TADEU, O HOMEM DE PALAVRA.
Texto base: João 14.16-31
Texto Áureo: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e será amado por meu pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele”. João 14.21
Introdução: Existem pessoas que participam e fazem parte da construção da história sendo uma engrenagem não tão visível nesse processo. Entretanto, a visibilidade externa de forma nenhuma deve ser o padrão máximo de avaliação, ao contrário. Pense em um relógio de corda. Os ponteiros, visíveis. Marcam aquilo que as engrenagens internas, invisíveis, lhe indicam, a vida do apóstolo Judas Tadeu, certamente pode ser contada entre estas, afinal muito pouco temos registrado a seu respeito na Bíblia. Talvez você possa se identificar com ele nesse aspecto. Talvez haja pouca coisa visível ou que chame a atenção externamente em sua vida. Mas, veja, aquilo que não é necessariamente visível para os homens é visível para Deus. Afinal, Deus não vê como vê o homem. O homem vê o exterior; Deus vê o interior. Jesus vê em Judas Tadeu a possibilidade do apostolado e a oportunidade e disposição para a transformação e o serviço. Pode-se vislumbrar alguns aspectos sobre a vida de Judas Tadeu, que veremos a seguir:
1. A Construção Dinâmica de um Caráter Pessoal: Caráter pode ser considerado como um conjunto de marcas ou traços que nos identificam. São as propriedades que distinguem a singularidade e individualidade de alguém. Nesse sentido, Judas Tadeu precisa vencer algumas barreiras na construção de sua identidade.
a) A primeira barreira a ser vencida é a de ser conhecido e identificado por quem ele não é. Jo 14.22 registra: Judas, não o Iscaríotes. Se não ser o Iscaríotes por um lado era um alívio – não é o traidor – por outro lado, não fala nada diretamente a respeito dele. Não o individualiza, a não ser, como não sendo o outro. Não é o Iscaríotes, mas também não é o Paulo, nem o Pedro, nem o João. É necessário maturidade para ser identificado por aquilo que não somos sem se perder naquilo que somos. Existem pessoas que se debatem tanto em torno daquilo que gostariam de ser que perdem o olhar de gratidão e compreensão por aquilo que são. O que você foi no passado, pode te permitir passos melhores hoje. O que você é hoje pode te permitir passos melhores amanhã. Em 1Co 15.9-10 temos: “porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus. Mas pela graça de Deus, sou o que sou...”. Aquilo que somos, somos pela graça de Deus. Isto não elimina o passado – era perseguidor da igreja, isto traz uma identidade e individualidade presente – eu sou o que sou, insto traz uma possibilidade para o futuro – sou o que sou não de uma forma rígida e inflexível; mas como um projeto inacabado nas mãos de Deus e como tal por sua graça o amanhã me reservam possibilidades maiores e melhores.
b) A segunda barreira é a de transforma aquilo que não se entende em um instrumento para construção de uma compreensão mais aprofundada de Deus e de si mesmo. Diante do inusitado, do complexo Judas não se cala, lança uma pergunta para Jesus, com humildade, com desejo de comunhão e encontro (Jo 14.22). Há os que se calam diante do não sabido porque acham que não saber é um atestado de inferioridade. Há os que até sabem muito “sobre” Jesus, mas não aprenderam nada “de” Jesus. Jesus disse aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração (Mt 11.29). Judas Tadeu lança-se no empreendimento de aprender de Jesus e nessa jornada ele tem a possibilidade de refletir sobre sua vida.
c) A terceira barreira é entender que a ação de Deus é mais pessoal e interna do que geral e externa. O principal foco da ação divina são os corações e não os olhos. Talvez Judas Tadeu também esperasse uma ação libertadora nacional de Jesus. Daí a pergunta: “Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-te a nós e não ao mundo?”. Em nossa pressa podemos pretender que Deus se manifeste a nós e ao mundo, mas o projeto de Deus é manifestar-se ao mundo através de nós. Jesus reafirma: amarei e me manifestarei a quem me ama.
2. A Relação com a Palavra (um instrumento da Manifestação de Jesus): Judas Tadeu estava interessado na manifestação de Jesus e Ele apresenta o caminho para Sua manifestação: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra...” (Jo 14.23). O caminho é o amor. Contudo, Jesus traz o amor para além dos afetos, sentimentos e emoções. Jesus introduz o amor também de forma prática, se alguém me ama guardará a minha palavra. Talvez aqui, uma análise pessoal fosse extremamente denunciadora porque pode nos levar à conclusão de que nosso amor por Jesus não é tão grande como deveria. Mas, Paulo diz que o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi outorgado (Rm 5.5). Em Jo 14.16-17, Jesus está falando do Espírito Santo que nos seria dado pelo Pai. O que precisamos fazer então? A resposta é dar espaço ao amor de Deus que nos é dado pelo Espírito. No mesmo texto, Paulo nos fala de faces da vida onde o amor de Deus opera: a perseverança que é produzida pela tribulação, a experiência que é produzida pela perseverança, e a esperança que é produzida pela experiência (Rm 5.3-4).
Jesus disse aos discípulos que aquele que perseverasse até o fim seria salvo (Mt 24.13). Tiago registra que quem considera atentamente na lei perfeita e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, será bem aventurado no que faz (Tg 1.25). Jesus disse: “Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e vos será feito”.(Jo 15.7).
A perseverança produz experiência. Perseverando e sendo constante na Palavra veremos crescer nossas experiências com Deus. Esta é a principal forma para experimentar de modo mais efetivo a ação de Deus a nosso favor. Em I Samuel temos duas afirmações a seu respeito. A primeira em 3.7, diz que Samuel ainda não conhecia ao Senhor ainda não tinha sido manifestada. A segunda em 3.21, diz que o Senhor continuou a aparecer, enquanto por sua palavra se manifestava a Samuel. Jó, após grandes experiências com Deus, pode dizer: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem”. (Jó 42.5).
A experiência produz esperança. Depois de toda sua experiência, Jó podia dizer com muita propriedade: O Senhor é fiel. A Palavra do senhor é fiel. No salmo 23.4 Davi diz: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo...”. Somente a experiência com Deus permite essas declarações como produto da vida prática e não como teorias teológicas.
Por fim, cabe mencionar a fé. A palavra de Deus deve ser recebida e praticada com fé. Após ter trabalhado toda noite sem resultados concretos, Pedro disse para Jesus: Mestre sob tua palavra lançarei a rede (Lc. 5.5). O mar já não me pode dar mais nada, meus conhecimentos e capacidades demonstraram-se ineficazes, meu trabalho se tornou inoperante, mas sob tua palavra lançarei a rede.
3. OS IMPEDIMENTOS PARA NÃO SE GUARDAR A PALAVRA: Jesus afirmou: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama...” (Jo 14.21). A manifestação de Jesus que interessa a Judas Tadeu é demonstrada como conseqüência de se ter e guardar a Palavra. Nossa conduta pode colocar em risco a ação ampla da Palavra de Deus em nós. Falando aos escribas e fariseus Jesus mostra a possibilidade da tradição humana invalidar a Palavra de Deus (Mc 7.13). Falando com a multidão e aos discípulos Jesus mostra a possibilidade de a Palavra ser motivo de vergonha (Mt 8.38). Entretanto, vamos olhar para os riscos apresentados por Jesus em Mc 4.14-19.
I. O primeiro agente apresentado por Jesus que pode interferir na ação da Palavra é Satanás, que segundo o texto age no sentido de tirar a palavra semeada (Mc 4.15). Umas das principais formas de Satanás tentar subtrair a eficácia da Palavra de Deus é relativizando-a. Desde Gênesis isso pode ser observado. Deus dá uma ordem apontando as conseqüências de seu não cumprimento (Gn 2.16-17). Satanás subverte o que Deus falou, levando a desobediência com base em uma falsa esperança (Gn 32.1-5).
II. O segundo agente apresentado por Jesus que pode interferir na ação da palavra de Deus são as angústias e as perseguições por causa da palavra (Mc 4.17). Jesus revela que a palavra de alguma forma pode der fonte de angústias e perseguições. Paulo em Rm 8.35 nos afirma que nem angústia ou perseguição pode nos separar do amor de Cristo.
III. O terceiro agente apresentado por Jesus que pode interferir na ação da palavra de Deus é as ambições, que podem sufocar a palavra de Deus (Mc 4.19). O texto fala de uma concorrência entre a Palavra e os cuidados do mundo, as fascinações da riqueza e demais ambições. Tiago adverte: “... não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”.(Tg 4.4).
Um personagem bíblico que recebeu um duro golpe por não obedecer à palavra de Deus foi Saul. Apesar de inicialmente advertido (1Sm 15.1), Saul opta pela desobediência por seguir seus impulsos e não a palavra de Deus (1Sm 15.22-23). Como conseqüência, os sonhos e projetos de Saul vieram por água a baixo (1Sm 15.26-28).
CONCLUSÃO: Judas Tadeu permitiu que seu caráter e sua vida fossem tocados pela palavra de Deus.Como resultado experimentou a manifestação de Jesus e o amor do Pai. Judas perseverou, guardando a palavra e amando a Jesus. Fontes não confirmadas indicam que após sair pregando o evangelho ele morreu martirizado por sua fé e amor a Jesus. Deus espera que se diga de nós o que foi dito para Elias: Conheço agora que és um homem, uma mulher de Deus e que a Palavra do Senhor na sua boca é verdade (1Rs 17.24). Jesus indica a necessidade de sermos como Judas Tadeu, pessoas de palavra pela operação da palavra de Deus.
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