I G R E J A
Uma das perguntas que a igreja cristã, ao longo de sua história, sempre de novo precisou responder, é a indagação a respeito de sua própria identidade. Na medida em que a igreja perde a clareza a respeito de sua própria identidade ela também perde de vista a razão de sua existência aqui neste mundo.
No decorrer dos anos, a medida em que a igreja foi se desenvolvendo como organização, muitos passaram a confundir a estrutura da mesma com a igreja propriamente dita. Na época do racionalismo, por exemplo, a igreja passou a ser considerada a livre associação daquelas pessoas que, tendo a mesma fé, resolveram se reunir e organizar uma igreja. Passou a ser considerada uma organização humana, como tantas outras, a qual tem seu modo de ser e objetivos determinados por aqueles que a compõem.
Mas afinal, o que é igreja? Como a Bíblia a apresenta?
No Novo Testamento a palavra “ekklesia” é usada para indicar: igreja universal; igreja local; igreja de determinada região ou área; igrejas que se reúnem em casas. No entanto, fica claro que ela não é resultado de decisão humana, mas é obra de Deus. A raiz da palavra significa: “chamados para fora”, ou seja, aquelas pessoas que são chamadas para fora da incredulidade, do distanciamento de Deus, para serem aquelas que ouvem a sua voz. Quando falamos da igreja, falamos da obra do Espirito Santo nos e através dos homens. Assim, também, se queremos saber quais são os objetivos que Deus propôs para a igreja cristã, precisamos conhecer os objetivos de Deus, pois a igreja é de Deus e, por isso, não são são os homens que estabelecem os seus propósitos, mas Deus.
Lutero diz que “a igreja é um santo grupinho e congregação composto apenas de santos, sob uma só cabeça, Cristo, grupo congregado pelo Espirito Santo, em uma só fé, mente e entendimento, com diversidade de dons, mas unânimes no amor, sem seitas e sem cismas... Pelo Espirito Santo a ela fui levado e incorporado através do fato de haver ouvido e ainda ouvir a palavra de Deus, que é o princípio para nela se entrar. Pois antes de haver chegado a esta congregação, pertencíamos totalmente ao diabo, como pessoas que nada sabiam de Deus”.
Se, por um lado salientamos que a igreja é obra de Deus, por outro, temos que salientar que a igreja sempre se manifesta de maneira local em todo o NT, seja através de uma congregação local ou de um grupo de congregações. A igreja é um conceito concreto que se manifesta de forma visível. A igreja sempre é reconhecível porque ela se manifesta pela administração e uso da palavra e dos sacramentos. É algo concreto e visível.
Uma congregação local tem todos os direitos e deveres da igreja cristã. Este direitos não ficam aumentados nem restringidos pelo fato de haver uma organização eclesiástica regional, nacional ou internacional. Pode haver, com vistas a uma melhor organização de trabalho, delegação de tarefas, mas isto não tira de nenhuma congregação local os seus direitos e deveres de igreja.
Esta igreja cristã é reconhecível através de certas marcas características pelas quais se manifesta e age. Destacamos as seguintes características especiais:
1. Pelo fato de possuir a palavra de Deus. Onde esta palavra é ensinada, crida e confessada, ai está a igreja cristã.
2. Pelo sacramento do santo Batismo. Ele é meio da graça e, onde ele está presente, ali está presente a igreja cristã.
3. Pelo sacramento do Altar, a Santa Ceia. Também é meio da graça e ninguém o utiliza, conhece ou distribui a não ser a igreja cristã.
4. Pela Absolvição. Estas são as Chaves, que podem ser utilizadas de forma pública ou particular-Mt 18.15 e seguintes.
5. Pelo fato de ordenar ou chamar servos da igreja. O que deve ser valorizado e honrado é o ministério, independentemente da pessoa que o exerce.
6. Pelo fato de que publicamente ora, louva e agradece a Deus. São meios de santificação que o Espirito Santo utiliza para santificar o povo de Cristo.
Na Confissão de Augsburgo, no artigos VII e VIII temos definições como: “A igreja é a congregação dos santos, na qual o evangelho é pregado de maneira pura e os sacramentos são administrados corretamente. E para a verdadeira unidade da igreja basta que haja acordo quanto à doutrina do evangelho e à administração dos sacramentos.” E na Apologia destes artigos, Melanchton afirmou o seguinte: “ A igreja não é apenas sociedade de coisas externas e ritos, como acontece em outros governos, senão que é, principalmente, sociedade de fé e do Espírito Santo nos corações, sociedade que possui, contudo, notas externas, para que possa ser reconhecida, a saber: a pura doutrina do evangelho e a administração dos sacramentos de acordo com o evangelho de Cristo”.
Portanto, a igreja é o povo que ouve a voz do bom Pastor, ou seja, todos aqueles que confiam no Salvador Jesus. É reconhecida pela pregação do puro evangelho e administração correta dos sacramentos. E para isto Deus instituiu na igreja o santo ministério.
Não há uma ordenação divina quanto à maneira como a igreja deve se organizar. Portanto, neste ponto, não há motivos para intransigências. A organização deve servir a igreja para que o evangelho seja anunciado com maiores facilidades. Se a organização dificulta a pregação, deve haver uma reorganização, pois o que nunca deve ser afetado é a pregação do evangelho. A organização da igreja deve ter em mente os objetivos para os quais a igreja existe. Por exemplo: Se a congregação tem como objetivo pregar de forma intensa a palavra de Deus, ela providenciará em seu meio o santo ministério, suas instalações sejam apropriadas, haja material didático adequado, pessoas encarregadas de dar todo o amparo necessário. Todas as condições e o mínimo de interferência ao anúncio da mensagem. Por outro, pela organização de uma igreja poderemos analisar seus objetivos e preocupações. Por exemplo, se uma igreja constrói ao lado de seu pequeno templo um grande salão. Ou uma congregação que tem melhores instalações para realizar um almoço do que para dar uma aula de escola bíblica, etc. demonstra que não se organizou adequadamente para seus objetivos primários e básicos.
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