao arrependimento” (Est enim Ecclesia in perpetuo usu convertendi alios ad fidem et vocandi ad poenitentiam;WA 25, 365, 17). O Evangelho continua avançando em direção aos que não esperam ouvi-lo. “Pois o Senhor não quer um bajulador como pregador, visto que Ele não disse: ‘Ide em torno da vila ou passem dela’. Não, não vás em volta ou a ultrapasses, entra nela; chegua a eles ousadamente, e diga-lhes o que eles não gostam de ouvir.” (Denn der herr will keynen schmeychler tzum prediger haben, dieweyl er nit sagt: gehet umb das dorff oder neben hynn. Neyn, nit umbhyn oder neben hyn, hyneyn geht, frisch na sie und sagt yhn, was sie nit gern horen; WA 10,I,2,50,10.). (p.388)
Pode-se sentir toda a firmeza do da proclamação de Lutero. Aqui não existe nenhum traço de um descansar farto da cristianização do mundo. O Evangelho sempre aparece no horizonte, sempre está a caminho, sempre no ataque. Ele deve vir a to0das as nações. Contudo, assim como ele foi buscado de uma, assim também Lutero não tem a ilusão que a sua proclamação precisa ter sucesso positivo. Deus prometeu o Evangelho para todos os gentios, mas “Ele não diz que todos o aceitarão” (WA 24,392,23). Em Lutero, portanto, essa visão do Evangelho não é uma “visão”. No sentido estrito, é uma “idéia de missão” – que nos recorda que Lutero também se mantinha responsável por seus “ensinos”. Aquele que fala do Evangelho dessa forma, também o proclama. O ensinamento é ao mesmo tempo a realização. Isso permaneceria verdadeiro mesmo se Lutero não tivesse ensinado nada sobre os “gentios” no nosso sentido. Pois a atenção viva que o Evangelho dedica à sua proclamação é independente do tipo de pessoas que temos diante de nós. Somente da dinâmica do próprio Evangelho é que a “idéia de missão”, que deveria ser evangélica, busca o seu poder obrigatório, não da reflexão neste ou naquele tipo de pessoas. (p.388)
No entanto, as sentenças que tem sido evocadas demonstram que Lutero não pensa na idéia de missão como sendo individualista. Ele pensa nela como que pertencendo à igreja; isto é, ele pensa em termos de “cristandade” como um todo bem como do mundo das nações e sua história. É auto evidente que se ele faz assim, ele também olha para as pessoas e suas nações que ainda não ouviram o Evangelho. Exatamente assim como a pregação missionária atual, ele se refere aos “gentios” assim como nós entendemos a palavra que Cristo, o Pastor, fala a respeito das “outras ovelhas” ou sobre aqueles cujo convite para as bodas chegou mais tarde e foram buscados pelos caminhos (WA 12, 540,2ss.; 600,12; WA 37,181,342,1). (p.388) Em conformidade com o texto evangélico ele certamente toma a palavra “gentios” em se referindo, acima de tudo, aos não judeus em geral. Como resultado, ele também pode dizer que isso significa para nós, gentios, ou que os apóstolos realmente chegaram aos gentios. Na mesma conexão, ele ainda continua: “Isto ainda não foi feito. Esse período está avançando, enquanto os servos estão indo aos caminhos; os apóstolos fizeram um começo e agora estão nos reunindo”. (Hoc nondum factum. Hoc tempus ghet, quod servi gehn auff der strassen, apostoli inceperunt et nos adhuc ruffen zu samen. WA 17 I,442,36). Assim, isso significa que a missão apostólica aos gentios está continuando em nós hoje. E Lutero apresenta esse ensino de uma forma prática. (p.389)
Não nos satisfazemos com a pregação aos cristãos. “É necessário sempre dirigir-se àqueles a quem não foi feita nenhuma pregação, a fim de que o número [de cristãos] aumente”. (Oportet semper progredi ad eos quibus non praedicatum, ut plures fiant. WA 16,216,1). Essa obrigação pesa sobre todos os cristãos. “Acrescentando, os cristãos também deveriam produzir muito fruto entre todos os gentios por meio da Palavra, deveriam converter e salvar muitos consumindo em seu meio como um fogo que queima em meio à lenha dura ou a palha; assim o fogo do Espírito Santo deveria consumir os gentios segundo a carne e arranjar espaço para o Evangelho e o reino de Cristo” (WA 23,645,30). Praticamente, essa obrigação para a obra missionária confronta o prisioneiro de guerra que, por meio de sua conduta cristã, deveria “adornar e louvar o Evangelho e o nome de Cristo” em territórios turcos. Fazendo isso, “desgraçarias a fé dos turcos e, talvez, converteria a muitos” (WA 30 II, 194,28ss.).208 E não apenas a conduta deveria causar impressão. Em territórios gentílicos cada cristão, não apenas o prisioneiro de guerra, deveria ser um missionário. Aqui o “chamado ao dever” (rite vocatus) da organização eclesiástica doméstica não tem peso nenhum. Um cristão não tem apenas “o direito e o poder para pregar a Palavra de Deus, mas está sob a obrigação de faze-lo; de outro modo corre o risco de perder a sua alma e de incorrer no desfavor de Deus” (recht und macht, das gottis wort tzu leren, sondern ist das selbige schuldig tzuthun bey seyner seelen verlust und gottis ungnaden). Mas, reage Lutero, não se deve, então, primeiro ser chamado para isso? Certamente – em domínios cristãos. Mas quando o cristão está num lugar “onde não há cristãos, ali ele não precisa de nenhum chamado senão que ele é um cristão, internamente chamado e ungido por Deus. Ali está a sua obrigação de pregar aos gentios em erro e não cristãos, e de ensinar o Evangelho como uma responsabilidade do amor cristão, muito embora ninguém o chame para faze-lo.”(p.389) (da keyn Christen sind, da darff er keyns ander beruffs, denn das er eyn Christen ist ynwendig von gott beruffen und gesalbet. Do ist er schuldig, den yrrenden heyden odder unchristen tzu predigen und tzu leren das Euangelion aus pflicht bruderlicher liebe, ob yhn schon keyn mensch datzu berufft.WA 11,412,11ss) (p.390)
Todavia, caso se queira interpolar que aqui o exercício da tarefa de exercer obra missionária é tornada dependente de chance, Lutero declara alhures que deve tornar-se um chamado. “Pois se todos os gentios devem louvar a Deus, deve primeiro ser estabelecido que ele se tornou o seu Deus. Se ele deve ser o seu Deus, eles devem conhece-lo e crer nele... Se eles devem crer, precisam primeiro ouvir a sua Palavra... Se devem ouvir a sua Palavra, precisam ser-lhes enviados pregadores que lhes proclamem a palavra de Deus.” (WA 31 I, 228,33ss.). Finalmente, uma palavra sobre quão altamente Lutero estimava a obra missionária entre os gentios: “Logo, é a melhor de todas as obras que os gentios tenham sido afastados da idolatria para o conhecimento de Deus” (WA 47,466,5). Nenhuma dessas sentenças contém uma teoria da missão. Elas são simplesmente aplicações do impacto do Evangelho (evangelicher Ansatz) ao fato que o Evangelho ainda não atingiu toda a humanidade. Aqui o moderno teórico da missão ignora questões de sociologia – questões que não têm mais qualquer coisa a ver diretamente com a “idéia de missão”. (p390)
Isso é particularmente verdadeiro a respeito da argumentação seguidamente repetida que Lutero não exigiu nem efetuou qualquer “ordem especial para a missão” (besondere Veranstaltungen zu Mission). Esse argumento – conforme ele geralmente pretende – pertence à escola técnica superior, onde a ciência de comércio é ensinada. Contudo, se ela teve um significado mais profundo e se fundamenta na visão de muitos dogmáticos do século XVII, que rejeitara “preparativos especiais” onde e por causa dos quais não havia nenhum chamado especial para dirigir-lhes e que ensinaram que aqui, também, deve aplicar-se o “devidamente chamado” (rite vocatus) da CA XIV, tem sido demonstrado que em todo caso Lutero não tem conhecimento dessa barreira vis à vis aos gentios. (p.390)
“Missão”, diz Wilhelm Löhe, que talvez também conhecia algo sobre isto, “nada mais é do que a única igreja de Deus em sua ação – a realização de uma igreja universal, católica” (Drei Bücher, p.18). Isso é exatamente o que Lutero ensinava. O movimento da única igreja – igreja é movimento, pois ela meramente expressa a dinâmica infindável do Evangelho. Há um sitema de igreja estatal que é estático ou, usando a expressão de Hegel, “lenta e cuidadosa” (statarisch). Aqui “preparativos especiais” para a missão são necessários. Basicamente, porém, é a própria igreja que, pelo fato dela proclamar o evangelho, se move em direção a todas as nações – e é mantida em movimento por elas. Uma teoria de missão que toma a missão para entender o crescimento do corpo de nações “cristãs” por meio de algumas poucas novas, é em si mesma “lenta e cuidadosa” (statarisch) em sua maneira de pensar.(p.390) Conforme foi demonstrado, Lutero também sabia que muitas nações foram esquecidas pelo Evangelho. Em resposta a uma carta de missionários Luteranos em Trankebar, Johann Albrecht Bengel escreveu: “A mensagem da maldição do mundo e do crescimento do reino de Deus no Oriente e no Ocidente chama à ação de graças e louvor entre todos aqueles que amam a salvação de Deus; mas em acréscimo ao júbilo eles também se preocupam que, assim como lugares escuros se tornam luz, assim também lugares iluminados, porém ingratos, se tornam trevas.”209 Isso, também é falado exatamente de acordo com o que Lutero acreditava. A “igreja em seu movimento” é um ir, um poder, um avançar – mas não um monte em crescimento. Todo esforço missionário que não está orgulhoso do fato que é um “preparativo especial”, mas espera nada mais ser do que a igreja em seu movimento acresceria às estatísticas de seus sucessos uma categoria em que haja um registro sobre o fracasso simultâneo na igreja em casa. Pois o “preparativo especial” é significativo somente quando é apoiado pela responsabilidade da igreja toda. (p.391)
Para vários teóricos de missão, a obra missionária não começa antes de ultrapassar os mares. É nisto que Lutero e seus crentes contemporâneos naturalmente “se dividem” completamente. Quiçá as sentenças de Lutero de que ele realmente não iria adiante num barco sobre o Elba, que os Wittenbergenses talvez pudessem ter equipado, contribuíram para isso. Haviam conceitos inadequados sobre o espalhar do Evangelho naquela época. A sentença dos dogmáticos posteriores que os apóstolos já ofereceram o Evangelho a todas as nações geralmente é abandonada como sendo uma desculpa pobre. Na realidade, a razão para essa sentença se encontra no conhecimento religioso-geográfico da época. De Philipp Nicolai temos uma pesquisa que entra em detalhes profundos e que seguidamente foi utilizada por teólogos posteriores. A partir dela, se pode coletar com certeza que houve uma crença firme de que nenhum país e nenhuma nação estava sem cristãos.210 (p.391) A apresentação expõe que a sentença de Lutero citada com freqüência quando a mensagem do Evangelho é proclamada, é “como se alguém jogasse uma pedra na água; a pedra ondas, círculos e correntes em volta dela; e as ondas sempre as levam mais adiante; (p.392) um leva o outro até que cheguem à praia. A menos que a água se acalme no centro, as ondas não param, antes continuam fluindo.” (WA 10 III, 140,6ss.). Para Lutero, a mobilização da idéia de missão é uma convocação aos cristãos para que proclamem o Evangelho àqueles que residem próximos a eles, porém nunca o ouviram. Se há cristãos em cada nação, isso não era correto apenas a partir de um ponto de vista ético, mas também estava embasado em pensamento prático. Contudo, desde que cristãos, num sentido amplo, tem sido descuidados, a proclamação do Evangelho puro entre eles mesmos deve ser o ponto de partida. O fato que na realidade a descrição religioso-geográfica que foi feita era, em parte, incorreta e, em parte, inadequada, provavelmente não foi a causa da avaliação crítica da idéia de missão Luterana! (p.393)
Essa descrição está refletida nas tentativas de ação missionária feitas no Luteranismo antigo. Pois, muito embora a reforma da igreja em casa e a consolidação da nova organização de igreja ocupava completamente os pensamentos e as ações do século todo, o Luteranismo antigo nunca esqueceu as idéias de Lutero sobre o movimento da igreja e sobre ilimitada dinâmica do Evangelho. (p.393) Jacob Heerbrand escreveu que “nós também temos a intenção, tanto quanto é humanamente possível, de ganhar para o Senhor Cristo muitos para a vida eterna, e nós não queremos negligenciar qualquer oportunidade que tenhamos notícia.”211 Contudo, onde e como? Em três pontos o Luteranismo esteve em contato com notórios não cristãos: com os judeus em casa, com os turcos nos Bálcãs e com os gentios Lapões da Escandinávia. (p.394)
Sabe-se que, de Würtemberg, Primus Truber e Barão Ungnad von Sonegg tentaram alcançar os Eslavos do sul para o Evangelho em seu país. Eles tentaram faze-lo com Bíblias e outra literatura. Mas, ao mesmo tempo, planejavam uma ação missionária entre os turcos. A tradução do Novo Testamento Esloveno para o glagolês (Glagolite), por Stefan, cônsul de Pinguente, foi submetido a uma comitiva de clérigos e peritos seculares, em 1559. Na opinião manifesta por esses homens, é fato, entre outras coisas, que “por esses meios, assim o esperamos, a correta religião cristã e o verdadeiro Evangelho salvador serão promovidos através da Turquia, para que o coração e a disposição dos turcos sejam renovados para a fé sagrada ... e que em tempo o nosso Salvador Jesus Cristo seja conhecido na Turquia” (Josef Pindor, p.24). O próprio barão de Ungnad dirigiu um apelo por ajuda aos príncipes alemães, “a fim de que assim a pura doutrina da Palavra divina também seja levada à Turquia, visto que se espera que por esses meios e dessa maneira o Deus poderoso cortará os turcos com a espada do seu poder, assim como ele expôs e cortou o papado em seu todo” (op. Cit., p.30). Ambrosius Frölich, o livreiro vienense, deseja que o catecismo também seja traduzido. Com tal tradução, “se poderia conferir, com a ajuda de Deus, uma grande bênçãos e fazer uma grande boa causa” não apenas entre as nações eslavas mas também “na corte do imperador turco” (op.cit., p.27). O pregador Vlahovic admoestou ao recrutamento de impressores turcos. “Considerando que os sacerdotes dos Uskos (Uskoks) tomem a impressora, eu gostaria de ter imprimido para o imperador turco um pequeno livro que contasse como todos os profetas profetizaram e pregaram a respeito do mundo que o Senhor Jesus Cristo é o Filho de Deus, que Maomé deixou os turcos alheios a isso e que o papa ignorou toda a cristandade. Gostaríamos de converter os turcos se houvessem assistentes e tais livros.” (op. cit., p.34) (p.394)
Essas citações e planos expressam não apenas completa confiança na onipotência do Evangelho, mas também o apaixonado propósito para com a obra missionária. As convocações também não permaneceram sem um eco. É verdade que o Eleitor de Brandenburg escusou-se por afirmar que porque ele tinha de dar um dote a uma filha, nada poderia fazer. Todavia, o Eleitor August da Saxônia, Duke Christoph de Württemberg e outros fizeram sacrifícios consideráveis. Segundo o relato de Philipp Nicolai, uma cópia da tradução da Confissão de Augsburgo teria alcançado a Geórgia na Transcaucásia e lá teria sido traduzida “para a língua Ibérica” (in sermonem Ibericum, p.10). “Por esse motivo, eu certamente oro pelos georgianos de todo o meu coração, como se eu nada mais tivesse para pedir senão que a doutrina inalterada do Evangelho pudesse ser espalhada amplamente por toda a Ásia e o globo todo” (Quod certe toto pectore Georgianis precor, nihil perinde in votis habens, quam ut Evangelii doctrina incorrupta longe lateque per Asiam et universum terrarum orbem diffundatur). Realmente, os 25.000 livros impressos em Urach e Tübingen terminaram no jogo da Contra Reforma. Mais tarde a insubstituível gráfica caiu nas mãos dos jesuítas. Mas, muito embora nenhum sucesso tangível tenha sido atingido aqui, não se deve negar que aqui o Luteranismo do século dezesseis empreendeu um esforço determinado para pôr em ação a idéia de missão de Lutero. (p.395)
Tanto quanto se trata dos judeus, Lutero, cheio de sua fé heróica no poder motivador do Evangelho, não duvidou que ele seriam responsivos à proclamação evangélica. Ele acreditava que antes disso eles não foram tratados apropriadamente – “como se eles fossem cães e não seres humanos.” Ele esperava que se fossem “cuidadosamente instruídos” (seuberlich unterweysset) pela Escritura Sagrada, “muitos deles se tornariam verdadeiros cristãos” (es sollen yhr viel rechte Christen werden; WA 11, 315,3ss.) Mais tarde, porém, as experiências que ele próprio teve com eles, o conhecimento de seus próprios esforços a induzir os cristãos se afastarem da sua fé e as suas sentenças blasfemas contra Cristo, não apenas o irritaram violentamente mas também o tornaram cético em relação ao sucesso de qualquer tentativa para converte-los. “Debater com os judeus” é “como golpear uma bigorna com uma lâmina de palha” (mit eim Juden disputirn alls mit einem strohalm auff ein ambos schlagen).212 (p.395) Lutero também não estava erado, quando apontou para o fato que os judeus viveram entre cristãos por 1.500 anos e estavam muito bem familiarizados com o que era sabido a respeito de Cristo. Por essa razão, a missão entre os judeus não pode ser realmente colocada no mesmo nível da obra missionária entre os gentios e os muçulmanos. Todavia, no Luteranismo antigo não houve nenhuma falta de tentativas para converter os judeus. Foi especialmente em Hesse, nos séculos dezesseis e dezessete, que essas tentativas foram feitas com algum sucesso. Aqui era o soberano quem repetidamente autorizava e organizava a atividade missionária da igreja entre os judeus.213 (p.396)
Talvez os landgraves de Hesse tivessem um grande interesse especial na conquista dos judeus. Contudo, em sua atitude houve também uma concreta e análoga aplicação do governo eclesiástico dos soberanos sobre a missão. Não seria o empreendimento do pastor individual, diz Dannhauer, converter os judeus. Não, isto era tarefa da “cristandade toda” (totius christianismi). Por esse motivo, o governo tinha de tomar as medidas cabíveis. É fato que os judeus poderiam ser ganhos para a fé cristã somente por graça divina, não pelo poder político. No entanto – conforme foi feito em Hesse – eles relamente poderiam ser compelidos a tomar parte em colóquios organizados com o propósito de converte-los.214 Pelo fato que a conversão de incrédulos seja uma tarefa de toda a cristandade, ela deve ser tida em mente pelo soberano. Aqui há uma aplicação a uma ocasião especial da idéia que Melanchthon tinha sobre a tarefa executiva do governo em serviços da igreja (cf. Governo Eclesiástico). O próprio Melanchthon permaneceu com os limites assim especificados. É o propósito principal da sociedade humana que as pessoas instruam umas às outras, “que o conhecimento de Deus seja propagado” (ut notitia Dei propagetur) – essa é a tarefa da missão. Mas então há a sentença posterior que o governo é o “guardião principal da sociedade” (praecipuus custos societatis) e, conseqüentemente, deve observar se essa tarefa da sociedade está sendo realizada (CR 16, 118). “Por esse motivo, Deus estabeleceu os estados, para que seja possível que o Evangelho seja porpagado” (propter hanc causam Deus ordinavit politias, ut Evangelium propagari possit, 16,87). (p.396) O rei da Suécia é congratulado “porque ele assumiu observar se as igrejas estão equipadas e que o Evangelho é propagado” (quod curam Ecclesiarum ornandarum et propagandi Evangelii suscepit; 4,567). Embora Melanchthon sempre de novo enfatize que a igreja de Cristo está “espalhada” entre todas as nações, que ela pode viver em liberdade em apenas alguns poucos estados, porém encontra oposição em muitos deles (12,25; 14,908,etc.), ele não se pergunta pela questão técnica sobre que atitude deveria haver lá com respeito à “propagação do Evangelho” (propagatio Evangelii). Para ele, assim como para Lutero, era suficiente ser confiante que a Palavra encontrará ouvintes e fé onde quer que ela ressoe. Para o duque Johann Ernst, da Saxônia, Veit Dietrich revela a descrição da “propagação da igreja” (propagatio ecclesiae) assim como ela se desenvolve, não num reino secular, mas em “assembléias reunidas, ainda não fechada mas semeando em volta a Palavra divina em reuniões públicas e respeitáveis como em escolas, provendo-as de reis, príncipes e estados, e atraindo muitos em todo lugar para a verdadeira invocação de Deus, mesmo que eventualmente eles sejam ridicularizados, vaiados e expulsos por tiranos pela maioria das pessoas” (coetus dispersos, non tamen obscuros sed circumferentes vocem divinam et in congressibus publicis ac honestis ut in scholis, impertientes eam regibus, principibus, civitatibus et multos passim ad veram invocationem Dei pertrahentes, etiamsi ínterim riderentur, exploderentur, pellerentur a tyrannis et a maxima parte hominum) – uma excelente descrição da igreja desempenhando a obra missionária! (CR 5,262). Realmente, a idéia de missão estava presente na escola de Melanchthon, bem como na de Lutero. Todavia, a igreja se torna capaz de agir em direção aos de fora – bem como aos de dentro (cf. Governo Eclesiástico) – unicamente através do governo da igreja – o governo que agora foi colocado nas mãos dos soberanos. (p.397)
É incorreto afirmar que os príncipes Luteranos não estavam cientes dessa tarefa missionária que foi acrescida às suas obrigações. Na anteriormente mencionada terceira frente, onde a igreja do Evangelho entrou em contato direto com o paganismo antigo na parte norte da Escandinávia, o rei Gustavus Vasa imediatamente aderiu. É verdade que a missão entre os lapões, que ele iniciou, não tem nenhum reconhecimento na história das missões. Em vista da pobreza das fontes, ninguém teria coragem de afirmar que foi infrutífera. Que ela foi em uma escala menor está claro pelo fato que a obra foi desenvolvida novamente sob Gustavus Adolphus. Gustav Warneck, de fato, expressa o seguinte julgamento: “Essa missão da igreja estatal foi um ato reformatório de poder eclesiástico territorial, não realmente uma obra missionária entre os gentios, visto que ela consitia apenas (!) no envio de pastores e na fundação de paróquias” (p.23). (p.397) Agora, dever-se-ia perguntar qual era a diferença entre uma “missão” entre pessoas designadas pelo próprio Warneck como “completamente gentios” e “verdadeira obra missionária entre os gentios”. Não é envio missionário quando pastores são enviados entre os gentios? Ademais, a afirmação de que somente pastores foram enviados nem mesmo é correta. No diário do monastério de Vadsteba encontra-se a entrada do ano 1525: “No mesmo ano, no dia São Gereon, de acordo com a ordem de nosso rei, o lorde Gustavus, irmão Benedictus Petri foram adiante para conduzir as pessoas da Lapônia à adoração divina” (Eodem anno die S. Gereonis ex mandato Regis nostri Dni Gustavi exivit frater Benedictus Petri ad inducendum populum lapponicum ad divum cultum).215 Este primeiro emissário entre os lapões no tempo da Reforma, não era um pastor! Realmente, o soberano estava ao seu lado – o soberano que também tomou nas mãos a reforma da igreja em seu território. Contudo, o envio aos gentios nos limites de seu país não era reforma; era obra missionária “no sentido estrito da palavra.” (p.398)
Se isto não seria obra missionária, então a missão de Danish, em Trankebar não poderia ser considerada como obra missionária. Por volta de 1670, o endosso real da Companhia do Leste da Índia especificava que a companhia sempre deveria manter sacerdotes com o propósito de converter os gentios “Indianos” (Fenger, p.11). E é sabido que a missão naquele lugar, conforme atualmente veio a existir, se deve à iniciativa do rei Frederico IV. Quando os suecos estabeleceram o Delaware, Gustavus Adolphus deu instruções para se levar o Evangelho aos indús. Em contraste com as crueldades dos puritanos, os suecos tratavam os nativos de forma amigável. Como resultado, os indús participavam de cultos divinos. E o pastor Johann Campanius traduziu o Catecismo de Lutero na sua língua. O secretário real, Liljenbladt, escreveu o prefácio a essa tradução.216 Os planos missionários muito admirados de Leipniz para a China, também se fundaram na experançosa iniciativa dos príncipes. Esse empreendimento dos soberanos para a missão correspondem inteiramente às condições atuais nas igrejas estatais evangélicas. Contudo, eles também coincidem com os conceitos de igreja predominantes, que é reunida em todas as nações. Denmark foi o primeiro país Luterano a ter uma oportunidade para colonizar os além mares. Aqui, portanto – falando com Lutero – foi lançada uma pedrinha na água – uma pedra que devia e causou “ondas, círculos e correntes.” Veit Ludwig von Seckendorff, a quem os defensores do pietismo reivindicavam como aquele que estava de acordo com o s seus princípios e práticas, ainda partilhava a visão que circulava amplamente no século dezessete, que seria tentar a Deus “enviar pessoas que deveria pregar publicamente nos países gentios e turcos e até perderem suas vidas por causa disso.”(p.398) E ele continua: “Todavia, os altos governos e estados que têm os meios e a oportunidade para levar a doutrina cristã de uma maneira honesta, sagrada e boa para tais países, pecam quando deixam de faze-lo.”217 Seckendorff foi o chanceler do duke Ernest, o piedoso, de Gotha e Altenburg. Segundo Warneck, não se pode sequer registrar essa tentativa de ter o Evangelho proclamado na Abissínia como uma tentativa missionária. De fato, há, em acréscimo, uma tentativa muito mais antiga de um soberano Luterano desenvolver a obra missionária entre os gentios. Em 183, o duke Ludwig de Württemberg teve a viagem do majistrado Valentin Class, de Knittlingen “ao reino de Fezzan além da Espaha, para ensinar a língua árabe e que tipos de ensinamentos essa nação possuía, e a fim de que dessa forma nossa religião salvadora pudesse ser propagada entre aqueles bárbaros”.218 Esse empreendimento missionário Luterano tem sido suprimido pelas histórias de missões, as quais, conforme é auto evidente, mencionam cada inglês que iniciava uma jornada missionária. Pois de forma nenhuma a descrição da “falta de missão” Luterana poderia ser modificada. (p.399)
Não foi indolência da parte dos príncipes Luteranos que emperrava a energia missionária do luteranismo antigo; quem o fez, foi a igreja estatal como tal. Grössel mostrou como a idéia de missão atuou nossa teologia antiga, muito embora várias sentenças em sua dissertação deveriam ser corrigidas. Entre os dogmáticos antigos, não há ninguém que, em princípio, negaria que não houve nenhuma obrigação de pregar o Evangelho entre os gentios.219 (p.399) O que lhes impedia de insistir em “organizações especiais” para obra missionária entre os gentios, ou os influenciou até a recusar-se a aceitar tais preparativos era a noção de que a situação religioso-geográfica bem como a divisão política do globo era estável. Eles acreditavam que existiam centros da igreja cristã em todo lugar. Se haviam centros de domínio eclesiástico evangélico então a administração da igreja deve cuidar em pregar a não cristãos assim como deve cuidar da pregação em geral – essa tem sido a prática no norte da Europa e nas colônias dos estados Luteranos.(p.400) Todavia, se tais centros estão em mãos de estados não evangélicos, o Evangelho vai aos gentios por meio da reforma das igrejas cristãs, porém ainda não evangélicas. Como sempre, também aqui, a obrigação e o direito de proclamar estão condicionados ao “chamado regular” ou, o que é idêntico ao “envio regular” (ordentliche Sendung). Contudo, somente o “governo da igreja”, que estava em mãos dos soberanos, entrou em questão como a agência que envia. O exemplo do duque Ludwig de Württemberg, no século dezesseis, revelou que isso não era necessariamente um impedimento ao envio territorial aos não cristãos. Contudo, tornava-se um empecilho quando o governo da igreja estava combinado mais e mais enfaticamente com o soberano. No solo das opiniões que são básicas aqui, a idéia de missão e a sua aplicação prática no século dezessete, fizeram progresso por essa razão em conexão com as colonizações além mares desenvolvidas pelos estados protestantes. Mas, em mesmo grau – até o ponto em que o pensamento era estritamente em termos de uma igreja estatal – livre atividade missionária da parte de círculos que não eram sancionadas pelo governo ficou internamente embaraçada. (p.401)
O impulso latente de desenvolver obra missionária foi abandonado por dois fatores. Em primeiro lugar, pelo progresso do conhecimento do estado de coisas político e religioso-geográfico nos países além mares. O que Philipp Nicolai e Johann Gerhard não sabiam e não poderia saber, Scriver já conhecia quando numa passagem seguidamente citada de sua obra, Seelenschatz, ele destacava que um sexto do globo foi convertido ao cristianismo. E um homem como Leibniz estava ocupado com as possibilidades políticas e colonizadoras do Leste da Ásia de uma forma que era totalmente diferente da forma como aqueles homens conheciam essas possibilidades no final do século dezessete. Em segundo lugar, a excessiva ênfase sobre o governo da igreja pelos soberanos – a ênfase que o século dezessete trouxe consigo, ou inaugurou – ao mesmo tempo, provocou uma medida crescente de crítica que culmina no pietismo sem haver sido inventada pelo pietismo. Mesmo Seckendorff, que defende o governo da igreja pelos soberanos, não conhece quaisquer perigos. Todavia, para alguém que vivia no período do Iluminismo, a coesão com a união político eclesiástica – a coesão que no século dezesseis peca por ser predeterminada pelo destino – emerge ainda mais claramente como um assunto político. A liberdade externa, vis-à-vis ao soberano é limitada mais e mais pela polícia e pela legislação. A liberdade interna, vis-à-vis ao soberano, por outro lado, torna-se muito maior. No século dezesseis, o oposto tem sido o caso – uma relação recíproca que sempre se repetiu na história. (p.401) Essa liberdade interna vis-à-vis à coesão com a união política e eclesiástica inerente é o pressuposto sobre cuja base indivíduos partiram sobre os mares para desempenhar obra missionária entre os gentios. Um homem como Peter Heiling, de Lübeck, que foi para a Abissínia em 1634, com o propósito de fazer a obra missionária, fora inspirado em Paris, por Hugo Grotius. De fato, existe a pergunta se isso pode ser considerado como uma inspiração “Reformada” – conforme é feito nas histórias de missões – ou não antes como uma inspiração devida ao Iluminismo. Mesmo a idéia do mui louvado barão Justiniano de Welz de encontrar uma “sociedade” (Gesellschaft) de cristãos ortodoxos da Confissão de Augsburgo (1664) é tipicamente uma conformidade com o Iluminismo. Contudo, essas questões pertencem ao âmbito da sociologia. (p.402)
Mesmo que se quisesse atribuir a obra missionária de Danish, no Leste da Índia ao pietismo e por essa razão queira negar que a Igreja Luterana foi responsável por ela – o que é historicamente incorreto bem como é incorreta a própria idéia – o Luteranismo do século dezenove, no final, provou que aquilo nunca foi nem é “falta de missão”. A obra missionária Luterana do século passado não é um produto do estímulo Reformado; ela é o irrompimento definido da idéia de missão de Lutero na parte da cristandade que leva o seu nome – que pode ser reconhecida mesmo na crítica dirigida contra o caráter missionário especial da missão Luterana. Não é nenhum acidente que protagoniza a missão como Redelbach, Scheibel, Löhe, L.ªPetri, Louis Harms e Graul foram ao mesmo tempo restauradores da consciência confessional da igreja. Pois, no mesmo nível em que a razão confessional da membresia da igreja sobrepujou a razão territorial que possuía a igreja estatal, a idéia tornou-se mais livre para as relações e as tarefas da igreja como um todo. Também para a missão.(p.402)
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