Exegese de Amós 8. 4 - 14.
Apresenta-se nesta seção uma serie de denuncias semelhantes às que já acontecido nos capítulos 3 a 6, onde novamente o profeta Amós condena severamente a opressão dos pobres pelos ricos.
4à “Ouvi isto, vós que tendes gana contra o necessitado e destruís os miseráveis da terra”. Com estas palavras o profeta quer mostrar que estes que estão explorando os pobres de diversas maneiras, estão cavando para si próprias a sua sepultura, estão trazendo para si a própria destruição, e trazendo lhes sobre si o juízo divino[1].
Este versículo dá ênfase à condição miserável dos pobres e necessitados, causada pelos gananciosos no poder.
5à “A festa da lua nova”. Horne a respeito desta festa nos citas os textos de II Rs 4. 23; I Sm 20. 5, 24 e 27; Nm 28. 11; Os 2. 11; Is 1. 13, que nos mostram que esses dias não eram devotados apenas apara fins religiosos, mas também nestes dias deveria se deixar de lado toda ocupação ordinária da vida[2]. Porém isto era algo que não agradava aos comerciantes pois prejudicavam o aumento das suas riquezas.
“Efa”. É uma medida de alimentos sólidos em grãos, que equivale a 22 litros[3]. Com a diminuição do Efa os comerciantes estavam dando menos alimento e recebendo mais dinheiro.
“Aumentando o siclo”. De acordo com Horne um ciclo valia cerca de 45 mil cruzeiros se fosse de ouro[4]. Siclo também pode significar medida de peso, mas neste caso está se referindo ao valor monetário. Os ricos comerciantes estavam diminuindo a medida dos alimentos, porém não estavam diminuindo o valor pelo contrario estavam cobrando mais caro pelas coisas vendidas.
“Balanças enganadoras”. Nesta época possuíam balanças para comprar e para vender, e o roubo acontecia de ambos os lados, por isso dar menos e receber mais e receber mais e pagar menos é desonestidade.
6à “Para comprar os pobres com dinheiro”. Devido à necessidade muitas pessoas que eram pobres se vendiam como escravos para poderem viver, muitos eram comprados pelo preço de um par de sandálias, e o autor Crabtree ainda nos acrescenta que com o dinheiro em mãos se podia comprar o pobre por um pequeno preço, e depois vendê-lo caro, como vendiam o refugo do trigo[5].
Horne ainda nos diz que muitos não satisfeitos com tamanha monstruosidade vendiam o alimento que era destinado aos animais como se fosse um alimento bom para o pobre[6], e assim aumentando ainda mais o tamanho de seus pecados e sua exploração frente ao mais pobre.
7à “Pela glória de Jacó”. De acordo com alguns autores esta é uma comparação irônica de Israel pervertido com o Israel convertido ao senhor.
Crabtree nos diz que a glória de Jacó se refere à eleição de Israel (Am 3.2), e se o Senhor jurou pelo orgulho constante e inalterável de Jacó, ou por si, mesmo com referencia à eleição de Israel[7]. Podemos dizer então que existe neste caso um tom de ironia na declaração, pois o povo de Israel havia repudiado as responsabilidades da eleição, e ao mesmo tempo se vangloriavam da suas próprias glórias.
8à Devido à injustiça praticada em Samaria, a terra estremecerá, causando pranto em todos os lugares, sendo o terremoto o castigo da avareza e da injustiça dos negociantes que pisavam os pobres e necessitados. Horne ainda nos diz que hiperbolicamente o profeta compara a terra com as cheias anuais do rio Nilo que chegam até 20 pés de altura, causando tremenda inundação, e com sua secas, que deixam somente desolação, onde toda a prosperidade se tornara em completa miséria[8].
9à “Que o sol se ponha ao meio dia”. Relacionado a isto lemos em Crabtree que o sol se põe ao meio dia para o homem quando morre de repente no meio da vida, desta forma a noite vira, com o sol poente, para Israel ao meio-dia, no meio de sua prosperidade material e do seu orgulho[9].
O arcebispo Usher menciona que após a profecia de Amós ocorreram três eclipses do sol (na festa do Pentecostes, 791 AC, na festa dos Tabernáculos, 771 AC e na festa de Páscoa, 771 AC) [10]. Existem ainda outros que sugerem que foi a escuridão que precede um terremoto, e alguns pensam em ser uma profecia de alcance maior no futuro referindo-se aos acontecimentos que ocorrerão antes da segunda vinda de Cristo no juízo final (Am 5. 20; Is 13. 10; Jl 3. 15; Mt 24. 6 – 7).
10à As festas que são realizadas para a alegria, diversão terão de acordo com o profeta mudado suas características, elas serão tornadas como solenidades fúnebres, os cânticos de diversão se tornarão lamentação, tão forte como se fosse para um filho único (Jr 6. 26; Zc 12. 10). Vestir-se de saco e raspar a cabeça era um sinal de lamentação (Jó 1. 20; Is 3. 24; 15. 2; I Rs 20. 31; Is 16. 3; Jl 1. 8, 13).
11à “Eis que vêm dias”. As predições do AT são morais e não simplesmente um passatempo para a curiosidade carnal sobre o futuro. O autor Motyer nos diz que com estas palavras Amós está querendo alertar as pessoas, para que o tempo que resta possa ser preenchido para total proveito e para que os perigos alertados não atinjam um povo desabrigado, despreparado[11].
“Enviarei fome sobre a terra”. Com esta frase o profeta está querendo mostrar que devido à desobediência continua do povo, será muito tarde para se arrependerem e voltarem para a palavra de Deus e assim tentarem evitar o juízo de Deus sobre suas cabeças.
Quando o castigo a tristeza bate no coração do homem isto o leva a estudar muitas vezes a escritura sagradas, porem muitas vezes isto é algo que chega muito tarde para produzir um resultado benéfico, e isto acontece devido o coração duro do ser humano e suas iniqüidades.
Para Horne a pior fome não será a escassez de alimentos, mais a pior fome é a fome da palavra de Deus, e isto quando não houver mais profetas, nem conselho espiritual, ninguém que aponte para o caminho da salvação[12].
E esta será uma justa retribuição para aqueles que estão rejeitando a pregação da palavra de Deus, pois nutrir a alma é mais importante do que alimentar apenas o corpo de pão e água.
12à “Andarão”. O verbo traduzido por Andarão é usado em relação ao andar dos bêbados (Is 28. 7), do balanço das arvores ao vento (Is 7. 2), dos lábios que tremem agitados (1 Sm 1. 13). Assim as pessoas que não sabem o que estão fazendo, vagueiam pela terra tentando descobrir o que antes consideravam tão leviamente.
Crêem alguns comentadores bíblicos que o sul não é mencionado, porque ficava ao sul do reino de Israel a cidade de Jerusalém, onde ainda se realizava e praticava o verdadeiro culto ao Senhor, o qual foi rejeitado (I Rs 12. 26 – 33). Andarão de uma parte a outra porem não encontrarão que anuncie a palavra de Deus, que os possa alimentar espiritualmente, e isto porque rejeitarão pão da vida, sendo o silencio de Deus o maior desespero e castigo de Israel.
O escritor Bonora nos diz ainda que sem a palavra do Senhor, o homem morre de fome e de sede. É o pior castigo, e Amós anuncia justamente este castigo terrível: o silêncio de Deus[13].
Ainda podemos citar as palavras bíblicas de Deuteronômio 8. 3 que nos dizem que “o homem não vive apenas de pão, mas vive de tudo que procede da boca de Deus”, confirmando ainda mais que sem a palavra de Deus, é difícil viver.
Podemos dizer que o propósito principal de Amós foi de mostrar o desamparo e a falta de rumo do homem sem a verdade revelada de Deus para mantê-lo firme e sossegado, e conforme Motyer há um toque muito típico do estilo de Amós no que ficou sem ser dito:
“Ah, sim, vocês andarão por toda parte, menos no lugar onde a verdade se encontra; por toda parte, menos onde o seu orgulho for humilhado. Vocês preferirão permanecer no erro com o orgulho de serem tidos como os que buscam a verdade, em vez de encontrar a verdade às custas de perder o seu orgulho”[14]
Mostrando assim que ele procurarão mas estarão procurando nos lugares errados, que apesar do sofrimento que estarão enfrentando eles não querem abandonar os erros, se arrependerem de seus pecados, e deixarem de lado o seu orgulho e se humilharem perante Deus.
13à “Virgens e jovens”. Os jovens são a geração e a esperança do futuro, porém ela também é herdeira da presente geração e, com toda a sua energia e confiança, não conseguem enfrentar as tensões da vida.
A força da juventude e a formosura das moças virgens não subsistirão, e nada representam diante de tamanha calamidade, onde o sofrimento físico é acompanhado pela fome espiritual. Bonora ainda nos acrescenta que diante desta situação se os jovens estão desviados e morrem assim o futuro de Israel também estará comprometido[15].
14à este versículo é um tanto que obscuro no original. Provavelmente ele possa estar se referindo ao culto idólatra ao bezerro de ouro em Betel e em Dã, estabelecidos no extremo norte do reino de Israel (I Rs 12. 26 – 33).
De acordo com Horne Amós ainda inclui os centros de idolatria que sofrerão os castigos de Deus, a Berseba[16], local onde também se praticava a idolatria à semelhança e forma de Israel.
[1] SILVA Horne P. Estudo Sobre os Profetas Menores, Comentário 1. São Paulo, Gráfica Instituto Adventista de Ensino, 2ª edição 1983. Pág. 105.
[2] SILVA Horne P. Estudo Sobre os Profetas Menores, Comentário 1. São Paulo, Gráfica Instituto Adventista de Ensino, 2ª edição 1983. Pág. 105.
[3] SILVA Horne P. Estudo Sobre os Profetas Menores, Comentário 1. São Paulo, Gráfica Instituto Adventista de Ensino, 2ª edição 1983. Pág. 106.
[4] SILVA Horne P. Estudo Sobre os Profetas Menores, Comentário 1. São Paulo, Gráfica Instituto Adventista de Ensino, 2ª edição 1983. Pág. 106.
[5] CRABTREE A. R. O Livro de Amós. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1960. Pág. 160.
[6] SILVA Horne P. Estudo Sobre os Profetas Menores, Comentário 1. São Paulo, Gráfica Instituto Adventista de Ensino, 2ª edição 1983. Pág. 106.
[7] CRABTREE A. R. O Livro de Amós. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1960. Pág. 161.
[8] SILVA Horne P. Estudo Sobre os Profetas Menores, Comentário 1. São Paulo, Gráfica Instituto Adventista de Ensino, 2ª edição 1983. Pág. 107.
[9] CRABTREE A. R. O Livro de Amós. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1960. Pág. 162.
[10] SILVA Horne P. Estudo Sobre os Profetas Menores, Comentário 1. São Paulo, Gráfica Instituto Adventista de Ensino, 2ª edição 1983. Pág. 107.
[11] MOTYER J. A. O Dia do Leão, a Mensagem de Amós. São Paulo. Editora ABU 1ª Edição 1984. Pág. 180.
[12] SILVA Horne P. Estudo Sobre os Profetas Menores, Comentário 1. São Paulo, Gráfica Instituto Adventista de Ensino, 2ª edição 1983. Pág. 108.
[13] BONORA Antonio. Amós o profeta da Justiça. Sao Paulo, Edições Paulinas, 1983. Pág. 94.
[14] MOTYER J. A. O Dia do Leão, a Mensagem de Amós. São Paulo. Editora ABU 1ª Edição 1984. Pág. 182.
[15] BONORA Antonio. Amós o profeta da Justiça. Sao Paulo, Edições Paulinas, 1983. Pág. 52.
[16] SILVA Horne P. Estudo Sobre os Profetas Menores, Comentário 1. São Paulo, Gráfica Instituto Adventista de Ensino, 2ª edição 1983. Pág. 109.
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