1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
1.1 Definição de Ecumenismo e Seus Sentidos
Ecumenismo tem sua origem no grego “oikoumene”, que significa “terra habitada”. Na verdade, existe uma estreita relação com o termo grego ”oikos”, casa.[1]
No entanto, a palavra “ecumenismo” vem atrelada a vários significados ou sentidos. Um primeiro sentido que se destaca é o sentido geográfico, aplicado na época do domínio romano ao próprio Império Romano. Há ainda o sentido cultural (aplicado ao helenismo), o sentido teológico e por fim o sentido que perdura até os dias de hoje, o sentido eclesiástico, sentido aplicado à Igreja, que é “universal”, “católica”. Além disso, quando pensamos em ecumenismo nos vem à memória o sentido de algo global, envolvendo todas as pessoas.[2]
1.2 Objetivo Principal do Ecumenismo
O diálogo inter-religioso e o macroecumenismo tem como objetivo a tolerância religiosa (cristã ou não cristãs), baseando suas idéias no fato de que todo o ser humano é criatura de Deus.
O objetivo principal do ecumenismo é vencer, ultrapassar as diferenças entre as Igrejas. Antes de mais nada, o ecumenismo quer reverter divisões.[3] Ele busca a unidade da Igreja de Cristo, hoje tão dividida em muitos ramos.
1.3 As Dificuldades do Ecumenismo
Devido às divisões dentro do próprio corpo de Cristo, cresce o desejo por uma unidade entre os cristãos. As pessoas estão saudosas do tempo em que os cristãos viviam sua fé sob uma denominação, o que nos remete aos tempos da Igreja Primitiva.
Aliás, desde os tempos antigos, houve divergências de idéias e pensamentos, dentro da própria Igreja Cristã. Assim, surgiram as heresias. No entanto, não foram apenas nas heresias que os problemas se apresentaram. Houve divisões, houve cismas, o que atacou a unidade da Igreja. Em 1054 AD, por exemplo, houve o grande cisma do Oriente, no qual se separou a Igreja Ocidental da Igreja Oriental.
No século XVI acontece a Reforma Protestante, em decorrência da qual surgem mais outras divisões (luteranos, anglicanos, calvinistas, etc.). Quatrocentos anos depois, o processo da pluralização da Igreja de Jesus Cristo de modo algum está concluído, A cristandade se apresenta dividida, necessitando, pois, do esforço ecumênico. Diversidade como tal é mal nenhum. O que causa dano à Igreja e à sua missão é o conflito, a concorrência, a mútua condenação e exclusão.[4]
Não que as diversidades, em si, sejam algo de ruim. Desde cedo, as comunidades cristãs tiveram as suas próprias características. No entanto, elas possuíam a mesma fé, o mesmo batismo e a mesma salvação.
Uma coisa que precisamos ter em mente é que, ainda que haja diferenças doutrinárias entre as diferentes denominações cristãs – ainda assim temos que ter a consciência que todos nós, cristãos, fazemos parte do mesmo corpo e temos o mesmo propósito de vida: viver o Evangelho e proclamar o Evangelho às nações que ainda não o conhecem.
A dificuldade do ecumenismo está justamente no próprio significado de Igreja. Hoje, o ecumenismo pretende unificar, sob uma mesma denominação, os crentes em Cristo. Tem-se em mente uma unidade visível. Entretanto, a situação não é tão fácil de se resolver. Lutero já fazia distinções a respeito do conceito de Igreja.
Pois, graças a Deus, uma criança de sete anos sabe o que é uma igreja, a saber, os santos crentes e “os cordeirinhos que ouvem a voz de eu pastor”. Pois assim rezam as crianças: “Creio uma santa igreja cristã”. Esta santidade não consiste em sobrepelizes, tonsuras, alvas e outras cerimônias deles, inventadas para além das Sagradas Escrituras, porém consiste na Palavra de Deus e na fé verdadeira.[5]
Para os teólogos da época de Lutero, a Igreja era uma instituição visível e fora desta instituição não havia salvação disponível. Entretanto, Lutero não tem medo de afirmar que Igreja não é tanto a instituição visível: a Igreja de Cristo é invisível, é a comunhão dos santos. A Igreja existe onde o Evangelho de Cristo é anunciado unanimemente de acordo com a reta compreensão dele e onde os sacramentos são administrados de acordo com a Palavra de Deus.[6]
Por isso, quando pensamos em Igreja, não podemos condicionar o significado a uma mera manifestação visível, pois até nesta manifestação visível podemos encontrar os impenitentes, aqueles que zombam e não crêem no Evangelho.
É aqui que se encontra a principal dificuldade do ecumenismo. Ele baseia-se numa unidade visível. Na realidade, o objetivo máximo do ecumenismo moderno é superar as fronteiras eclesiásticas. Isto significa, unificar, sob uma mesma comunhão visível, os cristãos espalhados pelo mundo, o que se mostra impossível, devido às divergências doutrinárias entre as denominações cristãs.
2 Proposta de Ação Ecumênica
Como proposta para uma ação ecumênica, eu, num primeiro momento através de estudos, apresentaria as principais crenças, ensinos, e práticas da nossa comunidade (IELB), fundamentadas e de acordo com a Escritura Sagrada, tais como, por exemplo, a justificação pela fé em Jesus Cristo e não por obras, a vida e o exemplo cristão como resposta à obra de Cristo em favor da humanidade, etc.
Após instruir meus membros acerca da prática cristã do ecumenismo, eu desenvolveria um sistema de estudos e avaliações das denominações religiosas da cidade em que eu, como pastor da IELB trabalho.
Para tanto, através de estudos na comunidade, os membros seriam divididos em grupos, sendo a cada grupo proposto estudo de uma das denominações religiosas da cidade.
Através de uma pesquisa feita por mim, acerca das denominações religiosas da sociedade em que vivem, colocaria à disposição dos grupos o material que correspondesse a denominação a ser estudada por eles. Neste material, constariam informações acerca das principais crenças, convicções e práticas da denominação estudada.
Durante reuniões, cada grupo teria a tarefa de expor o que aprendeu a respeito da denominação religiosa que estudou. Após todos os grupos terem apresentado suas opiniões e conclusões, passaríamos então para uma outra etapa, onde sairíamos do teórico para o prático. Isto seria realizado da seguinte forma: agora que o grupo já possuía determinado conhecimento da denominação que estudou, tendo também a explicação dos principais fundamentos e ensinos da nossa Igreja cristã (IELB), visitaria tal denominação a fim de conhecer como ela funciona.
Certos critérios seriam colocados por mim, como por exemplo, a observância por parte dos grupos da prática do culto daquela denominação, se a mensagem falou de Cristo ou não, etc.
Após mais uma reunião onde os grupos trariam seus relatos ao grande grupo, também através de um estudo iríamos confrontar os ensinos das demais denominações religiosas da cidade, com o ensino cristão praticado e exercido em nossa igreja (IELB).
Procuraria expor, como por exemplo, que a denominação Espírita não confia e prega a obra de Jesus Cristo em favor dos homens; que a denominação católica não prega a justificação por fé e graça e sim mediante a prática de boas obras, e assim procederia em relação a todas as denominações estudadas, mostrando ao povo da igreja se elas estão de acordo com a prática cristã bíblica ou não.
Com este programa de estudos o que se pretende é instruir o povo acerca da doutrina cristã, acerca do ensino luterano, bem como instruí-lo acerca dos ensinos e práticas das denominações religiosas que compõem a sociedade em que vivem.
A partir de tais estudos, também seriam elaborados certos pareceres que nos ajudariam em situações onde a presença da nossa igreja fosse requisitada em conjunto com demais denominações da cidade. Estes pareceres nos ajudariam a decidir se, por exemplo, poderíamos participar de uma cerimônia de formatura de colégio em conjunto com demais denominações religiosas.
Seria uma espécie de guia da comunidade que apontaria para uma prática ecumênica saudável. Mostraria que quando há concordância entre as igrejas sobre o Evangelho e administração dos sacramentos, pode haver uma comunhão eclesiástica visível em uma situação específica (como no caso de uma cerimônia de formatura). Por outro lado, mostraria que quando não há acordo nestes assuntos, assim como são ensinados na Escritura, não se deve participar nestas ocasiões. A nossa igreja está comprometida com a pregação e prática da verdade, não devendo ser misturada, ou quem sabe até confundida, com denominações que não pregam a verdade tal qual nos foi revelada. A recusa em manter comunhão com aqueles que não confessam a verdadeira fé é uma ordem divina, tal qual encontramos registrada na Bíblia.[7]
BIBLIOGRAFIA
BRAKEMEIER, Gottfried. Preservando a Unidade do Espírito no Vínculo da Paz: Curso de Ecumenismo. São Paulo: ASTE, 2004.
CONFISSÃO de Ausgsburgo. In: Livro de Concórdia. Traduzido por: Arnaldo Shüller. 5.ed. São Leopoldo/Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1997.
OS ARTIGOS de Esmalcalde. In: Livro de Concórdia. Traduzido por: Arnaldo Shüller. 5.ed. São Leopoldo/Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1997.
[1] BRAKEMEIER, Gottfried. Preservando a Unidade do Espírito no Vínculo da Paz: Um Curso de Ecumenismo. São Paulo: ASTE, 2004, p. 09.
[2] Idem, Ibidem.
[3] Ibidem, p. 10.
[4] Ibidem, p. 11.
[5] OS ARTIGOS DE ESMALCALDE. In: Livro de Concórdia. Traduzido por: Arnaldo Shüller. 5.ed. São Leopoldo/Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1997, p. 338, § 3.
[6] CONFISSÃO DE AUSGSBURGO. In: Livro de Concórdia, p. 32, VII, § 2.
[7] Rm 16.17-20.
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