INSTITUTO CONCÓRDIA DE SÃO PAULO
Escola Superior de Teologia
Disciplina: História da Igreja Antiga
Professor: Dr. Paulo W. Buss Aluno: Ezequiel Blum
1º Trimestre de 1999 3º Teológico
RECENSÃO
GONZÁLEZ, Justo L. Uma História Ilustrada do Cristianismo – A Era dos Mártires.
Vários trad. São Paulo: Vida Nova, 1989. v. 1.
A obra em questão nos traz alguns dados biográficos do autor em sua contracapa:
Justo L. Gonzáles, graduado com altas honras no Seminário Unido de Matanzas, Cuba, obteve seu doutorado em teologia na Universidade de Yale. Foi professor do Seminário Unido de Porto Rico durante vários anos, e depois uniu-se à Faculdade de Teologia Candler, de Atlanta, Geórgia, E.U.A. Atualmente dedica-se ao trabalho literário, tendo escrito muito, em quantidade e em qualidade. Basta mencionar sua História del pensamiento cristiano em três volumes, escrita em espanhol e traduzida por ele mesmo para o inglês. A presente obra é outra contribuição monumental à literatura cristã latino-americana.
Deste modo, podemos observar a enorme experiência que González possui e assim, temos a certeza de que sua obra é de grande valor e qualidade.
Gonzáles nos diz que sua obra não é apenas um relato histórico, mas uma autobiografia. Afirma isto dizendo que sem esses séculos passados (narrados no livro), seu nascimento e sua vida pareceriam algo sem sentido. Assim, vemos que González pretende não somente relatar a história dos mártires, mas também demonstrar como e porque esta história está relacionada com sua vida. Com este objetivo, o autor apresenta a obra. Gonzalez diz: “Do ponto de vista da fé, a história da igreja ou do cristianismo é muito mais que a história de uma instituição ou de um movimento qualquer. A história do cristianismo é a história dos atos do Espírito entre os homens e as mulheres que nos precederam na fé.” (p.13) Desta forma, porém, vemos que esta história não é apenas uma autobiografia do autor, mas também está relacionada com a vida de todos os cristãos. Esta é “nossa” história...
Os primeiros cristãos eram judeus do século primeiro e foi como judeus do século primeiro que escutaram e receberam o evangelho. Depois a nova fé foi se espalhando. A Palestina é a região onde o cristianismo deu seus primeiros passos.
Em sua dispersão por todo o mundo romano, em sua tradução da Bíblia (a Septuaginta) e ainda, em suas tentativas de dialogar com a cultura helenista, o judaísmo havia preparado o caminho para o advento e a propagação da fé cristã.
Em meio a história, muitos cristãos foram perseguidos. Mas foi o culto ao imperador o ponto forte onde se destacou a perseguição. Não são poucos os casos em que fica claro que, ao mesmo tempo que um mártir morria por sua fé, quem condenava o fazia levado por sentimentos de lealdade política.
As perseguições também ajudaram na expansão do cristianismo, pois os cristãos fugiam para outros lugares e assim, a mensagem cristã era levada para estes lugares onde os cristãos buscavam refúgio. Em At 12, encontramos um exemplo de forte perseguição contra os apóstolos. O Novo Testamento não nos diz o que foi feto da maioria dos apóstolos, mas desde datas muito antigas começaram a aparecer tradições que afirmavam que alguns apóstolos sofreram o martírio. Estevão foi apedrejado depois de dar seu testemunho diante do conselho judeu. O apóstolo Tiago foi morto por ordem de Herodes algum tempo depois. A partir daí, sempre existiram pessoas colocadas em situações nas quais tiveram de selar o testemunho com seu sangue. Vemos, em boa parte do Novo Testamento, os judeus perseguindo os cristãos.
O primeiro dos imperadores a perseguir o cristianismo, fazendo isto com grande crueldade, foi Nero. No século segundo, muitos cristãos eram forçados a negar Cristo e adorar os deuses e o imperador. Negar adorar ao imperador e seus deuses seria como que diminuir a autoridade dos tribunais ou ter uma atitude que se interpretava com rebelião contra a autoridade imperial. Então usavam da força e castigavam os cristãos, mostrando assim, sua autoridade e poder. O livro relata a história de vários mártires. Temos como exemplo de mártires: Inácio de Antioquia, Policarpo, Justino, entre outros. Com o passar dos anos, as perseguições continuaram, mesmo que algumas vezes menos e outras mais.
A fé cristã sofreu muitos ataques, sendo colocada em questão diversas vezes. Com isso, os apologistas realizaram a tarefa de defender a fé cristã e assim, são produzidas algumas das maiores obras teológicas do século segundo. Possivelmente, uma das mais antigas apologias que chegaram a nossos dias, é o “Discurso a Diogneto”. E o mais famoso dos apologistas foi Justino, o Mártir. Certo é que tais obras (as apologias) foram e são muito válidas para a defesa da fé cristã.
A igreja precisou enfrentar muitos desafios. A igreja enfrentou, por exemplo, os gnósticos e Márciom com suas doutrinas. As maneiras pelas quais a igreja se defendeu ou respondeu, foi através do cânon (já nos fins do século segundo a maior parte do Novo Testamento tinha vindo formar parte das escrituras de todas as igrejas cristãs), do Credo (a origem de nosso Credo se acha nas lutas contra as heresias de meados do século segundo) e da sucessão apostólica (diante dos hereges que diziam ter uma doutrina secreta que só eles conheciam, a igreja apontava sua doutrina, abertamente ensinada por todos desde a época dos apóstolos e, diante das pretensões dos hereges no sentido de que seus ensinos se baseavam sobre os segredos de tal ou qual apóstolo, a igreja apelava à doutrina universal de “todos” os apóstolos). Assim a igreja respondeu contra as heresias.
Durante a segunda metade do século segundo, diante dos desafios dos gnósticos e de Márciom, foi necessário que alguns cristãos tratassem sobre a totalidade da fé cristã. Pode-se dizer que os gnósticos foram os primeiros teólogos que trataram de sistematizar toda a doutrina cristã. Nessa tentativa de sistematização, rodearam essa doutrina de tal modo que os demais cristãos a viram ameaçada e se dedicaram a combater as especulações dos hereges. Devido ao imenso alcance dessas especulações, as obras que os cristãos escreveram contra elas, tiveram que ter o mesmo alcance e assim, surgiram os primeiros escritos que nos dão uma idéia da totalidade da teologia cristã nos primeiros séculos. Estes escritos são obras de Irineu de Leão, Clemente de Alexandria, Tertuliano de Cartago e Orígenes de Alexandria.
Até fins do século segundo a igreja teve um período de relativa paz. No século terceiro a situação mudou. Através de todo o século continuou em vigor a legislação de Trajano (cristãos deviam ser castigados se fossem denunciados e se negassem oferecer sacrifício aos deuses) e portanto, de vez em quando, houve martírios. Mas, além disso, houve duas políticas novas, uma promulgada por Sétimo Severo (política religiosa de caráter sincretista; seu propósito era unir a todos os seus sínodos sob o culto ao “Sol invicto”, no qual se fundiriam todas as religiões da época, assim como os ensinos de diversos filósofos; mas esta política conflitava com a persistência dos judeus e dos cristãos, que se negavam a dobrar-se diante do sincretismo; por isso, Sétimo Severo propôs-se deter o avanço destas duas religiões e com esse propósito proibiu, sob pena de morte, toda conversão ao judaísmo ou ao cristianismo; ao mesmo tempo, a antiga legislação seguia em vigor, de modo que os cristãos que fossem acusados e que se negassem a oferecer sacrifício aos deuses, seriam condenados também; o resultado de tudo isto foi um aumento da perseguição no estilo do século anterior e ao mesmo tempo uma perseguição mais intensa dirigida contra os novos convertidos e seus mestres) e outra por Décio (se tratava de uma campanha religiosa que buscava a restauração dos velhos cultos; o que estava em jogo era a sobrevivência da velha Roma dos Césares, com suas glórias e seus deuses; tudo o que se opunha isto era falta de patriotismo e alta traição), que afetaram profundamente a vida da igreja.
A igreja cristã antiga estava formada, em sua maioria, por pessoas humildes para quem o fato de haverem sido adotadas como herdeiras do Reino dos céus era motivo de grande alegria. Isto pode ser visto em seu culto, em sua arte e em muitas outras manifestações. A vida cotidiana destes cristãos desenvolvia-se na penumbra rotineira em que vivem os pobres de todas as sociedades. Mas aqueles cristãos viviam na esperança de uma nova luz que viria a derrubar a luz injusta e idólatra da sociedade em que viviam.
Nos fins do século terceiro houve a última e a mais terrível das perseguições. Reinava na época Diocleciano, que havia organizado o Império em uma tetrarquia. Dois imperadores compartilhavam o título de “augusto”: Diocleciano no Oriente e Maximiano no Ocidente. Sob cada um deles havia outro imperador com o título de “césar”: Galério sob Diocleciano e Constâncio Cloro sob Maximiano. Este sistema funcionou só enquanto Diocleciano o administrou, mas depois houve alguns problemas.
A paz da igreja parecia estar certa. Mas alguns conflitos parecem ter começado no exército. A razão pela qual alguns cristãos se opunham ao serviço militar não era tanto o pacifismo cristão, mas o fato de que algumas das cerimônias militares eram de caráter religioso e portanto, tornava-se difícil ao soldado cristão ter que participar da idolatria.
Em meio a diversos acontecimentos, Galério planejava o modo de fazer-se dono único do Império, até que ambos augustos abdicaram ao mesmo tempo. Assim se desatou a mais cruenta de todas as perseguições que sofreu a igreja antiga.
Quando os cristãos começaram a desesperar, a angústia acalmou. Galério estava doente, quase morrendo e então, promulgou seu edito de tolerância. Tal foi o edito que pôs fim à mais cruenta e praticamente a última das perseguições que a igreja teve que sofrer nas mãos do Império Romano. Galério morreu cinco dias depois. Depois de muitos acontecimentos, Constantino acabou ficando como único imperador e a igreja teve paz em todo império.
Com todo este relato apresentado, vemos que o livro possui um conteúdo bastante amplo, sendo difícil conseguir resumi-lo em poucas palavras. O autor apresenta o conteúdo de uma forma não muito objetiva, pois González nos apresenta diversos detalhes, mas que, sem dúvida, são importantíssimos e não poderiam faltar no livro. Tais detalhes ajudam muito na compreensão do conteúdo.
González utiliza alguns recursos que facilitam a leitura da obra, sendo estes: tabela em seqüência cronológica contendo datas, personagens, escritos, documentos e acontecimentos; diversas ilustrações. Estes recursos ajudam na compreensão do conteúdo.
O livro não possui um linguagem muito simplificada, sendo que seu nível é um tanto elevado. Acreditamos que este livro seja melhor recomendado para pessoas que estejam cursando faculdade. Esta obra é de imenso valor para estudantes de teologia devido a sua emocionante história, pois está totalmente relacionada com a vida dos cristãos.
Sem dúvida, González nos deixou uma grande obra, nos trazendo maior conhecimento sobre esta época em que os cristãos passaram por diversas dificuldades. É emocionante ver a fé firme dos mártires apresentados no livro e, ao mesmo tempo, é espantoso saber o sofrimento que passaram para defender sua fé. Com toda certeza, esta é uma obra que toca o coração de todos nós, cristãos.
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