Exortação ao Sacramento do Corpo e Sangue de Nosso Senhor.
Contexto Histórico
Lutero escreveu este texto no ano de 1530. Nesta época ele encontrava-se em Coburgo, no extremo sul do Eleitorado da Saxônia. Neste período só pode acompanhar de longe os trabalhos da Dieta de Augsburgo, isso junho a novembro de 1530. Nesta ocasião os representantes políticos dos luteranos leram em público diante das mais altas autoridades da Alemanha, sua confissão de fé, a Confissão de Augsburgo, e a entregaram ao Imperador Carlos V. Por isso Lutero aproveitou o tempo em que não se envolveu nestas questões para escrever textos, inclusive este sobre a Santa Ceia. Este ele escreveu antes de 17 de outubro de 1530, e foi impresso pela primeira vez em novembro do mesmo ano. Sua intenção com o presente texto foi essencialmente pastoral.
Segunda parte. OS 7 (pp 244 -254)
O proveito que temos ao participar da Santa Ceia
Em primeiro lugar, devemos observar de maneira cuidadosa a palavra “em memória de mim”. Pois é com ela que Cristo nos estimula e chama, a irmos felizes ao Sacramento, ou pelo menos, não se apresente com má vontade. Isso para honra e glória do Senhor que tanto sofreu para nos dar tão grande benefício. Jesus também disse: “dado por vós, derramado por vós”. Essas palavras “De mim” e “vós” são importantíssimas, e deveriam tocar a cada cristão no íntimo a ponto de levá-lo a participar do Sacramento, mesmo que tivesse que andar cem ou mil léguas. Se prestarmos atenção à palavra “De Mim”, quando Cristo diz: “Fazei isto em memória de Mim”, observaremos que é Nosso Senhor e Salvador que sofreu, derramou seu sangue e morreu por nós. Com isto Ele apenas deseja que reconheçamos, creiamos nisso e lhe agradeçamos por ter passado por situação tão terrível em nosso favor.
O primeiro fruto e proveito que nos sobrevêm do uso do Sacramento é o seguinte: lembrar-nos do benefício e graça, e que nossa fé e amor sejam estimulados, renovados e fortalecidos, para que não nos esqueçamos ou desprezemos Nosso Amado Salvador e seu terrível e amargo sofrimento. Uma fé pura e verdadeira é extremamente necessária, para continuarmos em Cristo, pois sem fé ninguém o pode.
Outro proveito do uso do Sacramento: Onde quer que a fé seja assim revigorada e renovada, também o coração sempre será revigorado para o amor ao próximo, fortalecido para todas as boas obras e preparado para resistir aos pecados e a todas as tentações do diabo; porque a fé não pode ficar ociosa, ela tem por característica produzir frutos do amor, fazendo o bem e evitando o mal. Para isso, podemos contar com o Espírito Santo que está sempre presente e não nos deixará ficar preguiçosos.
Precisamos nos apegar e ater ao Sacramento. Ele é um fogo que consegue acender os corações. Temos que considerar nossa necessidade e carência, e então ouvir e crer na bênção de Nosso Salvador. “De fato ainda não estamos no além, por isso precisamos lutar contra a morte; enquanto vivemos, precisamos ir ao Sacramento, para fortalecer a fé, para que a morte não nos assuste nem leve ao desespero; porque ela é um inimigo cruel e insuportável para os descrentes, sim, mas que também assusta os de pouca fé”. Não só a morte, mas também; a carne, o mundo e o diabo, são inimigos poderosos e que não deixarão o crente verdadeiro ficar ocioso, mas o colocarão em constante batalha, que só pode ser vencida com ajuda de Cristo. O alimento dado por Cristo para fortalecer seu exército é seu próprio Corpo e Sangue, e isto não é apenas um sinal misericordioso, e sim presença real e verdadeira.
Algo que assusta bastante são as palavras de Paulo em 1Co 11.27-29: “ Quem comer desse pão e tomar desse cálice de forma indigna come e bebe um juízo e é culpado no corpo e sangue do Senhor.” Mas estas palavras foram dirigidas a um grupo específico de pessoas que estavam participando da Santa Ceia, como fosse apenas para encher a barriga e se embriagar. Aos cristãos, Lutero recomenda olhar não para nossa dignidade ou indignidade, e sim para a necessidade, de quanto precisamos da graça de Cristo. Diz que, se vemos e sentimos a necessidade, isto é suficiente para nos tornar dignos e habilitados a participar. Porque Cristo não instituiu a Santa Ceia para nossa desgraça e sim para nosso consolo e salvação.
Lutero apontou duas formas e razões para receber o sacramento: A primeira: que nele agradeças e louves a Cristo; a segunda: que busques também para ti consolo e graça. Segundo ele, não podemos fazer nada melhor que isso a Deus, nem glorificá-lo de forma mais elevada. E recomendou aos pregadores levarem estas palavras para o meio do povo, a fim de que produza frutos em sua vida. Pois, o próprio Deus diz em Is 55.11: “Minha Palavra não deverá voltar vazia, mas realizará aquilo para que a envio.”
Segundo Lutero, quando estavam sob o papado, participavam da Ceia apenas por obediência ao Papa, sem ensino nenhum sobre fé, e era oferecido apenas sob uma só espécie e ainda se precisava pagar. Agora que se tem o Sacramento sob as duas espécies (corpo e sangue) e de graça, as pessoas se endureceram e não tem mais motivação para participar, trazendo desse modo a ira de Deus sobre si.
ULBRA – UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
CURSO: TEOLOGIA
DISCIPLINA: Seminário de Teologia em Lutero
PROF: Paulo Wille Buss
ALUNO: Geomar Martins
Relatório sobre: Exortação ao Sacramento do Corpo e Sangue de Nosso Senhor (segunda parte)
Canoas, 01 de Outubro de 2007
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