2 Tm 1.3-14
Contexto
As "Cartas Pastorais" refletem o profundo apreço que Paulo tinha por seu discípulo e íntimo amigo e cooperador Timóteo. Chama-o mesmo de filho, por ter sido instrumento nas mãos de Deus a gerar nele a fé. Nesta carta, escrita da prisão de Roma, Paulo até mesmo o prepara para sucedê-lo na liderança das congregações por ele assistidas. É o canto do cisne ou o testemunho do grande Apóstolo da gratidão.
Texto
Vs. 3-5 — A hora da despedida é hora de lembranças e de promessas. A gratidão de Paulo se dirige a Deus, acima de tudo, pelo privilégio de servi-lo cora consciência pura. Sua gratidão leva também em conta a educação recebida dos antepassados próximos, em sua família, e do valor que a mesma representou na vida de Timóteo. A memória dos benefícios de uma eficiente educação na fé, a reverência a pais e avós crentes, e a gratidão a Deus por essas providências — são uma postura adequada para quem aconselha e ensina.
A fé não hipócrita de Timóteo está em contraposição a tantas máscaras de piedade que, cedo ou tarde, revelam sua falsidade. Paulo, por certo, lembra tantos fariseus que viviam hipócritas e dos quais ele, apesar de fariseu, se distinguia. A "educação na justiça" de Deus produzira o efeito, tanto em Paulo como em Timóteo, de prepará-los para o ministério, que se completa com o que segue, a saber, o desenvolvimento do poder de Deus em sua vida a seu serviço.
Vs. 6-8 — Baseado nas considerações iniciais sobre a educação e o conseqüente serviço de Timóteo, Paulo faz seu apelo maior: Reavivar o dom de Deus que, pela ausência prolongada do Apóstolo, parece ler arrefecido. A menção do "espirito de covardia" e de um certo "envergonhar-se" do testemunho de Jesus e do encarcerado Paulo" confirma a necessidade constante de reavivamento do chárisma toú Theoú. Essas falhas não se verificam com Timóteo, pois o aoristo subjuntivo negativo não permite essa interpretação. Se Timóteo estivesse incorrendo nelas, deveria usar-se o presente do imperativo. Apenas o poder de Deus faz vencer a inibição e os sofrimentos a favor do evangelho.
Esse poder é o antônimo de covardia, de vergonha, do medo. O poder de Deus desenvolve amor e moderação para desempenharmos nosso serviço a Deus e oferece as condições necessárias a esse serviço. Moderação é mais que uma qualidade, é ação, é exercício de uma mente sadia e equilibrada.
Vs. 9-10 — O teste de nosso poder se dá quando temos que sofrer pelo evangelho. Esta é a essência da "teologia da cruz" de Lutero. Vivemos e sofremos segundo o poder de Deus, salvador e santificador. De acordo com o mesmo poder ele chamou Paulo e Timóteo com santa vocação. Essa vocação inclui as habilidades de pregar, ensinar, admoestar e supervisionar nas igrejas, e inclusive de sofrer por sua palavra e testemunho, recebendo, por sua vez, as forças para resistir. Klêsei (vocação), aqui, é idêntica a 1 Co 7.20 e Ef 3.20: uma tarefa de vida especifica, o ministério pastoral.
É distinto das profissões seculares porque e quando feita "conforme a sua própria determinação e graça". Esta graça é o imerecido "favor Dei", sempre universal e ilimitado, que cancela e remove o pecado e a culpa. Paulo e Timóteo foram predestinados e eleitos na eternidade. Temos aqui a fundamentação da doutrina da predestinação e do chamado divinos, da eleição da graça e do ministério da pregação. Estabelecido na eternidade, manifesta-se através da vida e obra de Cristo, nessa redenção objetiva toma forma e aplica-se, pela justificação subjetiva, aos que chegam a crer no evangelho.
Vs. 11-12 — Em conexão com os atos de salvação de Deus, antes referidos, o Apóstolo recebeu medida especial de sua graça, e a incumbência de ministrar aos homens a vontade de Deus como pregador da palavra, apóstolo e enviado, mestre e ensinador, um terceto de encargos específicos que expressam a importância do ministério pastoral para quantos são chamados para exercê-lo. Oida é um elemento básico da fé: fé e certeza se complementam. O "depósito" certo e seguro, o crer no evangelho, está guardado em Cristo, que é poderoso para guarda-lo a salvo de perseguições e adversidades terrenas até o dia do juízo.
É como se dissesse: Ainda que eu morra, Cristo não falhará na guarda do evangelho em mim e nos que crêem.
Vs. 13-14 — O padrão (hipotíposis) ou modelo (1 Tm 1.16) das palavras de Paulo, e que ele espera que Timóteo siga, é tanto a atitude como a habilidade a ser desenvolvida, de ensinar segundo o grande modelo de Cristo (Urbild / Vorbild) e do amor que revelou ao nos salvar. A orientação pelo padrão divinamente estabelecido deve ser seguida "em fé e amor" que estão em Cristo Jesus. O Espírito Santo é o dinamo que move o crente a guardar e seguir esse tesouro de fé e confissão do evangelho de Cristo.
Disposição
O trecho é amplo e compreende pelo menos dois aspectos gerais, o da gratidão e as recomendações do Apóstolo, suas razões pessoais, tanto em relação a pessoas (antepassados) como a fatos (eleição e chamado).
Seguem três propostas distintas.
SEMPRE DOU GRAÇAS!
I. A quem agradecer
1 . A Deus, a quem ele serve
2. Aos pais e antepassados
3. A cooperadores
II. Por que agradecer
1. Pela salvação e fé recebidas e em nós implantadas
2. Pela alegria e convivência cristãs
3. Por lágrimas enxugadas
III. Como agradecer
1. Lembrando-os em oração a Deus
2. Por uma fé sem fingimento
3. Seguindo os exemplos recebidos ou
GUARDA O BOM DEPÓSITO!
I. A natureza e importância do depósito
1. Poder do evangelho: a predestinação e o chamado
2. O dom de Deus na vocação para o ministério
3. Uma fé sem fingimento
II. Ameaças à segurança do depósito
1. Vergonha de testemunhar
2. Esquecer-se de agradecer
3. Sofrimentos causados pelos inimigos
III. A manutenção do padrão das sãs palavras
1. Certeza e fé no poder do divino guardador
2. Viver em fé e amor pela habitação do Espírito ou
SOU GUARDA DE UM BOM DEPÓSITO
I. Porque ele é muito rico e importante
II. Porque ele sofre constantes ameaças
III. Porque tem as sãs palavras da fé em Cristo.
Elmer Flor
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