2 Tm 3.14-4.5
Contexto
Paulo previne seu filho espiritual e colega no ministério, dos males e da corrupção que acontecerão nos últimos dias e do surgimento de pessoas que professarão doutrinas em desacordo com a Escritura. Oposto a isto, Timóteo pôde seguir bem de perto o exemplo de lealdade a Deus vivido por Paulo, apesar de este ter passado por muitas perseguições e sofrimentos.
Texto
V. 14 Se os homens perversos e impostures irão de mal a pior (v. 13), outra deveria ser a postura e a sorte de Timóteo. Ele conhecia a verdade da Escritura desde a infância. Esta é fundamento sólido e firme sobre a qual podia construir sua fé e nela permanecer.
Há discussão sobre o "quem" (tínoon) na expressão "de quem o aprendeste". Tratando-se do plural, deve referir-se não apenas a Paulo como também à mãe e avó de Timóteo (2 Tm 1.5) e, eventualmente, a outros que lhe poderiam ter ensinado a Escritura. Alguns poucos Manuscritos, impropriamente, tem o singular (tínos), querendo indicar que Timóteo aprendera somente por meio de Paulo.
V, 15 O versículo mostra que Timóteo conheceu a Escritura desde a infância, através de familiares. O que deu a ele a convicção e certeza da fé, porém não foi sua avó ou mãe, mas as sagradas letras. A Escritura é a autoridade. Pais cristãos, desde cedo, devem enfatizar, diante dos filhos, a autoridade da Escritura mais do que sua própria autoridade. O mesmo se refere a pastores em relação aos membros de suas congregações. Os judeus da congregação de Beréia haviam sido educados assim (At 17.11).
Paulo aponta para o assunto central da Escritura, a fé em Jesus Cristo. Para ele Cristo é o âmago das sagradas letras. Não há nisto diferença entre os crentes do Antigo e Novo Testamento. Ambos confiaram e confiam no mesmo Cristo. Conferir Jo 5.39.
É preciso notar que o simples conhecimento intelectual da história da salvação não salva. As sagradas letras podem tornar sábio para a salvação. Os sacerdotes e escribas, no tempo de Jesus, conheciam muito bem as sagradas letras, as mesmas que Timóteo aprendera. É a fé em Jesus que salva e não o simples conhecimento a respeito da salvação.
V. 16 Estas palavras são fundamentais para a credibilidade da Escritura. A inspiração divina garante que ela é a mensagem de Deus, cada palavra (2 Pe 1.21). A autoridade apostólica, por sua vez, garante a verdade destas palavras. Pois se os apóstolos lançaram um fundamento falso, como conseqüência, todo o cristianismo seria falso. A igreja, porém, está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas (Ef 2.20). Assim como os profetas falaram no Antigo Testamento como mensageiros de Deus, cujas palavras se cumpriram (Mt 1.22), assim os apóstolos são os porta-vozes de Deus no Novo Testamento. A inspiração não é uma teoria, ela é um fato. Isto é assim ainda que não compreendamos todas as palavras da Escritura ou nos surgiram uma aparente contradição. A falha ou a lacuna seguramente estará em nossa mente humana, incapaz e imperfeita para abarcar toda a sabedoria divina.
Por ser inspirada por Deus é que o homem encontra na Escritura todo o ensino necessário para tornar-se sábio para a salvação. Ela repreende ou reprova o pecador quando comete pecado, chamando-o ao arrependimento. Ela reprova o erro pela proclamação da verdade (Jo 8.31). A verdade liberta (Jo 8.36). A Escritura é útil para a correção ou restauração. Aquele que encontrou em Cristo o perdão dos pecados é restaurado da condição de pecador perdido e condenado para a de filho de Deus e herdeiro da vida eterna. A Escritura também "educa na jusliça". Ela é a única fonte que apresenta, para a humanidade caída em pecados, o amor de Deus em sua dimensão mais profunda, mas real. A jusliça de Deus é um conceito forense. Deus declara o homem pecador justificado diante dele, por causa de Cristo.
V. 17 A pessoa posta sob a influência da palavra inspirada por Deus, como foi detalhado no v. 16, torna-se apta ou em condições (ártios) para toda a boa obra. A idéia de perfeição é resultado da justificação.
Cap. 4, v. 1 "Conjuro-te", isto é "eu testifico solenemente". O que Paulo vai escrever é de tanta importância que ele o faz invocando como garantia o que é de mais sagrado, Deus e Jesus Cristo, que está prestes a julgar vivos e mortos. Paulo testifica também (embora soe um tanto estranho) pela volta e pelo reino de Jesus (ver o texto grego).
V. 2 O que segue diz tudo respeito ao "prega a palavra". A palavra é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16) c que faz tudo o que foi mencionado nos versículos anteriores (2 Tm 3.16-17). Proclamar a palavra de todos os modos deve ser a maior e constante ocupação de Timóteo. "Com toda a longanimidade" se refere à paciência que Timóteo deveria ter no instar, corrigir, repreender e exortar. "Doutrina", isto é, o conteúdo do texto bíblico.
V. 3 Paulo tem em mente aqueles que não querem saber da doutrina bíblica. É uma profecia ao nível de 2 Ts 2.3 e 2 Tm 3.1-9. Isto iria suceder na própria igreja. O ponto referencial destas pessoas não é mais a Escritura, porém os seus próprios
desejos perversos. Segundo estes padrões elas elegem seus mestres e ministros. Estes, por estarem comprometidos por interesses pessoais, ensinam e pregam apenas o que a congregação deseja ouvir.
V. 4 Por se recusarem a ouvir a verdade da palavra de Deus, os mestres substituem-na por coisas inventadas pela criatividade humana (fábulas). Quando uma pessoa não dá crédito à verdade, como castigo de Deus, ela acaba crendo em mentiras (2 Ts 2.10,11).
V. 5 "Tu, porém", é em oposição ao que foi dito nos vv 3 e 4. Aqui é usado o presente imperativo "continua a ser sóbrio". Paulo reconhece que isto tem sido o caso com Timóteo. "Sê sóbrio", isto é, continua a manter a mente despoluída de fábulas, opiniões e conceitos que rejeitam a verdade divina. As aflições que estariam para vir, não deveriam afastar Timóteo de ser sóbrio e de "ter a cabeça no lugar".
Com a expressão "faze o trabalho de evangelista" novamente é dada ênfase à pregação da palavra como ocupação primordial de Timóteo. A expressão, por isto, não quer dizer apenas que Timóteo fosse um missionário, mas que em toda a sua atividade pastoral a tônica fosse o evangelho. Desta forma o seu ministério, como um serviço prestado a outros, seria desempenhado de forma completa (cabalmente).
Disposição
TODA A ESCRITURA É ÚTIL
I — Para o ensino (didaskalia)
II — Para a repreensão (eleqmós)
III — Para a correção (epanórthoosis)
IV — Para a educação na justiça (peideia)
Christiano Joaquim Steyer
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