NÓS ESTAMOS REALMENTE PREGANDO O EVANGELHO?
Elmer A.Kettner
Com toda ênfase no Evangelho e nosso esforço para reter a pureza na doutrina, é possível que haja tão pouco Evangelho na pregação da Igreja Evangélica Luterana – Sínodo de Missouri? Não é apenas possível; Eu temo que é altamente provável. Não está aqui nenhuma acusação embutida a qualquer pastor do Sínodo. Julgamos apenas a partir dos sermões que lemos e ouvimos. Isto também não foi escrito para ser sensacionalista ou simplesmente crítico. Neste aspecto eu sou, talvez, “o maior dos pecadores”; Eu mesmo tenho falhado na pregação do Evangelho. As Escrituras nos lembram para “exortar uns aos outros diariamente enquanto estamos no dia chamado Hoje” (Hb 3.13). Nós devemos “examinar a nós mesmos”. Devemos “examinar atentamente o que temos feito” (Lm 3.40).
Vamos deixar bem claro, desde o princípio, que com poucas exceções, há mais pregação do Evangelho na Igreja Luterana do que em qualquer outro lugar. Precisamos admitir que há uma grande apreciação pelo Evangelho entre os irmãos de ministério. Ele é muitas vezes louvado em nossos sermões. Ele é freqüentemente citado. Nós dizemos: O Evangelho é o poder de Deus para a salvação. É o único meio através do qual podemos ser salvos. O sucesso da Igreja deve-se ao Evangelho. É unicamente o Evangelho que pode mover o povo às boas obras. O Evangelho é a nossa única esperança. Mas prezar o Evangelho não quer dizer pregá-lo.
A maioria de nós está pregando o Evangelho de algum modo e cremos que estamos dando suficiente ênfase. Nós muitas vezes declaramos: Cristo morreu por nós, ou pela fé em Cristo nós temos o perdão dos pecados. Certamente, isto é o puro Evangelho, o próprio centro do Evangelho, mas ainda não é o suficiente.
PREGANDO A OBEDIÊNCIA ATIVA E PASSIVA DE CRISTO
Para pregar o Evangelho claramente nós precisamos continuamente apresentar Cristo em Sua obediência ativa como também Sua obediência passiva. Quando era apenas uma criança de doze anos de idade Jesus se sujeitava aos Seus pais, Ele era assim como nosso Substituto e não apenas como um exemplo. Sua obediência é contada em nosso crédito. Quando você O vê fazendo alguma coisa boa, veja a si mesmo nEle. Deus contabiliza as coisas desta maneira. Quando Ele vence o diabo, Ele faz isto por nós. Ele agora está em nós e age através de nós. Os açoites que Ele suportou eram meus. A coroa de espinhos, minha. Sua morte, minha. Será que nós só deveríamos lembrar os detalhes da Sua morte e sofrimento na quaresma?
Justaposição é uma boa palavra para lembrar na preparação do sermão. Coloque o indivíduo ao lado de Cristo. Então os descreva como se tivessem trocado de lugar, o pecador como se tivesse feito tudo o que Cristo fez, e Jesus como se tivesse feito tudo o que o pecador fez. Não vamos apenas fazer referência ao Evangelho, mas nos deter nele, desenvolvê-lo, repeti-lo, enfatiza-lo e aplica-lo para que o nosso ouvinte possa tomar posse dele.
Se queremos aprender esta arte, Lutero ainda é o nosso melhor mestre. Num sermão de 1525 ele diz: “A Lei diz: Você é um pecador. Se eu digo, “sim”, estou perdido; Se eu digo “não”, eu preciso estar bem firme no chão sobre o qual piso, para refutar a Lei e manter o meu “não”. Mas como posso ainda permanecer firme se é verdade e é confirmado pela própria Palavra de Deus que eu fui nascido em pecado? Onde vai parar o meu “não”? Com certeza eu não vou encontra-lo em mim mesmo, mas em Cristo. DEle eu preciso recebe-lo e jogar isso diante da Lei e dizer: Aqui, Ele pode dizer “não” contra toda a Lei, e tem o direito de faze-lo, embora eu olhe para mim mesmo e precise dizer “sim”, porque eu vejo como sou pecador e não posso permanecer em pé diante da Lei, e sinto que não há nada puro em mim, e vejo a ira de Deus, mas eu posso dizer que a retidão de Cristo é a minha retidão, e por esta razão eu estou livre do pecado”. Este é o objetivo, que nós deveríamos ser capazes de dizer continuamente que somos puros e piedosos para sempre, como o próprio Cristo diz de Si mesmo, e tudo isto é operado através da fé”.
TERMINOLOGIA ABSTRATA
Um dos enganos do diabo é que, enquanto nós pensamos que estamos pregando o Evangelho, nós estamos apenas nos referindo a ele de maneira superficial. Nós tomamos por certo que os nossos ouvintes o conhecem, enquanto deveríamos estar explicando-o a eles como se estivéssemos diante de uma criança de doze anos de idade. Nós usamos os velhos e genéricos termos como “perdão”, “justificação”, “redenção”, “Seu sangue”, “santificação”, “fé”, e supomos que todos compreendem o que estamos querendo dizer. Nós podemos dizer muita coisa usando uma única palavra abstrata. Mas nós levamos nossos ouvintes ao sono espiritual, senão físico. A única razão porque eles não têm a experiência de Êutico é que não estão sentados na janela do terceiro andar. Talvez, também, as esposas nos ajudem um pouco dando uma cutucada no marido de vez em quando. Nós ficamos planando numa nuvem e deixamos nossos ouvintes, que são da terra, terrenos, meditando nos seus próprios problemas, para os quais o sermão deveria ter uma resposta. Aqueles que foram treinados em nossas escolas paroquiais podem entender os nossos velhos termos genéricos. Mas mesmo eles, e, com toda a certeza os visitantes, que vêm à procura de Deus, vão achar a terminologia teológica vazia. Os termos podem ser escriturísticos. Sem dúvida, os membros do corpo de Cristo deveriam aprender a compreende-los, mas não podemos ter por certo que eles já o saibam.
Precisamos então parar de usar a expressão “perdão dos pecados”? Precisamos explicar a doutrina da redenção cada vez que nos referimos a ela? Esta não é a questão. A gente não pode pregar a uma congregação bem instruída como se as pessoas fossem gentias e nunca tivessem ouvido o Evangelho. Há centenas de facetas para exprimir este diamante que chamamos de Evangelho. Nós podemos toma-las de tempo em tempo e usa-las de modo concreto. Nós podemos usar a linguagem atual do povo.
Por exemplo: Augustus Toplady, autor do hino “Rocha Eterna”, calculou que na média uma pessoa de vinte anos de idade teria cometido 630,000,000 pecados por pensamentos, palavras e ações. Um homem de cinqüenta anos de idade teria cometido cerca de um bilhão e quinhentos milhões de pecados. Somente Deus sabe quantos pecados nós cometemos. Porém, a estimativa de Toplady poderia dar àqueles dentre nós que não estão conscientes de qualquer pecado uma pausa para perguntar: Mas e o que é pecado? Se eu sou culpado da metade de todos estes pecados, ou mesmo um décimo deles, o que eu pretendo fazer a respeito disto? Mais importante ainda, o que Deus fará a respeito disto? Ele é um Deus justo que não deixa o pecado passar desapercebido. Você sabe o que Ele fez a respeito disto? Se há alguma mensagem que predomine nas Escrituras é esta, que Deus lançou todos os nossos pecados sobre Jesus. O nosso Salvador suportou o castigo dos pecados por nós. Aqueles pensamentos de raiva e cobiça, aquelas palavras iradas faladas no calor da discussão de ontem – Deus os perdoou, os apagou da memória, arrependa-se deles e os lance aos pés de Jesus. Ele o ama como você nunca o amou. Ele ama você como se fosse o seu único, puro e inocente Filho. Com que alegria você pode voltar para casa hoje sabendo que diante de Deus você é tão puro como um de seus santos anjos.
Esta é uma tentativa de dizer o que Paulo diz em uma única frase: “Nós temos redenção através de Seu sangue, o perdão dos pecados” (Ef 1.7). Paulo pode dizer isto através de palavras calorosas. O homem que procura as Escrituras diariamente o compreenderá e se alegrará. A mente que foi treinada a pensar filosoficamente pode pensar em termos abstratos e fazer a aplicação. Mas não acontece assim com o homem e a mulher comum de sua congregação. Eles estão mais perto de ter a reação do Fazendeiro do Norte de Tennyson que disse:
E sempre vinha a esta igreja, antes que minha Sally morresse,
Eu ouvia o pastor murmurando como um gavião sobre a minha cabeça,
Eu nunca soube o que significava, mas eu pensava que ele tinha algo a dizer,
E eu pensava que ele tinha algo que deveria ser dito, e assim eu me retirava, só com isto.
OUVINDO UM SERMÃO
Por que há tanta rejeição com a expressão “ouvir um sermão”? Quantas pessoas ainda vão à igreja com um sentimento de obrigação e se alegram quando o sermão é curto! O homem que recentemente recebeu de presente um livro de sermões é um exemplo característico. Ele declarou: “Quem está interessado em ler sermões? Já não é ruim o bastante ter que ouvi-los na igreja?” Ele era uma pessoa que freqüentava a igreja regularmente e, supostamente, um cristão.
Certamente há muitas razões para esta atitude. Uma pode ser que o pregador está tentando empurrar as pessoas além do que elas querem ir. Esta é, sem dúvida, a explicação para a freqüente objeção à mordomia (stewardship). Simplesmente mencionar a palavra “mordomia” já é o suficiente para a maioria das pessoas se arrepiarem. Eles ficam com um olhar furioso e seus cabeços em pé. Isto acontece porque alguém está tentando empurra-los para além do que a medida de sua fé está pronta a leva-los. Não houve suficiente pregação do Evangelho em conexão com a obrigação da mordomia. “Ouvir um sermão”, assim como eu entendo a expressão, é ser estimulado a fazer algo que vai além do que o nosso amor a Cristo nos move a faze-lo. O que precisa ser estimulado é a fé e o amor. Estes crescem através da pregação do Evangelho.
Outra razão possível para a rejeição contra “ouvir um sermão” é que o Evangelho é transformado numa nova lei, como se fosse o décimo primeiro mandamento, o mandamento do Novo Testamento. Por exemplo, eu ouvi recentemente: “O que você pensa que é ser um cristão? Você provavelmente pensa que todo aquele que não é judeu é um cristão. Bem, eu quero lhe dizer que para ser um cristão você precisa crer em Cristo. Como você pode ser cristão se você não crê em Cristo?“ Em vez de oferecer o Pão da Vida para todo aquele que aceita-lo, isto é exigir um preço em troca da chance de comer – assim pode parecer para o não convertido – que pode nunca se materializar. Isto é uma falha na compreensão da natureza da fé. Se nós pregamos um sermão pastoral para os crentes, ou um sermão evangelístico para atingir os incrédulos, nós certamente nunca iremos cansá-los se pregarmos o Evangelho como um oferecimento da graça e do amor de Deus.
CANSADOS DO EVANGELHO?
Cansa-los? Nem pensar! Ninguém nunca se cansa de ouvir o Evangelho, exceto o homem que o está rejeitando em seu coração. Eu não esquecerei uma querida irmã que lamentou: “O nosso pastor anterior costumava pregar sermões bem longos, e nós os adorávamos. Ele podia contar muitas histórias da Bíblia e explica-las, e nós voltávamos para casa animados (lifted up). O nosso atual pastor prega sermões curtos; mas ele está sempre xingando (ou ralhando com) a gente. Todo muito volta para casa chateado”. Não é nem necessário dizer que o colega pastor não estava cansando o seu povo com o Evangelho, mas com a Lei. Talvez ele estivesse bem ciente das fraquezas de seu povo e esperava melhora-los chamando-lhes a atenção. Ele provavelmente não tinha percebido que estava derrotando o seu próprio propósito.
Não, as pessoas não se cansam de ouvir o Evangelho a menos que o ouçam de um homem que esteja cansado de pregá-lo. Pode vir a ser um trabalho irritante ter que preparar dois ou três sermões cada semana. Uma pessoa pode se tornar insensível ao Evangelho. Ela pode ter como garantido que todos na igreja já o conhecem bem. Então o preparo para o sermão se torna uma luta árdua atrás de algo novo para dizer, enquanto todo o tempo as riquezas da graça de Deus permanecem não cultivadas e a preciosa semente não semeada. Nós temos medo que as pessoas se encham de tanto ouvir o Evangelho, enquanto que elas estão literalmente famintas dele. É só o pastor que está cansado dele. Ele perdeu o seu frescor (entusiasmo). Ele não está contando a história como se fosse pela primeira vez, para pessoas que podem estar ouvindo pela primeira vez. Seu sermão se transforma, na maioria das vezes, em aplicações e exorbitância. Ele esquece que sua audiência não conhece as histórias bíblicas como ele as conhece. Trazendo-as para fora dos recantos de nossas mentes e trazendo-as para dentro de nossos sermões seremos levados de volta ao velho caminho da pregação do Evangelho. Explicar palavras que têm o Evangelho escondido nelas e que apresentam o conteúdo do Evangelho nos acontecimentos não tão bem conhecidos na Bíblia ajudará também.
PREPARAÇÃO PARA O EVANGELHO
Pregar o Evangelho efetivamente não significa abandonar a Lei. A semente do Evangelho só pode germinar num solo que foi arado com a lâmina afiada da Lei. Muitas vezes o Evangelho não é bem recebido porque o ouvinte não sente qualquer necessidade dele. Reinhold Niebuhr disse: “Não há nada mais supérfluo do que uma resposta a uma pergunta que não foi feita”. Isto poderia ser dito ainda de outra maneira: Tem algo mais supérfluo do que colocar um curativo num dedo que não está machucado? É o coração quebrantado que Deus não desprezará. Às vezes Deus quebranta o coração dos homens através do chicote das conseqüências de seus próprios erros. Então nós podemos aplicar o Evangelho curativo imediatamente. Mas nem sempre isto acontece. É a tarefa do pregador quebrantar o coração com palavras antes que Deus o faça com seu chicote. Pregar a lei não é xingação; é chamar a atenção aos pecados aos quais os ouvintes não estão normalmente (usually) conscientes.
Para preparar o solo adequadamente o arado precisa ir fundo. Muitos sermões apenas arranham a superfície. Nós estamos bem cientes do pecado da falta de freqüência do povo na igreja. Na maioria das vezes este é um sintoma, em vez de ser a doença. Nós precisamos sondar mais profundamente para descobrirmos a causa. Nós estamos cientes do pecado da falha no ler a Bíblia e na oração. Muitos não têm um altar em casa, mesmo que distribuamos “Castelo Forte” para todas os lares da congregação. Mas teremos que cavar mais fundo para encontrar as causas para estas omissões. Finalmente nós vamos atingir o coração humano e teremos de expor os pecados escondidos com um bisturi cirúrgico. Um ameaça condenatória geral não irá fazer ninguém se sentir condenado. A história de Adão e Eva contada e recontada pode explicar a origem dos pecados, mas não tocará a consciência de ninguém nem os tornará receptivos ao Evangelho. Nós precisamos ser mais específicos do que isto.
SENDO ESPECÍFICOS
Eugene Harrison escreve em Como Ganhar Almas: “Eu acho que de uma confissão de pecados geral temos tanto benefício como uma oração geral”. Esta declaração é bem chocante para um luterano. Como alguém pode enumerar todos os pecados num culto público? O tempo permite apenas uns poucos, e se formos específicos demais poderíamos, certamente, deixar de fora a maioria das pessoas presentes. Porém, não é difícil compreender o que ele queria dizer. Ninguém ora tão fervorosamente para ser perdoado dos pecados em geral como alguém vai orar pelo perdão de um pecado específico que perturba a sua consciência. O mesmo é verdadeiro na pregação. Poucas pessoas irão ficar quebrantadas por causa de pecados gerais. A menos que descubramos pecados específicos, os denominemos, os descrevamos, apontemos para suas conseqüências nas vidas do pecador e de seu próximo e para o fato de que estes mesmos pecados pregaram Jesus na cruz, o Espírito Santo não convencerá muitos ouvintes de seus pecados.
Nós somos muito específicos em nossa teologia. Nós dizemos, por exemplo, que pela comunicação de atributos da natureza divina de Jesus para a natureza humana, a natureza humana também é eterna. Talvez nós não possamos nem provar nem desaprovar esta declaração. Ela certamente estimula idéias e nos faz pensar sobre o impenetrável mistério da maravilhosa natureza de nosso Senhor. Nós somos tão específicos como isto em nossa pregação? Eu não sugiro que devamos pregar sobre esta doutrina em particular. O ponto é que nós precisamos ser assim tão definidos também em nossa pregação da Lei. Nós não podemos estar satisfeitos em fazer referência geral aos pecados por pensamentos, palavras e ações. A menos que o ouvinte encontre algo no sermão que o mova a dizer “eu nunca pensei nisto como pecado nem me dei por conta que era culpado por isso” ele não será movido ao arrependimento.
Desde que é impróprio referir-se às pessoas pelo nome no sermão e dizer para muitos, “tu és o homem”, pode ser útil referir-se a alguém por classe ou por uma descrição de seus pecados. Nós poderíamos dizer: “Vocês, donas de casa” (ou pessoas que trabalham em escritório, membros de um sindicato, trabalhadores, pais, mães, filhos, etc. como for o caso). Ou nós podemos descrever seus pecados e assim nomeá-los: “Você que faz ultrapassagens perigosas no trânsito, vocês que são corredores crônicos, você que toma o nome de Deus em vão diante da mínima tentação”. Embora nós possamos fazer isto, precisamos ser tão específicos como João Batista quando ele disse: Estejam satisfeitos com seus salários “. Uma mulher luterana recentemente disse a respeito de seu pastor:”Todas as pessoas que eu conheço têm a sensação de que ele está pregando para “elas!” Isto, creio eu, representa a pregação específica da Lei e da boa pregação do Evangelho.
O EVANGELHO NA SANTIFICAÇÃO
Há algum perigo em compartimentalizar a Lei e o Evangelho? Nós falamos de “saber dividir (manejar) corretamente a Palavra da verdade”. Nós precisamos fazer isto para que os crentes possam saber que a maldição da Lei não se aplica a eles. Por exemplo, uma mulher disse: “Você disse em seu sermão que para cada palavra má que alguém falar, dará conta dela no dia do julgamento. Como poderei dar conta de todas as palavras más que já proferi?” O pastor dela podia ter dito a ela que aquela sentença era Lei e que ela está sob a graça de Deus pela fé em Cristo e não está mais sob a condenação da Lei. Mas e como fica o Evangelho na santificação?
Pense sobre este versículo da Bíblia: “É Deus quem opera em vocês tanto o querer como o efetuar” (Fp 2.13). Se é Deus quem precisa operar a santificação em nós, por que nós pregamos como se as pessoas tivessem que faze-lo? Por que nós não ensinamos as pessoas a dependerem mais de Deus para isto, a confiarem nEle mais, a pedirem a Ele mais freqüentemente para ajuda-los na sua vida santificada? Será que isto acontece porque lá no fundo, em nossas mentes, está o engano que, enquanto Deus justifica, o próprio crente precisa santificar a si mesmo? A nossa teologia não aceita tal heresia.
Pense sobre este outro versículo: “Espere no Senhor; seja corajoso, e Ele fortalecerá o teu coração; espere, digo eu, o Senhor” (Sl 27.14). Se é Deus quem precisa fortalecer o coração, não podemos nós encorajar nosso povo em todo o campo da santificação a pedir a ajuda de Deus, a esperar pela ajuda de Deus e a confiar na ajuda de Deus? Temo que não estejamos fazendo isto suficientemente. Nós conseguimos a façanha de limitar o Evangelho ao perdão dos pecados, muito embora digamos na explicação do Terceiro Artigo: “O Espírito Santo me chamou pelo Evangelho... me santificou na fé verdadeira”.
O QUE FAZER?
Se for verdade que estamos limitando o Evangelho, que há uma aplicação mais abrangente, que nós usamos termos muito abstratos que não atingem o coração de nossos ouvintes e que pensamos que todo mundo conhece o Evangelho tão bem quanto nós, o que podemos fazer para resolver estes problemas?
Nós precisamos examinar os nossos sermões mais cuidadosamente com estas perguntas em mente: O Evangelho está claramente apresentado neste sermão? Eu o tenho, não apenas na mente, mas também nas palavras? As observações sobre os pecados cortam profundamente? Eu estou usando uma linguagem atual? Eu estou alcançando o meu povo tratando de SEUS problemas? Não há muitas palavras e expressões (chavões) gastas pelo excesso de uso no sermão? Jesus está sendo oferecido como o substituto dos pecadores? O Evangelho está predominando de tal modo que os adoradores sentem que “onde o pecado abundou, superabundou a graça”? Ou é válida a crítica que alguém me fez à noite passada sobre o seu pastor: “O nosso pastor está sempre exigindo em sua pregação que a vida cristã seja tão perfeita que a maioria de nós desiste ao tentar alcança-la. Ele parece não ter qualquer empatia pelo pecador nem compreensão das fraquezas da carne’! A esposa do pastor bem que poderia responder estas questões por ele.
Poderia ser uma boa idéia instituir o velho e bom costume da crítica aos sermões nas conferências pastorais (Reuniões do Distrito?). Esta prática poderá causar algum mal-estar às vezes, mas certamente trará mais benefícios que prejuízos.
Eu escrevo como um irmão no Senhor, sem colocar a mim mesmo como um exemplo de bom pregador do Evangelho nem como o mais competente juiz. Certamente há muito Evangelho sendo pregado entre nós. Eu tenho muita consideração pelos meus irmãos da Igreja Luterana – Sínodo de Missouri e tenho grande respeito por eles como servos do Senhor Jesus Cristo. Talvez a situação seja como aquela que o apóstolo Paulo faz menção na sua carta aos Tessalonicenses: “Vocês certamente fazem isto...; Mas eu vos exorto, irmãos, a progredirdes cada vez mais”. (1 Ts 4.10). Vamos orar no estudo, orar junto ao altar, orar no púlpito, que Deus torne conhecidas através de nós as riquezas da Sua graça. Que possamos dizer com Paulo: “Ai de mim se não pregar o Evangelho”.
(Tradução – Rev. Luiz dos Santos)
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