7ª Tese – Arranjos externos de um chamado
Sem dúvida é bom que antes de o chamado seja aceito, as questões salariais sejam também esclarecidas e o que a congregação requer do pastor chamado. Mas, neste respeito, o recém chamado deve evitar tudo que possa dar a impressão de ser ele cobiçoso e trabalhar somente pelo salário. E, para evitar mal entendidos no futuro, é importante dar ao pastor o chamado por escrito, devidamente assinado pelos representes da congregação, bem como uma carta anexa que esclareça as questões salariais e requisitos do trabalho (1 Co 16.3).
Observação - 1
Friedrich Balduin escreveu a respeito do salário do pastor em seu comentário sobre as cartas de Paulo: “É permitido ao ministro da Palavra requerer um salário para o seu trabalho na congregação à qual serve, como o apóstolo o expressa em 1 Co 9.1-14, como seus argumentos. Entre os piedosos não há mais ninguém que tenha dúvidas sobre isso, a não ser se quisessem matar o pregador de fome e com isso suspender o próprio ofício da pregação. Pois, se eles não conseguem sustentar o pregador de outra forma, é lastimável se professores da igreja precisam buscar seu sustento por meio de outros trabalhos”. Siraque, livro Apócrifo (cf. Bíblia católica: Eclesiástico (Sirácida) 38.25s; Bíblia alemã, cap. 39) fala claramente sobre isso. Cabe à congregação, a quem o ministro serve, pagar-lhe o salário. Para isso é necessário que a congregação tenha um cofre, nos quais os membros podem colocar suas ofertas, do qual se possa tirar o necessário para o sustento do ofício. Requer-se também dos membros que sejam generosos em relação a seus professores; pois quem planta a vinha e não come do seu fruto? (1 Co 9.7). E, aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui (Gl 6.6), especialmente quando os tempos se tornam gradualmente difíceis e não há esperança de ser possível dar um aumento salarial pela caixa da congregação.”
“Também não devemos pensar que as dádivas dadas aos servos da Palavra sejam esmolas ou dadas para subornar, mas é pelo trabalho, um dever necessário se queremos manter o ofício da pregação. Pois se os pregadores sofrem necessidades, então o próprio ministério sofre. Ainda que nada de definitivo possa ser determinado sobre o montante do salário de um servo da igreja. Dois extremos devem ser evitados. De um lado, que não se lhe negue o necessário; por outro lado, que da parte do servo não seja exigido demais. Eles deveriam lembrar que o salário não lhes é dado para a luxúria, mas para suprir suas necessidades. [...] Para que a necessidade, no entanto, não seja muito limitada é importante lembrar que não somente o ministro da Palavra, mas sua família precisa ser sustentada, assim que em tempos de doença ou após a morte do pai da família, eles tenham com que viver” (Comentar, in omnes epp. S. Pauli, p.404).
Pouco antes, Balduin respondeu à objeção que Cristo disse: De graça recebestes, de graça daí (Mt 10.8): “Em Mateus o Salvador não está falando sobre a pregação, mas do dom de realizar milagres como o mostram as palavras precedentes: Curai os enfermos, etc. Deus não quer que milagres sejam vendidos por dinheiro, o que o profeta Eliseu não tolerou no seu servo Geazi (2 Rs 5.20ss.). Mas não devemos pensar que o aceitar do ordenado seja um vender o evangelho, como os anabatistas o afirmam. Pois o salário não é dado pela doutrina, com a qual todos os tesouros do mundo não podem ser comparados. O salário é dado para o trabalho do ministro da igreja a que ele tem direito e o recebe corretamente para suprir suas necessidades e os de sua família, pois não pode adquiri-los de outra forma” (Ibid,. p 401).
[Nota ao pé da página: Lutero explicou esta passagem de forma diferente e com maior profundidade ao escrever: “É nos ordenado que devemos ensinar, consolar e absolver todos os que o aceitam e crêem, e eles recebem estes bens todos gratuitamente, conforme a palavra de Mt 10.8. Nós cristão, no entanto, que desfrutamos do ofício da pregação da graça, devemos sustentar gratuitamente os servos da Palavra, mantê-los e protegê-los, como o apóstolo Paulo o diz: Gl 6.6; 1 Tm 5.17. O próprio Jesus afirma: Digno é o trabalhador do seu salário (Mt 10.10). E, pelo profeta Isaías, Deus diz: Que príncipes e reis trarão suas ofertas, à Igreja (Is 49.22,23). Mas estas ofertas não são pagamentos, o comprar e vender. Porque necessitamos diariamente comida e bebida. A oferta não é pagamento pela absolvição. Pois quem poderia pagá-la? O que são cem ou mil moedas de prata para este imensurável dom do perdão dos pecados? [...] Visto, no entanto, que este grande dom não pode ser distribuído de outra forma do que por seres humanos que necessitam de alimento e serem sustentados, alguém precisa mantê-los. Porém, não é pagamento, antes sua obrigação e trabalho” (Gn 23.3-4; Walch I, 2432).
Observação – 2
É desejável que o salário e os demais benefícios para o novo pastor chamado sejam fixados, para que este possa orientar-se quanto à organização do seu lar, mas ele não deveria insistir numa quantia fixa, amtes requerer que a congregação afirme que ela está disposta de dar-lhe o necessário (Gl 6.6; 1 Co 9.7-15; Lc 10.408). Ele não deveria insistir em dons adicionais, mas aceitá-los quando oferecidos. [Nota ao pé da página: como por exemplo: Gratificações para batismo, casamentos, sepultamentos, etc.] Mas o pastor não deveria aceitar absolutamente nada pela visita a doentes, para evitar acusações por visitar pessoas de posses.
Em todo o caso, é melhor que o novo pastor chamado deixe a questão salarial ser resolvido por um irmão do ofício, o Conselheiro Distrital, por exemplo. Sobre tudo, ele nunca deve esquecer que não é servo de homens, mas de Deus, que cuidará de sua pobre vida e de sua família. Por menor que seja sua recompensa nesta vida, mais gloriosa será a coroa que receberá na eternidade, se mantiver fé até ao fim.
Lembramos aqui uma belíssima palavra de Lutero: “Olhe para os pastores aqui e ali nas vilas, como muitos deles passam fome e sede e esmorecem; muitas vezes, eles não têm recursos para comprar uma camisa para seus filhos pequenos. [...] Não há sinceridade, nenhum esforço, nenhum coração bondoso, pois ninguém cuida deles seriamente e de coração. [...] Devem ser considerados merecedores de dobrada honra os presbíteros que presidem bem, com especialidade, os que se afadigam na palavra e no ensino” (1 Tm 5.17). Na verdade, eles são dignos de dobrada honra. Mas onde? Resposta: Oh Deus! No mundo eles são considerados dignos da espada, da forca, do inferno, ou de algo ainda pior. Quem se importa com isso? Nós, que servimos a este mundo ingrato, temos a promessa e esperança do reino dos céus e a recompensa e pagamento por esta miséria será tão grande que nós nos repreenderemos a nós mesmos, por termos, devido a esse desprezo e ingratidão do mundo, derramado uma lágrima ou suspiro. Diremos a nós mesmos: Por que não sofremos algo mais pesado? Se eu tivesse crido que há uma glória tão grande e vida eterna, então não teria me assustado, mesmo que tivesse de sofrer muito mais”. (Gn 39.5-6; Walch II, 1812ss.; Erlangen Latim, IX, 235)
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