Matrimônio, crises, divórcio e novo casamento
Introdução. O matrimônio e a família são preciosas instituições divinas, uma herança dos céus. Mesmo crescendo os problemas nessa área, não podemos agradecer o bastante a Deus, por preservar o matrimônio e a família. Ao mesmo tempo é preciso dizer que a vida matrimonial e familiar é o lugar no qual se desenrola a grande tensão e luta da fé cristã. Pois ali há uma comunhão não de dois santos, mas de dois pecadores que, pela fé em Cristo, lutam contra sua natureza carnal e se ajudam mutuamente repreendendo, consolando, amparando como o recomenda o apóstolo Paulo: Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. Seja a paz de Cristo o árbitro em vossos corações, à qual, também, fostes chamados em um só corpo: e sede agradecidos. E de onde nos virá a força para tanto? O apóstolo mostra a fonte: Habite ricamente em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhei-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão, em vossos corações. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. (Cl 3.12-17)
Sustentar o amor na vida matrimonial e manter bom relacionamento na família, especialmente em nossos dias com tantas tentações e o desmoronamento de todos os bons costumes, sendo o lar invadido pelos meios de comunicação: jornais, revistas, televisão, internet, não é algo fácil. Mas ali onde a família se firma na Palavra de Deus, educando se mutuamente mediante boa disciplina externa, vencerão pela graça de Deus. Por isso o apóstolo admoesta: “Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne.” (Gl 5.16) “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau.” (Ef 6.13)
Nos últimos tempos, no entanto, os problemas nessa área estão se multiplicando. O número de divórcio nas famílias cristãs é maior do que entre os povos gentílicos. E o que é mais triste, cresce o número de divórcios nas famílias pastorais. A luta é grande. É preciso que nos apoiemos uns aos outros nesta luta. E a Igreja precisa dispor de estudos com exposição clara dos textos bíblicos sobre o assunto e as afirmações de suas confissões.
Pois entre todas as agremiações que lutam pela família, a Igreja Cristã deve ser, sem dúvida, a que mais se empenha pela preservação do matrimônio e da família. E isto não só por seus ensinos, mas também pelo exemplo. E os pastores devem ser exemplo número um, modelos irrepreensíveis.
1. O matrimônio é uma união vitalícia. O matrimônio, instituído por Deus, é uma união vitalícia. Esta união é firmada pelo consentimento dos pais e por parte dos noivos com juramento mútuo de fidelidade em dias bons e maus. Jesus sublinha: “O que Deus ajuntou não o separe o homem.” (Mt 19.6) O escritor da carta aos Hebreus afirma: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros.” (Hb 13.4) O profeta Malquias, após uma severa advertência contra a infidelidade conjugal, termina dizendo: Porque o Senhor Deus de Israel diz que odeia o repúdio (divórcio). (Ml 2.10-16) A instituição do matrimônio não prevê a separação de cônjuges. O matrimônio só pode ser dissolvido pela morte de um dos cônjuges. A exceção mencionada por Jesus em Mateus (5.32; 19.9) é um problema a parte. Neste caso um dos dois quebrou a união, pois ao cometer adultério, uniu-se a um outro corpo (1 Co 6.16) O abandono malicioso, o não cumprimento dos deveres matrimoniais de cama e mesa, é, na verdade, somente o outro lado da moeda do adultério. Hoje, no entanto quer-se usar este argumento como um segundo motivo, enquadrando nele a chamada “incompatibilidade de gênios”. Sob este pretexto, então, qualquer desentendimento serve de motivo para a separação. Afirma-se: é melhor separar numa boa do que viver brigando. Quando os fariseus perguntaram a Jesus: Por que mandou então Moisés dar carta de divórcio e repudiar? Jesus respondeu: Por causa da dureza do vosso coração. (Mt 19.7,8) Que dureza é essa e contra quem? Dureza contra Deus e sua Palavra. A pessoa deixa de dar ouvidos a Deus e endurece seu coração contra a palavra de Deus, que orienta a vida matrimonial. Ora, endurecer o coração contra Deus é cair da fé. Assim fica claro que para dois cristãos não existe a possibilidade do divórcio. Em nome de Deus, o apóstolo Paulo recomenda aos cristãos, e isto vale especialmente também para o matrimônio: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.” (Cl 3.12-14) A união matrimonial não simplesmente firmada sobre nosso sentimento do amor, pois este oscila e tem altos e baixos, mas sob a ordem e promessa de Deus. Por isso Deus afirma: O que Deus ajuntou, não o separe o homem.
Vamos, no entanto, examinar as passagens bíblicas mais de parte.
2. Exposição exegética de Mt 19.7,8 e 1Co 7.10-15.
- Mt 19.7,8. Moisés era legislador do povo de Israel. Como nem todos no povo eram tementes a Deus, pois havia entre eles hipócritas e incrédulos, mesmo sendo as leis rigorosas com punição até por apedrejamento, isto é, pena de morte a infratores da lei, muitos entre o povo não deram ouvidos à lei de Deus. Afim de por certa ordem, Moisés criou a carta de divórcio, para impor certa ordem àqueles que não temiam a Deus, não tinham fé. (Dt 24.1-4) O homem, que despedia sua esposa por qualquer motivo, tinha que dar à esposa repudiada uma carta de divórcio. Esta lei governamental, em tempos de decadência, foi interpretada de forma bem liberal possível. Um homem tinha o direito de mandar sua esposa embora por qualquer motivo. Jesus expõe isto a seus ouvintes e diz que não era assim desde o princípio. Quando Deus instituiu o matrimônio, ele não criou uma opção ou um espaço para o divórcio. Por isso Jesus sublinha: Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Em outras palavras, não existe razão para que filhos de Deus, um casal temente a Deus, possa vir a se separar. O divórcio não é o caminho para se resolver problemas matrimoniais. Se o matrimônio de uma família cristã entrar em crise, o amor e o relacionamento mútuo esfriarem, o problema está na fé cristã, que está morrendo. Os dois estão deixando de ouvir e falar com Deus. Este casal precisa voltar a ouvir a Deus e deixar guiar-se por Deus ao arrependimento e à fé, da qual brotará o amor de um para com o outro, para a restauração e renovação de sua vida matrimonial.
Por isso Jesus afirma: Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres. Esta dureza do coração não é outra coisa do que incredulidade. Um dos dois ou os dois caíram da fé. Portanto, não existe “um divórcio numa boa”. Isto também fica muito claro nas palavras de Jesus no sermão do monte: Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: Qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de adultério, a expõe a tornar-se adultera; e aquele que casar com a repudiada, comete adultério. (Mt 5.31,32) Jesus não admite o divórcio para filhos de Deus, exceto em caso de sofrerem o divorcio, quando um dos cônjuges quebra a união pelo adultério. Ora, adultério não é um pecado de fraqueza. É um pecado proposital, que deveria ser castigado no Antigo Testamento por apedrejamento. (Dt 22.20-26) Não temos, no entanto, nenhum exemplo de que este lei tenha sido executada. O apóstolo Paulo reflete o mesmo espírito ao escrever: Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não. Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta, forma um só corpo com ela? Porque, como se diz: serão os dois uma só carne. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele. Fugi da impureza! (1 Co 6.15-18)
Jesus ainda vai mais longe. Ele levanta a pergunta sobre um novo casamento do desquitado (pressuposto que são dois cristãos que não tem o direito de se separarem) e responde: Não! Pois, quem casar com a repudiada, comete adultério. Ele passa a viver com alguém, com quem não tem o direito de conviver. A separação temporária visa a reconciliação.
- 1 Co 7.10-15. Para completar o quadro precisamos analisar o que o apóstolo Paulo escreve aos coríntios em 1 Co 7.10-15. Ele tem duas admoestações. Na primeira admoestação (1 Co 7.10,11) ele fala a um casal, no qual marido e mulher são cristãos; na segunda admoestação (1 Co 7.12-15) ele fala um casal misto, no qual um é cristão o outro não. Vejamos.
Ora aos casados, ordeno, não eu mas Deus, que a mulher não se separe do marido se porém, ela vier a separar-se, que não se casa, ou que se reconcilie com seu marido; e que o marido não se aparte de sua mulher.(1 Co 7.10,11) Temos aqui duas ordens: não se separe, não se aparte. Esta é a vontade e ordem de Deus baseada na instituição do matrimônio: o que Deus ajuntou não o separe o homem. Uma ordem que vale para todos os tempos. Portanto, para cristãos, enquanto na fé, não existe a possibilidade do divórcio. Se um deles vier a separar ou apartar-se, por motivos não justificados, (exceto em caso de adultério), não se case. Este não se case tem um objetivo, dar um tempo para acalmar os ânimos, para voltarem a pensar corretamente, para que a fé volte a triunfar neles e eles voltem a se reconciliar. Pois a separação é contrária à vontade de Deus, é a quebra do juramento. Se a mulher que se separou ou o marido que se apartou casarem cometem adultério, pois eles não têm direito a um novo casamento. E quem casar com eles também comete adultério, pois está casando com alguém que está comprometido.
Isto dá o que pensar a nós pastores em nossos dias, nos quais somos simplesmente informados: Pastor, mude meu nome no fichário. Eu me separei e voltei a usar o nome de solteira. Ou quando eles vêm simplesmente com os papéis do divórcio e pedem a bênção para um novo casamento, sem que houvesse alguma tratativa pastoral com respeito ao matrimônio anterior. Dizem simplesmente: Fizemos um divórcio amigável. O fato de membros, que se debatem com crises matrimoniais, não procurarem a orientação de Deus junto ao seu pastor, já é em si um fato para repreensão. Muitos alegam: Fomos a um psicólogo cristão e ele nos aconselhou separar. Precisamos acentuar com muita clareza e força o que Jesus diz: O que Deus ajuntou, não o separe o homem. É preciso deixar isto bem claro ao casal cristão: Vocês não têm direito à separação, vocês precisam se entender.
1 Co 7.12-14. A segunda admoestação do apóstolo se dirige a um casal misto. Aos mais digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ele, não deixe o marido. Porque o marido incrédulo é santificado no convício da esposa e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros, porém, agora são santos. (1 Co 7.12-14) O apóstolo fala a respeito de casamentos mistos. Não dos casamentos mistos de hoje, mas de um casal de gentios, do qual um dos dois se converteu ao cristianismo. E agora? O apóstolo diz: Digo eu, não o Senhor. É que Jesus não falou diretamente sobre tal situação, por isso o apóstolo não tem nenhuma palavra expressa de Jesus em que pudesse se basear, mas ele o faz por sua autoridade apostólica. E nesse sentido, ele fala inspirado por Deus. Pois a pessoa convertida – naquele tempo na maioria era um prosélito, procedente de judeus – e ele se perguntava: Meu casamento é puro? Deus vai abençoá-lo? Pode haver comunhão entre um cristão e um incrédulo? Visto que no Antigo Testamento casamentos mistos eram proibidos (Dt 7.3). Além disso, temos exemplos em que judeus, que haviam casado com mulheres gentias, deveriam mandá-las embora. (Ed 10.2,19) O apóstolo Paulo quer acalmar consciências perturbadas por tais perguntas e recomenda que, se a parte incrédula, homem ou mulher, consentir, em permanecerem unidos, que cumpram fielmente seus deveres no matrimônio. Paulo procura remover qualquer dúvida no cristão sobre a pergunta: Será que Deus vai estar em nosso lar e nos abençoar? O apóstolo afirma: Sim, Deus vai estar com vocês. Ele escreveu: Porque o marido incrédulo é santificado no convício com a esposa e a esposa incrédula é santificada no convício do marido incrédulo. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros, porém, agora, são santos. Vejamos bem o que ele diz: o marido incrédulo é santificado, a esposa incrédula é santificada. Paulo não está falando da justificação do pecador, no sentido de perdão dos pecados e da paz com Deus; ele está falando de incrédulos no matrimônio cristão. Ele se refere à santificação do matrimônio. O matrimônio, esta união vitalícia é válida diante de Deus e Deus dará sua bênção a esta união. E, por amor ao cristão, seus filhos ou suas filhas, nesta união serão abençoados. Isto significa: o casamento é correto. E por haver ali um cristão, repousa sobre este matrimônio e o lar a bênção de Deus. Os filhos ali não são bastardos, como que gerados em adultério, mas gerados num matrimônio legítimo. Evidente que a parte cristã buscará levá-los ao batismo e educá-los de forma cristã. É uma grande bênção para um incrédulo estar num lar cristão. Mesmo que tal união não seja fácil e requer muita paciência e amor.
(Este consolo é post factum, isto é, quando dois casaram como gentios e então um se converteu ao cristianismo. Este versículo não endossa, nem justifica que cristãos se lancem levianamente para dentro de casamentos mistos. Casamentos mistos sempre devem ser desaconselhados. Se um(a) cristão(ã) está namorando alguém não cristão, então fale com a pessoa e procure primeiro trazê-la à fé, aos cultos, à instrução. Se conseguir trazê-lo, então dê os outros passos, noivado e casamento. Se não, termine o namoro.)
Pode, no entanto, acontecer também o contrário, que a parte incrédula não queira viver em tal união. Então Paulo diz: Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos não fica sujeito à servidão, nem o irmão, nem a irmã; Deus vos têm chamado à paz. (v.15) Incrédulo é alguém que não está na fé em Cristo, conseqüentemente não aceita a palavra de Deus e não se orienta por ela. Ele simplesmente abandona maliciosamente o seu cônjuge (malitiosa desertio). E agora, o que fará o irmão ou a irmã cristã abandonada? Estará livre? Poderá contrair novo matrimônio? Ou terá de correr atrás do seu cônjuge e esperar por sua volta? O que significam as palavras: não fica sujeito à servidão... vos têm chamado à paz? Será que servidão se refere à servidão no matrimônio? Sim. Uma vez que foi abandonado, que sofreu a separação, ele ou ela não são obrigados, sujeitos ao cônjuge, correr atrás dele, esperar para ver se um dia ele volte. Não há possibilidade de se aguardar ou procurar uma reconciliação, como no primeiro caso. Deus vos têm chamado à paz é o contrário da servidão. Isto significa que poderá casar novamente? Na verdade o apóstolo não levanta aqui esta pergunta diretamente, mas a palavra livre sem dúvida se refere à sujeição matrimonial, da qual ele agora está livre. Isto possibilita um novo casamento.
Infelizmente este texto foi e ainda está sendo interpretado fora do seu contexto cultural original do tempo do apóstolo Paulo e é interpretado à luz da cultura ocidental. Fala se assim na incompatibilidade de gênios, abrindo a porta ao divórcio por qualquer motivo. Por isso há teólogos que afirmam existirem dois motivos para o divórcio: adultério e incompatibilidade de gênios. Isto na confere com a Bíblia. Conforme a Escritura há um motivo só, a saber: o adultério. Quando Jesus falou sobre o assunto, ele lidou com a pergunta sobre a razão para o divórcio e respondeu: Não existe nenhum motivo, exceto em caso de adultério. O apóstolo ao falar sobre o assunto e responde uma outra pergunta: O que fazer quando um cristão é abandonado pelo cônjuge incrédulo, isto é, que sofreu o abandono. Isto vale também com respeito a um falso cristão, um hipócrita que abandona seu cônjuge levianamente por um motivo qualquer.
A Igreja Católica, contra a Bíblia, não admite nenhum motivo para uma separação, por isso não admite o desquite nem o divórcio[1].
Observações. Nossos teólogos levantam aqui, com muita razão, uma série de perguntas: Este abandono se restringe somente quando praticado por gentios declarados ou também por falsos cristãos e hipócritas? O apartar-se refere-se somente ao sair de casa ou também a um comportamento devasso em casa, a um abandono dentro do lar pelo não cumprimento dos deveres matrimoniais de cama e mesa? (1 Co 7.4,5)
Os exegetas são claros, a palavra gentio se refere também a um falso cristão, a um hipócrita, a alguém que se diz cristão, mas seu comportamento mostra que não o é.
Quanto ao abandono malicioso, os exegetas mostram que isto não é o caso quando um dos cônjuges, por obrigações profissionais, precisa ausentar-se por um tempo, que é o caso especialmente de soldados que ficam fora meses ou até anos, mas mantêm a comunicação e expressam sua saudade, etc. Também não é o caso de pessoas doentes que ficam meses hospitalizados ou até em casos de demência. Nem é o caso quando num momento de raiva, um deles explode e sai de casa, mas no outro dia (ou após alguns dias), volta arrependido e suplicar perdão. Nem é o caso se uma mulher for violentada, estuprada. Nem se o marido foi preso ou é expatriado, especialmente por motivos políticos. A não ser que, se na prisão ou no exílio, ele enveredar por uma conduta sexualmente devassa.
Mas é o caso quando alguém não cumpre seus deveres matrimoniais de cama e mesa, quer devido a seu comportamento leviano ou por sua malícia, isto é, desentendimento, repúdio de um ao outro, falta de reconciliação, mostrando pelas obras da carne sua falta de fé. Lutero escreve: “É um abandono malicioso por ódio à religião, leviandade, vida desregrada ou outros motivos. Quando um se furta ao outro, não cumprindo seu dever matrimonial, nem deseja estar com seu cônjuge, isto também é rebentar a união matrimonial. Quando todo o conselho e toda a admoestação é rejeitada e a pessoa se revela como gentio, não havendo mais esperanças de melhoras”[2]. Paulo Gerhard afirma: “Quando obstinação e absoluta falta de boa vontade para a reconciliação tomam conta. Então o casal precisa ser admoestado por parentes ou pelo pastor para que cumpram seu dever. Mas quando um dos dois revela obstinação isto também é uma maneira de abandono.” Deyling observa: “Esta negação permanente precisa ser expressa”[3].
Uma outra pergunta que se levanta é: Quanto tempo é necessário para se comprovar que é deserção maliciosa? A lei civil de cada pais provê respostas para isso. O pastor e conselheiros respeitarão essas leis, mesmo assim não é uma lei absoluta. Eles julgarão o caso.
3. Disciplina. A parte culpada, que adulterou ou abandonou o cônjuge maliciosamente, que mostra por seu procedimento que caiu da fé, que divorciou, precisa ser disciplinada pela Comunidade. Caso não se arrepender, deve ser desligado. Muitas vezes a pessoa sai da Comunidade antes de a disciplina lhe ser aplicada. Mas pode acontecer também, e isto é o desejado, que a pessoa dê atenção à disciplina – quer seja ao ser disciplinada ou mesmo meses ou anos depois – se arrepende, volta à fé em Cristo e pede a sua readmissão à Comunidade, qual o procedimento? A Comunidade sem dúvida se alegrará com sua volta e o receberá com alegria. Poderá ele contrair novo matrimônio? Sim. Ele deverá manifestar seu arrependimento ao ex-cônjuge e lhe suplicar perdão. Estando o caminho para refazer o primeiro matrimônio impedido ou porque a primeiro cônjuge não o aceita ou porque já está em vias de ou já concretizou novo matrimônio, ele poderá contrair novo matrimônio.
4. Pedidos para efetuar cerimônias de casamento. Uma das situações com as quais nós pastores luteranos nos defrontamos é o pedido de católicos, que solicitam a cerimônia de casamento. Toca o telefone ou após o culto alguém nos pergunta: “Vocês casam desquitados?” Normalmente são católicos que perguntam, porque a Igreja Católica não realiza casamento de desquitados ou divorciados. O que fazer? Nossa resposta é: A cerimônia de casamento é um privilégio só de membros da comunidade. Imediatamente somos perguntados: E o que é preciso fazer para ser membro da Comunidade? Vir aos cultos e à instrução de adultos. Com o que os interessados, normalmente, concordam logo. Segue a instrução. Devo dizer que tive bons momentos e diálogos profundos com tais pessoas. Podia-se notar que tinham pouca noção do que é ser cristão e mostravam verdadeiro interesse nos estudos da Bíblia. Aborda-se então o casamento e também as razões ou não razões para um divórcio. Na opinião das pessoas na instrução, é evidente, eram sempre inocentes e a culpa estava do outro lado. Como é um fato consumado e não temos condições de julgar o assunto, pedia que agora como cristãos, expressassem à outra parte seu pedido de desculpas. Em alguns casos, quando havia filhos e relativa comunicação com a ex-esposa, isto foi feito. Em outros casos, de separação litigiosa, isto era impraticável. Confesso, no entanto, que por mais participativa que tenha sido a instrução de adultos com eles, muitos, infelizmente, se afastaram novamente, logo depois do casamento. Provavelmente por falta de uma vivência e integração maior com a Comunidade.
Conclusões. Diante do que vimos, precisamos manter os seguintes princípios bíblicos:
a) Cristãos, enquanto na fé em Cristo, não cogitam na possibilidade de divórcio para solucionar seus problemas matrimoniais. Eles foram unidos por Deus e juraram fidelidade um ao outro.
b) Divórcio de cristãos. Em caso de um casal cristão se divorciar, isto sempre implica no fato de um ou os dois terem caído da fé, quer seja por causa de adultério ou um apartar-se maliciosamente. Neste caso, a parte inocente permanece membro da comunidade, a parte culpada (ou os dois) precisa ser disciplinada.
c) Soluções. Quando a união matrimonial foi quebrada por adultério de uma das partes ou por abandono malicioso, as soluções podem ser: 1) No caso de adultério, a parte culpada cai em si, se arrepende e pede perdão. A parte inocente pode perdoar e aceitar o cônjuge de volta, o que é recomendado. Isso, no entanto, dependerá da boa vontade da parte inocente. Ela poderá também perdoar e não aceitar o cônjuge faltoso de volta, isto é, solicitar o divórcio, conforme a afirmação de Jesus, (Mt 19.9) por ser uma relação mui íntima. 2) Em caso de abandono malicioso, espera-se por um tempo (talvez um ano, depende das leis do país), a espera de uma possível reconciliação. Não havendo reconciliação, a parte que repudiou deve ser declarada incrédula, pois endureceu seu coração contra a palavra de Deus. E o cônjuge que sofreu o abandono, estará livre para um novo casamento.
d) Arrependimento. Quando, após um tempo, a parte culpada, cai em si e reconhece seu erro, se arrepende e volta à fé em Cisto, o que fazer? Importa que o manifeste à Comunidade e para a pessoa a qual abandonou, pedindo perdão. Estando o caminho para refazer o matrimônio fechado, isto é, a pessoa não aceita o adúltero de volta, ou porque a pessoa inocente já está em vias ou contraiu novo casamento, a parte culpada, arrependida, poderá contrair novo casamento.
Aplicação. O que dizem essas palavras, hoje, a nós pastores? a) Cabe nos instruir bem nossos jovens e nossa Comunidade sobre esse assunto. Será que eles sabem o que fazer quando um casal enfrenta crises matrimoniais, de que devem procurar seus pastores e não correr simplesmente a psicólogo? Pois mesmo que estes se chamem de cristãos, normalmente predominam neles as teorias psicológicas. Precisamos de estudos bíblicos à disposição para que nossos membros possam, pela leitura, conhecer o que a Bíblia diz sobre o assunto. E mostrar o que Deus uniu não o separe o homem, pois a união matrimonial é uma união vitalícia. Não é em vão que ao Jesus afirmar isso, até os discípulos estranharam e disseram: Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar (Mt 19.10). b) Estar atento aos problemas e ter cuidado no trado e no aconselhamento a casais em crise e diante do divórcio, fazendo tudo para evitá-lo. E dizer à parte que causa o divórcio que realmente caiu da fé, e quem casar com a repudiada, comete adultério. c) Instruir com mais profundidade pessoas divorciadas que vêm à Comunidade em busca da cerimônia religiosa.
Afirmações com aplicação prática sobre Divórcio e Novo Casamento
Rev. Jeffrey C. Kinery, Grace Ev. Luth. Church
Brownwood, Texas
Tradução e adaptação: Horst R. Kuchenbecker
Em todos os tempos a Igreja precisou reafirmar sua posição a esse respeito e isto não baseado nas idéias inconstantes de pessoas, nem conforme os ditames da sociedade e da cultura na qual vivemos, mas unicamente baseado na imutável e inerrante autoridade da Palavra de Deus:
- O conselho do Senhor dura para sempre, os desígnios do seu coração por todas as gerações. (Salmo 33.11)
- Para sempre, ó Senhor, está firmada a tua palavra no céu. (Salmo 119.89)
- Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa.
Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou tendo falado, não o
cumprirá?(Números 28.19).
- A Escritura não pode falhar. (João 10.35)
As teses que seguem representam a posição da Escritura Sagrada sobre a questão do divórcio e do novo casamento.
1. O matrimônio, como instituído por Deus, é uma união vitalícia, contraída por esponsais legítimos, entre um homem e uma mulher para uma só carne, até que a morte os separe.
Mateus 19.3-6; Marcos 10.6-9; Romanos 7.1-3; 1 Coríntios 7.5. Cf.: Catecismo. Menor, perg. 56.
2. O divórcio é justificado (endossado, aprovado, sancionado) aos olhos de Deus somente com base na Escritura. Sob a base da Escritura, no entanto, na maioria dos casos, o divórcio não é ordenado, nem encorajado. Divórcio sob outra base do que a Escritura, por exemplo, o pronunciamento legal da autoridade civil de que o matrimônio foi quebrado em base não bíblica, tem sido tolerada por Deus por causa da perversidade e obstinação humana.
Cf.: teses e versículos que seguem.
3. A lei de Moisés no Antigo Testamento que permitia o divórcio por “qualquer motivo” de impureza (incluindo qualquer impropriedade), foi por causa da “dureza do coração” do povo de Israel. A lei de Moisés também permitia um novo casamento de ambos os cônjuges envolvidos num divórcio, mas proibia, após o segundo divórcio, retornar ao primeiro cônjuge.
Deuteronômio 24.1-4; Mateus 5.31; 19.7-8; Marcos 10.2-5.
4. No Novo Testamento, Jesus mostrou que Deus não aprova o divórcio, exceto se alguém o sofre por causa da infidelidade, fornicação e adultério do seu cônjuge, ou qualquer relacionamento sexual imoral e contrário à lei matrimonial como por exemplo: homossexualismo, incesto, prostituição, bestialidade, etc. Nestes casos o divórcio pode ser requerido e um novo casamento é possível.
Mateus 5.32; 19.9.
5. O apóstolo Paulo, por inspiração divina, enfoca uma outra pergunta no assunto divórcio, o abandono malicioso* por parte de um dos cônjuges.
1 Coríntios 7.12-15
* “Abandono Malicioso” não é, especificamente, uma causa para o divórcio, mas o próprio ato do divorcio – a dissolução do laço matrimonial. Deserção maliciosa consiste em um dos cônjuges se recusar persistentemente a viver como homem ou mulher com seu cônjuge. Mas precisamos ter certos cuidados, visto que separação temporária por causa de doença, prisão, trabalho, guerra, deportação, etc. não é deserção maliciosa. Persistente recusa, no entanto, de dar o direito conjugal ou não dar a devida benevolência por estúpida resistência não acidental ou por motivos de doença, representam uma deserção do voto matrimonial. Pois um dos principais propósitos do matrimônio é o intercurso sexual legítimo, negá-lo persistentemente é deserção maliciosa (1 Co 7.1-5). Persistente crueldade física e violência também tornam a convivência da coabitação marital impossível e isto constitui deserção maliciosa.
6. Todos os outros argumentos e/ou motivos para o divórcio fora da fornicação e abandono malicioso não são reconhecidos pela Igreja cristã, tais como: um não suporta mais ao outro, bebedeiras, diferença religiosa (de outra denominação) vagabundagem, grande negligência, crueldade mental, prisão, insanidade, doença contagiosa ou repugnante, doença incurável, condenação por crime, perda do amor, desapontamento das aspirações e esperanças matrimoniais, incompatibilidades. Tais motivos não são reconhecidos pela igreja cristã como válidos ou motivos bíblicos para o divórcio.
7. No caso de um dos cônjuges ter cometido infidelidade sexual (fornicação) ou abandono malicioso e persistir nisso sem arrependimento, não buscando perdão nem reconciliação, o cônjuge inocente pode (não que precisa faze-lo) buscar obter o divórcio legal para atestar que o cônjuge infiel dissolveu a união matrimonial por sua infidelidade.
Mateus 1.19. Cf.: passagens da 6ª tese.
8. Na maioria dos casos pastores cristãos insistem no perdão e na reconciliação se isto for possível. Pois, na maioria das vezes, ambos as partes têm certa culpa em grau maior ou menor, que levaram uma união ao divórcio. É muito raro uma das partes ser totalmente inocente num divórcio.
1 Coríntios 7.10,11.
9. Se ambos os cônjuges numa união são culpados de fornicação, eles perdem o direito de buscarem o divórcio. Se após a descoberta da infidelidade, do adultério o casal consente em voluntariamente coabitarem como homem e mulher, o matrimônio foi com isso novamente unificado e a parte inocente perde o direito de mais cedo ou mais tarde buscar obter o divórcio.
1 Coríntios 6.15,16.
10. A Igreja cristã não proíbe a parte inocente contrair novo matrimônio, nem ao cônjuge culpado que obteve o divórcio por causa de adultério ou deserção maliciosa.
Deuteronômio, Mateus 5.32; 19.9; 1 Coríntios 7.15,27,28.
11. Se o divórcio ou separação foi obtido por uma razão não bíblica, nenhum dos cônjuges deve casar novamente, mas buscar a reconciliação e restauração de sua união matrimonial.
1 Coríntios 7.10-11.
12. Se um dos cônjuges separados por um motivo não bíblico, casar com outra pessoa, este ato dissolve a união legítima. E este cônjuge tornou-se culpado do pecado de adultério.* Quem casar com tal divorciado ou separado por um motivo não bíblico também comete adultério. A parte inocente, neste caso, está livre.
*Adultério é um pecado grosseiro da carne e merece a condenação eterna, se a pessoa disso não se arrepender. (Êxodo 20.14,17; Hebreus 13.4; 1 Coríntios 6.9-10; Gálatas 5.19; Efésios 5.5; Apocalipse 21.8; 22.15; 22;15)
13. Se os cônjuges são membros de uma Congregação cristã, a parte culpada no divórcio deve ser tratada conforme os princípios evangélicos da disciplina cristã.
Mateus 18.15-18; 1 Coríntios 5; 1 Timóteo 5.20; Gálatas 2.11-14.
14. A parte culpada num divórcio, se penitente, deve corrigir sua vida pelo pedir perdão ao seu ex-cônjuge e à congregação cristã. Se a parte culpada ainda não casou de novo, deve procurar a reunificação com seu ex-cônjuge. Se este (a parte inocente) ainda não casou novamente e está disposto a recebê-lo de volta e se reconciliar. Se a parte inocente da união original morreu, casou ou recusa a reunificação, então a parte penitente, está livre para cassar novamente sem o estigma de ser um adúltero.
Se a parte culpada no divórcio do matrimônio original vier a se arrepender após estar casado pela segunda vez, não há razão bíblica para rotular a segunda união como adultério. Ela também não precisa ser dissolvida, visto que a parte culpada, agora se arrependeu, mesmo estando casado com uma pessoa com a qual não tinha o direito de casar, pois estava divorciada por uma razão não bíblica. A segunda união dissolveu, permanentemente, a primeira aos olhos de Deus (Veja tese 12ª). Por outro, a Bíblia proíbe, especificamente, após um segundo casamento o retorno à primeira mulher (Tese 3ª)
Romanos 7.1-3; 1 Coríntios 7.10-11, 27-28; João 4.16-18; Deuteronômio 24.4.
15. A parte culpada num divórcio, se sinceramente arrependida, que corrigiu sua vida, deve ser completamente perdoada e recebida de volta na Congregação cristã com todos os direitos e privilégios.
João 8.11; 2 Samuel 12.13; 2 Coríntios 2.6-8.
16. O pastor cristão não oficiará na cerimônia de casamento de pessoas que evitaram todo tratamento cristão em relação ao casamento, que divorciaram de forma não cristã. A não ser que sejam penitentes e que seu primeiro cônjuge tenha falecida, cassou ou recusa permanecer com ele.
1 Timóteo 5.22; Ezequiel 3;17-20; Efésios 5.11.
17. A melhor maneira de se evitar a tragédia do divórcio é quando cônjuges cristãos tomarem a sério a admoestação bíblica de que marido e mulher devem amar um ao outro e reconhecer sua responsabilidade sexual própria dada por Deus na vida e no matrimônio..
Efésios 5.22-31; Tt 2,3-5; 1 Pedro 3.1-7; Colossenses 3.12-19.
[1] Compendio Trindentino, sessão 24, cânon 7;
[2] Pastoral de Walther, p.246.
[3] Pastoral de Walther, p.250.
Nenhum comentário:
Postar um comentário