O início da missão luterana no Brasil
A “profissão” da Igreja: pregar o Evangelho!
Textos Bíblicos:
Marcos 16.15 / 1 Timóteo 2.3,4 / Marcos 4.30-32
Introdução
No ano 2004, a IELB completou 100 anos de atividade pastoral e missionária no Brasil. A primeira congregação, fundada no dia 10 de julho de 1900, contava com apenas 17 famílias. Hoje, a IELB soma cerca de 220 mil almas e se acha representada em todos os estados brasileiros. No presente estudo, queremos ver "como tudo começou" - e como dar continuidade à herança legada pelos nossos pais. Servimo-nos de três textos bíblicos acima indicados. Marcos 16.15 e 1 Timóteo 2.3,4 nos conscientizam de que a profissão da Igreja é pregar, testemunhar, expandir o Evangelho. E o texto de Marcos 4.30-32 exemplifica, através da parábola do grão de mostarda, como aquela pequena semente lançada em 1900, nos confins do Rio Grande do Sul, se desenvolveu na estável organização eclesiástica denominada de IELB.
História
Em 1847, imigrantes luteranos, na sua maioria saxões, sob a liderança de Carl Ferdinand Wilhelm Walther, fundaram nos Estados Unidos, no estado de Missouri, a Igreja Luterana - Sínodo de Missouri, dando continuidade, assim, ao Luteranismo confessional no Novo Mundo. O objetivo inicial da jovem Igreja, devido às circunstâncias da época, era arrebanhar os luteranos dispersos pelo vasto território norte-americano. Cientes de que, também na América do Sul, havia famílias alemãs luteranas sem atendimento pastoral, as atenções do Sínodo de Missouri se voltaram principalmente para o Brasil, Argentina e Chile, países que concentravam o maior contingente de imigrantes europeus. Entrementes, um pastor chamado Johann Friedrich Brutschin, que residia em Novo Hamburgo, RS, querendo retomar para a Alemanha por motivos de saúde, dirigiu-se à direção do Sínodo de Missouri nos Estados Unidos solicitando um pastor para assumir sua congregação. Assim foi enviado o pastor Christian J. Broders. Como o pastor Brutschin, a pedido da sua congregação, resolveu permanecer mais alguns anos no Brasil, o pastor Broders passou a percorrer as colônias alemãs no RS, com o objetivo de reunir famílias alemãs luteranas, sem atendimento pastoral, em congregações. Encontrou um ambiente hostil e adverso. Os longos anos sem atendimento pastoral levaram a um estado de grande indiferentismo para com a Palavra de Deus. Além disso, no Estado do Rio Grande do Sul, já se havia formado, desde 1886, uma organização eclesiástica com o nome de Sínodo Rio-Grandense. Um Sínodo de cunho unionista e étnico; bastava ser alemão e não católico, para a respectiva filiação. O fator étnico que era decisivo, pouco importando a confessionalidade. E a
maioria das famílias alemãs, sem outra opção, se havia filiado a esse Sínodo não-Iuterano. Diante dessa situação, o pastor Broders já havia resolvido retomar aos Estados Unidos. Quando de passagem por Pelotas, ouviu que, no interior do município, na localidade de Colônia São Pedro, havia um grupo de famílias sem atendimento pastoral. Resolveu assim fazer uma última tentativa de organizar uma congregação luterana confesssional. Constatou que aquele grupo de famílias era liderado por um senhor chamado August Gowert. Foi procurá-Io. O Sr. Gowert recebeu inicialmente o pastor Broders com bastante reserva. De início, pensou que o pastor Broders era mais um desses "pastores" que perambulavam pelas colônias, se diziam pastores, mas na verdade eram "lobos devoradores". (Mateus 7.15) O Sr. Gowert, versado na Escritura e nas Confissões Luteranas, logo passou a inquirir teologicamente o pastor Broders, especialmente sua posição confessional. E somente quando se convenceu de que o pastor Broders era realmente um pastor luterano confessional, estendeu-lhe a destra da comunhão e o recebeu como irmão na fé. Assim, logo se firmou entre ambos uma grande afinidade confessional que resultou na fundação da primeira congregação evangélica luterana no Rio Grande do Sul, bem como no Brasil e em toda a América do Sul, com 17 famílias filiadas. Era o dia 1° de julho de 1900, e, em seguida, já no dia 26 de agosto de 1900, foi organizada a primeira escola paroquial do Sínodo de Missouri sob o Cruzeiro do Sul. Obs.: A !ELB viria a ser fundada oficialmente somente em 1904.
O texto bíblico
Cada homem adulto deve ter uma profissão. Através do exercício da sua profissão ele garante o seu "pão", da sua família, e, ao mesmo tempo, promove o progresso do país. O cristão, por sua vez, tem duas profissões, uma através da qual ele obtém o seu sustento material (seria a profissão secular). A outra, "profissão espiritual", como discípulo de Jesus. (Marcos 16.15; Mateus 28.19) Cabe-lhe promover o progresso do Evangelho, da Igreja. Por isso, o cristão está filiado a uma congregação. É através da congregação que o cristão exerce o seu privilégio de ser um auxiliar de Deus na expansão do Evangelho. Assim vai cumprir com o objetivo de Deus "que todos os homens sejam salvos". (1 Timóteo 2.3,4) Os pais fundadores do Sínodo de Missouri bem que poderiam ter restringido o seu trabalho missionário a seu próprio país, os Estados Unidos da América do Norte. Mas então não estariam cumprindo com sua missão de Igreja. Uma Igreja sempre quer "pregar o Evangelho a toda criatura". (Marcos 16.15; Mateus 28.19,20) Assim, baseados no princípio bíblico "façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé"
(Gálatas 6.10), propuseram-se enviar pastores ao Brasil, mais precisamente para o Rio Grande do Sul, onde havia um grande contingente de imigrantes alemães. Mas isso representava um grande investimento financeiro, e não havia recursos disponíveis. A direção do Sínodo expôs esta realidade - da falta de recursos e da necessidade de iniciar a missão luterana confessional na América do Sul, nas revistas da Igreja. Cumpriu-se mais uma vez a profecia: a Palavra de Deus não volta vazia. (Isaias 55.11) O apelo por ajuda encontrou corações cheios de fé e amor pela causa da expansão do Evangelho. Especialmente uma doação anônima de 2 mil dólares, recebida pela direção do Sínodo, possibilitou o envio do primeiro pastor do Sínodo de Missouri para a América do Sul na pessoa do pastor Christian Broders.
No correr dos anos, e em todo esse século que passou, os nossos irmãos luteranos do Sínodo de Missouri fizeram generosas ofertas a favor de sua irmã IELB. Isso possibilitou a sua grande expansão por todo o território nacional. E por que o fizeram? Unicamente movidos pela fé em Cristo Jesus. Compreenderam sua responsabilidade para com seus irmãos de lhes levar o Evangelho. Exerceram sua profissão espiritual.
Aplicação
Esse primeiro século (IELB)nos fez adultos. Recebemos o impulso inicial, temos a base estrutural. Cabe-nos, agora, assumir nossa responsabilidade de levar o Evangelho ao povo brasileiro e aos demais países de fala portuguesa. Essa é nossa primeira responsabilidade. Verdade que a situação econômica atual é bastante difícil. Em geral, todas as congregações lutam pela sua subsistência. Mas isso não nos pode levar a cruzar os braços e à inatividade. Antes achar meios e soluções em exercer nossa profissão espiritual de "levar o Evangelho a toda
criatura". A IELB não pode deixar de marchar avante, pois o Senhor da seara jamais deu a ordem de marcar passo. O "ide e pregai o Evangelho" é uma ordem de trabalho contínuo até o Juízo Final. Se no passado a IELB - devido a sua origem histórica - voltou-se mais aos imigrantes alemães e seus descendentes teutos, agora, entrando para o segundo centenário, chegou a hora de o "ide e pregai o Evangelho” atingir o ser humano luso-brasileiro . Este é nosso trabalho como congregação e Igreja, em cada município e estado.
Festejar um centenário ufana os brios. Ser herdeiro desse passado épico é honroso. Mas por outro lado, impõe uma grande responsabilidade. Cabe aos herdeiros, primeiramente, transmitir a mesma herança doutrinária confessional, mas também suplantar os pais, na expansão, na difusão, no testemunho do "ide e pregai o Evangelho". A IELB já é uma árvore frondosa (Marcos 4.30-32), mas ainda há muito espaço para ela estender seus ramos e atingir todo o território nacional.
A Igreja Cristã primitiva saiu do seu casulo somente quando os apóstolos Paulo e Barnabé resolveram desprender-se das amarras étnicas do farisaísmo judaico da época e partir para o trabalho de cristianizar gregos e romanos, os gentios. (Atos 13.46) A partir dessa resolução, a Igreja Cristã se tornou cada vez mais universal. Atos dos Apóstolos é um relato sucinto dessa expansão através do Império Romano. Nós (IELB) apenas justificaremos o "do Brasil", quando nos desprendermos das folclóricas amarras étnicas germânicas, que nada têm a ver com confessionalidade, e partirmos para um trabalho nacional visando a atingir o coração das pessoas brasileiras. Eis o grande desafio do segundo centenário.
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