QUARTO DOMINGO NA QUARESMA
9 de março de 1997
Efésios 2.4-10
No final da sua segunda viagem missionária (ano 52 d.C), o apóstolo Paulo fez uma breve estadia na cidade de Éfeso (Ásia Menor). Como de costume, visitou a sinagoga local e testemunhou aos judeus que Jesus Cristo é o Messias profetizado no Antigo Testamento. Devido a compromissos inadiáveis (At 18.18 cf. Nm 6), não pôde atender ao convite de permanecer mais tempo na cidade. Prometeu, no entanto, em breve retornar. Enquanto isso, o casal Aquila e Priscila daria continuidade ao trabalho de evangelização (At 18.18-21; 18.24-26).
Paulo cumpriu sua promessa e no início da sua terceira viagem missionária (ano 53 d.C.) retornou a Éfeso. Inicialmente por três meses concentrou seu trabalho na sinagoga, com o objetivo de trazer os judeus à fé cristã (At 19.8). Depois mudou de endereço e estratégia. Ocupou uma sala na escola de Tirano e Paulo passa a liderar uma equipe de missionários integrada por Epafras (Cl 1.7; 4.12,13), Timóteo, Erasto (At 19.22) Gaio e Aristarco (At 19.29). Por dois anos esta equipe concentra sua atenção na conversão de gentios, "dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia (Menor) ouvissem a palavra do Senhor..." (At 19.9,10). A longa estadia de Paulo em Éfeso justifica-se. Não foi tarefa fácil estabelecer o cristianismo na região. A cidade era o centro do culto pagão da deusa Diana (Artemis para os gregos), "a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo adoram" (At 19.27). Seu grandioso templo na cidade era uma das sete maravilhas do Mundo Antigo. O poeta Antípatros ao ver pela primeira vez o templo, escreveu: "Quando vi a sagrada casa de Artemis que se eleva até as nuvens (120 metros de comprimento, 50 de largura e 90 de altura), as outras maravilhas foram postas na sombra, já que nem mesmo o sol viu jamais algo igual em todo o Olimpo." Segundo o historiador romano Plínio, a construção deste templo levou cerca de 200 anos.
O próprio apóstolo Paulo sentiu a força deste culto pagão, pois no tumulto liderado por Demétrio, em honra à deusa Diana, certamente teria sido linchado se os líderes cristãos não tivessem impedido Paulo de falar à fanática multidão que histericamente gritava: "Grande é a Diana dos efésios"! (At 19.23-31). Mesmo assim o trabalho de evangelização liderado por Paulo foi deveras abençoado e frutífero. Em Éfeso não apenas se formou uma das maiores congregações cristãs, como também foi um expressivo centro irradiador do cristianismo pela Ásia Menor nos primeiros séculos da Era Cristã. A todas estas congregações lideradas por Éfeso, o apóstolo Paulo, da cidade de Roma, provavelmente no ano 62 d.C, envia a sua Epístola aos Efésios.
Como já o fizera anteriormente na sua Epístola aos Romanos (Rm 3,4,5), também nesta carta aos efésios destaca a doutrina fundamental do cristianismo: a redenção do homem como obra exclusiva do amor de Deus em Cristo Jesus. Doutrina que sempre deve ser ressaltada, testemunhada, ensinada, por ser a doutrina central e peculiar da Igreja Cristã, em oposição às outras religiões que todas, sem exceção, atribuem ao próprio homem o mérito da salvação. Daí também a premissa de toda a atividade paroquial ser cristocêntrica.
Nesta perícope o apóstolo Paulo destaca a ação redentora exclusiva de Deus, sem nenhuma interferência ou merecimento humano. Aqui não vai nenhum demérito, desprezo ou humilhação ao homem. Simplesmente pelo fato de que para o homem é impossível salvar-se a si próprio (1 Pe 2.25), ou sequer cooperar na sua redenção (SI 48.7,8). O fato de ser pecador lhe inviabiliza uma auto-redenção. Pois pecado é morte física (Gn 3.19; Rm 6.23) e morte espiritual (Cl 2.13; Ef 2.1). Foi preciso que Deus interferisse e providenciasse a salvação (v.4). Assim o "coração" de Deus se compadeceu para com a miséria humana (v.4) — a desgraça da morte física e morte espiritual — e em Cristo — na sua obra redentora, como verdadeiro homem e verdadeiro Deus — nos deu VIDA (v.5), assegurada pela sua ressurreição (v.5).
No seu grande amor e na sua rica misericórdia, não apenas deu VIDA (salvação), mas ainda agraciou o homem com o estar junto a ele. Este "assentar nos lugares celestiais" (v.6) restabelece a imagem divina perdida pelo pecado (Gn 1.26). Agora novamente o Criador e sua criatura estão juntos, como inicialmente planejado por Deus ao colocar o homem no Jardim do Éden. Esta é a verdadeira VIDA legada pela ressurreição de Cristo.
Mas o seu grande amor e sua rica misericórdia vão mais além — não apenas nos deu VIDA, não apenas nos faz assentar nos lugares celestiais — mas de eternidade a eternidade irá proporcionar a "suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco" (v.7). Sendo Deus infinito, a eternidade será insuficiente (em linguagem humana) para esgotar seu amor, sua bondade para conosco.
Mérito humano? Cooperação humana?
Não!
"Pela graça sois salvos" (v.5 e 8). A repetição do apóstolo é proposital. Quer desfazer qualquer idéia de auto-redenção, tão arraigada no mundo gentílico. A salvação não se adquire por meio de obras, merecimento, compra, raça, cor, profissão, oferendas, ascetismo. Ninguém pode dizer: "Eu ajudei!" -"Eu cooperei!" - "Eu fiz por merecer!" - "Eu sou melhor que os outros!".
Gloriar-se a si mesmo, no que diz respeito à salvação, é impossível. A obra redentora de Jesus Cristo foi completa (1 Jo 4.9,10 e Jo 3.16). Atribuir assim méritos humanos é ofensa ao grande amor e imensa misericórdia. Por outro, a salvação do homem foi um ato exclusivo do amor de Deus. A salvação é um presente de Deus. A fé em Jesus é um "dom de Deus" — uma dádiva imerecida (eleição por graça). A causa sempre está no grande amor e rica misericórdia de Deus. Daí a razão da contínua repetição do apóstolo (v.5,6,7). Para finalizar no v.10 com o "criados em Cristo Jesus" — o renascimento pela conversão faz o cristão "feitura dele", um filho de Deus — como quando Adão e Eva foram originalmente criados por Deus, isto é, para servi-lo em santidade de perfeição. Esta é a tarefa, a função, a glória do homem, servir ao seu Criador. O cristão, pela fé em Cristo Jesus, tem agora novamente este direito e privilégio de ser "feitura dele". As boas obras, também já de antemão preparadas por Deus, visam oportunizar ao cristão a prática deste exercício da fé cristã com o qual serve ao seu Criador, Redentor e Santificador. Deus quer se fazer visível no mundo através das boas obras praticadas pelos cristãos (Mt 5.13,14,16).
Pela graça sois salvos!
1. não de obras - para que ninguém se glorie
2. mas mediante a fé - dom de Deus
Criados em Cristo Jesus para boas obras!
1. Não para obter a salvação
2. Mas como frutos da fé, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.
Walter O.Steyer
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