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24 junho 2010

ORAÇÃO DA IGREJA, 5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES

Oração da Igreja
5º Domingo após Pentecostes (Próprio 8C)
27 de Junho de 2010

*[trad. e adp. Paulo Samuel Albrecht de: Prayer of the Church, da LCMS - PEM/2010]

P: Sempre lembrando de dar graças ao Senhor por ter fundado a sua Igreja sobre a pregação apostólica do Evangelho, oremos pela Igreja em todo o mundo e por todas as pessoas em suas necessidades.
P: Pela fiel pregação da santa Palavra de Deus e a correta administração de seus salutares sacramentos, para que o Senhor continue a levantar, fortalecer e encorajar todos os que servem no ofício do santo ministério, oremos ao Senhor,
C: Tem misericórdia, Senhor.
P: Pela IELB, que nesta semana que passou completou 106 anos de atividades em nosso país, estando presente em todos os estados brasileiros, para que o Senhor continue a abençoar todos os esforços por ela empreendidos de comunicar a Palavra da salvação de Cristo a todas as pessoas, aproveitando as muitas oportunidades e os muito meios disponíveis para tanto, oremos ao Senhor,
C: Tem misericórdia, Senhor.
P: Pelos líderes de nossa nação, Lula, nosso presidente, ___________, nosso governador, os juízes e legisladores de nosso estado, para que protejam a vida humana, especialmente os mais fracos e vulneráveis, e que eles governem com coragem e sabedoria, oremos ao Senhor,
C: Tem misericórdia, Senhor.
P: Pelos doentes e por aqueles que não podem mais se locomover (especialmente), pelo pobre e necessitado, por aqueles que padecem com doenças mentais, pelas instituições que deles cuidam, por aqueles que vem a morte se aproximando, para que Deus conceda cuidado dedicado e compaixão amorosa em suas horas de necessidade, oremos ao Senhor,
C: Tem misericórdia, Senhor.
P: Pelos comungantes que recebem o corpo e o sangue de Cristo no Sacramento do Altar, para que Deus conceda verdadeiro arrependimento de coração e nos una no Corpo de Cristo para a salvação de nossas almas, oremos ao Senhor,
C: Tem misericórdia, Senhor.
P: Todas estas petições e tudo o mais que tu sabes que necessitamos, ó Pai Celeste, concede-nos em nome de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador ressuscitado.
C: Amém.

5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES

5º Domingo após Pentecostes - 27/06/2010
Sl 16 / 1Rs 19.9b-21 / Gl 5.1,13-25 / Lc 9.51-62
Vilson Scholz – Para Igreja Luterana

1.  Contexto litúrgico

            A leitura do AT, em contraponto com o texto de Lucas 9.51-62, sugere uma ênfase no versículo final da leitura do Evangelho, a saber, a questão de pôr a mão no arado e ao mesmo tempo lançar os olhos para trás, numa nítida tentativa de querer reter o melhor de dois mundos. O texto da epístola, mais especificamente o v. 16, “deixem que o Espírito de Deus dirija a vida de vocês e não obedeçam aos desejos da natureza humana”, toca nessa mesma tensão/tentação de andar para a frente e para trás ao mesmo tempo. A época do pós-Pentecostes sugere essa ênfase no “andar no Espírito”.

2.  Texto

O texto de Gálatas 5 é cheio de paradoxos, capaz de fazer um teólogo luterano se sentir bem à vontade. Basicamente, diz que fomos libertos para ficarmos livres, em serviço. Claro está que Lutero não encontrou as teses que resumem seu “Da Liberdade Cristã” escritas no mural do mosteiro!
Com a justaposição dos vs. 1 e 13, o contraste fica evidente: Liberdade sem serviço em amor acaba em nova escravidão. Desta vez não mais à lei, mas à carne, isto é, ao próprio umbigo. Serviço por meio do amor é o cumprimento da lei. Retaliação e “guerra civil” no contexto eclesiástico não têm nada a ver com isso.
Na sequência, entra em cena a “força secreta” que possibilita o cumprimento da lei: o Espírito. Nele se anda ou vive (v.16). Quem pensava, equivocadamente, que se trata de uma “substância difusa”, é surpreendido ao ver que o Espírito aparece como pessoa que deseja (v.17), conduz (v.18), e liberta da lei (v. 18b). Ele tem o seu fruto e nele vivemos.
Ao Espírito se opõe, não o mundo ou o diabo, mas a carne. E assim se configura outra polaridade, entre carne e Espírito. Paulo não explica o que seria essa “carne”. (Aliás, temos aqui um problema com o qual Lutero já lidava, em seu tempo: como impedir que o ouvinte “viaje” para o açougue, tão logo ouve a palavra carne (“Fleisch”)? “Velha natureza humana” sempre é uma solução alternativa.) Essa “carne” faz da liberdade cristã um trampolim para a sua ação. Ela se manifesta no devorar-se mutuamente. Aparece personificada, pois “deseja” (vs. 16,17). A “carne” equivale mais ou menos a fazer o que se quer (v.17). Ela entende a linguagem da lei: coloca-nos sob lei, na medida em que não somos guiados pelo Espírito (v.18). Manifesta-se em obras ou exteriorizações de várias ordens, que resultam em exclusão da herança do reino. Os de Cristo crucificaram essa carne. Por mais que isso seja visto como uma ação realizada (“crucificaram”), ao mesmo tempo a possibilidade de fazer essas coisas é muito real. Do contrário, não haveria por que alertar para o perigo.

3. Aprofundamento

            O intérprete e pregador será atraído, em especial, pela lista de obras da carne e pelo fruto do Espírito. Dificilmente, numa pregação, será possível tratar de todos os elementos das duas listas. Quanto às obras da carne, é possível colocá-las em quatro grupos ou categorias: sensualidade (imoralidade, impureza, ações indecentes), paganismo (adoração de ídolos, feitiçarias), problemas no relacionamento interpessoal (inimizades, brigas, ciumeiras, acessos de raiva, ambição egoísta, desunião, divisões, invejas), excessos à mesa (bebedeiras, farras). Ao acrescentar “outras coisas parecidas com essas”, Paulo deixa claro que não está sendo exaustivo. Ou seja, o pregador poderia muito bem ampliar a lista, ou, por outro lado, selecionar aquilo que for mais evidente no contexto em que vive.
Quanto ao fruto do Espírito, os nove itens da lista podem ser colocados em três grupos: atitude ou postura pessoal (amor, alegria, paz), qualidades no relacionamento interpessoal (paciência, delicadeza, bondade), princípios de conduta pessoal (fidelidade, humildade, domínio próprio). No entanto, o apóstolo não tem necessariamente em vista um esquema lógico, e a sequência dos itens pode até ser aleatória ou determinada por fatores estilísticos (o som das palavras, por exemplo). Também neste caso seria possível argumentar que a lista não é exaustiva.
“Todo jardim tem o seu monturo”, dizia um antigo professor de exegese. Ou seja, a Bíblia tem, também, catálogos de vícios e relatos de coisas vis e condenáveis. Mas ela tem também os “catálogos de virtudes” que, mesmo não sendo tão marcantes quanto os outros (especialmente em contextos mais moralistas), deveriam, talvez, ser alvo de nossa maior atenção.
Seguindo nesta linha, pode-se notar que o texto fala sobre o fruto do Espírito, e não diretamente sobre o fruto da fé. (Em Efésios 5.9, Paulo fala sobre o “fruto da luz”.) Claro, há toda uma “teologia do Espírito” em Gálatas, por mais que a fé seja, também, um tema de destaque. No entanto, “fruto da fé” poderia, ao menos em nosso contexto, sugerir aquilo que nós somos capazes de produzir. Por isso, é bom que seja mesmo o fruto do Espírito. Só assim sabemos que não se trata de simples obras da natureza humana, que é o que realmente conseguimos, por nós mesmos, produzir. Por outro, o fruto do Espírito contrasta com as obras da Lei.
No começo da lista aparece o amor. Isto condiz com a ênfase paulina em 1Coríntios 13, por exemplo. O amor é auto-doação em benefício do(s) outro(s), e não necessariamente uma emoção. É característica de Deus e tem sua maior manifestação no sacrifício de Cristo (Gl 2.20; Ef 5.25).
A alegria é tema na carta aos Filipenses (3.1; 4.4), e é mencionada apenas aqui, na carta aos Gálatas. Aparece como fruto do Espírito também em Rm 14.17.
A paz resulta da justificação (Rm 5.1) e tem, também, uma dimensão comunitária (Cl 3.15).
No segundo grupo aparecem a paciência, a delicadeza e a bondade. A paciência ou longanimidade é característica divina (Sl 103.8), e se manifesta também na vida cristã (1Co 13.4; Ef 4.2; Cl 1.11; 3.12). A delicadeza ou benignidade é, também, acima de tudo uma característica divina (Rm 2.4; Ef 2.7; Tt 3.4), que se manifesta na vida cristã (Ef 4.32). E a bondade se aproxima bastante do amor.
A fidelidade é, também, antes de tudo, característica de Deus (Rm 3.3). A humildade (praytes) é uma combinação de força e mansidão, ou seja, é força sob controle. (“Mansidão” tende a sugerir falta de vigor e coragem, o que faz com que “humildade” seja um termo mais expressivo.) Trata-se da humilde disposição de viver a vontade de Deus. Quanto a domínio próprio, é o que a palavra diz: domínio de si mesmo. Tratava-se de um importante conceito ético no mundo grego. Como diz D. S. Dockery (Dictionary of Paul and His Letters, p. 318), sua colocação no final da lista parece indicar que, assim como o amor, no início, é o cumprimento da Lei, o domínio próprio cristão cumpre o que se poderia esperar do ponto de vista da ética grega.

4. Atualização

            Uma das questões que, talvez, inquiete o pregador é se ele deve apresentar esse “fruto do Espírito”, falando dele, ou esperar que ele se manifeste por si só, levando-o a silenciar a respeito. Em outras palavras, trata-se da já consagrada discussão quanto ao papel da Lei na vida do cristão. Na verdade, quem lê o início da carta aos Gálatas se espanta, até certo ponto, diante do que encontra no final. Parece que Paulo, tendo expulso a Lei pela porta da frente, permite que ela retorne pela janela dos fundos. O exegeta britânico John M. G. Barclay escreveu todo um livro sobre essa questão (Obeying the Truth: Paul´s Ethics in Galatians; Fortress Press, 1991). Vale à pena compartilhar algumas de suas conclusões:
“Paulo argumenta que a justificação pela fé em Cristo tem importantes implicações morais, as quais Pedro, erroneamente, ignorou em Antioquia, e os gálatas corriam o risco de esquecer” (p. 223). Em outras palavras, a justificação pela fé não é uma doutrina moralmente estéril.
“Embora Paulo nitidamente espere que os cristãos da Galácia sejam guiados pelo Espírito, isto não impede que ele explicite o que significa andar no Espírito e que dê instruções bem específicas neste particular. Isto mostra que, na mente de Paulo, não existe uma dicotomia fundamental entre o impulso ‘interno’ do Espírito e a instrução moral ‘externa’.” (229)
“Ao resumir a moralidade cristã numa lista de ‘virtudes’ (o fruto do Espírito), Paulo dá considerável ênfase ao caráter do agente moral, ao invés de, por exemplo, enfatizar a enumeração de seus deveres. (....) ele se preocupa com a demonstração de caráter ético, e não apenas com a observância de um conjunto de deveres”. (231)
Em outros termos, nesta palavra de Deus, Paulo mostra que a liberdade da Lei (na área da justificação) não significa de maneira nenhuma que se está livre de responsabilidades morais. No entanto, essas responsabilidades são moldadas, não pela imposição da Lei, e sim pela ação e suficiente capacitação do Espírito Santo.
                                                                            Dr. Vilson Scholz - São Leopoldo, RS

5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES

DIA LITURGICO: 5º Domingo após Pentecostes – 27/06/2010
Leituras Bíblicas: Sl 16; 1 Rs 19.9b-21; Gl 5.1,13-25; Lc 9.51-62
Autor: Edson Elmar Müller

Salmo 16: Este salmo de Davi é um salmo de súplica em favor de quem deseja viver de maneira intensa a vida de boas obras no reino de Deus. E é também uma confissão de fé na fidelidade de Deus, pois o SENHOR não permite que os seus amados sejam prejudicados, pelo contrário o SENHOR procura aconselha-lhos e os guarda bondosamente.

1 Rs 19.9b-21: Este texto retrata a angustia, o medo, o desespero do profeta Elias, que sempre fiel e zeloso por cumprir a vontade de Deus, se sente sozinho e desanimado. Deus então vem e novamente o anima, encoraja, fortalece e ordena que ele traga a unção sobre outros escolhidos, que estarão com ele no trabalho, além de dar a Elias a certeza de que ainda há em Israel sete mil pessoas que permaneceram fiéis ao SENHOR. E ainda neste texto Elias escolhe Eliseu para ser seu sucessor........ PFalar2010)

22 junho 2010

APOCALIPSE 22.12-17, 20

INSTITUTO CONCÓRDIA DE SÃO PAULO
ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA


ESTUDO ISAGÓGICO DE APOCALIPSE
Apocalipse 22.12-17, 20


Monografia apresentada ao Prof. Dr. David Coles Ward, da disciplina “Isagoge do Novo Testamento I”


EZEQUIEL BLUM
Aluno do 3º Teológico

São Paulo
1º Trimestre de 1999

ÍNDICE



1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................03
2. ESTUDO ISAGÓGICO DO LIVRO DE APOCALIPSE....................................................04
2.1 Nome ou Título.......................................................................................................04
2.2 Autoria.....................................................................................................................04
2.3 Data, Local e Circunstâncias...................................................................................05
2.4 Destinatários............................................................................................................05
2.5 Características do Livro..........................................................................................06
2.6 Conteúdo e Mensagem............................................................................................06
2.7 Propósito..................................................................................................................07
2.8 Esboço.....................................................................................................................07
2.9 Canonicidade...........................................................................................................08
2.10 As Interpretações...................................................................................................08
3. COMO O ESTUDO ISAGÓGICO AJUDA A COMPREENDER E PREGAR
MELHOR DETERMINADA PASSAGEM BÍBLICA?......................................................10
3.1 Apocalipse 22.12-17, 20 (7º Domingo da Ressurreição – Trienal C).....................10
4. CONCLUSÃO......................................................................................................................11
5. BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................12


1. INTRODUÇÃO
O estudo isagógico é essencial para que possamos compreender melhor assuntos que envolvem os textos bíblicos, através dos quais Deus sempre tem algo de importante para nos falar. A mensagem de Deus é melhor compreendida quando fazemos uso de estudos mais aprofundados, sempre tendo em mente que a Bíblia é a palavra de Deus, o fundamento e a base da fé verdadeiramente cristã.
É com este objetivo, de termos um melhor esclarecimento da palavra de Deus, que fazemos esta pesquisa. Desta maneira, primeiramente estaremos apresentando um “Estudo Isagógico do Livro de Apocalipse”. Em seguida, estaremos respondendo a seguinte questão: “Como o Estudo Isagógico Ajuda a Compreender e Pregar Melhor Determinada Passagem Bíblia?”. Tal questão será respondida em relação ao texto de Apocalipse 22.12-17, 20 (7º Domingo da Ressurreição – Trienal C). Continuando, então, apresentaremos uma “Conclusão” da pesquisa. Por fim, vamos expor a “Bibliografia” utilizada para a realização desta pesquisa isagógica.
Que este trabalho nos sirva de auxílio e reforço no estudo da palavra de Deus e também como fortalecimento da nossa fé, ajudando-nos na compreensão do curioso estudo isagógico que o livro de Apocalipse possui. Esperamos, ainda, que este estudo realmente abra nossas mentes para que possamos compreender melhor a passagem de Ap 22.12-17, 20. Que Deus abençoe este estudo.

2. ESTUDO ISAGÓGICO DO LIVRO DE APOCALIPSE


2.1 Nome ou Título


O nome do livro de Apocalipse é uma transcrição da palavra grega apokálypsis (VApoka,luyij). Apokálypsis é composta e derivada da preposição apó e do verbo kalypto, que quer dizer revelar, desvendar, tirar o véu, descobrir. Devido ao significado do nome de Apocalipse, este livro também é chamado de “A Revelação de Deus a João”. Para que possamos compreender melhor, basta lermos Ap 1.1, onde diz: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviado por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João”.


2.2 Autoria


O autor de Apocalipse é claramente chamado de João. João era uma pessoa bem conhecida entre as igrejas da Ásia. João estava classificado como “profeta” (Ap 22.9). João não se designa apóstolo, mas “servo” de Cristo (Ap 1.1). Já em meados do século II a autoria do livro de Apocalipse foi atribuída a João, um dos apóstolos de Cristo. Justino Mártir e Irineu citam passagens do livro de Apocalipse e colocam como seu autor João, o apóstolo de Cristo. Alguns estudiosos pensam que o livro de Apocalipse não foi escrito pela mesma pessoa que escreveu o evangelho de João, isso devido a grande diferença de linguagem que há entre os dois livros. Mas a posição mais conservadora atribui a autoria de Apocalipse a João, filho de Zebedeu. João, o apóstolo, realmente é reconhecido como autor de Apocalipse pela antiga tradição.






2.3 Data, Local e Circunstâncias


João diz que escreveu o livro por uma ordem direta do Senhor (Ap 1.10-13). Certamente, por trás da ordem do Senhor, havia as necessidades das igrejas em dias de perseguição.
O livro de Apocalipse foi escrito em uma época que os cristão estavam sendo perseguidos pelas autoridades romanas pelo fato de não adorarem ao imperador romano. Nesta época, cristãos haviam sido mortos e outros presos por causa de sua fé. O Apocalipse foi escrito por volta de 95 ou 96 A.D.
João escreveu o Apocalipse enquanto estava preso, exilado na ilha de Patmos por causa da sua fé, por ter anunciado o santo evangelho (Ap 1.9 “Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.”). Alguns pais da igreja falam que se trata do apóstolo João, estando exilado na ilha de Patmos por ordem do imperador Domiciano, sendo que seu reinado foi entre 81 a 96 d.C. Patmos é uma ilha rochosa e escarpada com mais ou menos 10 km de largura por 15 de comprimento, situada no Mar Egeu a mais ou menos 65 km a sudoeste de Éfeso.


2.4 Destinatários


João escreve o Apocalipse para as sete igrejas existentes no período apostólico, que são as sete igrejas da província romana da Ásia (Ap 1.4, 11 “João, às sete igrejas que se encontram na Ásia... escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.”), que ficava em uma região que hoje faz parte da Turquia. Tais igrejas servem de tipos das igrejas de todos os tempos. Certamente o Apocalipse também destinava-se às outras igrejas vizinhas e a toda igreja de um modo geral.





2.5 Características do Livro
O livro de Apocalipse é o único livro do Novo Testamento inteiramente dedicado a profecia e o único de toda a Bíblia que promete uma bênção tão especial aos que o lêem e o ouvem. Para entendermos melhor o livro de Apocalipse, é importante lembrar que toda revelação tem suas raízes no Antigo Testamento e também é importante que as visões de João sejam sempre relatadas dentro do seu contexto histórico. Praticamente todo o simbolismo do Apocalipse está relacionado com imagens e símbolos que ocorrem nos livros proféticos do Antigo Testamento.
Os acontecimentos apocalípticos relatados no livro de Apocalipse são revestidos e escritos em linguagem figurativa. O livro de Apocalipse possui um estilo poético e relativo a visões. As revelações de Deus a João são expressadas por meio de figuras, imagens, símbolos e números. Por isso, formar imagens literais dessa linguagem é perder totalmente o significado da revelação.
Apocalipse é um livro de símbolos e figuras. É um livro de guerras que sempre terminam em paz. É um livro de trovões e terremotos, mas são seguidos por liturgias e salmos. É um livro de recompensas, presentes aos justos. É um livro, então, de muito otimismo, pois Deus vence o mal (Satanás) e o Cordeiro (Jesus Cristo) triunfa.1


2.6 Conteúdo e Mensagem


A mensagem deste livro é que, mesmo que as evidências sejam contrárias, Jesus Cristo é o Senhor da história. Deus está no controle. Jesus tem a chave do futuro e virá novamente para praticar justiça. Há um futuro glorioso para aqueles que colocaram sua confiança nEle. Seu amor e cuidado por Seu povo são infalíveis.2

A grande lição do livro é o que vemos em Ap 11.15, onde diz: “...O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos.”
O tema central de Apocalipse é a pessoa de Cristo ao revelar o futuro e isto vemos logo no primeiro versículo do livro (Ap 1.1 “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as cousas que em breve devem acontecer...”).


2.7 Propósito
João escreve este livro com o propósito de encorajar os cristãos que estavam sendo perseguidos, para que confiassem que Deus cuidaria deles e continuassem sempre fiéis a Jesus Cristo, pois os fiéis receberão um grande presente que é a vida eterna, a salvação. O livro de Apocalipse não tem o propósito de satisfazer curiosidades e sim um propósito salvador.
A chave deste livro se encontra no versículo inicial: “Revelação de Jesus Cristo”. O propósito principal é revelar a pessoa do Senhor Jesus Cristo como o Redentor do mundo e conquistador do mal, e apresentar, de forma simbólica, o programa mediante o qual Ele dará prosseguimento à Sua obra.3

O propósito de Apocalipse é declarado pelo Espírito Santo como vemos em Ap 1.1: “...mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer...”.


2.8 Esboço


O livro de Apocalipse possui um esboço bastante diversificado. Preferimos um esboço mais simples e de fácil compreensão, sendo este:
Introdução – 1.1-8
A primeira visão – 1.9-20
As cartas às sete igrejas – caps. 2-3
A visão do rolo selado com sete selos – 4.1-8.1
A visão das sete trombetas – 8.2-11.19
A visão da mulher e do dragão e a visão dos dois monstros – caps. 12-13
Outras visões – caps. 14-15
A visão das taças da ira de Deus – cap. 16
A destruição de Babilônia e a derrota do monstro, do falso profeta e de Satanás –
17.1-20.10
O julgamento final – 20.11-15
O novo céu, a nova terra e a nova Jerusalém – 21.1-22.5
Final – 22.6-214


2.9 Canonicidade


No que diz respeito a canonicidade do livro de Apocalipse, podemos falar rapidamente sobre a sua aceitação da seguinte forma: “A Igreja Ocidental aceitou-o prontamente como livro canônico: mas a Igreja Oriental não o recebeu senão por volta do ano 500 d.C.”5


2.10 As Interpretações


Há diversos tipos de interpretação do livro de Apocalipse. Os principais tipos de interpretação são os seguintes: Preteristas, Futuristas, Escola Histórica ou Contínua, Espiritualistas.
Os Preteristas pensam que o simbolismo de Apocalipse se relaciona apenas com os acontecimentos da época em que foi escrito. Fazem com que todas as profecias e visões de João refiram-se à história dos judeus até a queda de Jerusalém e à Roma pagã. Esta é a opinião da maioria dos comentadores liberais.
Os Futuristas interpretam os acontecimentos de Apocalipse de forma literal, sendo assim consideram os acontecimentos como totalmente futuros e pensam que todos os eventos relatados no livro acontecerão logo antes ou logo depois da segunda vinda de Cristo.
A Escola Histórica ou Contínua diz que o Apocalipse relata, de forma simbólica, todo o curso da história da igreja, desde o pentecostes ao advento de Cristo. Pensa, então, que um pouco de tudo já foi cumprido, um pouco está sendo e um pouco será cumprido no futuro. A maioria dos reformadores, a maioria dos comentários mais antigos e muitos pregadores evangélicos modernos são desta opinião.
Os Espiritualistas rejeitam as três classes de intérpretes já citadas porque eles dão importância demais ao elemento tempo. Eles colocam ênfase sobre o elemento moral e espiritual do livro de Apocalipse e vêem este livro mais como uma representação de idéias do que de eventos.
Temos ainda, as teorias Milenistas, sendo elas: Posmilenistas, Amilenistas e Premilenistas.
Os Posmilenistas pensam que antes de Jesus voltar para julgar o mundo, a igreja irá experimentar mil aos de prosperidade.
Os Amilenistas pensam que o milênio não deve ser visto como um período literal. Dizem que Jesus pode voltar a qualquer momento para julgar a todos e levar os justos para o novo céu e a nova terra.
Os Premilenistas pensam que Jesus voltará para estabelecer seu reino aqui na terra e reinar durante mil anos e que quando terminar estes mil anos, ele julgará o mundo.





















3. COMO O ESTUDO ISAGÓGICO AJUDA A COMPREENDER E PREGAR
MELHOR DETERMINADA PASSAGEM BÍBLICA?


3.1 Apocalipse 22.12-17, 20 (7º Domingo da Ressurreição – Trienal C)


Para entendermos melhor determinada passagem bíblica, é necessário também compreender melhor seu contexto. Sabendo características do livro, seu estilo de linguagem... conseguimos melhor entender e interpretar determinada passagem bíblica.
Certo é que, sem um estudo isagógico do livro de Apocalipse, a passagem em questão (Ap 22.12-17, 20) teria suas dificuldades, ou melhor, teríamos maior dificuldade de compreender a mesma.
Sabendo sobre as circunstâncias em que foi escrito o livro de Apocalipse, seus destinatários, as características do mesmo, entre outros, melhor sabemos a respeito do objetivo da mensagem da perícope (Ap 22.12-17, 20) que estamos tratando e também de outras passagens do livro.
Assim, além de melhor compreensão da passagem bíblica, teremos também, melhor fundamento e argumentos mais fortes e convincentes para falar sobre tal passagem. Com toda certeza, isto é muito importante para um pregador. Compreender bem a passagem é necessário para que o pregador não saia fora do assunto do qual a perícope está tratando e melhores argumentos são necessários para que a mensagem do pregador chegue aos ouvintes com maior eficiência e estes realmente acreditem no que ele está falando.
É extremamente importante lembrar que, mesmo fazendo uma profunda pesquisa isagógica a respeito do livro de onde pegamos determinada perícope bíblica, este estudo não deve comandar nossa interpretação da passagem, pois devemos deixar a Bíblia interpretar a si mesma. A Bíblia é nossa única fonte e norma de doutrina cristã.
Enfim, sabemos que a palavra de Deus tem poder, mas não é por isso que vamos anunciar esta palavra de qualquer jeito e sem preparo. Somos instrumentos de Deus e podemos anunciar sua bela palavra com grande eficiência. Para tanto, o estudo isagógico nos ajuda grandemente.



4. CONCLUSÃO


Vimos que o livro de Apocalipse é um lindo testemunho de fé que dá esperança e conforto aos cristãos, até mesmo nos momentos de perseguição. Com certeza é um livro que nos traz muita esperança e conforto, pois nos mostra que Deus e o Cordeiro vencerão o mal. Isto é muito confortador, pois assim, temos a certeza de que no dia que Jesus voltar, nós cristão, seremos recompensados, seremos levados ao novo céu e nova terra, seremos salvos.
Concluímos, pois, que o livro de Apocalipse não nos traz apenas mensagens terríveis e desesperadoras, mas nos traz uma mensagem linda que mostra a imensa bondade de Deus e o quanto ele nos ama.
Por tudo isto, agradecendo a Deus pelo seu grande amor, podemos dizer que a oração final do livro de Apocalipse (Ap 22.20) deveria expressar a vontade de todos os cristãos: “...Amém. Vem, Senhor Jesus.”




















5. BIBLIOGRAFIA


A BÍBLIA SAGRADA – Letra Gigante (RA). 2ª ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil,
  1. p. 11.

A BÍBLIA SAGRADA – Tradução na Linguagem de Hoje. São Paulo: Sociedade Bíblia do
Brasil, 1988. p. 319.

BÍBLIA VIDA NOVA. São Paulo: Vida Nova e Sociedade Bíblica do Brasil, 1995. p. 326-
327.

CARSON, D. A. & MOO, Douglas J. & MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento.
São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 517-540.

FLOR, Paulo Frederico. Isagoge do Novo Testamento (Apostila). p. 33-38.

NERBAS, Paulo. Introdução ao Novo Testamento (Apostila). p. 48-49.

ROBERTO (Bispo). Como Ler o Novo Testamento. Rio de Janeiro: Ministérios de Nova
Vida, 1979. p. 77-80.

ROTTMANN, Johannes H. Vem, Senhor Jesus – Apocalipse de S. João. Porto Alegre:
Concórdia, 1993. p. 11-30.

SPITZ, Lewis W. Nossa Igreja e Outras. Porto Alegre: Concórdia, 1969. p. 114.

TENNEY, Merril C. O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. Lisboa: Vida Nova,
1960. p. 369-382.

TIDWELL, J. B. Visão Panorâmica da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1985. p. 224-228.
1 TIDWELL, J. B. Visão Panorâmica da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1985. p. 224.

2 ROBERTO (Bispo). Como Ler o Novo Testamento. Rio de Janeiro: Ministérios de Nova Vida, 1979. p. 77.

3 BÍBLIA VIDA NOVA. São Paulo: Vida Nova e Sociedade Bíblica do Brasil, 1995. p. 327.

4 A BÍBLIA SAGRADA – Tradução na Linguagem de Hoje. São Paulo: Sociedade Bíblia do Brasil, 1988. p.
319.

5 BÍBLIA VIDA NOVA. São Paulo: Vida Nova e Sociedade Bíblica do Brasil, 1995. p. 327.

APOCALIPSE, COMENTÁRIO

PRÓLOGO - 1.1-8
1
Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos Seus servos as coisas que devem acontecer em breve e comunicou enviando pelo Seu anjo ao seu servo João,
O título do livro - "Apocalipse de João" difere do texto em si, que apresenta-se como "Apocalipse (=Revelação) de Jesus Cristo".
"De Jesus Cristo" - genitivo objetivo ou subjetivo?
- subjetivo: Jesus é o que revela (fonte da revelação);
- objetivo: Jesus é o assunto (tema) da revelação.
Ambos são verdadeiros: "Apocalipse é divina revelação da qual Jesus é o recipiente e o doador".1

Apokalypsis - o ato de desvendar algo oculto, revelar; usado nas Epístolas escatologicamente:
1. em referência à revelação de Deus (Rm 2.5); de Cristo (1 Co 1.7; 2 Ts 1.7; 1 Pe 1.7,13; 4.13); e dos santos (Rm 8.19), que há de acontecer na Parousia.
2. para qualquer revelação feita agora para a Igreja (Rm 16.25; 1 Co 14.6,26; 2 Co 12.1,7; Gl 1.12; 2.2; Ef 3.3) através do Espírito, como o pneuma apokalypsews (Ef 1.17).2
O termo é usado aqui não como "uma classificação literária, mas indicando a natureza e propósito do livro."3
O Filho como receptor da mensagem e como revelador aos homens - é constante o ensino no Evangelho segundo João de que o Filho recebe o que Ele é e tem da parte do Pai (3.35; 5.20ss, 26; 7.16; 8.28; 12.49; 16.15; 17.2ss).4
"Os servos dele" - primariamente os Profetas (cf. Amós 3.7 -Deus revela a Seus profetas as coisas que Ele fará), mas sem excluir o restante da Igreja (7.3).
"devem acontecer" - o "dever" não é referência a um seguir cego da necessidade; mas refere-se ao cumprimento certo do propósito de Deus revelado pelos profetas (Mc 8.31; 9.11; 13.10; Lc 24.26; Jo 12.34.
"Em breve" - a perspectiva profética sempre tem o fim como algo iminente. Esta é a maneira como o NT como um todo vê o fim. Na verdade, se lembramos que em Cristo o Reino de Deus veio à terra (Mt 4.17; 12.28) e que os "fins dos séculos chegaram sobre nós" (1 Co 10.11), não nos admiramos de que os tempos do fim já estão em vigor. O livro do Apocalipse não só revela as coisas do fim do mundo, mas sobre os tempos do fim, antes da volta de Cristo, na vida da Igreja e do mundo.

2
o qual testemunhou5 a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, tanto quanto ele viu.
"O aoristo emartyresen é epistolar; do ponto de vista do leitor o testemunho de João foi dado quando ele escreveu o livro. Sr. Hort considera emartyresen como se referindo à confissão de Cristo da parte de João perante os homens e não às visões do Apocalipse".6
"Ele viu" - acentua o caráter de visão profética (cf. Is 1.1), que pervade todo o livro (1.12,17,19s; 4.1; 5.1s; etc).7

3
Bem-aventurado o que lê e os que ouvem as palavras da profecia e que guardam as coisas que estão nela escritas, pois o tempo está próximo.
O Apocalipse chama de "bem-aventurados":
- os que morreram no Senhor, pois suas obras os acompanham (14.13);
- os que estão preparados quando Cristo vem como ladrão (16.15);
- os que foram chamados para as bodas do Cordeiro (19.9);
- os que têm parte na 1ª ressurreição, pois a 2ª morte não terá poder sobre eles - eles reinarão com Cristo por mil anos (20.6);
- os que guardam as palavras da profecia deste livro (20.7);
- os que lavam suas vestes, pois terão parte na árvore da vida e entrarão na cidade pelos portões (22.14).
"Aquele que lê" - não é um leitor isolado, mas como a frase seguinte deixa claro ("os que ouvem"), é alguém que lê para a Congregação. Poderia ser traduzido: "Bem-aventurado o que lê em voz alta". A Igreja herdou a prática judaica de leitura na Congregação (Ex 24.7; Ne 8.2; Lc 4.16; At 13.15; 15.21; 2 Co 3.15). Na Igreja Apostólica, assim como na Sinagoga, a leitura das Escrituras era da responsabilidade dos presbíteros, que podiam atribuí-la a qualquer dos membros da Congregação, que fossem capazes e se dispusessem a fazê-lo. O escritor do Apocalipse explicitamente quer que o livro seja usado na Congregação, em leitura pública.8 Sabendo que somente escritos do Antigo Testamento e dos apóstolos eram lidos nas Igrejas (cf. Justino, Mártir), pode-se concluir que o autor de Apocalipse colocou seu livro (recebido da parte de Deus) como ao nível daqueles lidos no culto público - era "Escritura Sagrada"!
A bem-aventurança é estendida aos leitores se eles "guardam" o que ouvem. É semelhante ao que Jesus diz em Lc 11.28 (só que aí Jesus usa o verbo fylassw, ao invés de terew). Pode-se lembrar também Tg 1.22 (não somente ouvinte, mas praticante da Palavra).
Ate aqui aula de 11 de Março. Inicio da aula de 16 de Março.
"Profecia" - o autor coloca seu escrito ao nível dos escritos proféticos do AT. O mesmo é colocado por ele em Ap 22.7,10,18s.9
"O tempo está próximo" - kairos denota um período, determinado por algum acontecimento, em distinção a xronos, que denota unicamente a extensão de tempo.10 "No Novo Testamento ... designa quase sempre uma época ou um evento predeterminado por Deus e ligado à sua história da salvação; portanto, sem proporções exatas segundo o raciocínio humano."11

4
João às sete igrejas que estão na Ásia: graça a vós e paz da parte daquele que é e que era e que vem, e da parte dos sete espíritos que estão diante de Seu trono
A saudação vem caracterizar o livro como uma carta, na sua forma (ainda que é profético no seu conteúdo). A diferença básica está na maneira como Deus é apresentado, não de uma forma direta e clara, mas com o uso de designações que levam o leitor a refletir mais profundamente sobre Aquele que abençoa os leitores (e ouvintes) da carta.
"Sete igrejas" - pode-se explicar que as sete igrejas tinham posição privilegiada na Ásia, o que possibilitaria a melhor difusão do livro entre outras localidades. No entanto, o número 7, em si, pelo seu uso constante no Apocalipse, sugere outra razão para esta limitação (i.e., cartas para estas cidades e não para outras, onde também havia Igreja: Trôade, Hierápolis, Colossos, Magnésia, Trales).12
- O nº 7 - para os Semitas dava a idéia de algo completo. Por isso, tem sido sugerida a idéia de que as "sete igrejas" na verdade representam toda a Igreja de Cristo.13 Ainda assim, não devemos esquecer o referente imediato, qual seja, as sete igrejas nomeadas. Elas foram as receptoras da profecia e não devem ser vistas simplesmente como uma alegoria da Una Sancta.
"Da parte daquele que é e que era e que há de vir" - a referência é evidentemente ao Pai (seguindo a maneira usual de Paulo fazer a saudação, iniciando por mencionar o Pai, cf. Rm 1.7; 1 Co 1.3; etc).
- ho wn - é a tradução da LXX para asher ehieh de Ex 3.14. Que Deus é "Aquele que é" enfatiza não só Sua existência, mas (com o contexto do AT), Sua ação como Senhor. Chama a atenção o uso da preposição apo, normalmente acompanhada pelo genitivo (como nos vv. 4b e 5) - aqui, com o nominativo! Possivelmente uma referência ao indeclinável nome de Deus. Estando no nominativo, enfatiza que Ele ésempre o sujeito da ação. Ele não é objeto de nossas reflexões, mas Aquele que vem e se revela, através de Seu Filho (como especificamente o faz aqui; como o fizera no ministério terreno de Jesus - Jo 1.18).
- ho erxomenos - manifesta um dos grandes pontos do livro, qual seja, a vinda de Deus para dentro da História de Seu povo. Sobre o Pai vir, ver João 14.23 (Meu Pai e eu viremos para aquele que me ama e guarda a minha Palavra).
"Os sete espíritos" - a mesma expressão aparece ainda em Ap 3.1; 4.5 e 5.6; pode ser também uma referência a Is 11.2 (as 7 qualificações do Espírito: 1. do SENHOR; 2. de sabedoria; 3. de entendimento; 4. de conselho; 5. de fortaleza; 6. de conhecimento; 7. de temor do SENHOR).
A referência só pode ser ao Espírito Santo, uma das Pessoas na Santíssima Trindade, pois a graça e a paz tem a Ele como fonte, ao lado do Pai e do Filho. Nenhuma criatura pode ser colocada ao lado de Deus Pai e do Senhor Jesus como fonte de Bênção.
Alguns tentam aplicar esta expressão aos 7 anjos que aparecem mais adiante no Apocalipse (8.2ss; 15.1ss). No entanto, a descrição dos 7 espíritos em 5.6 é claramente uma referência a Zc 4.10 ("Aqueles sete olhos são os olhos do SENHOR, que percorrem toda a terra"). Além disso, o NT muito raramente chama os anjos de pneumata (Hb 1.7,14, numa citação do AT; e em Ap 6.13, onde o substantivo é qualificado por akatharta e daimoniwn, o que tira toda ambiguidade). Além disso, uma pluralidade em conexão com o Espírito Santo aparece também em Hb 2.4; 1 Co 12.10; 14.32; Ap 22.6. Neste texto os "espíritos" são sete, pois estão relacionados às 7 igrejas!14 "É o Espírito de Deus em sua manifestação pela palavra às igrejas, ao povo de Deus, aqui na terra. Pelo seu Espírito Deus se comunica com o seu povo mediante a sua palavra.

5a
e da parte de Jesus Cristo, a testemunha fiel, o primogênito dos mortos e o governante (príncipe) dos reis da terra.
A bênção explicitamente trinitária conclui com a menção de Jesus, Aquele que revela o Pai (João 1.18) e envia Seu Espírito Santo, da parte do Pai (João 15.26) é fonte da graça e paz, assim como o Pai e o Espírito Santo. Negar a divindade do Filho (e do Espírito Santo) equivaleria a questionar a divindade do Pai (que seria fonte de bênção, ao lado de "criaturas"!).

É digno de nota a menção do Filho de Deus pelo nome "Jesus Cristo". Um detalhe é que este duplo nome não é mais usado no Apocalipse, onde aparece sempre "Jesus". Isso parece indicar que "o propósito do escritor foi enfatizar a humanidade do Cristo glorificado, identificando-o com a Pessoa histórica que viveu e sofreu".15
Seguem-se 4 nominativos caracterizando Jesus. Novamente o nominativo (como no caso do Pai) serve para enfatizar que Jesus é o Sujeito da ação (da Revelação). Ele é o centro das atenções no Apocalipse, o foco de todos os acontecimentos de Deus para com Suas criaturas.
"A Testemunha fiel" - Em vários locais no NT Jesus é caracterizado como uma Testemunha. Por exemplo, em Jo 3.11, 32s; 8.14s; 18.37; 1 Tm 6.13. É uma referência à obra de Cristo, no Seu ministério terreno, como Aquele que veio dar boa confissão. Ele manifestou ao mundo a vontade eterna do Pai; deu um testemunho que não se baseou em sabedoria humana, mas no conselho eterno de Deus. Mais, Ele, sendo a "imagem do Deus invisível" (Cl 1.15), vem para revelar o Pai (Jo 1.18), de modo que quem o vê, vê o Pai (Jo 14.9).
"Primogênito dentre os mortos" - mesma expressão é usada em Cl 1.18. Esta expressão tem pelo menos dois referenciais:
1) Jesus é o primeiro que ressuscitou para não mais morrer e, segundo Sua natureza humana, desfrutar da vida celestial plenamente.
2) Ele é a causa, a fonte, a base, a segurança da ressurreição de todos os que hão de ressuscitar. Ele "abriu o caminho" da ressurreição para os homens.
"Governante dos reis da terra" - João segue a linha do Sl 89.28, onde a primogenitura e o governo sobre os reis são colocados no mesmo contexto. Pela ressurreição Jesus conquistou domínio não só sobre a Igreja, mas sobre o mundo (Rm 14.9). Pela Sua morte e ressurreição Ele conquistou o que o diabo lhe havia oferecido na tentação.16
Esta designação de Jesus seria por certo de grande consolo para os leitores primeiros de João, que sofriam perseguições da parte de "reis da terra". Ele podiam estar certos que o poder do mal era controlado, não estava livre para fazer o que bem entendesse. O mesmo Senhor que os salvou pela Sua morte de cruz era aquele que estava governando os destinos do mundo, para o bem de Sua Igreja e para a proclamação de Seu evangelho da salvação.
Os três títulos (testemunha, primogênito, governante) respondem ao propósito tríplice do Apocalipse, qual seja: 1) um testemunho divino; 2) uma revelação do Senhor ressurreto; 3) uma antevisão dos destinos da história.17

5b,6
Ao que nos ama e nos libertou18 com Seu sangue, e nos fez reino, sacerdotes para Seu Deus e Pai, a Ele a glória e o poder pelos séculos [dos séculos]. Amém.
Dois Particípios definem a maneira como Jesus Cristo se relaciona conosco; o primeiro é Partc. Presente ("nos ama") e o segundo é Partc. Aoristo. Levando em conta que o Partc. Aoristo é normalmente usado para manifestar uma ação anterior ao verbo principal. Neste caso, parece focalizar a obra completa de Cristo, quando pela Sua obediência ativa e passiva nos redimiu. O Seu amor é algo constante, permanente (por isso, o tempo Presente).19
Uma questão seria definir o "quando" Ele nos "fez reino e sacerdotes" (Aoristo Indicativo)! Possivelmente a melhor referência seja ao Batismo, quando a obra completa de Cristo foi aplicada a nós, por obra do Espírito Santo.
"Reino" - enfatiza a posição dos crentes em Cristo como sendo o povo de Deus. No AT Deus havia declarado que faria de Israel um "reino de sacerdotes" (Ex 19.6). Agora Israel não é mais o povo de Deus. A vinha foi entregue a outro povo (Mt 21.43 - a parábola dos lavradores maus). Os cristãos são povo de Deus e reino de Cristo. Neles Cristo reina, através de Seu Evangelho.
"Sacerdotes" - a função sacerdotal (também atribuída a Israel como um todo, no AT - Ex 19.6) enfatiza a possibilidade de se chegar diante de Deus para trazer ofertas e súplicas. Não é um termo que nos relacione ao próximo, mas a Deus. Temos acesso ao Pai, graças à obra vicária de Cristo.
A bênção com origem e fonte no Deus Triúno termina com uma doxologia a Cristo, Aquele que nos revela quem é Deus e que nos reconciliou com Deus, e que enviou Seu Espírito para nos santificar. O livro de Apocalipse começa, por assim dizer, com os dois elementos constantes do Culto cristão: Teofania (na manifestação de cada Pessoa da Trindade) e Doxologia (no louvor que a Igreja estende ao Deus único, reconhecendo Seus feitos de salvação). Estamos entrando num livro sagrado, num livro em que Deus se manifesta e nós só podemos ter uma atitude: de reverente ouvir e receber a Sua dádiva, Sua revelação em Jesus Cristo!

7
Eis Ele vem com as nuvens e todo olho o verá e todos os que o perfuraram20 e todas as tribos da terra lamentarão por Ele. Sim. Amém.
O vir entre as nuvens é uma referência a Dn 7.13 (a chegada gloriosa do Filho do Homem) e lembra At 1.9ss, onde a volta de Cristo é anunciada pelos anjos.
"Todas as tribos da terra" - lembra Gn 12.3, quando é dito que na descendência de Abraão todas as famílias da terra seriam abençoadas. Agora que a promessa de Deus a Abraão fora completamente cumprida, a triste realidade é que muitos - para quem a bênção foi alcançada - não usufruíram dela. Para estes serã um dia de lamentação, pois estarão conscientes de que a promessa foi cumprida, mas que eles não tiraram proveito no tempo oportuno. Que advertência para cada cristão!

8
Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, o que é, o que era e o que vem, o Todo-poderoso.
Novamente o Pai se manifesta. Alfa e Ômega são as letras correspondentes ao Alef e Tau do Hebraico, que não são apenas a 1ª e última letras, mas cuja união engloba todas as letras. Simboliza totalidade. Significa não apenas eternidade, mas infinitude, a vida sem limites.21 Além disso, lembrando que são letras, usadas para comunicar, revelar, manifestar, o uso de Alfa e Ômega parece denotar o sentido de completa revelação. Deus é Aquele que se manifesta na Palavra escrita e proclamada. É ali que podemos reconhecer Sua presença e atuação. Este mesmo título é atribuído a Jesus em Ap 22.13. Isso mostra a unidade das Pessoas da Trindade. Mostra especificamente a deidade de Jesus, que é tão enfatizada neste livro.
"Todo-poderoso" - o que pode tudo; o que governa sobre todas as coisas.
A VISÃO DO COMISSIONAMENTO RECEBIDO DO CRISTO RESSURETO E ASSUNTO -1.9-20

9
Eu, João, vosso irmão e companheiro na tribulação e reino e perseverança (expectativa) em Jesus, estive na ilha chamada Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
O escritor se identifica novamente (como nos vv. 1 e 4), mas se coloca como "irmão vosso", isto é, das igrejas. A designação de um apóstolo como "irmão" não é incomum: Pedro se refere assim a Paulo: 2 Pe 3.15; Os apóstolos se dão este designativo: At 15.23. [Em outras palavras, ao João autodenominar-se "irmão" não elimina seu caráter apostólico].
___________ - não somente "companheiro", mas alguém que participa nas mesmas coisas que o outro, ou alguém que reparte com o outro alguma coisa. Neste caso, com os dativos a seguir: ter algo em comum com outra pessoa; neste caso: tribulação, reino e perseverança (ou expectativa).
_______________________22 - comunhão no sofrimento é algo que está enraizado na fé cristã, especialmente na Igreja primitiva: 1 Pedro; 2 Co 1.7; Fp 3.10; 4.14.
__________ - Reino - Lc 12.32; 22.29; Tg 2.5; 1 Ts 2.12; 2 Ts 1.5. Aponta não só para o reino da graça (a participação no Reino de Deus, com o desfrutar da comunhão com Cristo, pela fé operada pelos meios da graça), mas também para o reino da glória - a plenitude de bênçãos que nos aguarda.
_________ - Perseverança, paciência, resignação, firmeza - principalmente como se manifesta ao haver sofrimento (Lc 21.19; Rm 5.3,4; 2 Tm 2.12; 2 Ts 1.4). O outro significado da palavra é (paciente) expectativa23 (Sl 9.18; 62.5).
____________ - modifica as três cláusulas anteriores. "Toda a vida de um cristão, esteja ele sofrendo ou reinando ou esperando, é em união com a vida do Filho encarnado".24
Patmos - a 1ª ou última parada na viagem de Éfeso para Roma e vice-versa. Naquela ilha existia um Mosteiro de São João, lembrando seu exílio naquele local.
_________________________________________ - o "por causa" pode significar duas coisas: que João foi para aquela ilha a fim de testemunhar (ainda que diá não signifique finalidade, mas sempre causa) ou que foi levado lá como castigo pelo seu testemunho anterior. A última explicação é confirmada: a) pelo uso em 6.9 e 20.4; b) pela sua designação como "companheiro na tribulação"; c) pela antiga e praticamente unânime tradição da Igreja (Tertuliano, Clemente, Orígines, etc.).
10
Estive em espírito no Dia do Senhor e ouvi atrás de mim uma grande voz, como de trombeta
____________ - "estar25 no Espírito" é o estado natural de todos os cristãos, em contraste com o estar "na carne" (Rm 8.9); mas "vir a estar"26 denota a exaltação do profeta sob inspiração divina (Ez 37.1; cf. 3.12,14 - ser tomado pelo Espírito; At 10.10; 2 Co 12.1-4; At 22.17 - estar em êxtase; cf. 12.11 - voltar a si). Importante é notar que não se pode isolar o "em espírito" do Espírito Santo. O uso do mesmo vocábulo para o nosso espírito e para o Espírito de Deus enfatiza que não pode haver vida espiritual em nós (o novo homem, a nova criação) sem a atuação do Espírito Santo. No caso do profeta, é importante que não se confunda seu estado com algum tipo de "transe sonambúlico" ou qualquer outro meio humano de se colocar em um estado diferente.
__________________ - 1 Co 16.2; Mt 28.1; At 20.7. Era o dia consagrado ao Senhor. Conforme outros escritos do final do 1º século e do 2º século, a expressão refere-se ao 1º dia da semana (Didaquê 14; Inácio de Antioquia; Evangelho [apócrifo] de Pedro; Melito de Sardes - todos escritos com origem na Ásia Menor). Antes mesmo do final do 2º século a expressão já tinha uso generalizado na Igreja (cf. Dionísio de Corinto; Clemente da Alexandria; Tertuliano de Cartago). É notável que o Senhor Jesus tenha escolhido como data de Sua especial revelação o mesmo dia que a Igreja - no uso da liberdade cristã - escolheu para o Culto, especialmente a celebração da Ceia do Senhor. A nós Ele também se revela neste dia, não porque nós decidimos nos reunir neste tempo, mas porque é um encontro em Seu nome e baseado na Sua promessa (Mt 18.20).
_________________________ - a cena lembra a Teofania no Sinai (Ex 19.16; Hb 12.19). A trombeta também lembra as palavras de Jesus sobre a Sua volta e o Juízo Final (Mt 24.31), a que Paulo também se reporta (1 Ts 4.16).

11
a qual disse: o que vês, escreve27 em livro e envia às sete igrejas: para Éfeso e para Esmirna e para Pérgamo e para Tiatira e para Sardes e para Filadélfia e para Laodicéia.
O "livro" era em forma de rolo, preparado com papiro. Aqui se verifica novamente a intenção de que o livro fosse lido publicamente, diante da igreja, por um leitor (cf. 1.3).
As sete igrejas - ver comentário sobre o significado do número sete, acima (1.4). A ordem em que as sete igrejas são nomeadas corresponde à rota que o mensageiro tomaria de Patmos através das sete cidades, começando em Éfeso, a cidade mais próxima e seguindo rumo noroeste primeiro, depois sudeste até Laodicéia.
Conforme o estudioso Ramsey, as sete cidades eram os centros de distribuição para os sete distritos postais daÁsia Menor centro-oeste.28
É interessante que as cartas não foram enviadas cada uma para uma cidade, mas o livro todo (as coisas que João viu) foi enviado (incluindo as sete cartas) às sete igrejas. Isso mostra duas coisas:
1) que a mensagem dirigida especialmente para uma dizia respeito também às outras;
2) que não precisaria haver segredo tanto nas admoestações como nos elogios dirigidos a determinada Congregação. Isto serviria de exortação e orientação para as outras também.

12
E voltei-me para ver a voz que falava comigo e, voltando-me, vi sete candeeiros de ouro

13
e no meio dos candeeiros um semelhante a filho do homem, vestido até os pés29 e envolvido30no peito com um cinto de ouro.
Nos versículos seguintes, Este que fala a João tem posição central na revelação e é identificado com Aquele que morreu e ressuscitou (1.18): Jesus. A forma como Ele se manifesta revela Sua posição de glória e majestade. Como lembra Irineu,31 João vê Jesus numa forma ao mesmo tempo sacerdotal e real. Os sete candelabros, conforme explicação do próprio Senhor (1.20), são as sete igrejas para as quais o livro é escrito.
____________________ - lembra Ex 25.31-40 (o candelabro de ouro a ser colocado no Tabernáculo) e Zc 4.2 (também um candelabro com sete lâmpadas de azeite); e também 1 Re 7.49, onde se diz que havia cinco lâmpadas de cada lado, diante do Santo dos Santos. A cena, portanto, haveria de lembrar, a um judeu, o ambiente do Culto do povo de Deus, ambiente onde o nome do Senhor se manifestava, para ouvir as orações de Seu povo (1 Re 8.29).
____________ - o termo vem de Dn 7.14 e da auto-designação de Jesus. O significado desta expressão é de que Ele é homem verdadeiro; mais do que isto, que Ele é o representante da raça humana (é o "Novo Israel"), que veio para substituir a humanidade na obediência ativa e passiva diante do Pai. Já Jesus usara esta designação para falar de Sua exaltação (Mc 8.38; 13.26; 14.62 e paralelos).32
As vestes não somente o caracterizam de forma sacerdotal e real, mas lembram o personagem divino que se apresentou diante de Daniel (Dn 10.5).

14
e Sua cabeça e seus cabelos [eram] brancos como branca lã, como neve e os Seus olhos [eram] como chama de fogo
_____________________________________________________ - esta descrição se assemelha muito à de Dn 7.9, não do Filho do homem, mas do Ancião de Dias! "A cristologia de nosso escritor leva-o freqüentemente a atribuir ao Cristo glorificado atributos e títulos que pertencem ao Pai, por exemplo: 1.18; 2.8; 5.12; 22.13."33 O branco do cabelo tem sido associado à pre-existência do Filho e o "como neve" à Sua impecabilidade (Sl 51.7; Is 1.18).34 Também não se pode deixar de lembrar da glória mostrada no relato da Transfiguração (Mt 17.2) e na ressurreição (Mt 28.3) de Jesus.
______________________________ - a figura parece enfatizar o olhar penetrante do Senhor (especialmente usado nos Evangelhos para mostrar Sua capacidade de perceber o íntimo das pessoas e de investigar o que se passava à Sua volta (Mc 3.5, 34; 5.32; 10.21, 23; 11.11; Lc 22.6135).

15
e os Seus pés [eram] semelhantes a bronze,36 como refinado37 em forno e Sua voz [era] como barulho38 de muitas águas,
Novamente a figura de Dn 10.3 pode ser lembrada; da mesma forma, Ez 1.7 (as quatro criaturas que se manifestaram a Ezequiel) e Ez 1.27 (o próprio Senhor que se manifestou a Ezequiel) e Ez 8.2. O metal lembra força e estabilidade (Dn 2.33,41).39

_________________________________ - em Ez 43.2 a voz de Deus é assim caracterizada. É interessante comparar com 1 Rs 19.12, onde Deus se manifesta numa brisa suave. Em Apo, como na passagem de Ezequiel, a glória surpreendente (e até apavorante) de Deus é enfatizada; Ele mesmo que, noutras ocasiões (como em 1 Rs) se manifesta da forma mais suave.40

16
e tinha41 na Sua mão direita sete estrelas e de Sua boca [estava] saindo uma espada cortante com duplo fio42 e o Seu aspecto exterior43 como o sol brilha no seu poder.
Sobre a simbologia das "sete estrelas", ver v. 20 (abaixo). "Para a mente semítica as estrelas do céu estavam na mão de Deus (cf. Jó 38.31s; Is 40.12) e cairiam (Mc 13.25; Ap 6.13) se o suporte fosse retirado".44
ek tou stomatos autou romfaia distomos oxeia ekporeuomenh - a imagem da espada é usada em Ef 6.17 e Hb 4.12 em referência àPalavra de Deus. em Isaías 49.2, o Servo diz que Deus fez a sua boca como uma espada aguda. Em Ap 19.15 aparece na descrição de Jesus como o "Verbo de Deus" vitorioso. A figura da espada, pois, enfatiza a luta e a vitória contra o mal (ver Ap 2.16; 19.15,21). Há um paralelo interessante no livro apócrifo "Sabedoria", no cap. 18, vers. 14 a 16: "Quando um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite mediava o seu rápido percurso, tua Palavra onipotente lançou-se, guerreiro inexorável, do trono real dos céus para o meio de uma terra de extermínio. Trazendo a espada afiada de tua ordem irrevogável, deteve-se e encheu de morte o universo: de um lado tocava o céu, de outro pisava a terra" (numa referência à morte dos primogênitos egípcios, que aqui se torna obra da Palavra de Deus).45 Obs.: Romfaia era um tipo de espada longa, a ser manejada com duas mãos.
oyis autou ws o hlios fainei en th duvamei autou - se o João do Apocalipse é realmente o apóstolo João, ele certamente deve ter lembrado neste momento da aparência de Jesus na Transfiguração (Mt 17.2), que antecipou Sua aparição em glória. Também pode-se recordar de Ml 4.2 ("o sol da justiça" que nascerá).
Assim, pode-se notar que a descrição deste que fala a João tem todos os elementos derivados de figuras usadas no Antigo Testamento, e que combinam bem com a descrição e características de Jesus nos Evangelhos, ainda que enfatizando Sua glória e majestade e Seu caráter de Juiz.

17
E quando o vi, caí aos Seus pés como morto, e Ele colocou a Sua [mão] direita sobre mim, dizendo: Não temas! Eu sou o primeiro e o último,
A imagem que se tem não é de João atirando-se diante dele, mas realmente caindo como consequência da visão.46 Foi algo espontâneo, como que em resultado de um poderoso choque vindo do Senhor glorificado. É a reação típica do profeta que se encontra com a manifestação espetacular de Deus - Ez 1.28; Dn 8.18.
A cena tem mais esta semelhança com o episódio da Transfiguração de Jesus, inclusive com o tocar de Jesus em Seus discípulos (Mt 17.6,7). "A mesma mão que sustenta a natureza e as igrejas ao mesmo tempo acorda e levanta as vidas individuais".47
mh fobou. Egw eimi - A primeira parte da frase poderia ser traduzida: "Não continues a ter medo" - Imperativo presente (ou, conforme Voelz, ação conectada ao sujeito). Palavras como estas eram por demais conhecidas aos ouvidos de um apóstolo, que andara por três anos com o Senhor (Mt 14.27). O "Eu sou" é particularmente importante, ao lembrarmos que no Evangelho, João cita várias ocasiões onde Jesus se apresentou com esta frase inicial (6.48 - o Pão da vida; 8.12 - a Luz do mundo; 10.9 - a Porta; 10.11 - o Bom Pastor; 11.25 - a Ressurreição e a Vida"; etc.).
O prwtos kai o escatos - Deus assim se apresenta em Is 44.6 e 48.12. João dá este atributo do Pai ao Filho, mostrando que sua Cristologia não permite ver Jesus à parte de Sua divindade (ao mesmo tempo, de Sua humanidade).

18
e [sou] o que vive e estive morto e eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno.
Aqui a identificação com o Jesus dos Evangelhos fica evidente. Ele é o mesmo que morreu e ressuscitou. É Aquele com quem João andara por três anos e contemplara em Sua glória (Jo 1.14; 2.11); é o mesmo ao lado do qual João estivera reclinado na última ceia (Jo 13.23,25). Que emoção especial João deve ter sentido ao ver, depois de aproximadamente 60 anos o mesmo Senhor, ressurreto e glorioso, com uma aparência temível, mas falando palavras de consolo!
o zwn - é outro título de Deus no Antigo Testamento: Js 3.10; Sl 42.2; 84.2; Os 1.10. O mesmo João, no Evangelho, mostra que Jesus é, como o Pai, Aquele que vive, e tem esta vida em conexão com o Pai - Jo 5.26. Também é tipicamente Joanina a diferença entre o "tornar-se" e o "ser" em Jesus (Jo 1.1,14; 8.58).48
exw tas kleis tou qanatou kai tou adou - "Morte" e "inferno" aparecem novamente juntos em 6.8 e 20.13s. Ter as chaves significa ter autoridade (Jo 5.26-28) sobre o domínio destes locais.49 Também significa que Ele é quem tem a autoridade de abrir e fechar a entrada à morte e ao inferno.

19
Escreve, pois, as coisas que viste50 e as coisas que são e as coisas que devem51 acontecer depois destas.
Com o uso de oun há uma volta ao que foi dito no v. 11, agora tendo João já presenciado e tomar conhecimento de quem lhe está ordenando escrever.
a eides - isto é, a visão de Jesus Cristo glorificado.
a eisin - aquilo que está acontecendo (por vezes, de forma não perceptível aos olhos humanos) na Igreja e no mundo.
a mellei genesqai meta tauta - a revelação das coisas futuras, especialmente a vitória do Cordeiro sobre as forças do mal.

20
O mistério das sete estrelas que viste sobre a minha mão direita e dos sete candelabros de ouro: as sete estrelas são anjos (mensageiros) das sete igrejas e os sete candelabros são as sete igrejas.
musterion - cf. Mc 4.11, onde os mistérios do reino são revelados por Jesus aos seus discípulos, mas não aos "de fora". Como Jesus revelara a seus discípulos o que era necessário para que eles pudessem não só desfrutar, mas proclamar o reino, assim Jesus agora o faz com João ... e também conosco. É preciso que valorizemos o fato de que na Sua Revelação Jesus coloca a nós como recipientes dos Seus mistérios, a fim de que nós, desfrutando das bênçãos de Seu Reino, sejam também ptos a proclamar Sua verdade.
Aqui "mistério" significa especificamente o referente da visão simbólica.
aggeloi - pode ser traduzido tanto por "anjos", como por "mensageiros" (Mt 11.10; Lc 7.24; 9.52; Tg 2.25). A maneira como traduzimos aqui influenciará nosso entendimento do endereçamento das cartas às sete igrejas. Se traduzimos como "mensageiros" pode referir-a a pessoas enviadas por aquelas igrejas para Patmos e de lá voltando com o texto do Apocalipse,52 ou aos pastores daquelas Igrejas, que deveriam receber a correspondência e cuidar em que fosse lida diante da Congregação (1.3). A tradução "anjos" não deve ser totalmente descartada a priori, visto que há textos na Escritura onde se fala de algum tipo de "anjo protetor" (Dn 10.13; 12.1; Mt 18.10; At 12.15). Outra explicação é que o "anjo" da igreja seja, na verdade, uma maneira de designar o "espírito" prevalecente na igreja, ou seja, seria uma referência àigreja em si.53
A identificação dos candelabros (lâmpadas) com as sete igrejas serve para enfatizar a mensagem de que Jesus está no meio das Suas igrejas (ou. da Sua Igreja). Entre elas Ele anda livremente, cumprindo Suas promessas feitas especificamente à Igreja (Mt 18.20) e ao Ministros desta Igreja (Mt 28.20). Outra idéia presente no candelabro é que a Igreja é luz para o mundo (Mt 5.14).
1Swete, 1.
2Swete, 1.
3Mounce, Robert H. The Book of Revelation, 64.
4Swete, 2.
5Deu testemunho.
6Swete, 3.
7Swete, 3.
8Swete, 3.
9Swete, 3.
10Cf. anotações do Prof. Paulo Flor.
11Rottmann, Johannes H. Vem, Senhor Jesus, 37.
12Swete, 4.
13Como vários pais argumentaram - cf. Swete, 4.
14Swete, 5,6.
15Swete, 6.
16Swete, 7.
17Swete, 7.
18Partc. Aor. A leitura variante traz loysanti, do verbo louw, lavar, banhar (referindo-se muitas vezes à purificação ritual antes dos sacrifícios e de entrar no Templo).
19Swete explica a diferença entre o Presente e o Aoristo neste caso como um "contraste entre o permanente agape e o ato completo da redenção" (7).
20ekkentew - atravessar, perfurar, traspassar. Só usado neste texto e em João 19.37 (citação de Zc 12.10), numa referência à morte de Cristo na cruz.
21Swete, 11.
22pressão, opressão, aflição. Angústia e sofrimento causados por circunstâncias externas (normalmente perseguição).
23BAGD, 846.
24Swete, 12.
25verbo eimi.
26verbo ginomai.
27Aoristo imperativo - parece denotar um "escreve já", à medida em que a revelação é recebida.
28Mounce, 76.
29ou: com um talar.
30perizwnnumi - cingido.
31cf. Swete, 15.
32Donald Guthrie mostra que Jesus usou este título para falar tanto do Seu ministério terreno, como de Seu sofrimento e morte e posterior exaltação. Tomando por base Dn 7, que une sofrimento e glória, Guthrie propõe que Jesus usou este título como uma declaração de Sua messianidade. Ele preferiu este título a "Messias", pois este último traria consigo conotações políticas, que Ele quis evitar (New Testament Theology, 278-281).
33Swete, 16.
34Swete, 16.
35Esta com uma particular importância: o olhar de Jesus a Pedro, quando este o negava; e que o levou a sair dali, em choro de arrependimento.
36Há uma dificuldade na tradução desta palavra, visto aparecer apenas aqui e em Ap 2.18. A versão Siríaca traduz como um metal do Líbano e as latinas, como uma liga de ouro, uma mistura de metais.
37lit.: aquecido até o ponto de brilhar.
38lit.: voz.
39Swete, 17.
40Swete, 18.
41lit.: tendo (Particípio Presente ativo).
42"de dois gumes", Hb 4.12.
43aparência, face.
44Swete, 18.
45Bíblia de Jerusalém, 1236.
46BAGD, 659, coloca como significado de piptw "cair, o passivo da idéia dada por ballw".
47Swete, 19.
48Swete, 20.
49Swete, 21.
50Aoristo 2, Ind. oraw.
51Usado com o Aoristo infinitivo para designar algo que: está para acontecer; acontecerá inevitavelmente; está no propósito para ocorrer; necessariamente acontecerá em razão de um decreto divino (como neste caso). BAGD, 500,501.
52Swete, 22.
53Swete, 22.