Cremos, ensinamos e confessamos que o sacramento do santo Batismo foi ordenado por Jesus como meio da graça pelo qual o Espírito Santo "opera a remissão dos pecados, livra da morte e dá a vida eterna a quantos crêem." Pelo Batismo, as crianças recebem a fé e se tornam filhos de Deus e, aos adultos, o Batismo sela o perdão dos pecados. Enquanto alguém permanece na fé, desfruta as bênçãos do Batismo. O Batismo deve ser administrado uma vez só, em nome do Deus triúno: Pai, Filho e Espírito Santo.
Referências bíblicas: Mt 28.19; Tt 3.5; Mc 10.14; Mc 7.4; 16.16; At 22.16.
A Doutrina do Batismo nas Confissões Luteranas
ÍNDICE
1. Introdução:........................................................................................................................ 2
II. Conteúdo.......................................................................................................................... 2
III. O Batismo nos Documentos Confessionais:............................................................ 2
3.1. O Batismo na Apologia da Confissão:..................................................................... 2
3.2. O Batismo nos Artigos de Esmalcalde:................................................................... 2
3.3. O Batismo no Catecismo Maior................................................................................. 2
IV. A Instituição do Batismo:.............................................................................................. 2
V. O modo de aplicação do batismo:................................................................................ 2
VI. Quem deve ser batizado?............................................................................................ 2
VII. As doutrinas contrárias ao Batismo Infantil:............................................................ 2
7.1. O Movimento Anabatista e Schwenckfeldiano...................................................... 2
7.1.1. O movimento Anabatista......................................................................................... 2
7.1.2. Os Schwenckfeldianos............................................................................................ 2
VIII. Considerações Finais................................................................................................. 2
IX. Bibliografia...................................................................................................................... 2
I. Introdução:
Analisando a doutrina do batismo na Confissão de Augsburgo, notamos que a mesma é tratada de forma muito sucinta, sem aprofundar muito o tema. Devido à essa constatação, procuramos explorar o tema da doutrina do batismo em todo o Livro de Concórdia e, portanto, neste trabalho, estaremos expondo os principais pontos concernentes à doutrina do batismo no Livro de Concórdia como um todo.
Em primeiro lugar analisaremos em quais os documentos confessionais encontramos algo a respeito do batismo e o que este documento nos acrescenta sobre o tema.
Abordaremos também os tópicos sobre a natureza do batismo, sua finalidade e seus efeitos para a vida cristã como um todo.
II. Conteúdo do Artigo:
“Do batismo se ensina que é necessário e que por ele se oferece graça; que também se devem batizar as crianças, as quais, pelo batismo, são entregues a Deus e a Ele se tornam agradáveis.
Por essa razão se rejeitam os anabatistas, os quais ensinam que o batismo infantil não é correto”.[1]
III. O Batismo nos Documentos Confessionais:
3.1. O Batismo na Apologia da Confissão:
Na Apologia, é dito que o batismo é necessário para a salvação, que as crianças devem ser batizadas e que este batismo não é nulo, mas necessário e eficaz para a salvação. Mas este batismo não pertence aos que estão fora da igreja de cristo, onde não há palavra nem sacramentos, porque Cristo renova por meio da palavra e dos sacramentos.
A necessidade do batismo de crianças consiste na aplicação da promessa da salvação em Cristo, através de sua ordem de batizar todas as nações. Assim como a todos é oferecida a salvação, a todos também é oferecido o batismo: a homens mulheres e crianças.
Deus aprova o batismo infantil pelo fato Dele dar o Espírito Santo aos batizados.
3.2. O Batismo nos Artigos de Esmalcalde:
Nos Artigos de Esmalcalde, encontramos os pontos em que os luteranos divergem tanto dos monges dominicanos como dos monges franciscanos.
O primeiro ponto desta divergência é que para os dominicanos, Deus pôs na água uma força espiritual que lava o pecado. Com isso, esquecem-se do poder da Palavra, que deve estar unida à água.
Já os monges franciscanos, ensinavam que o batismo lava o pecado graças à assistência da vontade divina, de forma que este lavar sucede apenas pela vontade de Deus e de maneira nenhuma pela Palavra ou a água.
3.3. O Batismo no Catecismo Maior
No Catecismo Maior o tema do batismo é um tema bem aprofundado. Em primeiro lugar, aparece a exposição da instituição do batismo a partir da Escritura Sagrada. Em Mateus 28.19 e Marcos 16.16. As clássicas passagens “Ide por todo o mundo, e batizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” e também “Quem crer e for batizado será salvo...”
Portanto, a partir destas palavras, temos o mandamento e a instituição de Deus sobre o batismo.
Há fortes afirmações quanto a importância do batismo. No catecismo encontramos:
"Ora, o que Deus institui e ordena, não pode ser coisa vã, senão que deve ser coisa cabalmente preciosa...”[2]
e também:
“Ser batizado em nome de Deus é ser batizado não por homens, mas pelo próprio Deus. Por isso, ainda que levado a efeito pelas mãos dos homens, não obstante é verdadeiramente obra de Deus mesmo”.[3]
Segue ainda explicações sobre o que é o Batismo:
O Batismo não é simples água ordinária, mas água compreendida na Palavra e mandamento de Deus e por Ele santificada. De modo que outra coisa não é senão água divina. Não que a água em si mesma seja mais nobre que outra água, mas porque se lhe acrescentam a Palavra e o mandamento de Deus.[4]
E também sobre a distinção do batismo:
O batismo é coisa bem diversa de qualquer outra água, não por causa de sua essência natural, mas porque se adiciona aqui algo mais nobre. Pois o próprio Deus aqui empenha a sua honra e nela põe sua força e poder. Por isso não é apenas água natural, porém água divina, celeste, santa e bendita”. [5]
O Batismo é chamado de Sacramento porque tem tudo e pode tudo quanto é de Deus. Como disse Agostinho: “Quando a Palavra se junta ao elemento ou substância natural, faz-se Sacramento”. [6]
Não há batismo quando há separação entre a água e a palavra. Lutero usa um termo forte para ilustrar isso: Batismo de banheiro[7] , ou seja, se a água e a palavra estiverem separadas, este batismo não é mais do que um simples e puro banho, mas no momento que estiverem unidos Palavra e água, então é verdadeiro sacramento e chamado de verdadeiro batismo de Cristo.
IV. A Instituição do Batismo:
O batismo é uma instituição divina e permanente, que foi instituído por Cristo para ser administrado na igreja até os fins dos tempos.
Em Mateus 28.18-20 vemos que Cristo ordenou o batismo, que deve ser administrado por seus discípulos, com os quais prometeu estar até a consumação do século. O batismo é, portanto, ordem permanente.
Na dogmática cristã de Mueller, volume II, encontramos um ponto de vista interessante dos teólogos racionalistas quanto à instituição divina do batismo.
Mueller afirma que os teólogos racionalistas negam a instituição divina do santo batismo, alegando que esta era uma praxe comum na igreja Cristã. Os sues argumentos, no entanto, são fracos. Eles afirmam que Paulo batizou unicamente em casos excepcionais (I Co 1.14); Pedro mesmo não batizou (At 10:48); Jesus não batizou, mas apenas ensinou (Jo 3:22; 4:2). Mas em contra partida, as passagens de Mt 28:19-20 e Mc 16:15-16 nos mostram claramente a instituição divina do batismo.[8]
Já a posição conservadora admite a instituição divina do batismo, porém, fazem objeção ao chamado Caráter Legal desta ordenação. Em resposta a este argumento vago, dizemos que a obrigação da igreja de batizar não é mais legal que o seu dever de proclamar o evangelho. A razão disto não vem de ser o batismo mais legal que a proclamação do evangelho, mas de oferecer Deus em sua graça infinita ao pecador já pela palavra do evangelho com perdão completo.
V. O modo de aplicação do batismo:
A única coisa necessária e essencial ao batismo é a aplicação de água ligada à Palavra de Deus; mas o modo de aplicação: imersão, derramamento, aspersão, é coisa indiferente.
Algumas igrejas ensinam que, se a pessoa não é completamente imersa na água não está batizada. Mas assim, dão mais importância à forma e modo externos do batismo do que o benefício espiritual e seu significado.
A questão de como deve-se aplicar o batismo, gira em torno da palavra grega baptizein que também significa imergir ou submergir. Mas este não é o único sentido que encontramos na Bíblia. Há também a palavra ni,ywntai, em Mc 7.3, que significa lavar. Esta palavra era comumente usada apenas quando parte do corpo era lavado, enquanto que louein significava lavar todo o corpo.
Portanto, essencial é a aplicação de água ligada à palavra, o que também pode ser feito por derramamento ou aspersão. Não depende da quantidade de água usada, nem de onde e como da aplicação.
VI. Quem deve ser batizado?
Segundo a Bíblia, todas as nações devem ser batizadas, e isso inclui homens, mulheres e crianças. Com respeito aos adultos, a Escritura nos mostra que só devem serem batizados os que crêem em Cristo e o confessam (At 2:41; 8:36-38).
Quanto à crianças, só se batizam quando são trazidas pelos pais ou por pessoas que tenham autoridade paterna sobre as mesmas (Mc 10:13-16).
A igreja luterana tem sempre condenado a praxe antibíblica de batizar crianças sem o conhecimento ou contra a vontade dos pais (batismo às ocultas). Batizamos, por isso, unicamente as crianças que são apresentadas para o batismo pelos que têm autoridade paterna sobre as mesmas.[9]
A Bíblia relata que, na igreja cristã primitiva se batizavam os crentes com toda a sua casa (I Co 1:16; At 11:14; 16:15; 33). Todos aqueles que negam que isto incluía as crianças deveriam fornecer provas para sua argumentação.
Em resumo, a escritura fala tanto direta como indiretamente sobre o batismo de crianças.
VII. As doutrinas contrárias ao Batismo Infantil:
7.1. O Movimento Anabatista e Schwenckfeldiano
7.1.1. O movimento Anabatista
Para os anabatistas, a igreja não deveria confundir-se com o restante da sociedade. E a diferença fundamental entre ambas é que, embora se pertença a uma sociedade pelo simples fato de nascer-se nela, e sem fazer decisão alguma a esse respeito, para ser parte da igreja há necessidade de se fazer uma decisão pessoal. A igreja é uma comunidade voluntária e não uma sociedade dentro da qual nascemos.
A conseqüência imediata de tudo isso é que o batismo das crianças deve ser rejeitado, segundo eles, pois este batismo dá a entender que uma pessoa é cristã simplesmente por ter nascido em uma sociedade supostamente cristã. Porém, este entendimento oculta a verdadeira natureza da fé cristã que requer decisão própria. Esse é o ponto de vista dos anabatistas.
Foi em Zurich, em 1523, que vieram à luz estas idéias. Havia um grupo de crentes, assíduos leitores da Bíblia, e vários deles letrados, que forçavam Zwínglio a tomar medidas mais radicais de reforma, como por exemplo a anulação imediata das imagens e da missa (católica).
Essas pessoas que se chamavam de irmãos, sustentavam que se devia fundar uma congregação ou um grupo dos verdadeiros crentes, para contrastar com aqueles que se diziam cristãos pelo fato de terem nascido num país cristão e terem sidos batizados quando crianças.
Quando finalmente observou-se que Zwínglio não seguiria o caminho que eles propunham, alguns dos irmãos decidiram fundar por conta própria essa comunidade de verdadeiros crentes.
Em sinal disso, o ex-sacerdote Jorge Blaurock pediu a outro dos irmãos, Conrado Grebel, que o batizasse junto à fonte que se encontrava no meio da praça de Zurich. Grebel batizou Blaurock que, em seguida, fez o mesmo com outros irmãos. Assim, de imediato, deu-se a essas pessoas o nome de Anabatistas que quer dizer Rebatizadores.
Este nome não era exato, porque os supostos rebatizadores diziam não que era necessário batizar-se de novo, mas sim, que o primeiro batismo não era válido e só se recebia o verdadeiro e único batismo depois de confessar a fé publicamente.
Depois do começo de sua propaganda, a expansão anabatista partiu de três centros: Suíça, Sul da Alemanha e Morávia. Daí muitas congregações anabatistas logo foram estabelecidas nos altos vales alpinos. No mais, seu crescimento foi notável, visto que as autoridades públicas estavam sempre preocupadas em proibir o movimento.
Vários nomes contribuíram para o crescimento do anabatismo. Alguns deles: Conrado Grebel, Félix Manz Melchior Hoffmann, Münster, Bernt Rothmann, João Mathys, Menno Simons, dentre outros.
Menno Simons, sacerdote católico holandês abraçou o anabatismo em 1536. Simons reuniu-se a um grupo de anabatistas holandeses, cujo chefe era Obbe Philips, porém logo se destacou entre eles de tal maneira que o grupo recebeu o nome de menonitas. Viajava pelo norte da Alemanha e Holanda pregando sua fé.
Os cristãos, segundo ele, não tinham que prestar juramento algum e, portanto, não poderiam ocupar cargos públicos que requeriam tais juramentos. Porém, tinham que obedecer às autoridades civis em tudo, exceto no que as Escrituras proibiam. O batismo somente seria administrados aos adultos que confessassem sua fé. Nem esse rito, nem a Santa Ceia, conferem graça alguma, mas são sinais externos do que sucede internamente entre os cristãos e Deus.
Por se negarem a participar da vida em sociedade, os governos logo consideraram os anabatistas subversivos. Isto fez com que se espalhassem por toda a Europa. Muitos foram para a Europa Ocidental, particularmente para a Rússia. Outros foram para a América do Norte, onde encontraram dificuldades, pois o estado queria que se ajustassem às suas leis sujeitando-se ao serviço militar obrigatório. Carlos V decretou a pena de morte aos anabatistas em 1529. Por ironia, em alguns lugares se condenavam os anabatistas a morrerem afogados. Outras vezes eram queimados vivos. Porém, não faltaram casos nos quais eles foram mortos em meio a torturas e depois fossem esquartejados ainda vivos.
Nos séculos XIX e XX emigraram para a América do sul, onde podiam viver em relativo isolamento da sociedade. Até aos dias de hoje, os Menonitas são o principal ramo do velho anabatismo do século XVI, e continuam insistindo em seu pacifismo e dedicando-se freqüentemente ao serviço social.
7.1.2. Os Schwenckfeldianos
Foram influenciados por Kasper Von Ossig Schwenfeld, que foi um místico, teólogo leigo e nobre da Silésia. Foi um cortesão com um educação universitária, e um dos primeiros apoiadores das reformas luteranas na Silésia entre o período de 1520-1526. Rompeu com Lutero e outros reformadores por causa da natureza e significado da ceia do Senhor, e defendia uma suspensão das reformas até que os partidos principais pudessem concordar entre si.
No centro do seu pensamento, havia a convicção de que a totalidade da vida religiosa devia uma experiência interior de fé ao invés da justificação pela fé. Todos os credos e formas exteriores eram desnecessários e deviam ser evitados. A igreja verdadeira é a igreja invisível.
Quanto ao batismo, afirmava que a água do batismo não é o meio pelo qual o Senhor Deus sela a adoção de filhos e opera o renascimento.
Morreu em Dezembro de 1561.
VIII. Considerações Finais
Vimos neste trabalho que a Igreja luterana crê, ensina e confessa a existência de três meios da graça, através dos quais o Espírito Santo atua no pecador: a Palavra de Deus e o s Sacramentos do Batismo e Santa ceia.
Todas as religiões realizam alguma forma de cerimônias batismais. Para algumas dessas religiões, o batismo não passa de uma solenidade como outra qualquer, o batismo é tratado como um mero simbolismo cristão, negando-lhe qualquer valor sacramental. As igrejas verdadeiramente cristãs, porém, com base na Sagrada Escritura, aceitam o batismo com uma instituição do próprio Deus e o administram como um lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (Tt 3.5).
Sabendo que nem sempre os cristãos luteranos sabem valorizar as bênçãos do batismo, e que constantemente são assaltados por dúvidas sobre o batismo de crianças, especialmente nos dias de hoje, onde a proliferação de doutrinas distorcidas é enorme.
Cabe a nós, portanto, mostrarmos através do estudo deste tema tão importante e por que não dizer, essencial na vida da igreja, aos nossos membros que o batismo é, antes de tudo, o grande consolo que um cristão pode ter. Onde, a partir do batismo somos adotados como filhos de Deus!
Que esta mensagem possa estar gravada no coração de cada membro da nossa Igreja!
IX. Bibliografia
BECK, Nestor L., KUCHENBECKER, Horst, RIETH, Bruno F., STEYER, Christiano J.; HEIMANN, Leopoldo. Confissão da esperança. Exposição Histórica e doutrinária da Confissão de Augsburgo. Porto Alegre, Concórdia, 1980.
BRAND, Eugene L. Batismo – Uma perspectiva pastoral. São Leopoldo, Sinodal, 1982.
CMI, Conselho Mundial de Igrejas, Comissão de Fé e Constituição. Batismo, Eucaristia e Ministério – Convergência da Fé.
FRÖR, Kurt. A Confissão de Augsburgo. São Leopoldo: Sinodal, 1965.
GOEDERT, Valter Maurício – 2a ed. São Paulo, Paulinas, 1987.
GONZALEZ, Justo L. A Era dos Reformadores Vol. VI. São Paulo, Vida Nova, s/ edição, 1980.
Livro de Concórdia – As Confissões da Igreja Evangélica Luterana. Trad. Arnaldo Schüler. Sinodal / São Leopoldo; Concórdia / Porto Alegre. 5a Edição, 1997.
LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas, Vol.2. São Leopoldo / Sinodal e Porto Alegre / Concórdia, 1989.
MUELLER, John Theodore. Dogmática cristã Vol. II. Trad. Martinho Lutero Hasse. Porto Alegre, Concórdia, 1960.
ROTMANN, Johannes H. Batismo de Crianças. São Leopoldo, Concórdia, 2a Edição, 1982.
SEIBERT, Erní. Confissões Luteranas I – Estudo Introdutório às Confissões Luteranas. Apostila. ICSP – 1998.
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